terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Corn Dog – comida de rua de primeira


Quem gosta de comida de feira/rua aí? Não torça o nariz para responder, você poderá se surpreender com o que pode encontrar.
Nestes últimos meses tenho visto a mídia explodindo em matérias sobre comidas de rua e em feiras. Sempre apontam New York como a Meca da comida de rua – lá, existem milhares de opções que de tão boas, nem parecem comida de rua, e isso não é de hoje. Aqui no Brasil, também já podemos encontrar bons exemplos de comida de rua com qualidade. As feirinhas gastronômicas se propagam, aqui eu sempre vou a uma que fica na Praça da Gentilandia (Benfica), lá tem de tudo... ou pelo menos, quase tudo. Só poderia se sofisticar mais.
Quando eu era pequeno, eu adorava ir à feira com meu avô Mário, ele sempre me comprava coisas gostosas pra comer na feira. Me lembro muitíssimo bem do sabor dos salgadinhos que ele comprava pra mim, lembro também do bolo Manzape e de uns pequenos bolinhos feitos em latas de sardinhas (Risos). Mesmo quando eu não ia à feira com ele, eu poderia esperar em casa que quando meu avô retornasse ele trazia os salgadinhos pra mim e meu irmão, dois sacos grandes, e nós éramos felizes com aquilo – o salgadinho era simples: uma espécie de massa de pastei esticada bem fina, que era cortada em pequenos quadrados e fritos. Eles estufavam e viravam uma delícia crocante. Comia sempre estes salgadinho da feira até eu mudar de cidade... hoje, quando encontro os salgadinhos por aqui, em raros lugares, sempre me lembro do meu avô, e compro um pacotinho pra relembrar um cheiro e um gosto da minha infância.
Foi pensando nisso que hoje resolvi traze uma comida de feira pra apresentar à vocês. Mas não é qualquer comida de feira. Trata-se de uma da melhores, vinda dos EUA, e que já está fazendo a alegria de muitos brasileiros em São Paulo. Estou falando do CORN DOG, já ouviram falar?


O Corn Dog é uma comida típica das feiras estaduais ou daquelas barraquinhas de rua nos Estados Unidos, feito com uma simples salsicha e uma massa adocicada de milho. Lá as feiras estaduais são festivais anuais nas capitais de cada um dos 50 Estados americanos onde existem diversas receitas fritas, tendo o Corn Dog como um ícone.
Isso é fácil de se explicar: os americanos amam milho, amam comidas fritas e amam carne em um palito. E o Corn Dorg é uma mistura disso tudo. Aí não tem como resistir.
E esta moda está pegando no Brasil também. Sabemos que a venda de comida artesanal pelo país se encontra em todas as cidades, sempre tem alguém vendendo alguma comidinha em praças, em quermesses, nas ruas, nos mercados. E quando descobrem uma novidade, todo mundo sai preparando sua versão. O que me deixa mais incomodado neste caso, é que existem aquelas pessoas que realmente sabem o que fazem, tem receitas bacanas, originais. Mas, na maioria das vezes, encontramos pessoas que só querem ganhar dinheiro e preparam a comida de qualquer jeito e vendem como comida típica... e se você é conhecedor de comidas típicas você só tem raiva quando resolve comer o que te oferecem como típico em determinados lugares – para estes casos, queria juntar este povo mal informado em algum lugar para explicar o que é e qual a importância de uma comida típica; orientar sobre os cuidados com a higiene e sobre o contexto de criação de cada preparado... um dia ainda faço isso. Mas vamos voltar ao Corn Dog, se não vou me estressar (risos).


Ao que tudo indica foram os German-texans (alemães texanos) quem inventaram o corn dog (Os german-texans é uma categoria étnica pertencente a residentes do estado do Texas que reconhecem ascendência alemã e se auto identificam com o termo. Desde sua primeira imigração para o Texas na década de 1830, os alemães tenderam a se agrupar em enclaves étnicos. A maioria se estabeleceu em um amplo cinto, fragmentado em toda a parte centro-sul do Estado. Em 1990, cerca de três milhões de texanos consideravam-se , pelo menos, parte alemã. German-Texans alemães formam um sub- grupo de americanos alemães).
Sabe-se que foram os germânicos-texanos quem introduziram o corn dog nos EUA, como eles encontram resistência para as salsichas que costumavam fazer eles  inventaram esta forma de vender suas salsichas, inicialmente sem o palito.


