quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Manteiga e molho de maçã (Apple butter & Apple sauce)– delícias da Era Tudor


Imaginem a correria de hoje... terei um trabalho sobre cerimonial e protocolo para apresentar hoje na Universidade – o fato, é que o texto sobre o qual devo explanar é uma espécie de “manual” sobre como fazer a cama do rei Henrique VIII; e eu me detive pesquisando algo que me permitisse fazer uma ligação com aquele manual. Consegui. A apresentação promete... Daí pensei: - Já que estou pesquisando algo pra Universidade porque não pesquisar algo pra confraria?
Assim, mediante meus estudos sobre o segundo reinado de um Tudor, esta confraria hoje vai tratar de uma guloseima característica da Era Tudor: Os molhos de maçã e a manteiga de maça.

Molho de maçã

Manteiga de maçã

Geralmente quando se fala em molho de maçãs, os historiadores sempre dizem que este tipo de preparação se intensificado na Idade Média.  E a combinação de doce com acido seria perfeita para o acompanhamento de carnes.
No entanto, nas minhas pesquisas, encontrei vestígios de que a pratica de combinar carnes com maça remonta aos tempos antigos. A maioria dos pratos feitos com maçãs que conhecemos hoje é de origem primitiva. Por exemplo, cozinhar maçãs com carnes gordas, servia para compensar a gordura. E esta é uma pratica que remonta aos tempos clássicos, quando Apicius já oferecia uma receita de um prato de carne de porco com cubos com maçãs... e acontece que esta versatilidade das maçãs continuou a ser melhor explorada em tempos medievais, o Forme of Cury e o Le Ménagier de Paris (livros de culinária do século XIV) dão uma série de receitas para o molho de maçã, sem contar nas frituras e bebidas a base da fruta.




Apicius [Romano, do primeiro século D.C.] elaborou a receita para 'minutal matianum', um ragu de carne de porco, contendo maçãs... este é um tipo de prato feito ainda e comidas, em especial no Norte e Centro da Europa. A acidez de maçãs ajuda na digestão de gordura de carnes, tais como a carne de porco. (Fonte: History of Food, Maguelonne Toussaint-Samat [Barnes & Noble Books:New York] 1992 (p. 629))
Encontrei algumas receitas antigas para molho de maçã – indicado para servir com carnes e peixe;

[1390]
Hot Applesauce (Appulmose) for Meat and Fish.
Nym appelyn and seth hem and lat hem kele and make hem throw a cloth and on flesch dayes kast therto god fat breyt of Bef and god wyte grees and sugar and safronn and almonde mylke of fische dayes, oyle de olyve and gode powdres and serve it forthe.  "This Middle Engish recipe might read something like this in modern English: "Take apples and poach them. And let them cool and put them through a strainer. And on flesh days, add good, rich beef broth and good white grease and sugar and saffron. On fish days, add almond milk, olive oil and ground spices. And serve it forth." –Fonte: The Forme of Cury (circa 1390), edited by Samuel Pegge, [London:1780], as reprinted and translated in Apples:History, Folklore, Horticulture, and Gastronomy, Peter Wynne [Hawthorne Books:New York] 1975 (p. 201)


[1475]
Amplummus
Pour faire un amplummus: prenez pommes pelleez et copez par morceaulx, puis mis bouiller en belle esve fresce; et quant il sont bien cuis, purez l'esve hors nettement, puis les suffrisiez en beau bure fres; ayez cresme douce et moyeulx d'oels bien batus, saffren et sel egalment; et au dreschier canelle et chucquere largement pardessus.
To make an Apple Sauce. Get peeled apples, cut into pieces, then set to boil in puer fresh water. When they are thoroughly cooked, drain off all of the water and sautee them in good fresh butter; get fresh cream and well beaten egg yolks, and saffron, and salt judiciously. On dishing it up, cinnamon and sugar generously over top." Fonte: The Vivendier, A Fifteenth-Century French Cookery Manuscript, A Critical Edition with English Translation by Terence Scully [Prospect Books:Devon] 1997 (p. 46)  [NOTE: editor's comments following this recipe refererence several variations, including the use of cream and egg yolks. He also conjects this recipe might have been appropriate for sick people based on its placement in the book. Similar recipes from other period European texts are cited. Mr. Scully tells us the name "amplummus" is probably a combination of the words "apple" and "mush" derived from Old German.]

Eu  bem sei que vai haver pessoas reclamando que as receitas estão em inglês. Mas vou deixá-las assim para lembrar que tudo isso começou com meus estudos sobre um personagem inglês (sem contar que, ao final deste texto vai aparecer algumas receitinhas menos trabalhosas do que as apresentadas em inglês).
 Quanto à manteiga de maçã, ela nada mais é do que uma forma altamente concentrada de um molho de maçã, produzidos por um período longo de cozedura de maçãs em cidra ou com água a um ponto onde o açúcar nas maçãs caramelizam, transformando-se num creme espesso como manteiga, e ganham a cor de um castanho profundo. A concentração de açúcar na manteiga de maçã oferecia uma vida útil muito mais longa do que uma conserva de molho de maçã.
Desde a antiguidade o cozimento prolongado de frutas, reduzindo o seu volume, tem sido utilizado como um método prático de preservar frutas – embora se admita que o desenvolvimento de conservas e as tecnologias de refrigeração no século XIX e XX reduziram a importância das abordagens tradicionais, o que provavelmente faz com que receitas sejam esquecidas.
Na Grécia antiga o termo usado para este tipo de preparação siraion. Durante os séculos de hegemonia romana, escritores como Plínio, o Velho, Apicius e Columella também descreveram o processo de fabricação deste produto – e que dão nomes diferentes dependendo do grau de redução dos ingredientes originais, que tipicamente são reduzidos entre metade e um terço nestas receitas.
Provavelmente o surgimento da manteiga de maça, tal como a conhecemos, surgiu  no Sul de Limburg (Holanda), concebido durante a Idade Média, quando os primeiros mosteiros (com grandes pomares) apareceram. A produção da manteiga de frutas foi uma maneira perfeita para conservar parte da produção de frutos por estes mosteiros. Naquela região quase todas as aldeias tinham seus próprios produtores de manteiga de maçã – e dalí se espalho pela Europa. E a produção de manteiga de maçã também foi uma forma popular de usar maçãs na América colonial, e até o século XIX.
O engraçado é que não há manteiga de leite envolvida no produto; o termo "manteiga" refere-se apenas a consistência suave e espessa, e a utilização da manteiga de maçã e usa propagação de consumo no uso com pães. Normalmente temperada com canela, cravo e outras especiarias, o uso da manteiga de maçã geralmente é no pão, em pratos como carnes – onde serve como um condimento.


