segunda-feira, 25 de março de 2013

Um bolo à Baco


A mitologia, tão adorada por mim desde muito, hoje resolveu aparecer nos pensamentos para que eu tratasse do meu delírio dionisíaco por bolos. E fez mais que isso... Permitiu-me compreender os poderes de Baco com toda sua ebriedade. Permitiu-me o excesso da mistura de um bolo qu e ficou uma maravilha!
Devo esclarecer que Baco é o equivalente romano de Dionísio – o Deus Grego do vinho, da ebriedade, dos excessos (especialmente os sexuais), da loucura, da natureza e de mais algumas coisinhas... mas eu tenho eu começar pelo começo. Então vamos lá:
Sêmele quando estava grávida exigiu a Júpiter que se apresentasse na sua presença em toda a glória, para que ela pudesse ver o verdadeiro aspecto do pai do seu filho. O deus ainda tentou dissuadi-la, mas em vão. Quando finalmente apareceu em todo o seu esplendor, Sêmele, como mortal que era, não pôde suportar tal visão e caiu fulminada. Júpiter tomou então das cinzas o feto ainda no sexto mês e meteu-o dentro da barriga da sua própria perna, onde terminou a gestação.

A mais bela imagem de Zeus e Semele, de Moreau (1894–1895)
Ao tornar-se adulto, Baco apaixona-se pela cultura da vinha e descobre a arte de extrair o suco da fruta. Porém, a inveja de Juno levou-a a torná-lo louco a vagar por várias partes da Terra. Quando passa pela Frígia, a deusa Cíbele cura-o e o instrui nos seus ritos religiosos. Curado, ele atravessa a Ásia ensinando a cultura da vinha. Quis introduzir o seu culto na Grécia depois de voltar triunfalmente da sua expedição à Índia, mas encontrou oposição por alguns príncipes receosos do alvoroço por ele causado.
O rei Penteu proíbe os ritos do novo culto ao aproximar-se de Tebas, sua terra natal. Porém, quando Baco se aproxima, mulheres, crianças, velhos e jovens correm a dar-lhe boas vindas e participar de sua marcha triunfal. Penteu manda seus servos procurarem Baco e levá-lo até ele. Porém, estes só conseguem fazer prisioneiro um dos companheiros de Baco, que Penteu interroga querendo saber desses novos ritos. Este se apresenta como Acetes, um piloto, e conta que, certa vez velejando para Delos, ele e seus marinheiros tocaram na ilha de Dia e lá desembarcaram.
Na manhã seguinte os marinheiros encontraram um jovem de aparencia delicada adormecido, que julgaram ser um filho de um rei, e que conseguiriam uma boa quantia em seu resgate. Observando-o, Acetes percebe algo superior aos mortais no jovem e pensa se tratar de alguma divindade e pede perdão a ele pelos maus tratos. Porém seus companheiros, cegados pela cobiça, levam-no a bordo mesmo com a oposição de Acetes. Os marinheiros mentem dizendo que levariam Baco (pois era realmente ele) onde ele quisesse estar, e Baco responde dizendo que Naxos era sua terra natal e que se eles o levassem a até lá seriam bem recompensados. Eles prometem fazer isso e dizem a Acetes para levar o menino a Naxos. Porém, quando ele começa a manobrar em direção a Naxos ouve sussurros e vê sinais de que deveria levá-lo ao Egito para ser vendido como escravo, e se recusa a participar do ato de baixeza.

Baco, de Leonardo da Vinci, no Museu do Louvre.
Baco percebe a trama,em seguida olha para o mar entristecido, e de repente a nau pára no meio do mar como se fincada em terra. Assustados, os homens impelem seus remos e soltam mais as velas, tudo em vão. O cheiro agradável de vinho se alastra por toda a nau e percebe-se que vinhas crescem, carregadas de frutos sob o mastro e por toda a extensão docasco do navio e ouve-se sons melodiosos de flauta. Baco aparece com uma coroa de folhas de parra empunhando uma lança enfeitada de hera. Formas ágeis de animais selvagens brincam em torno de sua figura. 

O jovem Baco (1884) de William-Adolphe Bouguereau
Os marinheiros levados à loucura começam a se atirar para fora do barco e ao atingir a água seus corpos se achatavam e terminavam numa cauda retorcida. Os outros começam a ganhar membros de peixes, suas bocas alargam-se e narinas dilatam, escamas revestem-lhes todo o corpo e ganham nadadeiras em lugar dos braços. Toda a tripulação fôra transformada e dos 20 homens só restava Acetes, trêmulo de medo. Baco, porém, pede para que nada receie e navegue em direção a Naxos, onde encontra Ariadne e a toma como esposa. Cansado de ouvir aquela historia, Penteu manda aprisionar Acetes. E enquanto eram preparados os instrumentos de execução, as portas da prisão se abrem sozinhas e caem as cadeias que prendiam os membros de Acetes. Não se dando por vencido, Penteu se dirige ao local do culto encontrando sua própria mãe cega pelo deus, que ao ver Penteu manda as suas irmãs atacarem-no, dizendo ser um javali, o maior monstro que anda pelos bosques. Elas avançam, e ignorando as súplicas e pedidos de desculpa, matam-no. Assim é estabelecido na Grécia o culto de Baco. Certa vez, seu mestre e pai de criação, Sileno, perdeu-se e dias depois quando Midas o levou de volta e disse tê-lo encontrado perdido, Baco concedeu-lhe um pedido. Embora entristecido por ele não ter escolhido algo melhor, deu a ele o poder de transformar tudo o que tocasse em ouro. Depois, sendo ele uma divindade benévola, ouve as súplicas do mesmo para que tirasse dele esse poder.







