domingo, 16 de dezembro de 2012

Epifania: A Taça da Felicidade



 Quando chega esta época do ano, normalmente, eu começo a voltar os olhos para o passado - pros dias do ano que se passaram e me permitem, agora, sentir orgulho da minha história.
Nessa época do ano muita gente faz essas retrospectivas, até as redes de televisão. E no fundo isso vale a pena, pra no final entender que o grande lance da vida é viver cada momento como se ele fosse o único; e que a única receita da felicidade é cuidar bem do que existe “aqui e agora”.


Obviamente que você, com certeza, vai se deparar com momentos que não foram doces. Mas todo mundo  é ciente de que a vida prega peças. Assim se compreende (geralmente depois) que seu sapato preferido fura no momento em que você mais precisa dele; que um guarda-chuva faz falta na sua vida – mas que você só lembra-se dele durante um temporal; que você precisa trocar a pilha do despertador, mas só lembra-se disso quando ele te atrasa porque a pilha acabou e você não comprou a nova... e eu poderia divagar sobre essas pequenas grandes coisas o resto desde post. Mas vejamos, teria realmente graça a vida sem esses momentos pra se gargalhar dela no futuro? Tem sentido ficar a pessoa estressada o tempo todo por coisas que ela mesma deveria ter feito e não fez?
Para mim o ano que esta acabando foi cheio de boas coisas, algumas realizações, muitas decisões. Mas também viera recheado com dificuldades, problemas nos mais variados âmbitos – alguns até poderiam ser chamados de desilusões. Mas isso é normal, felicidade não dura pra sempre. Ela tem que ser conquistada a cada momento.
Nessa exata ocasião eu vejo como eu esperei demais das coisas e das pessoas; da boa grana que não veio; daquele Ipad que eu queria e não deu; das amizades que se tornaram estranhas. Das coisas e sentimentos que acabaram. Normal.



Todo fim de ano eu escuto muita gente dizer que o “próximo ano vai ser diferente”. Pena que eu não vejo estas mudanças no povo -  que só repetem as mesmas coisas, as mesmas ações, as mesmas palavras, as mesmas idiotices... Os mesmos, sempre os mesmos. Acho que está na hora de mudarmos nossos olhares para sair da mesmice. O achismo, eu já parei de usar faz tempo. Próximo ano vou começar a acabar com a mesmice – aliás já comecei a fazer isso desde o mês passado...
Mas a gente não pode fugir da natureza humana, somos humanos cheios de imperfeições. Não podemos fugir dos agentes externos da vida – eles existem e estão contra nós (mania de perseguição?). Podemos falhar. Mas podemos acertar também. E já que a natureza do planeta, do destino ou de quem mais possa interferir nos meus planos exista, pra dificultar meu caminho, eu não vou acabar com meu dias por isso! Não vou acabar com meu bom humor! Não vou acabar com minha esperança! Vou buscar mais conhecimento e sabedoria pra enfrentar esse ”bicho papão” de frente.


Não importa a beleza ou o motivo; o que importa é sorrir :)
É com isso que eu venho hoje desejar pra vocês todos, amigos que me acompanharam neste ano, sabedoria – para que possamos transformar tudo que nos aconteceu, de bom ou ruim, em experiência válida para uma evolução que nos guia à felicidade.
Que tenhamos discernimento e calma para conseguirmos compreender e perdoar o desconhecido; o mal educado; o ignorante; o idiota, enfim todos estes que podem ser um responsável direto por um dia ruim.
Hoje ouvi uma frase que dizia assim: “Confia em Deus, mas amarra teu cabelo”. E eu estou começando a entender o sentido disso. Assim, se você pediu algo para Ele este ano e não aconteceu, com certeza, não era par ser o melhor na sua vida. Mas cuida desse desejo, pois ele poder estar diante de ti no futuro...
Eu bem sei que, às vezes, a falta do que queremos pode trazer dor e lágrimas. Normal, acontece com todo mundo. E quando isso acontecer pratique a generosidade, e você verá com as coisas mudam rapidinho.
E como bem disse William Shakespeare: “Não importa em quantos pedaços nosso coração está partido, o mundo não pára para que nós o consertemos”. Assim, quando você se encontrar numa situação de extrema complicação saiba que sempre existe uma saída – só temos que aprender a dominar o medo.
Que este Natal seja um marco pra nossas vidas; que percebamos a importância de nos compreender nas nossas fragilidades; que estejamos cientes das nossas ações e das reações que elas possam acarretar; que possamos ser melhor do que somos hoje, mas isso só depende de nós.
Que o Espírito do Natal cubra de bênçãos a todos nós. Que a felicidade nos venha do tamanho que nós desejarmos; que nossos olhares vejam além; que o mundo melhore.



E pra que esta prece esteja completa sugiro que você faça pro seu Natal (ou Ano Novo) esta Taça da Felicidade. Ela tem poderes mágicos!!! E você pode se surpreender com ela... Então se arrisque, sinta a mudança e se delicie.
Feliz Natal! Feliz Ano Novo! Feliz Vida Nova!!!


Taça da felicidade - montagem com pudins inteiros.


Taça da felicidade - montagem com pedaços cortados dos pudins.


TAÇA DA FELICIDADE

Pudim de Clara
1 xícara (chá) de açúcar
4 claras
8 colheres (sopa) de açúcar
Pudim de leite
1 lata de leite condensado
2 vezes a mesma medida de leite
4 ovos
1 colher (chá) de amido de milho
Pudim de Maracujá
1 lata de leite condensado
2 vezes a mesma medida de suco de maracujá
4 ovos
1 colher (chá) de amido de milho
Creme de Cupuaçu
500g de polpa de cupuaçu
2 latas de leite condensado
2 latas de creme de leite
4 colheres de açúcar
Creme de Maracujá
1 copo de suco de maracujá concentrado
1 lata de leite condensado
1 lata de creme de leite
Chantilly
1 litro de creme de leite fresco
12 colheres de açúcar de confeiteiro
1 colher (sopa) de gelatina em pó incolor e sem sabor
3 colheres (sopa) de água
doce de cupuaçu (pequena quantidade para enfeitar)
modo de preparo: Pudim de Clara Leve o açúcar ao fogo, mexendo sem parar até obter ponto de caramelo claro, deixando a calda bem lisa e uniforme. Forre com ela o fundo e os lados de uma fôrma para pudim. Deixe esfriar. Bata as claras em neve firme. Vá juntando o açúcar aos poucos, sem parar de bater, até o ponto de suspiro. Despeje na fôrma e leve ao forno bem baixo. Asse por 50 minutos a 1 hora. Tire do forno, espere esfriar e desenforme. Pudim de Leite Bata todos os ingredientes no liquidificador. Leve ao forno em banho-maria em forma caramelada, assando durante aproximadamente uma hora. Pudim de Maracujá Bata todos os ingredientes no liquidificador. Leve ao forno em banho-maria em forma caramelada, assando durante aproximadamente uma hora. Creme de Cupuaçu Bata todos os ingredientes no liquidificador. Leve à geladeira. Creme de Maracujá Bata todos os ingredientes no liquidificador. Leve à geladeira. Chantilly Leve para congelar a pá da batedeira e a cuba. Leve por algum tempo o creme de leite fresco ao freezer até ficar bem gelado. Hidrate a gelatina colocando o pó aos poucos sobre a água e vá mexendo em círculo. Dissolva em banho-maria. Apenas aqueça, não deixe ferver, para que a gelatina não perca seu efeito. Bata o creme de leite até ficar bicos firmes. Ainda com a batedeira ligada, vá acrescentando a gelatina e o açúcar aos poucos, e com cuidado, para que esse chantilly não se transforme em manteiga. Montagem Em uma taça grande coloque o creme de maracujá, pudim de leite, creme de cupuaçu, pudim de maracujá, pudim de leite, o chantilly e pequenas quantidades de doce do cupuaçu com enfeite. Sirva bem gelada. Decore com frutas e sirva.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Love me TENDER, Love me true...