A manteiga de maçã poder ser também misturada com vinagre durante a cozedura para proporcionar uma pequena quantidade de acidez para a manteiga de maçã geralmente doce. Tradicionalmente manteiga de maçã era preparada em grandes tachos de cobre. Grandes espátulas de madeira, parecida com remos grandes, eram usados para misturar os ingredientes no tacho (ação semelhante a produção dos doces no nordeste brasileiro).
No Brasil encontramos este tipo de preparo nos “bons” supermercados. Mas, com certeza, não tem coisa melhor do que sentir o gostinho de uma manteiga de maça caseira.  Por isso coloque seu avental e mão a obra...


Molho de maçã 
(Também conhecido como purê de maçã)

2kg de maçãs vermelhas
1 xícara (chá) de açúcar
1 colher (chá) de mostarda
2 colheres (sopa) de suco de limão
1 colher (chá) de sal
1 pitada de canela em pó

Preparo: Descasque, retire as sementes e pique as maçãs. Leve ao fogo alto, adicionando os ingredientes restantes. Misture bem e tampe a panela. Quando ferver, abaixe o fogo e cozinhe até as maçãs amaciarem. Se o caldo secar, acrescente um pouco de água para não grudar. Retire do fogo e amasse ate obter um purê. Fica uma delícia servido com carnes como porco, javali, ovelha e peru

Manteiga de Maçã

2 1/2 kg de maçãs descascadas e picadas e transformadas em purê (usei o processador)
1 xícara de açúcar comum
1 xícara de açúcar mascavo escuro
4 colheres (chá) de canela (ou a gosto)
1 colher (chá) de pimenta-da-jamaica
½ colher (chá) de gengibre ralado
½ colher (chá) de cravo-da índia em pó
¼ colher (chá) de sal
1 colher (chá) de noz-moscada

Preparo: Misture todos os ingredientes numa panela grande e alta (se tiver um tacho pequeno é melhor). Cubra e cozinhe no mínimo (fogo bem baixo) até evaporar, engrossar e escurecer – mexendo de vez em quando para não grudar no fundo Descubra e deixe terminar de engrossar. Remova do fogo. Ponha em vidros esterilizados e secos. Refrigerar.

Molho de Maçã do Barão

1 maçã vermelha média com casca picada
1 colher (sopa) de cebola picada
1 dente de alho amassado
1/2 colher (chá) de páprica doce
1 colher (sopa) de farinha de trigo
1 colher (sopa) de salsa
1 colher (sopa) de manteiga
sal

Preparo: Em uma panela, refogue a cebola e o alho na margarina por alguns minutos. Acrescentar a maçã bem picada, a páprica e o sal e deixar ferver por 5 minutos. Peneirar o caldo do assado do lombo e separar os pedacinhos de maçã. Dissolver 1 colher (sopa) rasa de farinha de trigo no molho peneirado e incluir os pedacinhos de maçã. Misturar ao molho e mexer sempre. Quando engrossar juntar a salsa e desligar o fogo

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Um monumento ao amor - uma descoberta regada a vinho e provoleta


Há momentos em que a inspiração me aparece enquanto estou disperso... ou, quando estou com a mão ocupada com uma generosa taça de um bom vinho e degustando um aperitivo.  Isso é batata de acontecer se eu estiver me deleitando com provoleta com vinho...


Acredito no poder das manifestações de Baco através do consumo de uma boa bebida com um bom acompanhamento – afinal ele é o deus do vinho, da gula, da ebriedade, dos excessos – sobretudo os sexuais. Então vou apelar pra Baco na intenção de ele, hoje, me permitir divagar numa escrita diferente, mas que me permita elucidar um pouco mais das minhas percepções do mundo.
Toda vez que eu estou caminhando pelas ruas históricas, independentemente do lugar onde eu esteja eu fico com uma vontade louca de querer entrar nos velhos casarões com a esperança de tentar descobrir o estilo de vida de quem existiu ali. Isso me persegue desde a infância e é sempre um prazer quando encontro lugares disponíveis para visitações.
Aqui em Fortaleza já visitei muitos lugares assim, antigos, com cheiro de histórias importantes e intrigantes – e falta ainda muitos outros lugares aos quais pretendo  visitar. Em algumas destas visitas me acompanhou a senhora baronesa do Crato de Açúcar, Célia Augusta , consóror desta Confraria; e pelo nosso fiel escudeiro, Jesus Andrade - temos que fazer um roteiro novo pessoal, tirar mais umas fotos...