A Bacanal de Peter Paul Rubens

Foi justamente a partir das influencias de Baco que surgiu a Bacanal (do latim bacchanale) é o nome que se dava, na Roma Antiga aos rituais religiosos em homenagem a Baco (ou Dionísio), deus do vinho, por ocasião das vindimas, em que havia um cerimonial sério e contrito, de início, seguido por uma comemoração pública e festiva.
As bacanais foram introduzidas em Roma e vindas do sul da península itálica através da Etrúria. Eram secretas e frequentadas somente por mulheres durante três dias no ano. Posteriormente, os homens foram admitidos nos rituais e as comemorações aconteciam cinco vezes por mês. Ao invadirem as ruas de Roma, dançando, soltando gritos estridentes e atraindo adeptos do sexo oposto em número crescente, os bacanais causaram tais desordens e escândalos.
Tito Lívio relata que a rápida propagação do culto no qual ocorriam as mais grotescas vulgaridades, bem como todo tipo de crimes e conspirações políticas nas suas sessões noturnas, levou em 186 a.C. à promulgação de um decreto pelo Senado - o chamado Senatus consultum de Bacchanalibus, inscrito numa placa de bronze descoberta na Apúlia, ao sul da península Itálica em 1640, atualmente no Kunsthistorisches Museum de Viena - pelo qual as bacanais foram proibidas em toda a Itália, exceto em certos casos especiais que deviam ser aprovados pelo Senado. Apesar do severo castigo infligido aos que descumprissem este decreto (Tito Lívio afirma que houve mais execuções do que encarceramentos), as bacanais sobreviveram no sul da Itália, muito depois da repressão.


Spaldin descreve uma bacanal feita "pelas mulheres que participavam dessas festas corriam pelas ruas e pelos campos, à noite, seminuas, cobertas com peles de tigre ou pantera, fixadas na cintura com festões de hera e pâmpanos. Empunhavam o Tirso, algumas com os cabelos soltos carregavam fachos. Aos gritos de Evoi! Evoi! (origem do grito carnavalesco Evoé!), em honra de Evan, epítetos de Baco, soavam as flautas e tambores juntamente com os címbalos e as castanholas presas às vestes. Dava-se às mulheres que participavam das Bacanais o nome de Menades, voz grega, que significa "furiosas". As fontes antigas descrevem que as bacantes, no seu delírio, cometiam toda sorte de excesso selvagem, luxurioso e desregrado.


Com todo este enunciado o mais correto seria não ser prudente com os excessos nos momentos de comer e beber. Mas este post de hoje é apenas uma simples recadinho para aqueles que gostam de harmonizar vinho com tudo – e vou colocar em texto grifado pra não correr o risco de alguém passar por ele despercebidamente:

Quando eu quero tomar vinho com uma sobremesa, eu sigo os instintos dionisíacos e fujo dos vinhos “tradicionais” que, geralmente, especialistas e afins oferecem como melhor harmonização para sobremesas. Eu em geral, costumo usar com sobremesas os vinhos de colheita tardia - chamados de Late Harvest., pois as uvas utilizadas no preparo destes vinhos ficam no pé por mais tempo, e ao que me parece deixam o vinho mais doce. Para mim, os vinhos tintos tradicionais não caem muito  bem com doces, mas são ótimos  para o preparo deles. O que já deixa a sobremesa com opções mais  exclusivas de vinho. E eu adoro uma exclusividade. Se alguém não concordar com isso- tudo bem O que importa é que eu estou me permitindo novas experiências...


E pra deixar esse papo ainda mais repleto pelos excessos, o negócio  é fazer uma sobremesa que mistura, chocolate com vinho. Quero ver o circo pegar fogo logo (risos). Provavelmente vai ter gente reclamando dessa mistura, ma so resultado final é surpreendente. E vale a pena testar. Baco te chama. Arrisque-se.



Bolo de chocolate e vinho

Ingredientes

240 g de manteiga;
240 g de açúcar;
4 ovos;
300 ml de vinho tinto
240 g de farinha de trigo peneirada;
1 pitada de noz-moscada;
1 pitada de canela em pó;
2 colheres (sopa) de cacau em pó;
1 colher (sopa) cheia de fermento químico;
130 g de chocolate amargo ralado.

Calda
100 ml de água;
60 g de açúcar;
250 ml de vinho tinto.

Preparo: Pique a manteiga e espere até que ela atinja a temperatura ambiente. leve-a à batedeira junto com o açúcar e misture até obter uma pasta lisa. Adicione os ovos e continue batendo para que a massa fique homogênea. Acrescente o vinho tinto, misturando levemente com um batedor manual. Junte a farinha peneirada e bata até obter uma massa lisa. Adicione as especiarias, o cacau e o fermento de uma vez só, batendo tudo à mão. E acrescente o chocolate ralado. Despeje a massa numa fôrma média de furo no meio e leve ao forno a 170 °c /180 °c por aproximadamente 1 hora. Atenção: seja religioso com a temperatura. Quando o bolo é alto e com furo no meio, ele demora mais tempo para assar, e o forno quente demais acaba queimando a parte de cima. Calda: Em uma panela, aqueça a água e o açúcar, misturando até ficar homogêneo. Desligue o fogo e adicione o vinho. Espere até atingir a temperatura ambiente. Jogue a calda no bolo ainda morno e deixe esfriar para servir.


terça-feira, 19 de março de 2013

A deliciosa Extravaganza romana


Sabe que eu estou, realmente, gostando desta visibilidade que o Papa Francisco I tem ganhado na mídia atualmente. Isso permite meu pensamento divagar nas ideias mais absurdas para uma postagem.
Uma dessas ideias absurda surgiu pensando nos escândalos sobre pode e homossexualidade no Vaticano. Essa história toda de homossexualidade n o Vaticano, é antiga. Tão antiga quanto a homossexualidade dos imperadores romanos. Mas a hipocrisia das pessoas não as permite admitir o fato - que existe no mundo desde os mais remotos tempos e que, inicialmente, era tido como uma virtude (daqueles que tinham o amor verdadeiro).
Isso me levou a tratar aqui, hoje, sobre um personagem imperial da história romana que misturava, ao mesmo tempo, poder, homossexualidade e paixão pela gastronomia exótica: o imperador Heliogábalo. 


Busto de Heliogábalo - Museu Capitolino
Antes, porém, de falar sobre este imperador, vamos dar um passeio pelos grandes excessos gastronômicos da história.