Hoje estava navegando pelo Facebook quando recebi um feed vindo da Baronesa do Crato de Açúcar, ilustre consóror de honra efetiva desta confraria, que me encaminhava um link do blog de seu ducado (clique aqui para ler) falando de tender. A baronesa postou uma deliciosa receita e eu fiquei tentado a fazer o mesmo – e porque não o fazer?
Eu fiz (risos) e vocês vão conferir a baixo umas receitinhas deliciosas. Enquanto este post vai dedicado à baronesa, pela inspiração deliciosamente tentadora de preparar um TENDER.


 Curiosamente, existem algumas comidas, que por uma estranha tradição, sem nenhum motivo forte, ficam condenadas a degustações anuais, apenas para se manter fiel a tradições. Um destes casos típicos é o Tender.
Delicioso presunto defumado, que ironicamente tem este nome apenas no Brasil, já que em seu país de origem, Estados Unidos, é conhecido como Glazed Ham ou Presunto Caramelizado. Portanto, já vai aí uma dica. Não perca tempo procurando Tender ou Presunto Tender em livros de receita americanos.
O Tender é conhecido entre nós por conta de seu provável lançador no Brasil, o Frigorífico Wilson, que batizou presunto defumado "para o Natal" de TenderMade. E "por tradição", só se vende Tender na época do Natal. E o resto do ano? O que é bom para o Natal deve ser bom para a quarta-feira ou será que não? A forma de preparo que o consagrou para as festas é aquecido no forno, espetado com cravos e servido com damascos em calda, mas existem muitas outras maneiras de prepará-lo.


Trata-se de um presunto feito com o pernil traseiro do porco (como todos os presuntos devem ser), semi desossado, marinado por duas semanas (no método tradicional) em uma solução de água, sal, nitrato de sódio (salitre) e açúcar mascavo. Retirada desta solução, vai para a defumação lenta. Ou seja, defumação a baixa temperatura, aproximadamente de 70 graus Celsius, por longas horas.
Enquanto defuma, além de adquirir o aroma e as propriedades conservantes naturais da defumação, ainda passa por um processo de "cozimento" que o deixa pronto para consumo imediato.
Já que temos um produto tão nobre, por que não servi-lo durante todo o ano? Fatiado fininho, em sanduíches, com uma boa mostarda, tipo Dijon, por exemplo. Em fatias de 5 a 6 mm, pode ser grelhado e servido acompanhado de lentilhas. Também grelhado, para se servir com omelete ou ovos poché.


O o presunto do tipo tender foi inventado por Harry J. Hoenselaar, de Detroit, Michigan. Encontrei evidências de que a novidade do processo sugerindo pelo Mr. Hoesnselaar foi usada pela primeira vez em 1930. A US Patent & Trademark Office confirma seu pedido para patentear este novos processos  de corte/feitura deste tipo de presunto, inicialmente em 1944, mas o processo foi arquivado. A patente só foi concedida em 1952 com proteção até 1957. Anúncios colocados em jornais históricos dos EUA confirmam que o consumo do produto a nível nacional foi indo devagar na década de 1960 – e já existiam muitas empresas produtoras oferecendo produtos similares. Empreendedores experientes sabem quando uma coisa boa quando a veem.
 Enquanto trabalhava na Indústria de carnes em meados dos anos 1930, o fundador Harry J. Hoenselaar desenvolveu um processo de corte e cura (cozimento e defumação) de alta qualidade. E assim encontrou uma maneira mais conveniente para servir presunto - com uma máquina que o cortava o presunto num formato especial (dando-lhe o formato de bola. Hoenselaar construiu o primeiro protótipo dessa máquina de corte usando pedaços de madeira, um prato para torta de metal, uma faca de cozinha com punho de madeira e o motor de uma máquina de lavar velha. Ele aperfeiçoou o seu conceito ao longo dos anos e foi concedido patentes primeiro para a máquina de cortar e depois para o método.
O Tender pode ser definido como um presunto suíno, com corte especial que sofre o processo de cura. A  "Cura" é um antigo método de conservação de alimentos, envolvendo salga (salga) e defumação lenta. Métodos para este fim evoluíram desde os tempos antigos e atualmente temos meios que tornaram os presunto perfeitos. Diferentes regiões especializada em processos diferentes, dão a seus presuntos sabores únicos. Os presuntos comerciais da atualidade incluem geralmente aditivos químicos para aumentar a cor e prolongar a vida de prateleira.


E para justificar o trocadilho no  título do post, devo explicar que Love Me Tender é a trilha sonora do filme de mesmo nome que foi o primeiro filme no qual Elvis Presley estreou sua carreira cinematográfica. O álbum, em vez de ter sido lançado como um LP com a trilha sonora completa, foi lançado com apenas quatro canções, no formato de EP, como um single de sete polegadas em 45 rpm (compacto duplo), em novembro de 1956.