Da esquerda para a direita: Jesus, Célia e Eu, no último evento em que comparecemos. 
Eu sempre fui encantado com tudo que a historia pode me proporcionar. E quando eu visito esses velhos casarões  é como se me transportasse para aquelas épocas distantes. Sinto-me bem! Infelizmente, a falta de conservação do patrimônio nas cidades é coisas que deixa a desejar. E isso contribui para o desaparecimento de maravilhas como a que irei lhes mostrar hoje. O amor será o mote que eu irei utilizar para tentar exemplificar o que o homem pode construir para externalizar seus sentimentos – e presentear além de sua amada, o mundo. 
Na historia da humanidade é fácil aportar construções majestosas realizadas com a finalidade de impressionar a pessoa amada - seria então uma forma de homenagem. Os Jardins Suspensos da Babilônia, o Taj Mahal e o Trianon são alguns exemplos dessas homenagens que amor fez com que o homem construísse edificações esplendorosas que até hoje deixa envaidecido e admirado o mundo inteiro. (mais informações sobre os edifícios citados no fim deste post)
As construções citadas anteriormente, distintas por seus lugares e épocas, são para mim dádivas da arquitetura e exercem sobre mim uma dimensão poética, de tão romântica que me parecem; E acabam endereçando e revelando, além de pontos reais nas distintas sociedades, questões importantes de suas culturas por trás de eventos e objetos do cotidiano que exaltam a beleza nas suas mais variadas formas. 
Eu que já andei  lendo Fedro de Platão, acho isso até compreensível – pois ele nos faz compreender a experiência da beleza como um veículo para a alma ascender à verdade ( Eros nos dá as asas para isso. E a beleza  quando encarnada no esfera humana, seria  um vestígio da luz do Ser que os mortais raramente podem contemplar diretamente). Mas se eu seguir  minha formação filosófica para esclarecer um pouco mais desta questão poderia levantar este escrito a outro questionamento: será que podemos ser enganados pelo que aparenta ser bom e verdadeiro?  Pensei isso porque provavelmente Baco já esteja me influenciando com seu poder etílico e auspicioso... Porque o fato é que no mundo atual, mesmo quando se vive de aparências, toda beleza é beleza real e verdadeira – e a beleza é exibida, gosta de aparecer, de ser vista – o que pode ser um pensamento platônico num tempo onde tudo pode ser relativo.
Outro fato do qual não se pode fugir é que a imaginação e o amor (Eros) estão intrinsecamente relacionados.  Parece que nosso amor pela beleza nos completa. Parece que é daí que surge uma necessidade fundamental pela imaginação para melhorar o convívio, a relação, o amor.
Talvez eu me pareça um radicalista com o pensamento a seguir, mas vou correr o risco: “A falta de amor e de imaginação pode estar evidenciando a raiz das nossas piores falhas morais”. Acredito que a imaginação é a “surpresa que encanta”. Seria nossa capacidade de expandir amor para valorizar e reconhecer o outro – acima de qualquer diferença (sexo, religião, cor, idade, etc.). A imaginação é nossa capacidade de entrar no jogo da vida e o amor é a arma para ir vencendo o jogo.  Tudo que sair deles são sinais para externalizar sentimentos.
É justamente a imaginação e amor os responsáveis pelas arquiteturas gloriosas que mostra um passado áureo. É como se o edifício construído fosse um ícone para representar um ídolo de adoração. 
O que me surpreendeu ontem foi encontrar uma parte da historia de Fortaleza que eu desconhecia – e que tem a ver com esta minha divagação dionisíaca. Eu estava na internet lendo e me deparei coma imagem de uma construção maravilhosa, dessa que deixam os olhos encantados – coisa bastante comum quando se visita o Velho Continente e coisa rara no Brasil. O mais legal de tudo foi descobrir que a obra foi feita por causa de uma história de amor.
De antemão devo agradecer à Leila Nobre pela revelação desta maravilha no seu  blog Fortaleza Nobre. Foi graças a esta blogueira que tive a oportunidade de ser “apresentado” ao Palácio Plácido de Carvalho. Leila peço-lhe licença mas, acredito que a informação é de necessidade pública, e não posso deixar de exibir as fotos que você encontrou, diante da magnitude do seu achado. 
Aconselho você, amigo leitor, a dar um pulinho logo para a receita da provoleta no fim deste post, prepare-a (é rapidinho), abra um bom vinho e, só depois prossiga com a leitura.

Palácio Plácido de Carvalho – Uma prova de amor!

Rico e de gosto requintado, Plácido de Carvalho fez construir o que se pode classificar como uma das mais monumentais obras arquitetônicas da época no Brasil – o “Palácio do Plácido”, na Aldeota, antigo Outeiro. Foi um presente do rico comerciante à sua amada Pierina, uma italiana de Milão.


Plácido de Carvalho


Foto de 1971 pouco antes de ser demolido



A majestosa construção, cópia de um Palácio Veneziano, que o Sr. Plácido de Carvalho havia mandado construir para a bela Pierina, ficava na Avenida Santos Dumont e possuía pequenos chalés para servirem de moradia dos serviçais do castelo. Nos anos 60 o castelo foi vendido.





O comerciante Plácido de Carvalho, teve forte atuação no cenário empresarial de Fortaleza, nas duas primeiras décadas do Século XX, até a primeira metade dos anos trinta. Registrou seu reconhecido bom gosto em vários prédios que construiu, destacando-se, entre outros, o famoso Palácio do Plácido erigido para homenagear Maria Pierina Rossi; o Cine-Theatro Majestic Palace, o Cinema Moderno e o imponente Excelsior Hotel. Dos quatro monumentos arquitetônicos hoje só resta o Excelsior Hotel. O Majestic foi totalmente devorado por um incêndio.