Banquete -mosaico romano
Sabemos que os romanos possuíam um termo para designar suas suntuosas reuniões gastronômicas – eles as chamavam de convivium. Aos romanos (olha eles aí de novo!) deve-se ainda a associação de banquete com todos os excessos, a começar pelos gastronômicos. Na Roma Antiga a gula era considerada normal, pois os romanos festeiros como eram, participavam às vezes de mais de uma festa por dia. Caso não se comesse a fartar-se seria considerada uma ofensa para o anfitrião. Assim, existia nas residências até mesmo a figura do vomitódromo: um lugar destinado ao vômito dos convivas que, para não ofender o anfitrião comiam, provocavam o vômito e comiam novamente. Isso era o usual naquela época.
Mas, mesmo os romanos com suas faustosas reuniões gastronômicas, vem da Mesopotâmia o maior banquete de todos os tempos. Preparado pelo soberano Asurbanipal II, que ocupou o trono entre 883 a.C. a 859 a.C. seu banquete durou dez dias e teve 69.574 convidados – como conta o historiador inglês Roy C. Strong em seu livro Feast, A History of Grand Eating, publicado no Brasil com o título Banquete - Uma História Ilustrada Culinária dos Costumes e da Fartura à Mesa (Jorge Zahar Editora, Rio de Janeiro, 2002).
A pretexto de comemorar a reformulação urbanística da antiga cidade de Kalah (no território do atual Iraque) e com a construção de seu novo palácio, Asurbanipal II ofertou aos convivas 10 mil peixes, 2 mil bois, 1.400 cabritos, mil carneiros e por aí afora, sem negligenciar a sede alheia. Foram 10 mil jarras de cerveja e igual quantidade de vinho. Talvez tenha faltado bebida, insuflando reclamações comezinhas. Fato é que, apesar dos esforços de Asurbanipal II, os romanos levaram a fama de maiores promotores de ceias ritualísticas, embora tenham assimilado a ideia dos gregos e estes dos egípcios.
Não há como negar que os césares e seus sucedâneos promoveram alguns dos mais extravagantes banquetes da história, sempre repletos de muita comida, da embriaguez do vinho, repletos de luxuria - para relaxar os entraves do superego. No romance Satyricon, Petrônio (27-66 d.C.) relata um jantar com acrobatas, atores declamando em grego e meninotes intrépidos, lavando os pés dos convivas. Luxúria? Pois a realidade ganhava da ficção.
O imperador Vitélio (15-69 d.C.), glutão compulsivo e devasso em tempo integral, chegou a devorar 1.200 ostras, ainda no hors d'ouvre.

Ele banqueteava-se três ou quatro vezes por dia, ou seja, de manha, ao meio dia, de tarde e â noite - a última refeição era principalmente uma bebedeira -, e sobrevivia a este ordálio tomando eméticos com frequência. O pior é que costumava convidar para esses banquetes nas casas de varias pessoas diferentes no mesmo dia, e eles nunca custavam a seus vários anfitriões menos q quatro mil peças de ouro casa. A festa mais famosa da série lhe foi oferecida pelo irmão, quando ele entrou em Roma; diz-se que foram servidos dois mil peixes maravilhosos e sete mil pássaros selvagens. No entanto, mesmo isto dificilmente se comparava em matéria de luxo a um único prato imenso que Vitélio dedicou à deusa Minerva e que chamou de "Escudo de Minerva, a protetora da cidade". A receita incluía fígado de lúcio, miolo de pavão, língua de flamingo e vesícula de lampreia; e os ingredientes, reunidos de todos os cantos do Império, das fronteiras de Pártia aos estreitos da Espanha, foram levados a Roma por capitães das trirremes. (STRONG,2002, p. 38-39)

Tigelino, comandante da guarda pretoriana, certa vez organizou um jantar para Nero (verão de 64) encenado no meio de um lago artificial onde os convidados reclinavam-se sobre tapetes e almofadas numa grande jangada rebocada por barcas enfeitadas de ouro e marfim e tripula por exoleti (‘meninos alegres’) escolhidos deliberadamente por suas habilidades lascivas. Não bastasse esta extravagancia, ele mandou povoar o bosque q cercava o lago com pássaros e animais exóticos, e na beira d'agua havia pavilhões e bordeis.
Nero, em 54, num banquete para comemorar seus 17 anos, tentou gracejar com Britânico, filho natural do imperador Tibério, pedindo-lhe que cantasse para as pessoas reunidas. Britânico, atendeu ao pedido escolhendo uma canção que falava de sua própria expulsão da casa do pai e do trono. Na festa seguinte Nero envenenou-o à mesa.
Provavelmente a reunião gastronômica mais estranha do império romano foi o banquete oferecido pelo imperador Dominicano, que escolheu  para isso o tema inferno.

Pediu-se as convidados que não se fizessem acompanhar pelo habitual escravo. ao lado de cada comensal havia uma pedra tumular como o nome do convidado. O banquete era iluminado por lâmpadas votivas, do tipo que se pendurava nos túmulos, e a comida, toda preta se assemelhava aos pratos sacrificiais oferecidos aos manes dos mortos e escoltados para casa por escravos desconhecidos: o que os fez suspeitar que haviam sido escolhidos para se tornarem as novas vitimas da sede de sangue do imperador. em vez disso, no entanto, foram chamados de volta para um segundo banquete, ao término do qual receberam presentes caros. (STRONG, 2002.p. 39-40)

 Heliogábalo (204-222 d.C.) era outro exagerado. O imperador romano pós-Cristo Sexto Vário Avito Bassiano (em latim Sextus Varius Avitus Bassianus), mas ao tornar-se imperador, adotou o nome de Marco Aurélio Antonino (em latim Marcus Aurelius Antoninus)., conhecido como Heliogábalo (204-222) {Apenas recebeu o cognome de Heliogábalo após a sua morte. Durante a sua juventude, serviu como sacerdote do deus El-Gabal (em latim Elagabalus) na cidade natal da família de sua mãe, Emesa.


Áureo romano representando Heliogábalo. A parte de trás diz Sanct Deo Soli Elagabal (Para o Santo Deus Sol Elagabal), e mostra uma quadriga dourada a carregar a pedra sagrada do templo de Emesa.
Foi um tirano na linha de Nero (37-68) e Calígula (12-41), e cometeu inúmeras extravagâncias à mesa. Em um dos muitos banquetes que promoveu, serviu aos seus seiscentos convidados: ervilhas misturadas com grãos de ouro, lentilhas com pedras preciosas, feijões enfeitados com âmbar e peixe com pérolas. Em outro, dizem ter criado um prato com seiscentas cabeças de avestruz.
Heliogábalo apreciava lírios, narcisos, rosas e violetas. Muitas vezes, de madrugada, após um régio banquete, uma chuva de pétalas de rosas e violetas caía sobre seus convidados. Alguns, já bêbados, morriam asfixiados. Deliciava-se com pétalas de violetas tostadas com rodelas de laranja e limão. Costumava mandar encher as banheiras públicas com água de rosas e, em seu palácio, algumas salas eram decoradas com tapetes de flores. Ao mesmo tempo em que distribuía absinthiatum, a famosa “fada verde” dos dias de hoje, ao povo, alimentava seus cães e leões com faisões, pavões e com fígados de ganso. Isto mesmo, foie gras.
Em seus banquetes, podiam-se esperar por pratos exóticos, vinho aos borbotões e o corolário de intermináveis bacanais, nos quais o imperador preferia a companhia dos mancebos. Nestas reuniões sabe-se que serviam-se pés de camelo, cristas de galo e línguas de rouxinóis. Certa feita, Heliogabalo fez chegar aos convivas um prato com mais de mil línguas de flamingos.