Uma patente Norte Americana para Corn Dog foi proposta em 1927, sendo concedida em 1929, para um combinado mergulhado em massa, e cozido, e no artigo Segurar Apparatus, descreve corn dog, como qualquer tipo de alimentos fritos e empalado em uma vara.

Corno Dog é o nome mais conhecido para esta salsicha empanada com massa de milho, mas ele aind apode ser conhecido como: Pogo, dagwood dog, pluto pup, corny dog, dippy dog, cozy dog. E eu ainda descobri que este tipo de alimento pode, ainda, ser conhecido como wieners (termo cômico, em inglês, para Pênis – uma alusão ao espeto e seu conteudo), ou seja: presunto cozido , ovos cozidos , queijo, pêssegos cortados , abacaxis, bananas e outras frutas como cerejas, tâmaras, figos , morangos, etc , quando empalados em varas e mergulhado em massa, que inclui em seus ingredientes uma mistura de farinha e frito em um óleo vegetal.
Tem gente que pra deixa a preparação mais prática do que já é ainda inventou umas dicas legais: passar farinha nas salsichas deixas-as mais ásperas e assim a massa fixa-se melhor; e colocar a massa num copo alto permite que a salsicha fique coberta rapidamente e evita desperdício de massa. 




É grande o número de atuais vendedores de corn dog que estão reivindicando o crédito para a invenção e / ou divulgação do corn dog. Carl e Neil Fletcher fazem esta afirmação, quando contam que introduziram o seu " Corny Dogs " na Texas State Fair em algum momento entre 1938 e 1942. Enquanto vendedores da Pronto Pup dizem eu foram ele quem inventaram, durante a Minnesota State Fair de 1941. O Cozy Dog drive-in , em Springfield , Illinois, diz ter sido o primeiro a servir corn dogs em varas , em 16 de junho de 1946. Também em 1946 , Dave Barham abriu a primeira localização do Hot Dog on a Stick em Muscle Beach , Santa Monica, Califórnia.


A mais antiga referência que encontreis para corn dog, diz que eles se tornaram muito populares nos anos de 1940, mas teria aparecido a partir dos anos 1920 com a descrição de Krusty Korn Dog, e não eram fritos, mas feitos como waffles – até uma máquina para isso já existia, e continua existindo pra alegria daqueles que não podem comer frituras. Algumas formas ainda podem ser do tipo chapas para fogão, e ainda têm o formato de milho, pra deixar o preparado mais atrativo.




Independentemente de quem inventou a receita se espalhou e conquistou muitos adeptos. Eu, particularmente, gostei de fazer com salsichas baby, pra ficar com mais cara de aperitivo e, também, diminui a quantidade de açúcar da massa. Ficou ótimo e sugiro você experimentar fazer fara fugir do tradicional HOT DOG. E viva a comida de rua.

CORN DOG
1 xícara de farinha de milho
1 xícara de farinha de trigo
1/4 colher de chá. sal
Pimenta à gosto
1/4 xícara de açúcar
4 colher de chá fermento em pó
1 ovo
1 xícara de leite
Óleo para fritar
16 salsichas 
16 espetos de madeira

Preparo: Em uma tigela grande, misture a farinha de milho, farinha, sal, pimenta, açúcar e o fermento em pó. Adicione o leite e ovo na tigela e misture bem. Aqueça o óleo em uma panela grande. Enquanto o óleo está a aquecer, coloque espetos nas salsichas, e depois as passe na massa até que esteja completamente coberta. Fritar de 2 a 3 de cada vez, até dourar, cerca de 3 minutos. Depois de cozido escorra o excesso de óleo. Sirva. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Memórias gastronômicas de Frida Kahlo