A canção "Love Me Tender" com certeza é uma das mais famosas de sua carreira, sendo lembrada até os dias de hoje. Na gravação da trilha sonora, Elvis não pode contar com sua banda tradicional, os "Blue Moon Boys", como os três (Elvis, Bill Black e Scotty Moore) se chamavam, pois o estúdio não tinha contrato com eles e sim com outros músicos do estúdio cinematográfico da Fox. Mesmo estando um pouco fora do ambiente que ele já tinha se adaptado desde 1954, Elvis, ao lado de Ken Darby, produziu "Love me Tender", dando-lhe um arranjo simples, porém, eficiente, sentimental e que foi considerado um momento de bom gosto.
A canção "Love Me Tender", foi lançada primeiramente em um compacto simples antes da trilha sonora do filme, com "Love me Tender" no lado A e "Any Way You Want Me" no lado B. Este single alcançou a primeira posição nas paradas de sucesso da Billboard, nos EUA.
Que tal escolher uma das receitas abaixo e prepara-la ao somd e Love me tender/


Tender ao Molho de Framboesa

1 unidade de tender bolinha
300 gr de framboesa congelada
150 ml de vinho tinto seco
1 cebola ralada
2 colheres (sopa) de mel
quanto baste de sal
quanto baste de pimenta-do-reino branca
2 colheres (sopa) de azeite

Prepare o molho: Passe no liquidificador a framboesa juntamente com o vinho tinto (separe algumas inteiras para decorar) até que fique homogêneo. Reserve. Em uma panela, aqueça o azeite e acrescente a cebola ralada. Quando ficar translúcida, acrescente as framboesas reservadas, o mel, sal e pimenta. Abaixe o fogo e deixe reduzir lentamente, para engrossar. Sirva o molho sobre as fatias de Tender, salpicado com algumas framboesas inteiras. O Tender é um produto já pronto para consumo, ou seja, necessita apenas de aquecimento. Opcionalmente pode-se fazê-lo regando o Tender com um pouco de vinho branco e pincelando geleia de sua preferência sobre o mesmo. Se ficar demasiadamente no forno, corre o risco de ficar seco.

Tricolori ao molho de romã e tender

1 pacote de Penne Tricolori
1 romã grande, com somente as sementes  (reserve algumas para decorar os pratos)
8 folhas de cebolinha verde  (picadas finamente)
4 ramos de salsinha, somente as folhas, (picadas finamente)
5 colheres (sopa) de Azeite Extra Virgem
1 xícara (chá) de suco de laranja
2 colheres (sopa) de suco de limão
5 colheres (sopa) de xarope de romã (grenadine)  (opcional)
1 colher (café) de sal
Pimenta a gosto

Preparo: Cozinhe o Penne Tricolori , conforme as instruções da embalagem. Escorra e envolva em fios de Azeite Extra Virgem . Reserve. Em uma panela meia , fogo médio, junte o Azeite Extra Virgem os gomos de romã, a cebolinha e salsinha. Refogue, sem parar de mexer, por 3 minutos. Acrescente o suco de laranja, o suco de limão, o xarope de romã, o sal e a pimenta. Deixe cozinhar, mexendo de vez em quando, por 3 minutos. Experimente e se necessário, corrija o sal. Retire do fogo. Sirva porções individuais de Penne Tricolori , regadas com o molho de romã e guarnecidas com duas fatias de tender assado e decoradas com as  semente de romã .

Tender Festivo

2 kg de tender semi-desossado
cravo-da-índia para decorar
3 colheres (sopa) de mostarda
3 copos de suco de abacaxi
5 colheres (sopa) de vinagre branco
3 colheres (sopa) de molho inglês
pedaços de abacaxi para decorar

Preparo: Risque a superfície do tender com a ponta de uma faca, formando losangos. Em cada cruzamento do losango, espete um cravo-da-índia. Acomode numa assadeira. Pegue uma tigela, misture a mostarda, o vinagre, o molho inglês e o suco do abacaxi. Despeje esta mistura sobre o tender e, em seguida, cubra-o com papel alumínio. Leve ao forno médio (200ºC), por cerca de 40 minutos. Retire o papel alumínio e deixe no forno por mais 30 minutos, para dourar, sempre regando com o molho que se formou na assadeira. Sirva o tender decorado com fatias de abacaxi ou a gosto.

Tender ao molho de vinho

1 tender de 1,2 kg
2 copos (americano) de vinho tinto
1 maço de hortelã
1 xícara (chá) de vinagre
1 colher (chá) de açúcar
1 colher (chá) de amido de milho
Sal e pimenta-do-reino a gosto
1 colher (chá) de grãos de mostarda e de coentro
2 colheres (sopa) de azeite
1 cebola bem picada
2 dentes de alho bem picados
1 pimenta dedo-de-moça
2 colheres (chá) de gengibre cortado em tiras bem finas
2 xícaras (chá) de coco fresco ralado
2 colheres (sopa) de açúcar demerara
1/2 xícara (chá) de água
Raspas e suco de 1 limão

Preparo: Retire a pele e coloque o tender em uma assadeira. Faça furos com um garfo, regue com o vinho e envolva-o em papel-alumínio. Leve ao forno quente por 40 minutos. Retire o papel e regue outra vez com o vinho até ficar macio e dourado. Retire e reserve. Corte uma boa porção de hortelã e coloque numa molheira. Ferva o vinagre com o açúcar e despeje sobre a erva. Desengordure o molho da assadeira e junte um pouco de água, raspando até dissolvê-lo. Coe e engrosse com o amido e tempere com o sal e a pimenta. Ponha na molheira e sirva. Prepare o chutney de coco: aqueça uma panela e junte a mostarda e o coentro. Mexa e deixe que pipoquem. Adicione o azeite, a cebola, o alho, a pimenta e o gengibre. Mexa e cozinhe até a cebola dourar. Ponha o coco, o açúcar e a água e mexa. Acrescente as raspas de limão e sirva.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

La natilla y los buñuelos: O duo natalino colombiano


Eu estou adorando minhas pesquisas sobre o Natal pelo mundo. Tanto que hoje haverá mais um post dedicado a este assunto. Desta vez o lugar de onde vem nossas delicias natalina está localizado na América do Sul, mais precisamente na Colômbia.

Esta postagem, inclusive será dedicada a Candido Prunes, um amigo a quem eu já devia a dedicação de um post pelas ajudas e informações formidáveis. Ele, estes dias, esteve em Bogotá, de onde trocamos alguns e-mails falando sobre comida bogotana.

Daí veio a inspiração para o post  de hoje. Acontece que este homem já me deu outros motivos para outros futuros posts, é uma das minhas atuais fontes de inspiração, quase uma biblioteca humana, e que tem me instigado a continuar com uma pesquisa dificílima (por falta de fontes) - estamos tentando descobrir um mistério culinaríssimo: o menu servido no casamento do Imperador Primeiro do Brasil. Contudo o ano está acabando e até agora não conseguimos o que desejávamos e este assunto ficará para 2013. Mas este post será então dedicado a você, Cândido, como forma de agradecimento pelos papos sobre cultura gastronômica. Mas vamos ao que interessa.,,

No Natal a gente quer sempre uma coisinha diferente pra oferecer nas festas e reuniões e a culinária de outros países é sempre uma boa inovação. E quando a gente encontra uma receita fácil e prática parece que o universo conspira para que a preparemos nestas ocasiões.  E justamente por isso que hoje trataremos da Natilla e dos Buñuelos – dois pratos típicos do Natal colombiano.