Cine-Theatro Majestic


Cine Moderno




Excelsior Hotel hoje - famoso por abrigar o coral natalino da cidade.
No início do século XX, Plácido de Carvalho era um bem sucedido comerciante e industrial em Fortaleza, isso nas duas primeiras décadas do século até a metade da década de trinta. Em 1916, viajando pela Europa veio a conhecer em Paris, Maria Pierina Rossi, uma italiana de Milão, que apesar de apaixonada recusava-se a vir morar no Brasil. Ele, porém, também muito apaixonado, prometeu construir para ela em Fortaleza, uma cópia de um belo palácio que ambos viram em Veneza. Com a promessa, ela concordou, chegando a Fortaleza no ano seguinte.





Com o retornod e Plácido ao Brasil logo começaram os preparativos para a obra. Para construção o bairro escolhido foi o Outeiro, que já passava a ser conhecido como Aldeota. Quanto ao construtor, há dúvidas, muitos apontam o feito ao irmão de Pierina, Natali Rossi, este sim foi o arquiteto do Excelsior Hotel. Mas o Palácio do Plácido foi certamente obra do Sr. João Sabóia Barbosa, artista plástico e excelente engenheiro eletricista diplomado em Liverpool, Inglaterra.






O palácio foi erguido entre as ruas Carlos Vasconcelos e Monsenhor Bruno, tendo como cruzamento das duas a Av. Santos Dumont. Foram usados mármores e vitrais importados, bem como raras madeiras brasileiras. Exibindo estilo rico e eclético, a decoração encantava e chamava atenção. Era cercado de jardins com roseiras e plantas nativas, e possuía duas bem trabalhadas fontes. Depois de dois anos de meticulosos esforços a obra finalmente foi inaugurada em 1921.


Vista atual de um dos chalés pertencentes ao Palácio do Plácido que resistiu ao tempo - Praça luixa Távora
Em torno do Palácio do Plácido como passou a chamar-se ou para os mais excêntricos, foram construídos pequenos chalés, a servirem de moradia aos serviçais da imponente construção.





Após a morte do esposo, em 1934, Pierina que já morava desde 1933 no Excelsior Hotel, casou-se com o arquiteto húngaro Emílio Hinko, amigo de Plácido, que a pedido dela desenhou e construiu em 1938, em torno do palácio seis palacetes, para que servissem de aluguel. Todos ainda existentes. O palácio então foi alugado, e lá passou a funcionar o Serviço de Malária, departamento federal que equivale a Sucam.








Em 1957 morre Maria Pierina, e na década seguinte Zaíra, filha e única herdeira, vende o palácio a um grupo comercial local, que no início dos anos 70 faz a demolição do mesmo para a construção de um supermercado, no entanto o terreno ficou abandonado. Em decorrência de dívidas para com o Poder Público, fez-se a quitação da mesma passando o terreno para o Governo do Estado que lá construiu e hoje está o Centro de Artesanato Luíza Távora.


Quanto ao Palácio do Plácido, este ficou no passado, num velho postal e em gasta e antigas fotos, também na lembrança dos que um dia o viram ou nele entraram, contemplando a beleza de sua torre, de suas janelas e belas escadas a quase dobrar-se, dos seus jardins e suas fontes. Um pedaço do passado agora transferido para livros ou fotos raras. A cumprida promessa de um homem apaixonado que o tempo impiedosamente levou.

Outras construções influenciadas pelo amor

Os Jardins Suspensos da Babilônia 



foram uma das sete maravilhas do mundo antigo. É talvez uma das maravilhas relatadas sobre que menos se sabe. Muito se especula sobre suas possíveis formas e dimensões, mas nenhuma descrição detalhada ou vestígio arqueológico foi encontrada, exceto um poço fora do comum que parece ter sido usado para bombear água. Seis montes de terra artificiais, com terraços arborizados, apoiados em colunas de 25 a 100 metros de altura, construídos pelo rei Nabucodonosor II, para agradar e consolar sua esposa preferida Amitis, que nascera na Média, um reino vizinho, e vivia com saudades dos campos e florestas de sua terra. Chegava-se a eles por uma escada de mármore. Também chamados de Jardins Suspensos de Semiramis, foram construídos no século VI a.C., no sul da Mesopotâmia, na Babilônia. Os terraços foram construídos um em cima do outro e eram irrigados pela água bombeada do rio Eufrates. Nesses terraços estavam plantadas árvores e flores tropicais e alamedas de altas palmeiras. Dos jardins podia-se ver as belezas da cidade abaixo. Não se sabe quando foram destruídos. Suspeita-se que sua destruição tenha ocorrido na mesma época da destruição do palácio de Nabucodonosor, pois há boatos de que os jardins foram construídos sobre seu palácio.

O Petit Trianon 



é um palácio construído no século XVIII pelo Rei Luis XV para a sua amante, a Madame de Pompadour. Este palácio fica localizado no interior do parque do Palácio de Versailles. É sob o impulso da sua favorita, Madame de Pompadour, que o Rei Luis XV ordena a construção de um novo Trianon: o Petit Trianon. A obra confiada a Jacques Ange Gabriel dura 6 anos entre 1762 e 1768. O lugar escolhido para esta nova construção é o antigo jardim botânico do Rei. Madame de Pompadour faleceu no dia 15 de Abril de 1764, pelo que não assistiu à conclusão da sua obra. É com a sua nova favorita, Madame du Barry, que Luis XV inaugura o Petit Trianon. Luis XV morreu em 1774 e a Condessa do Barry teve que deixar o palácio. Desde a sua subida ao trono, Luis XVI ofereceu o Petit Trianon à sua esposa Maria Antonieta desta forma: "Vós amais as flores, Senhora, tenho um bouquet a oferecer-vos. É o Trianon." Maria Antonieta empreendeu numerosas obras no palácio e no seu domínio. Depois da Revolução francesa o palácio caiu no esquecimento. Foi restaurado uma primeira vez durante a Monarquia de Julho pela Rainha Marie-Louise e, mais tarde, uma segunda vez durante o Segundo Império pela Imperatriz Eugénia de Montijo. Inspirado pela arquitetura Palladiana e possivelmente desenhado por Jean-François Chalgrin, as elevações exteriores, sobre as bases de um plano quadrado, escondem um planeamento subtil dos níveis interiores. Parecendo aberto sobre os jardins, o piso dos salões está, de facto, situado em volta de um pátio, do lado de Versailles. A fachada sobre este pátio é ornada por pilastras, a fachada oposta por colunas e as fachadas laterais por meias-colunas. A descrição da decoração exterior simboliza o classicismo repensado de Gabriel.