As Rosas de Heliogábalo

Heliogábalo costumava promover festas em que durante a madrugada uma chuva de pétalas de rosas e violetas caía sobre os convidados. Alguns, já bêbados, morriam asfixiados. Mas isso era uma extravagância do imperador. Este episódio ficou imortalizado na obra As Rosas de Heliogábalo (em inglês The Roses of Heliogabalus), pintura de Sir Lawrence Alma-Tadema (1836–1912), um artista holandês que viveu na Inglaterra. O quadro data de 1888, e atualmente faz parte de uma coleção privada.


As Rosas de Heliogábalo (1888), pelo acadêmico Anglo-Holandês Sir Lawrence Alma-Tadema.

A obra foi baseada num episódio inventado retirado da Historia Augusta, onde o imperador romano Heliogábalo (204-222) é retratado assistindo a uma tentativa de sufocar seus convidados com uma enorme quantidade de pétalas de rosa que caiam de um teto falso durante um jantar. No primeiro plano da pintura, o destaque são os convidados reclinados, cobertos com pétalas. Ao fundo, Heliogábalo é visível com um manto e uma coroa de ouro, junto com sua mãe Julia Soemia. Atrás deles, há um tocador de flauta (tíbia) e uma estátua de Dionísio.
Sabe-se que Heliogábalo, ainda mandava encher as banheiras públicas com água de rosas. Em seu palácio, algumas salas eram decoradas com tapetes de flores. Além das rosas, o imperador apreciava violetas e em sua cozinha preparava-se um manjar muito especial: pétalas de violetas tostadas com rodelas de laranja e limão. Foi Heliogábalo o inventor dos almofadões perfumados sobre os quais se deitavam seus convidados. Mas nem sempre ele os tratava com tanta gentileza.

Mais sobre heliogábalo
Heliogábalo nasceu em 203 d.C como Vário Avito Bassiano na família de Sexto Vário Marcelo e de Júlia Soémia Bassiana. O seu pai era inicialmente um membro da classe equestre, mas foi mais tarde elevado ao cargo de senador. A sua avó Julia Mesa era a viúva do Cônsul Júlio Avito, a irmã de Júlia Domna, e a cunhada do Imperador Septímio Severo. Júlia Soémia era uma prima do Imperador Caracala. Outros parentes incluíam a sua tia Júlia Avita Mamea e tio Marco Júlio Gessio Marciano e o filho deles, Alexandre Severo. A família de Heliogábalo tinha direitos hereditários ao sacerdócio do deus sol El-Gabal, sendo Heliogábalo o alto sacerdote em Emesa (atual Homs) na Síria.
A divindade El-Gabal foi inicialmente venerado em Emesa. O nome é latinizado da forma síria Ilāh hag-Gabal, El refere-se à divindade suprema Semítica, enquanto que Gabal significa montanha (comparar com o Hebraico גבל gevul e Árabe جبل jebel), o que resulta em Deus da Montanha é a manifestação divina de Emesa. O culto ao deus propagou-se a outras partes do Império Romano no século II, como por exemplo, uma consagração foi encontrada na distante Woerden (Países Baixos). O deus foi mais tarde importado e assimilado com o deus romano do Sol, conhecido como Sol Indiges em tempos republicanos, e mais tarde Sol Invictus durante os séculos II e III. Na Grécia, o nome do deus sol era Helios, e consequentemente, adotou-se Heliogábalo.


Heliogábalo, Sumo Sacerdote do Sol (1866), pelo decadente Inglês Simeon Solomon, a uma certa altura um amigo próximo de Algernon Charles Swinburne.
Posteriormente, diversos historiadores acreditam hostilmente que Heliogábalo mostrou desrespeito às tradições religiosas romanas e tabus sexuais. Heliogábalo substituiu o tradicional deus Júpiter no Panteão Romano pelo deus El-Gabal, e forçou membros importantes do governo de Roma a participarem em rituais que celebravam esta divindade, liderados por ele próprio. Casou-se cinco vezes, levando favores dos bajuladores masculinos que se pensava popularmente terem intenções de serem seus amantes, e diz-se que se prostituía no palácio imperial. Seu comportamento o distanciou da guarda pretoriana, do Senado e dos cidadãos.
Entre crescente oposição, Heliogábalo, com apenas 18 anos, foi assassinado e substituído pelo seu primo Alexandre Severo no dia11 de março de 222, numa conspiração feita pela sua avó, Júlia Mesa, e membros da guarda pretoriana.


Denário romano representando Heliogábalo. A parte de trás diz Fides Exercitus, ou A fidelidade do exército, mostrando a deusa romana Fides entre dois estandartes romanos. Muitas moedas cunhadas durante o reino de Heliog+abalo têm as inscrições Fides Exercitus ou Fides Militum, demonstrando a importância da lealdade do exército como a base do poder imperial.
Heliogábalo criou uma reputação entre os seus contemporâneos como um excêntrico, decadente, e zelota, o que foi provavelmente exagerado pelos seus sucessores e rivais políticos. Esta propaganda espalhou-se e, os historiadores no início da era moderna sujeitaram-o como um dos imperadores romanos com a pior reputação. Edward Gibbon, por exemplo, escreveu que Heliogábalo "abandonou a si mesmo para ter prazeres grosseiros e ser descontroladamente furioso." De acordo com B.G. Niebuhr, "o nome Heliogábalo está gravado na História acima de todos os outros" por causa de sua "vida inefavelmente repugnante". Os mais recentes historiadores têm tentado separar os fatos reais da ficção, preservando com maior cautela a visão deste personagem e seu reinado.
A orientação sexual e identidade de gênero de Heliogábalo são fonte de muito debate. Heliogábalo casou-se e divorciou-se de cinco mulheres, três das quais são conhecidas. A sua primeira esposa foi Júlia Cornélia Paula, a segunda foi a Vestal Júlia Aquila Severa, mas num ano, ele abandonou-a e casou com Annia Faustina, uma descendente de Marco Aurélio e viúva de um homem recentemente executado por Heliogábalo. Ele voltou para sua segunda esposa Severa no fim do ano. De acordo com Dião Cássio, a sua relação mais estável foi com o cocheiro de biga da sua quadriga, um cocheiro louro da Cária chamado Hierocles, a quem Heliogábalo se referia como o seu marido.