De acordo com informações documentadas no século XIV, os agarenos andaluzes preparavam hojuelas (espécie de filhós) com farinha de trigo, ovos e queijo, fritos em azeite e que depois eram envolvidas em mel. Essa receita "sulamita" se infiltrou nos conventos e tornou-se cristã para ir para as mesas de Castilla (Castela) e depois para o Novo Mundo, com os escudos e os bacamartes dos conquistadores.

Como nos trópicos tudo era transformado, las hojuelas importadas chegaram na América e tornaram-se buñuelos de aire (bolinhos de ar) e trocaram o escasso e caro trigo por farinha de milho. O buñuelo não aparece sozinho, geralmente vem acompanhado de uma bebida, como amante infiel em busca de formar casal pro toda parte. Por vezes acompanha o kumis ou o vemos servido com café com leite. Mas no Natal os buñuelos se casam com a Natilla em um casamento que tem dado certo. 



Para quem não conhece e ficou querendo saber o que é Kumis, veja: Kumis é um leite de égua acidificado e fermentado, muito apreciado em toda a região da Ásia Central. Também é assim chamada quando preparada a partir do leite de camelo ou de mula. Há registros da existência da bebida desde o século V a.C., tendo sido mencionada pelo historiador Heródoto.

O nome é derivado de uma tribo que habitava a região do rio Kuma, no sudoeste da atual Rússia, próximo ao Mar Cáspio. É uma bebida refrescante, que contém de 0,6 a 2,5% de álcool etílico e 0,7 a 1,8% de ácido lático. O preparo pode durar entre 3 e 21 dias. Por possuir uma propriedade efervescente, pode provocar a quebra do recipiente, tornando o kumis pouco adequado ao transporte entre longas distâncias. O Kumis pode ser encontrado hoje em quase todo o mundo.

Especialistas dizem que a natilla foi desenvolvida nos conventos espanhóis e franceses nos tempos medievais. Os frades além de rezar se dedicavam a boa comida, e combinaram leite açúcar e farinha de trigo o que resultou num creme nutritivo e fácil de preparar, que atingiu as mesas dos reis - e mais tarde ainda tornou-se melhor.



A natilla cruzou o Atlântico, tornou-se mais suave com o amido de milho, e sua cor ficou mais intensa quando se usou açúcar mascavo, ganhou  ainda um sabor sensual com os paus de canela e por estas terras tropicais se agregou aguardente para aromatizar.

A natilla e os buñuelos fazem parte da surpreendente cozinha sul americana; a natilla é mais recatada, se resigna a ser parte do dueto servido no natal ou como flan que acompanha a sobremesa da refeições caseiras do cotidiano, mas o buñuelo é exibido e cosmopolita, em Bogotá, por exemplo, fala de uma “Ruta del buñuelo”, onde os buñuelómanos desfrutam com preparações deste bolinho  de todos os tipos e para todos os bolsos.

O duo natilla e buñuelos  é tão famoso quanto a  Bolívar e Manuelita, ou Napoleão e Josefina, e não faz distinção de mesas, podem ser vistos nas carrocinhas de ruas e nos restaurantes finos, nas casa humildes ou nos palácios.

Em tempos não muito  longes toda a família participava na preparação desse delicioso, hoje tudo mudou, se vendem pacotes com misturas industrializadas.


Em alguns casos as receitas das avós que preparavam estas duas delícias, cujos segredos eram transmitidos de geração em geração, estão perdendo espaço para as misturas industrializadas, mas não perdeu-se o costume da troca de bandejas, que passa de casa em casa levando os sabores únicos e o toque especial do carinho de cada família impresso na natilla e no buñuelos que vai desfilando em cada prato.

Resgatando a origem dos buñuelos

A América reinventou o buñuelo, que está em construção desde a Grécia antiga e o Império Romano. Esta é uma agradável revisão de uma guloseima de sal que todos nós amamos e que comemos principalmente na época do Natal.

Em 1856, José Manuel Groot, o historiador e tradicionalista de Bogotá, publicou um artigo sobre “costumbres de antaño” (os costumes de outrora), no qual lembra como em Bogotá, no Natal, era quase obrigatório enviar aos amigos buñuelos untados com mel de Tierra Caliente. De acordo com uma versão posterior, os proprietários de terras, que faziam negócios com os conventos, enviaram um ou dois carregamentos a cada um para "adoçar as contas com os provincianos".

O povo de Antioquia tinha o buñuelo como um de seus petiscos preferidos, e Gregorio Gutiérrez González, em sua Memoria sobre el cultivo de maize, incluiu-o nos versos:

Y el mote, los tamales, los masatos,

El guarrús, los buñuelos, la conserva...

(E o mote, os tamales, os masatos,

Guarrús, buñuelos, conservas ...)

O costume de enviar doces era antigo: desde que os espanhóis chegaram a Bogotá, os buñuelos serviam para corromper os patrões. Segundo o cronista Juan de Castellanos, Hernán Pérez de Quesada, "um homem sensual e efusivo", foi subornado enviando mulheres amorosas "na cor de uma mensagem ou com algumas guloseimas como buñuelos, hojuelas ou bolos, dos quais eles foram grandes oficiantes”. Os homens de Belalcázar, segundo Castellanos, trouxeram do Peru "homens e mulheres amorosos, que deram aos seus senhores, na cama e em outros ministérios", e assim conseguiram que os governantes entregassem índios e terras.

Os Buñuelos continuaram a aparecendo em crônicas e literatura nacional daquele país. Em María, de Jorge Isaacs, a empregada, Salomé, destaca-se pela capacidade de “fritar buñuelos, fazer pandebono e temperar a geleia”. E em El Zarco, de Tomás Carrasquilla, aparecem também como comida de festa de Natal: “Aqui rangem os buñuelos, ali rebenta o pudim; aí a iguaria branca coalha”.

O buñuelos é um bolinho frito, uma iguaria muito antiga. O Rei David, depois de consagrar o tabernáculo, distribuiu a todo o povo de Israel "flor de farinha frita em azeite", que segundo o tradutor espanhol da Bíblia do século XVIII, Felipe de San Miguel, era "uma espécie de buñuelo". Também na Grécia, segundo Galeno, no tempo de Aristóteles, eles tomavam o desjejum com tagenites, uma massa de farinha de trigo com coalhada, frita em óleo.

A descoberta da agricultura abriu caminho para os buñuelos e outros tipos de bolinhos fritos: os europeus do Mediterrâneo, os babilônios, os egípcios e israelitas, os persas e os árabes, os gregos e os romanos, já há mais de 5.000 anos, aprenderam para cultivar trigo e domesticar vacas e cabras, com cujo leite faziam queijo. A mistura da farinha de trigo com queijo (ou a coalhada) deu uma massa ideal para fritar no azeite obtido, na primavera, das azeitonas. E para comer as massas fritas e evitar seus humores, Galeno recomendou adicionar alguns sabores adocicados ou aromáticos: mel de abelha, por exemplo, ou xaropes que se misturavam com sabores de frutas como laranja ou limão, ou especiarias como manjericão e canela, ou nozes moídas. Essa construção de sabores faz sentido pra você?