O Taj Mahal 



é um mausoléu situado em Agra, uma cidade da Índia e o mais conhecido dos monumentos do país. Encontra-se classificado pela UNESCO como Património da Humanidade. Foi recentemente anunciado como uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno em uma celebração em Lisboa no dia 7 de Julho de 2007. A obra foi feita entre 1630 e 1652 com a força de cerca de 20 mil homens, trazidos de várias cidades do Oriente, para trabalhar no sumptuoso monumento de mármore branco que o imperador Shah Jahan mandou construir em memória de sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam, a quem chamava de Mumtaz Mahal ("A joia do palácio"). Ela morreu após dar à luz o 14º filho, tendo o Taj Mahal sido construído sobre seu túmulo, junto ao rio Yamuna. Assim, o Taj Mahal é também conhecido como a maior prova de amor do mundo, contendo inscrições retiradas do Corão. É incrustado com pedras semipreciosas, tais como o lápis-lazúli entre outras. A sua cúpula é costurada com fios de ouro. O edifício é flanqueado por duas mesquitas e cercado por quatro minaretes. Supõe-se que o imperador pretendesse fazer para ele próprio uma réplica do Taj Mahal original na outra margem do rio, em mármore preto, mas acabou deposto antes do início das obras por um de seus filhos. Como todas as histórias, esta também começa da mesma maneira... Era uma vez um príncipe chamado Kurram que se enamorou por uma princesa aos 15 anos de idade. Reza a história que se cruzaram acidentalmente mas seus destinos ficaram unidos para todo o sempre. Após uma espera de 5 anos, durante os quais não se puderam ver uma única vez, a cerimónia do casamento teve lugar do ano de 1612, na qual o imperador a rebatizou de Mumtaz Mahal ou "A eleita do palácio". O Príncipe, foi coroado em 1628 com o nome Shah Jahan, "O Rei do mundo" e governou em paz. Quis o destino que Mumtaz não fosse rainha por muito tempo. Ao dar à luz o 14º filho de Shah Jahan, morreu aos aos 39 anos em 1631. O Imperador ficou tremendamente desgostoso e inconsolável e, segundo crónicas posteriores, toda a corte chorou a morte da rainha durante 2 anos. Durante esse período, não houve musica, festas ou celebrações de espécie alguma em todo o reino. Shah Jahan ordenou então que fosse construído um monumento sem igual, para que o mundo jamais pudesse esquecer. Não se sabe ao certo quem foi o arquiteto, mas reuniram-se em Agra as maiores riquezas do mundo. O mármore fino e branco das pedreiras locais, Jade e cristal da China, Turquesa do Tibet, Lapis Lazulis do Afeganistão, Ágatas do Yemen, Safiras do Ceilão, Ametistas da Pérsia, Corais da Arábia Saudita, Quartzo dos Himalaias, Ambar do Oceano Índico. Surge assim o Taj Mahal. O seu nome é uma variação curta de Mumtaz Mahal.. o nome da mulher cuja a memória preserva. O nome "Taj", é de origem Persa, que significa Coroa. "Mahal" é arábico e significa lugar. Devidamente enquadrado num jardim simétrico, tipicamente muçulmano, dividido em quadrados iguais cruzado por um canal ladeado de ciprestes onde se refte a sua imagem mais imponente. Por dentro, o mausoléu é também impressionante e deslumbrante. Na penumbra, a câmara mortuária está rodeada por finas paredes de mármore incrustado com pedras preciosas que forma uma cortina de milhares de cores. A sonoridade do interior, amplo e elevado é triste e misterioso, como um eco que soa e ressoa sem nunca se deter. Sobre o edifício surge uma cúpula esplendorosa, que é a coroa do Taj Mahal. Esta é rodeada por quatro cúpulas mais pequenas, e nos extremos da plataforma sobressaem quatro torres que foram construídas com uma pequena inclinação, para que em caso de desabamento, nunca caiam sobre o edifício principal. Os arabescos exteriores são desenhos muçulmanos de pedras semi preciosas incrustadas no mármore branco, segundo uma técnica Italiana utilizada pelos artesãos hindus. Estas incrustações eram feitas com tamanha precisão que as juntas somente se distinguem à lupa. Uma flor de apenas sete centímetros quadrados, pode ter até 60 incrustações distintas. O rendilhado das janelas foi trabalhado a partir de blocos de mármore maciço. Diz-se que o imperador Shah Jahan queria construir também o seu próprio mausoléu. Este seria do outro lado do rio. Muito mais deslumbrante, muito mais caro, todo em mármore preto, que seria posteriormente unido com o Taj Mahal através de uma ponte de ouro. Tal empreendimento nunca chegou a ser levado a cabo. Após perder o poder, o imperador foi encarcerado no seu palácio e, a partir dos seus alojamentos, contemplou a sua grande obra até à morte. O Taj Mahal foi, por fim, o refúgio eterno de Shah Jahan e Mumtaz Mahal. Posteriormente, o imperador foi sepultado ao lado da sua esposa, sendo esta a única quebra na perfeita simetria de todo o complexo do Taj Mahal.