Denário romano representando Aquila Severa, a segunda esposa de Heliogábalo. O casamento causou um ultrágio público porque Aquila era uma Vestal, obrigada por lei romano a ser celibata por 30 anos.

A História Augusta diz que ele também se casou com um homem chamado Aurélio Zótico, um atleta de Esmirna, numa cerimônia pública em Roma. Dião Cássio diz que Heliogábalo pintava os olhos, depilava o seu cabelo e usava perucas antes de se prostituir em tavernas e bordéis, e até no palácio imperial:
Finalmente, ele reservou um quarto no palácio e lá cometeu as suas indecências, sempre nu à porta do quarto, como fazem as prostitutas, e abanando a cortina pendurada em anéis de ouro, enquanto numa voz doce e comovente se oferecia aos que passavam. Havia, obviamente, homens que tinham sido especialmente instruídos para desempenhar o seu papel. Para, assim como em outras questões também econômicas, ele tinha numerosos agentes que procuravam por aqueles que mais o agradavam para participar de suas vilezas. Ele poderia ter coletado o dinheiro de sua clientela e dado a si mesmo os seus ganhos; também poderia ter disputado com seus colegas essa indecente ocupação, argumentando que possuía mais amantes e mais dinheiro.
Herodiano comentou que Heliogábalo mimava a sua beleza natural ao usar demasiada maquilhagem. Foi descrito como sendo "encantado ao ser chamado a amante, a esposa, a rainha de Hierocles" e diz-se que ofereceu metade grandes somas de dinheiro ao médico que lhe pudesse dar genitais femininos. Subsequentemente, Heliogábalo tem sido frequentemente caracterizado por historiadores modernos como um transgênero, provavelmente transsexual, apesar de talvez não ser adequado aplicar termos tão culturalmente específicos a alguém que viveu há quase dois mil anos.
Em 221, as excentricidades de Heliogábalo, particularmente a sua relação com Hierocles, enfurecia cada vez mais os soldados da guarda pretoriana. Quando sua avó Júlia Mesa se apercebeu que o apoio popular ao imperador estava a enfraquecer rapidamente, ela decidiu que ele e a sua mãe, cujos tinham encorajados as práticas religiosas dele, tinham de ser substituídos.
Como alternativas, ela virou-se para a sua outra filha Júlia Avita Mamea e o filho desta, Severo Alexandre, com treze anos. Convencendo Heliogábalo a nomear o seu primo como herdeiro, a Alexandre foi dado o título de César e partilhou o consulado com o imperador nesse ano. Contudo, Heliogábalo reconsiderou isto quando começou a suspeitar que a Guarda Pretoriana favorecia o seu primo acima de si. Depois de falhados os vários atentados à vida de Alexandre, Heliogábalo despiu o seu primo dos seus títulos, revogou o seu título de cônsul e circulou a notícia de que Alexandre estava perto da morte para ver a reacção dos pretorianos. Um motim foi o resultado, e a guarda exigiu ver Heliogábalo e Alexandre no acampamento pretoriano.
O imperador obedeceu e no dia 11 de março de 222, apresentou o seu primo, com a sua mãe Júlia Soémia. Ao chegarem ao campo pretoriano, os soldados aclamaram Alexandre, ignorando Heliogábalo, que ordenou a prisão e execução de todos os que tinham tomado parte neste desrespeito contra ele. Em reposta, os pretorianos atacaram Heliogábalo e a sua mãe:
Ele tentou fugir, e teria escapado ao ser colocado numa arca, se não tivesse sido descoberto e assassinado, na idade de 18 anos. A sua mãe, que o abraçou e se agarrou a ele fortemente, pereceu com ele; as suas cabeças foram cortadas e os seus corpos, depois de serem despidos, foram primeiro arrastados pela cidade, e depois o corpo da mãe foi deixado num lugar qualquer, enquanto o dele foi atirado no rio.
A seguir à sua morte, muitas pessoas associadas à Heliogábalo foram mortas ou depostas, incluindo Hierocles e Comazão. Os seus editos religiosos foram revocados e a pedra de El-Gabal foi devolvida a Emesa. Mulheres foram banidas de atenderem reuniões no Senado, e damnatio memoriae—apagar uma pessoa de todos os recordes públicos— foi decretada para ele.

Agora, depois de tanto história, eu proponho uma extravagancia  que tal oferecer uma pequena reunião gastronômica para quatro amigos mais chegados, e preparar um menu “extravagante”? Posso ir além, e sugerir um prato delicioso que eu aprendi a preparar com o chef Claude Troisgro, a partir do sue programa "Que Marravilha!".

Risoto de abóbora e bacalhau com folha de ouro
Porção para 4 pessoas

Para a abóbora
400g de abóbora Bahia cortada em fatias sem sementes
2 colheres de azeite
Sal
Pimenta do reino (no moinho)
Para o bacalhau
800g de bacalhau imperial
300 ml de água
1 cabeça de alho
Tomilho
Alecrim
Para o risoto
1 colher de azeite
50g de cebola picada
Pimenta dedo-de-moça
450g de arroz arbóreo
100 ml de vinho branco seco
16 conchas de água do cozimento do bacalhau
Sal
Pimenta do reino no moinho
Para a finalização
Salsa picada
Azeite extravirgem
Folhas de ouro
220g de palmito pupunha fresco cortado em cubos
200g de requeijão cremoso
100g de parmesão ralado