Por isso, não é de estranhar que em Roma, há 22 séculos, Marcus Publius Cato, em seu livro De Agri Cultura, incluísse várias receitas de bolinhos de trigo, entre elas a receita para buñuelo, neste caso quando ainda eram chamados “globi ou globos”:

Globos sic facito. Caseum eum alica ad eundem modum misceto. Inde quantos voles facere facito. In ahenum caldum unguen indito. Singulos aut binos coquito versatoque crebro duabus rudibus, coctos eximito, eos melle unguito, papaver infriato, ita ponito.

Quer dizer: “É assim que eu faço globos. Eu misturo quantidades iguais de farinha de trigo com queijo. A seguir, preparo os que quero e coloco em uma panela com óleo quente, um ou dois de cada vez. Eu os viro várias vezes com duas varas. Quando estão cozidos tiro-os, passo mel e caroço de papoula e é assim que os sirvo ”.

Esses fritos foram generalizados em todo o Mediterrâneo, foram incluídos em livros de receitas medievais, como o de Apício, e acabaram na dieta espanhola, influenciadas principalmente pelos andaluzes e árabes. Assim, os conquistadores da América, ocupando este continente no século XVI, e tentando preservar seus costumes europeus, tentaram fazer buñuelos. Eles encontraram, no entanto, três deficiências graves: na América, os povos indígenas não tinham trigo, queijo e nem óleo para fritar.

O queijo não era problema: na própria Europa, a massa frita de trigo era amassada com água ou com ovos, o que dava texturas especiais: mais quebradiças e finas, como flocos ou folhados, que ainda eram chamados de buñuelos em muitas regiões espanholas e Europeias; ou ainda em massas mais inflada, cheia de ar, graças às claras batidas em neves que eram incorporadas na massa. Assim, produziram-se alguns bolinhos chamados "bolinhos do vento" (“buñuelos de viento”), que Cervantes comparou com as obras de muitos escritores, capazes de fazer peças muito vistosas mas em que só havia ar (o que provocou a conhecida resposta do Carrasco, que não existe um livro ruim que não tem pelo menos uma coisa boa).

Na América, muitos "buñuelos" seguiram a opção do trigo e dos ovos (como na Venezuela, Peru, México, Argentina e, até no Brasil, onde o bolinho de chuva é bastante conhecido. Enquanto na Nova Granada os bolinhos permaneceram fiéis ao uso do queijo.

O óleo foi substituído na América tropical pela banha, mas o fundamental foi a troca da farinha substituída: devido à falta de trigo, que era plantado, mas não era produzido perto de Bogotá e Tunja, a farinah de milho foi incluída pois havia abundância de milho.

Assim, a farinha de milho substituiu a farinha de trigo, e o buñuelo, do século XVI, provavelmente era muito semelhante ao que conhecemos hoje na Colômbia, feito de milho e queijo e frito na banha. A farinha de milho, feita com um processo trabalhoso que exigia ferver o grão, empilhá-lo e moê-lo muitas vezes com uma pedra, foi substituída desde a segunda metade do século XIX por um produto industrial que oferecia uma farinha fina e lisa, ideal para fritar e para uso culinário diverso: a Maizena, que já é mencionada nos livros de culinária de Nova Granada do início do século, como o “El manual práctico de cocina”, de 1907, e que em meados do século XX pôs à venda misturas especiais que permitiam fazer bolinhos sem risco de imperfeição. E quando a banha de porco “foi dita como prejudicial à saúde” foi substituída por óleos vegetais, nos quais todos os “fritos saudáveis deste mundo são agora fritos”.

Desta forma, o buñuelo foi um dos produtos emblemáticos da miscigenação alimentar: uma fritura do velho mundo que se adaptou ao novo, trocando o trigo pelo milho e usando manteiga e queijo obtidos de animais trazidos pelos espanhóis. Além disso, era um produto que em sua versão americana era muito popular, como Tomás López Medel comentou em seu Tratado dos três elementos, de 1570: “Os espanhóis… também fazem muñuelos de muitas maneiras e  hojuelas e empanadas, porque as mulheres do mundo por aqui, são gulosas por doces e em todos os lugares se tornam mestras para isso e muito mais; de maneira que daquele milho que aqui nos parece bárbaro, inculto e sem dons, os nossos espanhóis recebam ali tantos ou mais presentes e delicadezas como do trigo ”.

E os espanhóis e seus descendentes colombianos, que rejeitaram todos os costumes indígenas e sempre os viram como selvagens e ignorantes, pelo menos aceitaram boa parte de suas refeições, a começar pelo milho, enquanto índios e mestiços se apaixonaram pelos produtos espanhóis; ao doce da cana, ao queijo, aos panderos e roscones, ao arequipe e ao manjar branco, e aos fritos como o buñuelo ou las hojuelas.

Se voltarmos à receita original de Cato, vemos que se unta os “globos” (buñuelos) com mel de abelhas ou sementes de papoula moídas. Este costume foi mantido nestes 2.200 anos, embora com algumas modificações. Em vez da papoula, passou a ser comum usar canela em pó, e xaropes, feitos de açúcar de cana com todos os sabores e aromas de frutas, substituíram o mel de abelhas para untar o buñuelo. Esse foi um dos motivos da grande variedade de buñuelos nos livros de culinária de Nova Granada. No El Estuche, publicado em Bogotá em 1878, há 22 receitas diferentes para buñuelos, e no Manual práctico de cocina de Elisa Hernández de 1907, há 32 receitas diferentes.

Hoje, na Colômbia, fazer buñuelous no Natal é uma oportunidade múltipla: por um lado, como no século XIX, são uma ocasião festiva, que pode ser desfrutada com a família ou amigos, em que cada hóspede acrescenta os seus bolinhos ao azeite e espera para começar a virá-los, como fazem se a temperatura do óleo estiver no ponto certo, ou ajudam a virar com um pauzinho, como também era feito na receita romana antiga. Em segundo lugar, muitos xaropes diferentes podem ser preparados, os quais podem dar sabores especiais: de frutas ácidas, como goiaba ou limão, ou de frutas locais, como tomate de árvore, ou de plantas aromáticas como hortelã, hortelã-pimenta, erva-doce ou anis.

Terceiro, reunir-se com amigos no Natal pode ser uma oportunidade para ensaiar buñuelos inesperados. E veja, esses bolinhos ficaram tão perfeitos que a receita de mais de dois milênios ainda não exige alterações. Mas, em pleno século XIX há muitas experiências e, em países europeus como França e Alemanha, os bolinhos podem ser fritos com recheio de pedaços de frutas. Existem bolinhos recheados com maçã e Pêra, que ainda podem ser comprados em New Orleans como beignets (que, como todos os bolinhos fora da América Latina, são feitos com farinha de trigo). E você pode experimentar outros tipos de recheios, como marisco (polvo, camarão, amêijoa), ou torresmos, ou banana frita, ou coisas semelhantes. Ou substituir, como em Cartagena, a farinha de milho pela farinha de feijão, visto que permanecem, como dizia Manuel María Madiedo em Nosso século XIX, “tão ricas ao paladar quanto agradáveis à vista”.