Caros confrades, estimadas consórores, A vida não está fácil para ninguém e ponto. Ainda estou cá, me recuperando dos últimos acontecimentos desagradáveis que envolvem problemas de saúdes (meus e de outros membros da minha família), turbulências sucessivas que aparecem para testar minha paciência e habilidades... E venho buscando força em tudo que possa me ajudar a olhar o lado positivo das dificuldades. Nessa caminhada encontrei uma “santa” nova pra me devotar.
Imaginem vocês que esta nova divindade, quando em vida, tinha uma natureza forte – como eu tenho –, passou por muitos problemas de saúde – como eu estou passando –, mas ela preferiu buscar um novo olhar sobre as circunstância e transformar a desgraça em beleza. E, apesar de tudo isso, ela ainda mantinha uma grande paixão pela gastronomia de seu pais. Alguém faz ideia de quem seja esta minha nova diva? Se não, vos revelarei agora: seu nome é Frida Kahlo – aquela mesmo, a da monocelha, ousada, de cores vibrantes, corajosa e que foi ter a gastronomia como oferenda à morte, para que a mantivesse viva.  Não entendeu nada? Então vamos lá...


Um pouco mais de Frida

Aos 15 anos Frida Kahlo superou uma das mais difíceis doenças de sua época, a póliomielite. Aos 18 anos, sofreu um acidente que a deixou na cama por um ano. E foi nesse período em que começou a produzir seus primeiros trabalhos, transformando-se em um dos ícones da pintura contemporânea. Casa-se aos 22 anos com Diego Rivera, em 1929, um casamento tumultuado, visto que ambos tinham temperamentos fortes e casos extraconjugais.





Kahlo, que era bissexual, teve um caso com Leon Trotski depois de separar-se de Diego. Rivera aceitava abertamente os relacionamentos de Kahlo com mulheres, mesmo eles sendo casados, mas não aceitava os casos da esposa com homens. Frida descobre que Rivera mantinha um relacionamento com sua irmã mais nova, Cristina, há muitos anos, o que a revoltou. Ela os flagrou na cama e, num ato de fúria, cortou todo o seu cabelo, que era bem longo, de frente ao espelho. Sua irmã teve seis filhos com seu ex-marido e Frida nunca a perdoou.
Frida Kahlo e Diego Rivera, Mexico 1933 -by Martin Munkácsi


Após essa outra tragédia de sua vida, separa-se dele e vive novos amores com homens e mulheres, mas em 1940 une-se novamente a Diego. O segundo casamento foi tão tempestuoso quanto o primeiro, marcado por brigas violentas. Ao voltar para o marido, Frida construiu uma casa igual à dele, ao lado da casa em que eles tinham vivido. Essa casa era ligada à outra por uma ponte, e eles viviam como marido e mulher, mas sem morar juntos. Encontravam-se na casa dela ou na dele, nas madrugadas.
Embora tenha engravidado mais de uma vez, Frida nunca teve filhos, pois o acidente que a perfurou comprometeu seu útero e deixou graves sequelas, que a impossibilitaram de levar uma gestação até o final, tendo tido diversos abortos.
Tentou diversas vezes o suicídio com facas e martelos.



Em 13 de julho de 1954, Frida Kahlo, que havia contraído uma forte pneumonia, foi encontrada morta. Seu atestado de óbito registra embolia pulmonar como a causa da morte. Mas não se descarta que ela tenha morrido de overdose, devido ao grande número de remédios que tomava, que pode ter sido acidental ou não. A última anotação em seu diário, que diz "Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar - Frida", permite a hipótese de suicídio.
Com base na autópsia de Frida, pesquisadores acreditam que ela pode ter sido envenenada por uma das amantes de seu marido.
Diego Rivera escreveu em sua auto-biografia que o dia da morte de Frida foi o mais trágico de sua vida.

Frida Gastronômica


Assim, depois de ter sofrido muito por conta da pólio, na infância, e de sofrer mais devido ao acidente de bonde, e por ter passado por muitas cirurgias que precisou fazer em função disso, Frida fez um pacto com a Llorona (Morte). Para manter-se viva, todos os anos, no Dia dos Finados, faria pratos variados, onde ela montaria verdadeiros altares, com fotos, imagens religiosas, velas, pães, fitas, caveirinhas de açúcar, entre outros objetos. Seu pacto extinguiu-se quando, aos 47 anos, 'morreu de pneumonia'.