Modo de preparo da abóbora: Tempere as duas fatias de abóbora com sal, pimenta e azeite. Enrole-as em papel alumínio. Asse por 40 minutos em forno a 180ºC. Quando o tempo acabar, amasse com um garfo, mas sem fazer purê. Modo de preparo do bacalhau: Três dias antes de preparar a receita, dessalgue o bacalhau, trocando a água de tempos em tempos. Encha uma panela com água e leve ao fogo. Quando ferver, corte a cabeça de alho ao meio, sem descascar, e jogue na água junto com o tomilho e o alecrim. Deixe ferver um pouco. Desligue o fogo e logo em seguida coloque as postas de bacalhau na panela. Tampe e deixe ele lá durante 20 minutos. Depois, retire o bacalhau da água, deixe esfriar e desfie o peixe. Modo de preparo do risoto:
Despeje azeite em uma panela e ponha a pimenta dedo-de-moça e a cebola. Mexa bem. Coloque o arroz e refogue por mais 2 minutos. Acrescente o vinho branco e deixe reduzir. Acrescente 4 conchas da água do bacalhau e reduza até secar, sem parar de mexer. Faça isso por cerca de 15 minutos. Despeje o risoto em uma travessa de vidro e deixe-o esfriar um pouco. Finalização: Ponha o risoto em uma panela. Acrescente mais algumas conchas da água de bacalhau até chegar ao ponto desejado (al dente cremoso). Mexa sempre. Adicione a abóbora amassada, o requeijão, o parmesão, o palmito, o bacalhau e a salsinha picada. Mexa e sirva. A consistência do arroz deve ficar cremosa. Decore com folhas de ouro comestíveis.



quarta-feira, 13 de março de 2013

O Papa foi escolhido: agora, só me resta tomar Fernet...


Eu estava me preparando pra sair de casa as 16:30 (20:30 em Roma) de hoje quando ouvi a TV  alta  da  minha tia comentando da eleição de um Papa argentino....  Liguei a TV do meu quarto e fiquei  vendo os flash da multidão no vaticano – que tentava gravar, com fotografia, o rosto do novo bispo de Roma.
Ouvindo o pronunciamento inicial de Francisco I (este foi o nome escolhido por Jorge Mario Bergoglio, 76, arcebispo de Buenos Aires, para ser chamado enquanto Papa) já deu pra notar que as coisas vão mudar na Igreja, e logo...





Esta eleição rápida pegou muita gente de surpresa! Além do Papa Francisco ser o primeiro latino-americano da história a conseguir o papado. Como foi a primeira vez que este cargo foi confiado a um membro da Sociedade de Jesus.
Na Argentina, Bergoglio é conhecido pelo conservadorismo; pela batalha contra o kirchnerismo; costuma apoiar programas sociais e desafiar publicamente políticas de livre mercado.
O prelado também é reconhecido por ser um intenso defensor da ajuda aos pobres.
Embora se mostre preocupado com a população de baixa renda, o papa não é adepto da Teologia da Libertação, corrente prestigiada na Igreja brasileira que, com base em idéias marxistas, defende que o clero atue prioritariamente servindo os mais pobres. O conservadorismo do novo papa é conhecido por declarações contra o aborto e a eutanásia. Além disso, embora ressalte que homossexuais merecem respeito, Bergoglio é contra o casamento gay.


Bergoglio antes do conclave

O jesuíta nasceu na capital argentina e, depois de cursar o seminário no bairro Villa Devoto, entrou para a Sociedade de Jesus, aos 19 anos, em 1958. Foi ordenado padre pelos jesuítas um ano depois, quando estudava teologia e filosofia na Faculdade de San Miguel.
A partir de 1980, foi reitor da faculdade de San Miguel, cargo que ocupou por seis anos. O papa obteve o título de doutor na Alemanha. Em 1992, foi nomeado bispo e elevado a arcebispo em 1997, passando a chefiar a arquidiocese de Buenos Aires desde então. O argentino ingressou no Colégio de Cardeais em 2001.
Na Santa Sé, participava de diversos dicastérios: era membro da Congregação para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos, da Congregação para o Clero e da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e das Sociedades da Vida Apostólica, além do Conselho Pontifício para a Família e da Comissão Pontifícia para a América Latina.
Ele era considerado "papável" desde o conclave que elegeu o alemão Bento 16 para suceder o polonês João Paulo 2º, em 2005. Com a renúncia do primeiro, o nome do arcebispo de Buenos Aires voltou a ficar entre os mais cotados ao posto de papa.
O  negócio é o seguinte:  a realidade é que, não sei explicar ao certo, mas  meu coração me diz que vem mais chumbo grosso  por aí. E pra depois não dizerem que eu não avisei, vou, pelo menos tomar fernet com coca – bebida muito comum na terra do novo Papa... vou esperar  o povo comentar mais coisas sobre o vatileaks... vou ficar caladinho e ver até onde isso vai dar.

Sobre o Fernet

Fernet é uma bebida alcoólica amarga (bitter) obtida por meio da maceração no álcool de diversas ervas e raízes medicinais, entre elas o ruibarbo, e a genciana, a quina, o aloés e o agárico; é usado como digestivo e tônico.
Fernet foi criado em 1845 por Bernardino Branca em Milão, na Itália. A preparação era mexida com uma barra de ferro que ficava brilhante com o uso, possivelmente por ação de substância contidas nos vegetais utilizados; daí o nome da bebida(fer+net, no dialeto milanês do italiano significa ferro limpo). O uso do fernet popularizou-se a partir da epidemia de cólera de 1865, surgida na Europa mediterrânea, é anticolérico. Atualmente usado pelos italianos misturado no café e no Brasil com a cachaça, como variedade de rabo-de-galo.
A caipirinha está para o Brasil como o Fernet com coca está para a argentina. O Fernet - apesar de ter sido inventado em Milão, na Itália - tornou-se a bebida símbolo dos argentinos. É um licor um tanto amargo, que é sempre bebido com Coca-Cola (num copo, coloca-se gelo, 1/5 de Fernet e 4/5 de Cola).
O Fernet é uma mistura de dezenas de ervas, tendo sido inicialmente criado como um remédio, um digestivo. A marca mais famosa é a Branca, mas há outras marcas de qualidade e preço mais em conta, como a Vittone.



Fernet com Coca


A receita é simples: um copo grande cheio de gelo, uma dose de Fernet (geralmente a variedade Brancamenta, que, como o nome indica, leva menta) e coca-cola para completar.



terça-feira, 12 de março de 2013

O Papa e A papa!



Você se sente importante quando se dá conta que está vivenciando um período, que no futuro, vai ser um marco respeitável para a história?
Se você é assim, bem vindo ao grupo. Pois eu me sinto privilegiado por estar experienciando fatos de suma importância para a Igreja, e que mais tarde poderei contar aos jovens, como parte da minha história de vida. Falo isso porque hoje, deu-se inicio ao segundo conclave do século XXI, para a eleição de um novo Papa.