A infinidade de possibilidades permite que uma receita simples tenha muitos aromas e sabores. A dica é se aventurar nos testes. Vai fritar uns buñuelos.


Natilla Colombiana  (com leite condensado)

3 xícaras de leite integral

1 copo de amido de milho

1 xícara de leite de coco

½ xícara de coco ralado

2 paus de canela

1 lata de leite condensado

½ colher de chá de essência de baunilha

1/3 de xícara de açúcar ou a gosto

1 pitada de sal

1 colher de manteiga

Canela em pó a gosto 

Preparo: Coloque uma xícara de leite em uma tigela pequena, adicione o amido de milho e mexa para dissolvê-lo. Coloque o leite de coco e coco ralado no liquidificador e bata até ficar homogêneo. Coloque o restante do leite e paus de canela em uma panela média e le a mistura ao fogo médio. Quando o leite estiver quente, mas não fervente, adicione a mistura de coco. Quando o leite começar a ferver, adicione o leite condensado, açúcar e sal. Mexa bem com uma colher de pau. Adicione a mistura de leite e amido de milho e continue mexendo constantemente. Adicione o extrato de baunilha. Reduza o fogo e continue mexendo até engrossar o Natilla, cerca de 2-4 minutos. Adicione a manteiga, misture e retire do fogo. Descarte os paus de canela. Coloque a mistura em uma travessa ou em taças individuais. Polvilhe canela em pó na parte superior e deixar arrefecer à temperatura ambiente durante pelo menos 1 hora. Leve à geladeira até a hora de servir. DICA: substitua o leite condensado por açúcar mascavo e a natilla ganhara um toque mais rustico.


Buñuelos

3/4 de xícara de amido de milho (Maisena)

1/4 de xícara de polvilho (amido de mandioca)

1 xícara de queijo costeño colombiano (ou use queijo cotija, ou gottage)

1/2 xícara de queijo fresco de sua preferencia

2 ovos grandes

1/2 colher de chá de fermento em pó

Duas colheres de açúcar

1/4 colher de chá de sal

1 colher de sopa de leite

Óleo para fritar

Preparo: Misture todos os ingredientes, menos o óleo, em uma tigela média e mexa muito bem com as mãos até obter uma massa macia e maleável. Deixe a massa descansar por 5 min na tigela e forme bolas de 2 cm de diâmetro. Em uma panela funda, aqueça o óleo vegetal até que comece a soltar fumaça e abaixe o fogo para médio. Com muito cuidado coloque as bolas no óleo quente. Frite até que os bolinhos estejam dourados. Retire do óleo e escorra o excesso, servir como desejar – sem coberturas, ou com mel, xaropes ou o que a criatividade permitir.




terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Kutia e o Natal Russo


Já comentei com vocês que eu adoro uma novidade?
Se não, já aviso que novidades me atraem. Sobretudo quando elas vêm de terras cheias de estórias, como a Rússia... Hoje encontrei uma receitinha de um doce bastante comum na época natalina russa, a Kutia.


Kutia (ruso, кутья, коливо, kutia, kolivo; ucraniano, кутя, коливо; polaco, kutia; servio, кољиво, koljivo) é uma espécie de pudim doce feito com grãos de trigo servido na época natalina nas culturas russa, ucraniana, lituana e polaca. A kutia é um dos primeiro pratos servido na tradicional na ceia natalina dessas regiões, composta por doze pratos.
Estes dozes pratos da ceia natalina podem variar de região a região, mas entre os mais tradicionais estão os seguintes 12 pratos, que no passado, representavam eles, os doze meses do ano. No cristianismo, os doze apóstolos, discípulos do Divino Mestre que anunciam a sua mensagem. Cada cristão deve anunciar o bem, testemunhando a doutrina do Divino Mestre Jesus. Eis os pratos:


1 - «Kutiá» – grãos de trigo cozido adoçados com mel, passas de frutas (uvas) e nozes ou castanhas e sementes de papoula. O trigo representa a fartura, o progresso, o bem estar. O mel, que a vida deve ser temperada com a alegria da saúde, do bem estar, na amizade, na unidade familiar. Simboliza o trabalho do agricultor e das abelhas. Também representa os entes queridos que faleceram. Elo entre os vivos e os mortos.


2 - «Borchtch» – sopa de beterraba e repolho, servida com pão de centeio.

3 - «Mlêntsi» ou «Nalêsneke» – tipo de panquecas.


4 - «Varének» – espécie de pastel (tipo ravióli) que antigamente era recheado com repolho, trigo sarraceno (mourisco), ameixas, geléias ou sementes de papoula. Embora o recheio de batata com requeijão tenha se tornado popular entre nós, na ceia de Natal era raramente usado, uma vez que para nossos ancestrais, há centenas e centenas de anos atrás, a batata era desconhecida, chegando à Ucrânia somente por volta dos séc. XVII e XVIII. Na região da Galícia (Ucrânia Ocidental) é chamado de «perih», enquanto na Ucrânia Oriental «perih» é uma espécie de pãozinho branco assado no forno contendo algum recheio.


5 - «Holubtsí» – rolinhos de repolho - espécie de «charuto», com trigo sarraceno, cebola e cogumelos, enrolado com folha de repolho. É cozido no vapor ou em «banho maria». Na Ucrânia são preparados com folhas de repolho em conserva em virtude da neve, sendo que em outras estações do ano são usadas folhas frescas de repolho ou de beterraba.


6 - «Krujalkê» – espécie de repolho cozido, temperado com água, sal e iguarias.
7 - Peixe em conserva.
8 - Várias espécies de pão, biscoitos de mel.
9 - «Kácha» – espécie de cevada moída, preparada com iguarias.
10 - «Hrebê» – espécie de cogumelos cozidos, preparados em forma de salada ou em forma de molho, para serem consumidos junto com os demais pratos.
11 - «Kalatch» ou «Kolatch» – pão doce – em algumas regiões com recheio de doces de frutas. O pão representa a colheita do ano e é adornado com uma vela que iluminará a mesa e deve permanecer sobre a mesma durante 3 dias.


12 - «Kompot» ou «Uzvar» – compota feita das mais variadas frutas guardadas em conserva desde o verão (cereja, ameixa, pêra, maçã, uva). Em algumas regiões é preparada com bastante calda de forma que pode ser usada também como suco, substituindo as bebidas alcoólicas.