Este percurso turbulento fez Frida passar a anotar suas receitas favoritas num pequeno livro preto. Só não era um livro de receitas comum, desses que a gente encontra só receitas, no livro de Frida constava além de suas receitas, pensamentos, suas dores e seus amores. E até nome ele tinha: Livro da Erva Santa.



Esta ligação de Frida com a gastronomia é contada ainda em uma outra obra, O Segredo de Frida Kahlo, do mexicano Francisco Haghenbeck, que apresenta relatos sobre o tal Livro da Erva Santa, onde Frida anotou todas as receitas de sua vida, de pratos que preparou para Diego Rivera, o seu grande amor, calvário e ruína, para Trotski, e um sem-fim de artistas e revolucionários que frequentavam as festas louquíssimas em sua Casa Azul regadas a tequilas, sangritas, picos de gallo, quesos panela e antojitos.



O tal Livro da Erva Santa era quase que uma espécie de guarda-memória gastronômica de Frida: estava lá as as deliciosas receitas de sua ama de leite, as que a sua irmã Matilde preparava-lhe após o grave acidente de ônibus que sofreu, as italianas de sua grande amiga e amante Tina (cuja presença em sua vida foi de fundamental importância), até as que aprenderia mais tarde com a mais improvável das rivais, Lupe, primeira mulher de Diego, de personalidade forte e doida, que preferia sofrer acompanhando sempre a trajetória tórrida de amor incessante de Diego a não vê-lo e não tê-lo de jeito algum.



Mas aí eu comecei a me perguntar: porque alguém faria um livro sobre outro livro, quando na realidade poderiam publicar o primeiro, tal como ele foi escrito? Sei que os editores podem me dar várias respostas plausíveis para esta minha pergunta, meio idiota. Mas eu fui atrás de saber o que aconteceu...


A Famosa casa Azul de Frida
Acontece que, com a morte da artista muitos de seus pertences passaram a ter um “valor”. E o pequeno livro preto, O Livro da Erva santa, oo ser encontrado entre os objetos do museu localizado na calle de Londres, no bonito bairro de Coyoacán, converteu-se num valioso achado, que seria exibido pela primeira vez na monumental exposição em homenagem a Frida no Palácio de Belas Artes, por ocasião de seu aniversário de nascimento. Sua existência confirmava a paixão e o tempo que ela dedicava a erguer seus famosos altares dos mortos. Mas No dia em que a exposição foi aberta ao público, o livrinho desapareceu.



Por sorte, várias receitas foram resgatadas. Muito ligada à cultura e ao folclore do México, Frida tinha essa influência no vestir e nos pratos que gostava. A comida, aliás, era uma forma que buscava para manter sempre perto de si o marido, Diego Rivera, com quem teve um relacionamento tumultuado. Com ele, a pintora morou um tempo nos Estados Unidos, que se referia como “gringolândia”, e lá se encantou com a Torta de Maçã da Mommy Eve. Frida chegou a escrever sobre sua experiência na ‘gringolândia’: ‘Não gostei nada de comer no meio dos branquelos. Eu só queria um ovo mexido com sua pimentinha e uma pilhazinha de tortillas, mas não havia jeito, tinha que ficar quieta e engolir os insultos para desfrutar do mundo moderno’.
A paixão e sofrimento pelo marido era grande. Mesmo sabendo que ele teve seis filhos com a irmã dela, Cristina, a pintora depois de separar-se de Diego, volta com ele. Bissexual assumida, ela teve vários romances, mas era o marido que estava sempre em primeiro lugar: ‘Diego está na minha urina, na minha boca, no meu coração, na minha loucura, no meu sono, nas paisagens, na comida, no metal, na doença, na imaginação’. E sua bebida era a tequila: ‘Bebo para afogar as mágoas. Mas as danadas aprenderam a nadar´.


“A refeição de Trostsky e Breton”.

Assim Frida escreveu antes da receita de "A refeição de Trotsky e Breton:  
“O Piochitas (diminutivo de piochas, plaquinhas. Possível alusão aos óculos pequenos usado por Trotsky) gostava de ser surpreendido. Não havia muito para dizer, pois Diego me roubava a palavra, a mim e a qualquer um que estivesse perto de Trotsky, por isso eu só cozinhava, pois conseguia dizer mais com meus sabores sobre minha visão de um mundo do que poderia ter dito com palavras. Os dois desejávamos apenas isso: um mundo melhor. Quem é que não quer isso na vida…?”