Imagem divulgada pelo Vaticano mostra a Capela Sistina preparada para receber os cardeais a partir desta terça-feira, quando começa o conclave para escolher o novo papa - Fonte: Osservatore Romano/Reuters
Turistas lotam a Praça São Pedro enquanto aguardam o início do conclave AFP/Getty Images
O que está acontecendo:

Às 16h30 locais (12h30 de Brasília) desta terça-feira (12/03/13) começou o segundo conclave do terceiro milênio, do qual participam 115 cardeais procedentes de 50 países, que estão fechados na Capela Sistina para escolher o 266º papa da história da Igreja. 
Os cardeais, que desde o último dia 4 se reuniram diariamente para preparar a assembleia, ocuparam nas primeiras horas de hoje seus respectivos quartos na residência Santa Marta, onde eles ficarão enquanto durar o conclave.
 Antes se dirigir à Capela Sistina, às 10h (6h de Brasília), os purpurados celebraram a missa "Pro eligendo pontifice", que foi oficiada pelo cardeal decano, Angelo Sodano. Às 16h30, eles entraram na Capela Sistina cantando o "Veni Creator Spiritus", com o qual invocaram a ajuda do Espírito Santo.

 
- O cardeal decano, Angelo Sodano, celebrou a missa que deu início ao conclave que vai escolher o novo papa e fez um forte apelo pela unidade da Igreja - Fonte: Reuters
Todos os cardeais que estão no Vaticano participam da missa, na Basílica de São Pedro, que dá início ao conclave que vai escolher o novo papa
Os cardeais  no Vaticano participando da missa, na Basílica de São Pedro.

Após o juramento pelo qual se comprometeram a manter em segredo tudo o que for dito ou feito e a defender fervorosamente os direitos espirituais e temporários da Igreja em caso de ser o eleito, o mestre de cerimônias pontifícias pronunciou a frase "extra omnes" e todos os alheios ao conclave saíram da capela. De acordo com o esquema antecipado pelo Vaticano, já nesta tarde poderá acontecer a votação inicial e haver a primeira fumaça: branca, se o pontífice for escolhido; e preta, em caso contrário (o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que o mais provável é que hoje seja lançada uma "fumaça preta").

Os cardeais entrando na capela Sistina

Cardeais fazem juramento antes de iniciar a primeira votação do conclave que vai escolher o novo papa
Cardeais fazem juramento antes de iniciar a primeira votação do conclave que vai escolher o novo papa
Para ser eleito papa é necessário alcançar dois terços dos votos dos cardeais eleitores. Como eles são 115, é preciso somar 77 votos. A legislação vaticana estabelece que no segundo, terceiro e quarto dias devem acontecer duas votações de manhã e duas à tarde. Se após esses três dias nenhum candidato tiver alcançado os 77 votos, se procederá a uma jornada de reflexão e preces na qual não se votará. Depois serão retomadas as votações para outros sete eventuais escrutínios.
Se também não houver um novo papa, se procederá a uma nova jornada de reflexão e depois a outros sete escrutínios. Sem a aguardada fumaça branca, haverá outra pausa de reflexão e outros sete escrutínios. E assim será até a 34ª vez. A partir desse momento, a escolha ficará entre os dois cardeais mais votados, mas esses não poderão participar da votação.

Bento XVI foi eleito, em 19 de março de 2005, na quarta votação; João Paulo II, em 16 de outubro de 1978, na oitava votação; e João Paulo I, em 26 de agosto de 1978, na quarta.

O conclave teve início sem um candidato favorito, embora se saiba que todos os olhares estão postos em cardeais de igrejas dinâmicas e jovens, como os purpurados africanos e latino-americanos, e são muitos os que asseguram que o futuro papa não será italiano, devido às manchas lançadas pelo escândalo "Vatileaks".
Nos dias anteriores ao conclave, os "papáveis" mais citados são o italiano Angelo Scola, de 71 anos, arcebispo de Milão; o brasileiro Odilo Pedro Scherer, de 63 anos, arcebispo de São Paulo; o canadense Marc Ouellet, de 69 anos;  e o arcebispo de Boston, o capuchinho Sean O'Malley.

O cardeal brasileiro Odilo Scherer (centro) participa da missa, na Basílica de São Pedro, que dá início ao conclave que vai escolher o novo papa
Pensando bem...

Já pararam pra compreender a conjuntura desta eleição? 1) um Papa, que já não era muito bem visto pela maioria das pessoas que eu conheço, resolveu renunciar. E, de uma hora pra outra, passou a ser venerado pela coragem desse seu ato; 2) o motivo da renúncia apresentado pelo Sumo Pontífice em seu discurso (alegando idade avançada e falta de força para dar continuidade aos trabalhos da igreja) não convenceu  ninguém; 3) o escândalo do Vatileaks está ganhando cada vez mais força e causando desconfortos imensos; e, 4) a responsabilidade do no Papa de manter a Igreja no prumo correto vai dar um trabalho dos céus...

Curiosos observam o início do conclave por um telão instalado na Praça de São Pedro, no Vaticano
A mancha do Vatileaks