E ainda temos outros pratos: «kapusniák» (sopa de repolho), «perijkê» (pasteizinhos assados recheados com repolho, ou com doces de frutas), pepinos e outros mais.
A ceia deve ser preparada com produtos não gordurosos que possam representar a água, o ar e a terra, pois ainda nos encontramos no período de quaresma «Pelêpivka». Ela só encerra-se à meia noite, quando da participação de toda a família na Divina Liturgia na igreja da comunidade.
Durante a ceia, iniciam-se os cantos natalinos – «Kolhadê». Eles nos falam do nascimento do Menino Jesus. A alegria deve ser contagiante neste momento da ceia. Cada um saúda os presentes, iniciando uma «Kólhada». Elas continuam até o final da ceia. É comum em todas as famílias deixar sempre um lugar a mais, preparado durante a ceia. Este lugar pode representar algum familiar ou amigo que não tem a possibilidade de estar festejando o Natal em uma família, bem como representar aqueles que passaram desta terra para a eternidade: eterna é a lembrança deles entre todos.
Quando todos terminam a ceia, saem para a participação da liturgia na igreja da comunidade. Nada se retira da mesa. Ela deve permanecer assim, pois a crença diz que os «ausentes» virão tomar a sua parte na refeição da ceia.
Além dos pratos da ceia natalina, que por si só já são um deleite a parte, as demais tradições natalinas russas são curiosíssimas.


Todos sabem o que é o Natal. Todos sabem porque se comemora o Natal. Mas nem todos o celebram da mesma maneira, vejam: Na Rússia o Natal é festejado em 7 de janeiro, porque o calendário juliano, seguido pela Igreja russa, distanciava-se, no século 20, 13 dias do calendário gregoriano, adotado no Ocidente. Cada século, o calendário juliano aumenta um dia. Assim, no século 21, o Natal deveria a rigor ocorrer em 8 de janeiro, mas continua sendo celebrado no dia 7. Algumas igrejas orientais, já adotam o calendário ocidental, por motivos práticos.
A Igreja ortodoxa russa, tanto na Rússia, como fora dela, ainda adota o chamado velho estilo, apesar dos inconvenientes óbvios para a celebração das grandes festas, como Natal, Ano Novo, Epifania, Páscoa e outras. Na ceia da vigília de Natal, não se come carne, mas iguarias próprias da festa principalmente não pode faltar o pudim de trigo (ou arroz) com mel, chamado “kutia”, que simboliza a doçura do Reino de Deus.
Em nenhuma casa pode faltar a árvore de Natal, ornada com flores e velas, conforme um antigo costume que o Czar Pedro, o Grande, tinha trazido da Holanda, no século XVIII.
A árvore de Natal (a iolka) é a única árvore que se mantém verde e viçosa, quando todas as plantas ficam adormecidas debaixo da neve. O Natal é também uma festa para as crianças, por ser a manifestação de Deus como um menino. Em todas as comunidades, organiza-se a festa da iolka para crianças, com presentes e cânticos natalinos, chamados “koliady”.


Nos 12 dias que seguem, chamados “sviátki” (dias santos), os párocos visitam e benzem as casas dos paroquianos, compartilhando com eles a alegria do Natal. Todas as tradições são religiosas. As cerimônias litúrgicas do Natal são longas e dificilmente as pessoas poderiam acompanhá-las todas, mas esta dificuldade é contornada na Rússia de hoje, onde as grandes festas são televisionadas.
Algumas igrejas, como a grega, já adotam o calendário do novo estilo (ocidental) e muitas igrejas russas no Ocidente, tendem a fazer o mesmo, mas convém lembrar que o Natal está inserido em um ciclo litúrgico, não sendo possível celebrar só o Natal junto com o Ocidente, sem alterar todo o calendário, com os quarenta dias de oração e jejum, os dias imediatos da vigília e os dias posteriores. Para celebrar o Natal no novo estilo, seria preciso adotar o calendário civil para todo o ano e abandonar o juliano.
Como os países que formavam o antigo império russo já estão hoje ligados ao Ocidente, certamente o Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa acabará unificando o calendário. Para isto terá que dar um salto (neste século 21) de 14 dias. Em países, como o Brasil, as comunidades orientais acabam celebrando um duplo Natal, o do Ocidente, e o do Oriente, já em pleno ano novo. Com esta duplicidade, é praticamente impossível atravessar as festas de Ano Novo em oração e jejum na expectativa do Natal de janeiro.
São Nicolau é o Padroeiro da Rússia, dos marinheiros e das crianças, a figura benevolente que traz prendas em 6 de Dezembro, 25 de Dezembro ou no dia 6 de Janeiro, dependendo do país e da religião/cultura. Na Rússia a véspera de Natal celebra-se dia 6 e os seguintes 12 dias são Dias Santos, para celebrar o nascimento de Cristo, segundo o calendário Juliano.


São Nicolau é a inspiração para o Papai Noel, e ele existiu em carne e osso. Nasceu em Mira, Ásia Menor, cidade da qual se tornou Bispo, no século IV DC. Ficou ligado à dádiva de prendas devido a muitas histórias da sua generosidade e filantropia, enquanto distribuía sua considerável riqueza entre os pobres e em prol de causas sociais. Em uma destas histórias, salvou três oficiais da marinha da morte, aparecendo depois nos seus sonhos daí o nome do doce que se come em Portugal nesta época (sonhos).
Originalmente, davam-se as prendas no dia 6 de Dezembro, mas foi alterado quando no século IV DC, o Papa Júlio I (337-352) fixou o dia 25 de Dezembro como o dia do nascimento de Jesus, porque foi um dia que coincidia com a festa romana de Saturnália, e as festas pagãos dos germânicos e celtas do Solstício do Inverno (21 de Dezembro). Foi no século XIII que começou o hábito de construir presépios para celebrar o nascimento de Cristo.


A Igreja Ortodoxa depois mudou este festival para o Dia de Epifania (dia da adoração, 6 de Janeiro), quando os Reis magos trouxeram presentes ao menino Jesus no estábulo porque segundo o calendário Juliano, o Natal está desfasado do calendário Gregoriano por duas semanas. É neste dia que se celebra o Natal na Rússia mas quem traz as prendas é Ded Moroz (Avô Geada), e Snegoroushka (a Menina de Neve). Ded Moroz é talvez o original Pai Natal, com sua barba branca e longa e suas roupas compridas.