Fontes: NOBRE, Leila. http://fortalezanobre.blogspot.com.br/ 

Provoleta (provolone grelhado básico)

O provolone é um queijo de leite integral de vaca com uma pele macia. Ele é produzido principalmente nas regiões da Itália da Lombardia e Vêneto – região onde nasceu Pierina a personagem da nossa história de amor. Em homenagem a ela segue as receitas abaixo.

ingredientes
2 fatias de queijo provolone cortadas com 2 cm de espessura
farinha de trigo
1 dente de alho pequeno amassado
6 colheres de sopa de azeite de oliva
1 colher de chá de orégano
1/4 colher de chá de tomilho
sal e pimenta do reino

Preparo: Misture em um recipiente o alho, azeite, orégano e tomilho. Tempere com sal e um pouco de pimenta-do-reino.  Tempere as fatias de provolone com pimenta-do-reino e com pouco sal. Pressione as fatias contra a farinha de trigo e retire o excesso. A farinha ajudará a manter a forma do queijo quando ele estiver derretendo.  Coloque as fatias cobre a grelha de uma churrasqueira ou sobre uma chapa canelada para fogão. Doure rapidamente um dos lados. Vire cuidadosamente e distribua metade do molho sobre o lado já grelhado. Retire da grelha e regue com o molho restante. Sirva imediatamente acompanhado de fatias de pão.

Creme de provolone

Ingredientes:
2 colheres de sopa (cheia) de manteiga
2 colheres de sopa (cheia) de farinha de trigo
de 500ml a 1 litro de leite
1/2 cubo de caldo de legumes ou o preferido
uma pitada de noz-moscada
200g de mozzarella ralada
150g de provolone ralado
1 caixinha de creme de leite
sal, se for preciso (só pra acertar

Preparo:  Colocar a farinha, manteiga e a metade do caldo no fogo até a manteiga derreter e dar uma leve dourada. Depois de levemente dourado, vá colocando o leite, aos poucos, e mexendo, até atingir o ponto desejado (eu devo ter colocado uns 700ml - lembrem-se: o creme fica bem mais espesso depois de frio, por isso não tem problema deixar o molho meio ralo, mesmo porque o queijo ajudará a dar consistência). Deixe o creme ferver um pouco, e enquanto isso rale um pouquinho de noz moscada. Depois de ferver um pouco, sempre mexendo, desligue o fogo. Adicione o creme de leite, e aos poucos vá adicionando os queijos (eu gosto de ralá-los, pois assim ele agrega melhor ao molho e fica "puxa-puxa". Não se esqueça da dica: só adicione o queijo depois do creme de leite. Não sei porque, mas quando eu adicionei antes, o creme não ficou "puxa" como eu queria. Mas enfim... Depois do queijo todo adicionado experimente e se preciso corrija o sal, e sirva.
OBS.: ótimo para acompanhar massas, torradas e até biscoito de polvilho. 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A força das coisas - Ou, Minhas recordações beauvoirianas para servir frango com molho piri-piri


Caríssimos Confrades,
Saúdo-lhes neste inicio de 2013. Peço-lhes desculpa pela ausência, mas muitas coisas aconteceram... a “força das coisas” impediram-me de estar on line. Mas o importante é que estou de volta, para que possamos continuar nos divertindo com histórias deliciosas. Assim, desejo-lhe de antemão que os mais refinados aromas perfumem suas vidas e que a força do nosso conteúdo gastronômico transborde o seu paladar com delicadeza, lhes oferecendo não só o deleite da boa mesa, mas que possa lhe refestelar com mais cultura.
O ano de 2012 mal acabou e eu já entrei no ano novo cheio de pensamentos audaciosos, aos quais pretendo programar ações para pô-los em prática a partir de agora. Isso tem explicação: antes do ano de 2012 acabar eu já percebia de uma forma mágica o impacto da “Força das Coisas” sobre mim – nunca tinha parado para observar tão profundamente isso nos anos anteriores... Minha vida não tem sido fácil de certos anos pra cá – mas o lado bom de tudo o que aconteceu é que eu tenho aprendido muito com isso. Evoluí com certeza... A “Força das coisas” parece um feitiço: quando impregna em você é difícil de largar. E talvez precise de outro feitiço para te deixar leve, te deixar bem – de certo que a alquimia da gastronomia pode ajudar, pode servir como tratamento para o impacto da “força das coisas”.
Somente neste instante me dei por conta que a expressão que estou usando (“a força das coisas”) serviu também como mote e como titulo homônimo para a criação de uma obra literária a qual muito aprecio “A Força das Coisas”, que foi escrita por Simone de Beauvoir, mulher admirável pela inteligência, cheia de atitudes peculiares e que, dentre outras coisas acreditava que uma pessoa pode conhecer um país por seus sabores. 



A Força das Coisas é a terceira parte da trilogia de memórias escrita por Simone de Beauvoir (as duas primeiras partes são Memórias de Uma Moça Bem Comportada e A Força da Idade). Simone de Beauvoir escreveu ainda outro livro de memórias, cronologicamente posterior a esta trilogia, chamado A Cerimônia do Adeus, onde conta os últimos anos da vida de Sartre
Pensando em Simone a receitinha de hoje “Frango assado com molho Piri-Piri” não terá sua história explicada – acredito que ela seja melhor experienciada para que se perceba um dos muitos sentidos que “A Força das Coisas” possui.