O Escândalo Vatileaks é um escândalo envolvendo documentos secretos que vazaram do Vaticano, que revelam a existência de uma ampla rede de corrupção, nepotismoe favoritismo relacionados com contratos a preços inflacionados com os seus parceiros italianos. Este termo foi usado pela primeira vez pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, em comparação com o fenômeno Wikileaks. 
O escândalo veio à tona em janeiro de 2012, quando o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi publicou cartas de Carlo Maria Viganò, anteriormente o segundo administrador do Vaticano, em que ele implorava para não ser transferido por ter exposto uma suposta corrupção que custou a Santa Sé um aumento de milhões nos preços do contrato. Viganò está atualmente no Núncio Apostólico dos Estados Unidos.
Nos meses seguintes, o escândalo aumentou com documentos que vazaram para jornalistas italianos, revelando uma luta pelo poder no Vaticano sobre seus esforços para mostrar maior transparência financeira e cumprir com as normas internacionais de combate à lavagem de dinheiro. Também no início de 2012, uma carta anônima virou manchete por seu alerta de uma ameaça de morte contra o Papa Bento XVI. O escândalo agravou-se em maio de 2012, quando Nuzzi publicou um livro intitulado Sua Santidade, as Cartas Secretas de Bento XVI que consiste de cartas confidenciais e memorandos entre o Papa Bento XVI e seu secretário pessoal, um livro polêmico que retrata o Vaticano como um foco de intrigas, confabulações e confrontos entre facções secretas. O livro revela detalhes sobre finanças pessoais do Papa, e inclui histórias de subornos feitos para obter uma audiência com ele.
Paolo Gabriele, que foi mordomo pessoal do papa desde 2006, é acusado de ter vazado a informação para Gianluigi Nuzzi. Gabriele foi preso em 23 de maio depois que cartas confidenciais e documentos endereçados ao papa e outras autoridades do Vaticano serem supostamente encontrados em seu apartamento no Vaticano. Documentos semelhantes haviam sido publicados na imprensa italiana ao longo dos cinco meses anteriores, muitos deles lidavam com denúncias de corrupção, abuso de poder e falta de transparência financeira do Vaticano.
Ele foi preso pela polícia do Vaticano, que alega ter encontrado documentos secretos no apartamento que divide com sua esposa e três filhos. Gabriele foi libertado em julho de 2012 e foi movido para prisão domiciliar. Piero Antonio Bonnet, juiz do Vaticano, foi encarregado de analisar as evidências do caso e decidir se há material suficiente para prosseguir para julgamento. Se condenado, Gabriele poderá enfrentar uma pena de até 30 anos por posse ilegal de documentos de um chefe de Estado. A sentença seria provavelmente cumprida em uma prisão italiana, devido a um acordo entre a Itália e o Vaticano.
Paolo Gabriele foi indiciado pelos magistrados do Vaticano em 13 de agosto de 2012 por roubo agravado. A primeira audiência do julgamento de Paolo Gabriele e Claudio Sciarpelletti, ocorreu às 9h30, em 29 de setembro de 2012.
No dia 22 de dezembro de 2012, o Papa Bento XVI concedeu o indulto a Paolo Gabriele. O ex-mordomo havia sido condenado a três anos de reclusão, reduzidos a 18 meses por causa de atenuantes: ele não tinha antecedentes criminais, havia trabalhado para o Vaticano, e reconheceu ter traído a confiança do pontífice. Antes de receber o indulto, Paolo enviara uma carta a Bento XVI, admitindo erros, não ter cúmplices, e pedindo perdão. Respondendo-o, Bento XVI lhe mandara um livro dos salmos autografado e com bênção apostólica dirigida especialmente à pessoa de Gabriele.
Durante a última apelação feita em julgamento, Paolo havia declarado: "O que sinto mais fortemente dentro de mim é a convicção de que agi exclusivamente por amor, eu diria um amor visceral, pela Igreja de Cristo e seu representante".
Segundo o jornal italiano La Repubblica, o escândalo influenciou a renúncia do papa Bento XVI, em fevereiro de 2013.

Uma história pornô vaticana que pouca gente conhece

Antes de converter-se no Papa Pio II, Eneas Silvio Piccolomini foi poeta, estudioso, diplomata e dissoluto. E como escritor, foi de fato o autor de um bestseller do século XV. Sua novela em latim "História de duobus amantibus", foi uma das mais lidas de todo o Renascimento. A trama versa sobre o amor proibido entre Euralio, um oficial com alto cargo do Imperador Segismundo e Lucrecia, uma senhora casada originária de Siena, Itália.

Papa Pio II
A obra foi provavelmente escrita em 1444, mas foi impressa pela primeira vez somente em Amberes em 1488. No final do século XV já haviam publicadas 37 edições. Apesar do indubitável interesse histórico desta história "pornô" vaticana, a obra nunca foi traduzida a um idioma contemporâneo. Abaixo anexo um pequeno parágrafo traduzido ao Português.
Há de se levar em conta que lá por mil quatrocentos e tanto as pessoas eram hipocritamente moralistas, de forma que a obra é bastante sem graça para nossos padrões. Em um dado momento, Euralio escala um muro para chegar até Lucrecia:

"Quando ela viu seu amante, segurou-a firmemente entre seus braços. Entre beijos e abraços lânguidos e descontrolados deixaram-se levar por seu desejo e se fartaram de Vênus, agora com Ceres e depois refrescaram-se com Baco".

Traduzido a groso modo quer dizer que "se afogaram na luxúria da carne" (fartaram de Vênus), depois comeram (Ceres) e ao final tomaram vinho (Baco). Sem dúvida alguma, para quem já leu, trata-se de um texto bem mais interessante que as recomendações indevidas contra, por exemplo, o uso de camisinha proferidos pelo "modernos" inquilinos do Vaticano.

Só pra constar: Pio II, nascido Enea Silvio Piccolomini (em latim: Aeneas Sylvius; Corsignano, 18 de outubro de 1405 — 14 de agosto de1464), foi papa e líder mundial da Igreja Católica de 19 de agosto de 1458 até sua morte, seis anos depois. Nascido em Corsignano, na Itália, no território sienês de uma família nobre, porém em decadência, também foi um intelectual autor de diversas obras, como a história de sua vida, intitulada Comentários, a única autobiografia já feita por um papa. Eleito Papa, providenciou a reurbanização de sua cidade natal, Corsignano, que passou doravante a chamar-se Pienza, tirando o seu nome de Pio. Teve um sobrinho que também foi papa, Pio III, assim como um dos descendentes de seu irmão (Bento XIII).

Depois de tanta informação ‘interessante’ só me resta esperar o resultado do conclave – com a esperança de que o próximo Papa tenha forças para aguentar as bombas que ainda estão por explodir no Vaticano. Até lá, vou comendo papa (risos).

A melhor papa de aveia do mundo

½ xícara de aveia em flocos grossos
2 xícaras de leite (ou de amêndoas)
1/3xícara de leite de coco
1 a 2 colheres (rasas) de coco ralado
½ colher de canela (mais pra polvilhar)
1colher de passas (opcional)
1/2 banana madura (ou 1 banana pequena)
1 punhadinho de oleaginosas (amêndoas, avelãs ou castanha do Pará)

Preparo: Coloque a aveia, o leite (de vaca ou de amêndoa), leite de coco, canela, passas e coco ralado em uma panela pequena e cozinhe em fogo baixo, mexendo sempre, até a aveia ficar macia e a mistura ficar cremosa (15 a 20 minutos). Se preferir usar aveia em flocos finos, você vai precisar de menos leite e o tempo de cozimento será bem menor. Desligue o fogo e deixe a papa descansar coberta enquanto prepara os outros ingredientes*. Pique as oleaginosas em pedacinhos e reserve. Amasse a banana no prato em que for servir a papa. Despeje a mistura de aveia por cima, mexa bem e termine com as oleaginosas picadas. Polvilhe um pouco canela, se desejar.