Na Rússia, a véspera do Natal é celebrado com vários pratos típicos, com toda a família junta, e em algumas casas, há lugares postos para os familiares que já morreram. A refeição (A Santa Ceia) é grande, pois termina um período de jejum. Porém, não é costume comer carne. A festa começa quando a primeira estrela aparece no Céu. Na mesa, um pano branco, representando o pano que cobriu o menino Jesus. Algumas pessoas colocam palha a volta da mesa, simbolizando simplicidade e uma vela é acesa na mesa (Luz de Cristo). A árvore (yolka) é decorada antes da refeição.
Tradicionalmente, o Pai da família reza a Oração do Nosso Senhor e diz "Cristo nasceu!" Os familiares presentes dizem "Glorificam-no!" e a mãe faz o sinal da cruz com mel em todos presentes, dizendo "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que tenham doçura e muitas coisas boas na vida durante o ano que vem". O grupo depois partilha o pão, que colocam no mel (doçura) e depois em bocados de alho (amargura).

A Preparação
O Natal é a maior festa, depois da Páscoa, porque celebra o mistério fundamental da fé, a Encarnação do Verbo de Deus. Como na Páscoa, a preparação é de 40 dias de oração e jejum, a Quaresma do Natal, ou Quaresma de São Felipe, porque começa em 14 de novembro, festa do apóstolo Felipe. Na quaresma preparatória, a Igreja celebra, principalmente em dezembro, os profetas do Antigo Testamento que anunciaram o Messias. No domingo entre 11 e 17 de dezembro, são recordados, de modo especial, os santos patriarcas que aguardavam a vinda do Salvador. No domingo entre 18 e 24 de dezembro, são comemorados os antepassados de Jesus, mencionados nos Evangelhos. Ao se aproximar a festa, a liturgia envolve as pessoas na atmosfera de expectativa do enternecedor mistério de Deus, que vem habitar entre nós.
A grande vigília
A partir de 20 de dezembro, a preparação torna-se mais intensa, com uma vigília de 5 dias. Na véspera do Natal, chamada “sotchélnik”, intensifica-se o jejum, que dura o dia inteiro até nascer a primeira estrela no céu.
Três grandes cerimônias são celebradas: a primeira é o Ofício das Horas Imperiais, assim chamadas, porque eram celebradas com a presença do Imperador e da corte imperial e também por causa do esplendor de que a cerimônia se reveste.
O Ofício é celebrado no centro da igreja, com o Evangelho exposto em lugar de destaque e com as portas da iconostase abertas, porque o Salvador não está mais oculto, como outrora na gruta, mas raiou como sol resplandecente para todas as nações. As leituras bíblicas do Ofício introduzem as pessoas no clima de Natal e são intercaladas com poemas litúrgicos de rara beleza. A segunda cerimônia é o Ofício de Vésperas Solenes unidas com a longa Liturgia de São Basílio.


A terceira cerimônia é a Grande Vigília noturna, que consta das Completas Festivas com a cerimônia da Litiá (bênção dos pães) e o tradicional cântico Deus está conosco e, logo a seguir, o Ofício das Matinas com o cântico do tropário e konákion, que as pessoas conhecem de cor, na melodia tradicional, que se repete inúmeras vezes durante todo o período de Natal, até a próxima grandiosa festa da Epifania (Bogoiavlênie), com a bênção das águas. Nas Matinas, uma parte proeminente é o cântico do Cânon, longo poema litúrgico de nove odes, referentes aos cânticos do Antigo Testamento, mais o Magnificat (9ª ode). No Natal existem dois cânones, o do santo poeta Cosme de Maium e o do outro santo poeta João Damasceno.

O dia de Natal: Cristo nasceu: glorificai-o!
Na Manhã de Natal, a Liturgia (a Missa) é celebrada com uma solenidade só igualada à da Páscoa. No final da Liturgia, celebra-se o Moleben ou Ofício com o cântico Deus está conosco, que, nas igrejas russas, é o ofício de ação de graças pela libertação da Rússia da invasão napoleônica em 1812.
A teologia do Natal faz a comparação entre o primeiro Adão, da queda e do pecado, com o Segundo Adão, Jesus, da regeneração e da graça. O Natal estabelece o paralelo entre o causador da morte e o restaurador da vida. A festa teria sido introduzida em Constantinopla pelo imperador Arcádio (377), vinda da Igreja de Roma, onde tinha substituído a festa pagã do Sol invicto e se tornou popular, graças à eloquência de São João Crisóstomo, e à poesia de Santo Efrém, o Sírio.

São João Crisóstomo proclama:
“Hoje é a festa da alegria geral, porque nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor (Lc 2:10-11). Alegram-se hoje os céus e a terra; alegra-se toda criatura, porque o Salvador nasceu em Belém, porque cessou toda a maldade e Cristo reina para sempre... Aquele por quem os antepassados tanto suspiravam, e que os profetas prenunciavam e os santos desejavam ver, hoje se manifestou. Deus apareceu na terra, na carne, e veio habitar entre os homens”.

O santo poeta Efrém, o Sírio, diz em uma palestra sobre o mistério do Natal:
Hoje raiou o dia da bondade: que ninguém se vingue do seu próximo por ofensas recebidas; chegou o dia da alegria: que ninguém seja culpado de tristeza e ofensa ao seu próximo.
Este é um dia de céu claro e sem nuvens: que seja refreada toda a ira que atormenta a paz e a tranquilidade... Este é o dia em que o Senhor de toda a riqueza tornou-se pobre por amor de nós.

Interessante ou não? De toda forma que tal preparar uma Kutia para experimentar neste Natal?


Kutia Tradicional

1/2 kg de trigo em grão
mel a gosto
50 grs de uvas passas
50 grs de semente de papoulas
nozes moídas e inteiras para decorar

Preparo: Coloque os grãos de trigo de molho por 2 horas. Coloque em panela de pressão com bastante água e leve a cozinhar até amolecer, escorra e depois de fria acrescenta-se mel agosto, sementes de papoula, passas e nozes moídas.


Kutia estilizada
200g de grãos de trigo
10g de sementes de papoula
100g de nozes picadas
100g de amêndoas picadas
50g de passas embebidas em 70ml de rum/cognac
baunilha (em pó ou essência)
suco de 1/8 a ¼ de limão
1 lata de leite condensado
½ lata de creme de leite
Opcional: 2 ou 3 doses pequenas de bebida destilada (rum, whisky, gin)
Pode-se ainda adicionar avelãs ou frutas cristalizadas/secas (como figos, tâmaras).

Preparo: Lavar os grãos de trigo e deixá-los de molho em água por cerca de 2 horas. Escorrer a água. Colocar em uma panela com água e deixar ferver por cerca de 15 minutos. Deixar esfriar por mais ½ hora e depois passar na escorredeira. Colocar água fervente sobre as sementes de papoula, levar ao fogo e deixar levantar fervura. Apagar e deixar de molho por 1 a 2 horas. Passar por uma peneira. Espremer um pouco as sementes. Em um recipiente, misture o leite condensado, o creme de leite, o limão, as passas com o cognac, a baunilha e o destilado (rum, gin, etc.), ajustando o creme a seu gosto. Adicione as nozes e amêndoas picadas e as sementes de papoula. Mexa bem e deixe em geladeira por 1 a 2 horas.