Essa minha percepção mais ampla sobre a “força das coisas me faz acreditar que este ano será diferente! Embora muita gente sempre pensa nisso quando um ano novo chega. O que me faz ter esta certeza é o poder da “força das coisas” está me mostrando: as respostas do Universo estão chegando mais rapidamente; o magnetismo esta diferente; eu estou diferente – e logo, dentro de alguns meses estarei também mais velho, mais maduro, mais forte. Aliás, pensando na força e no peso da idade Simone de Beauvoir teceu um comentário ao qual muito me identifico que diz assim:

A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou pra mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa pra minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida, unicamente o sabor da minha vida. Acho que eu consegui fazê-lo; vivi num mundo de homens guardando em mim o melhor da minha feminilidade. Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos. - Trecho da Peça VIVER SEM TEMPOS MORTOS, inspirada na correspondência de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre.

De inicio pode parecer um texto austero. Mas a doçura das emoções está gravada nas entrelinhas. A “força das coisas” está aí dentro, embutida, lustrando os sentimentos e dando muita carga (positiva ou negativa) as palavras. Por isso pare um instante, sinta a “força das coisas” na sua vida, veja a intensidade das emoções, descubra o que ela pode lhe oferecer, mude. Pois há sempre uma nova emoção a destilada, melhorada, que vai lhe fazer um bem enorme – é neste momento em que o divino aparece e deixa-lhe no êxtase, na graça, no gozo.



Simone de Beauvoir bem soube apreciar isso ao que me refiro no parágrafo anterior. Na sua vida ao Brasil pelos idos de 1960 ela vivenciou a “brasilidade” e deixou registradas as emoções que ela concretizou por aqui: Foi quando o existencialismo descobriu a saudade! Naquela ocasião Simone de Beauvoir veio ao Brasil acompanhada por Jean Paul Sartre e foram recebidos por Jorge Amado e Zélia Gattai que, durante um mês, apresentaram algumas das faces do Brasil para os olhos ilustres dos intelectuais franceses.
É sabido através da leitura dos escritos de Simone de Beauvoir que Jorge Amado conquistou ainda mais a simpatia de Simone quando resolveu apresentar para ela muitos dos sabores do Brasil. Diz-se que inicialmente ele apresentou iguarias bastante conhecidas nossas como suco de caju, cacau, maracujá, feijoada, feijão mulatinho, mandioca, batata-doce, carne seca, rapadura, caipirinhas e batidas variadas… E eu devo ressaltar que Jorge Amado comungava com a premissa de Simone quando ela dizia que uma Nação poderia ser conhecida pelos seus sabores; enquanto Sartre melindrava-se nestas ocasiões e evitava estas discursões porque era sensível a sabores fortes o que lhe deixava ‘confortável’.
A “força das coisas” é tão implacável que agora mesmo ela está agindo sobre mim. Está aguçando meu lado profissional de turismólogo (o que de fato sou por formação) se manifestar para descrever o roteiro que as personas desta história percorreram. Não posso fugir disso.


Foi durante seu período de exílio em Paris (entre 1948 e 1950) que Amado conheceu Simone e Sartre. De volta ao Brasil em 1960  Amado os convidou para conhecer estas terras que já havia sido motivo de tantas outras conversas nos tempos passados. Sabe-se que foi num avião com um trem de pouso que persistia em não funcionar, após uma viagem complicada e repleta de conexões turbulentas, os visitantes franceses chegaram na cidade do Recife. Talvez com esta situação estressante da longa jornada de voo as primeiras algumas emoções dos pensadores franceses ficaram evidentes: 1) o milagre do avião ter conseguido pousar com todos vivos; e 2) o sentimento de alívio de encontrar na imensidão de curiosos que os esperava no aeroporto, uma imagem familiar e hospitaleira – representada pela pessoa de Jorge Amado, que lhe esperava em meio a multidão). Estas duas constatações podem parecer banais, mas foram importantes para expressar as impressões iniciais de Simone quanto a sua chegada na “terra brasilis”. Prova disto é que pode ser encontrado nas memórias de Simone o seguinte comentário: “Compreendemos com satisfação que Amado, que viera especialmente para nos receber, iria servir-nos de guia pelo menos durante um mês”.
A viagem pelo Brasil começou a partir do aeroporto de Recife, e as emoções acabaram transformando os planos de Simone e Sartre – que vinham ao Brasil com propósitos políticos (eles queriam discutir dentre muitas outras coisas suas impressões sobre as realizações da Revolução em Cuba: e sobre os crimes que a França cometia para reprimir as forças que lutavam pela independência da Argélia). Porém a viagem tonou-se “menos austera e mais divertida” com a ideia que Jorge Amado teve de esquecer um pouco da política montando  com a ajuda de Zélia um roteiro de viagem onde a cultura brasileira esteve sempre em primeiro plano. Amado, de acordo com as memórias de Simone, tinha gosto pelas “coisinhas boas da vida”: as comidas, as paisagens, as conversas e o riso – e isso deu o tom da viagem.
O roteiro tinha de tudo: de visitas ao Candomblé, às praias de Copacabana e Ipanema, à Belo Horizonte e à. São Paulo – esta última, de acordo com Simone “não era bonita, mas transbordava de vida”. Nos mercados populares a variedade de aromas e mercadorias bem como  dos tipos humanos peculiares (como diria Simone: “espíritos mais maliciosos do que malignos”)  encantavam os olhos do casal francês. Ainda visitaram muitas igrejas, plantações de cacau e café nas fazendas nordestinas. Deslocaram-se ainda para Brasília e para o Rio de Janeiro. Tiveram encontros Juscelino Kubitschek e com Oscar Niemeyer. Estiveram também numa tribo indígena no Mato Grosso – neste evento, estiveram sem a companhia de Jorge Amado porque este não gostava de aviões, tendo ficado em Brasília enquanto os amigos e a esposa embarcavam num daqueles teco-tecos de antigamente.


Em Brasília, com a volta da viagem pela tribo indígena, os casai se separaram e Simone e Sartre seguiram rumo a Belém e Amazônia – recomendações de viagem feira por Claude Lévi-Strauss – e, então, ainda retornaria para sua segunda visita a Havana, em Cuba.
A partida foi comovente, “depois de seis semanas de tão bom relacionamento, era difícil imaginar que só os reveríamos muitos anos depois, ou talvez nunca mais”, registrou Simone em suas memórias. È neste instante que a “força das coisas” reaparece para mostrar que, depois de uma longa e jornada com os amigos brasileiros, tendo vivenciado o Brasil Continental com suas distintas fases, a separação dos casais naquele instante elucidou para Simone um aspecto peculiar da cultura brasileira que ela ainda desconhecia: a saudade.
A partir de então uma saga se constrói: a partir de Belém ou de Manaus, Simone e Sartre não podiam retornar imediatamente à França (provavelmente pela falta de voos para tais destinos) e a viagem rumo a capital cubana acabou repleta de problemas geridos pela burocracia.  O casal francês aparentemente dolorido pelos maus-tratos da solidão, do clima, da falta de companhia para conversas e passeios tentou, através de telegramas, entrar em contato com Amado e Zélia – mas sabe-se que os telegramas nunca chegaram. Somente semanas depois, na viagem rumo a Havana, desembarcaram novamente no Rio de Janeiro. Estava aparentemente exaustos, tristes e com a nuvem negra da preocupação pairando sobre suas cabeças. Até que avistaram o “Embaixador da Saudade e Obá de Xangô”, Jorge Amado, e a “força das coisas” trouxeram outros sentimentos que fizeram daquelas amizades mais sinceras, mais humanos, mais fortes, menos política.
Um momento emblemático, dentro os muitos que esta viagem representou foi registrado na imagem abaixo – e trouxe outro turbilhão de emoções:


Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre, Zélia Gattai e Jorge Amado com Mãe Senhora, em Salvador, Bahia. Agosto, 1960. Foto: Fundação Casa de Jorge Amado.
A foto tirada em agosto de 1960 evidencia o cicerone comunista brasileiro (Amado) e sua esposa (Zélia) acompanhados dos existencialistas franceses (Simone e Sartre) na companhia de Mão Senhora. Mostra a imagem outra parcela das muitas faces que a “força das coisas” pode apresentar aos homens – neste caso, em particular, elucida o acolhimento dos existencialistas pelo candomblé. O que foi no mínimo interessante se considerarmos que Simone era católica por formação e Sartre um ateu convicto e, que depois da consulta espiritual saíram de lá, como  diretamente registou Simone: “Sartre era Oxalá, e eu, Oxum”. A profundidade que esta imagem traz mostra a capacidade que a “força das coisas” tem para transpor diferenças ideológicas e culturais e que puderam trazer uma libertação para a dominação do cotidiano.
Mas a “força das coisas” pode lhe ser perceptível por muitos meios: numa simples conversa com um desconhecido; na rua, mediante uma cena que você não esperava acontecer; no supermercado, numa briga; durante o amor, ou mesmo durante o ódio. O importante disso tudo é a necessidade de você perceber exatamente o que a “força das coisas” quer que você veja. Aí pode estar o seu rumo, menos complicado, mais direto e claro. As vezes poder um choque. Mas tudo passa. É questão de adaptabilidade – como tudo na vida.
Neste exato momento a “força das coisas” deve estar te espreitando. Estão te oferecendo meios para que ela seja vista e compreendida. Deve estar dizendo: - Ei, eu estou aqui. Está me vendo? Mas cabe a você se permitir ver.
Assim lhe ofereço esta receita simples de hoje. Na intenção de que a explosão de sabor lhe permita ver algo além...

Fonte: Simone de Beauvoir. A Força das Coisas. Tradução de Maria Helena Franco Martins. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

Frango ao Molho Piri-Piri

Frango
4 sobrecoxas de frango, com pele e osso
1 pimentão vermelho
1 pimentão amarelo
6 ramos de tomilho
Molho Piri PIRI
½ cebola vermelha
2 dentes de alho
3 pimentas malagueta (ou quanto queira, se misturar pimentas fica mais gostoso)
1colher de sopa de páprica doce
1 limão
2 colheres de sopa de vinagre de vinho branco
1colher de sopa de  molho inglês
Um punhado de manjericão fresco

Preparo: Ligue o forno a 200C. Coloque uma frigideira antiaderente (ou grelha) grande em fogo alto. Coloque as sobrecoxas de frango em uma tábua de cortar, com a pele para baixo, e faça cortes na carne de forma que ela fique mais aberta e o osso possa aparecer. Regue a frigideira com um pouco de azeite e espere ficar quente, quando isso acontecer coloque o frango com a pele virada para baixo – deixe até dourar. Depois vire para dourar o outro lado. Não tempere com nada.  Com o frango dourado dos dois lados retire-o da frigideira e nela coloque os pimentões cortados em pedaços grandes e de um salteado nos pimentões.  Em seguida prepare o molho Piri Piri: Descasque e pique a cebola e coloque no liquidificador com 2 dentes de alho descascados. Adicione as pimentas, a páprica, as raspas do limão e o suco de ½ limão. Adicione o vinagre de vinho branco, o molho inglês, uma boa pitada de sal e pimenta, o manjericão e um meio copo de água. Bata até ficar homogêneo. Montagem: Despeje o molho piri piri em um refratário adicione os pedaços de frango, desta vez com a pele virada para cima – para que a carne entre em contato com o molho. Coloque os pimentões  pelos lados e distribua os ramos de tomilho por cima. Leve ao forno por uns 20 minutos.  Servir em seguida.