Natália, Frida e Trotsky
Frida viveu intensamente seus desejos, embora tenha convivido com dores extremas por toda a vida (dores físicas e emocionais. Ela mesma costumava dizer que morreu duas vezes: a primeira no acidente de bonde e a segunda ao casar com Diego Rivera), Frida viveu fervorosamente os prazeres do sexo, da comida e da bebida. A dor, a morte, a traição, a pulsação, o desejo e o prazer foram parte do seu cotidiano. Seu tumultuado relacionamento com o artista Diego Rivera teve momentos de extrema felicidade, mas de brutal sofrimento também. Frida não costumava se importar com as rotineiras traições do marido com as gringas, como ela chamava. Ela mesma teve vários amantes – homens e mulheres ao longo da vida – no entanto, Frida nunca engoliu a traição de Rivera com sua irmã Cristina.  A vingança viria anos depois, justamente com Trostsky.
 “Ao vê-lo pela primeira vez, Frida achou-o arcaico, velho, passado de moda, entediante, chato, solene; um daqueles móveis que a gente herda da avó e encosta num canto do quarto. Apesar disso era um herói revolucionário. Todos os comunistas do mundo o admiravam; nenhum deles lhe oferecia asilo (…) Frida aceitou sem melindres.”

“Olhar amoroso” — Frida Kahlo aos 39 anos, em Nova York, captada pelo fotógrafo Nicholas Muray, seu amante como foram Trotski e Tina Modotti.
Assim, Trotsky e sua esposa Natália viveram por dois anos na Casa Azul. Diego pedira a ela que abrigasse os dois e Frida aceitou sem reservas a incumbência.  Rivera possuía uma admiração profunda por Trostsky, ele mesmo fez o intermédio com o presidente do México para conseguir asilo político. Em sua presença, segundo descrevia Frida, parecia um bobo concordando com tudo que Trotsky falava e tentando agradá-lo de todos os modos. “Talvez para competir com Diego, talvez pelo desejo de destacar-se, ou ela simples razão de que era capaz disso, decidira ganhar o apreço do homem a quem seu esposo mais admirava. Frida desejava que Trotsky se rendesse a ela e lhe permitisse executar sua vingança”. Assim foi feito. Frida começou a seduzir Trotsky justamente pelos sabores.  Segue abaixo trechos do livro que narram um desses momentos de deliciosa biscatagem.
“Cada bocado deste prato me faz pensar que a comida no México se rebelou contra os cânones europeus. Luta por sua autenticidade. Mas a insurreição é uma arte, e, como todas as artes, tem suas leis”, disse Trotsky numa manhã, ao encontrar Frida na cozinha. Para ajudá-lo a despertar, deleitaram-no com uma xícara de café de Olla. Ao vê-lo refeito, encostado ao batente da porta com um grande sorriso, Frida lançou-lhe um olhar avaliador, atraente e cheio de sensualidade. E depois voltou ao trabalho na cozinha, deixando o aguilão do desejo cravado em Trotsky. “Quais são as leis da cozinha, Frida?”, perguntou ele.
(…)
“São mais simples do que o senhor pensa. A primeira é que ninguém se mete na cozinha de uma mulher sem a autorização dela, é uma falta tão grave quanto deitar com o marido dela. Talvez até mais grave, começou Frida sentando ao lado dele. Na cozinha você pode ser ignorante, mesquinho ou descuidado, mas nunca as três coisas juntas, e por isso sempre tem alguém mexendo o arroz quando ferve, deixando de por algum ingrediente porque esqueceu de comprar, cozinhando ao mesmo tempo a massa e o molho, fritando a carne com mais óleo que o lago de Chapala, servindo feijão queimado.”
Em Trotsky foi se desenhando um sorriso que se ampliou numa gargalhada, e, sem querer, suas risadas se tornaram tão altas que fizeram com que o senhor Cui-cui-ri que andava ciscando restos de comida, saísse correndo dali.

(abaixo imagens de Frida, Diego e Trotsky)

(…)
“Tem algo de bruxa na senhora que encanta e deslumbra. Talvez esteja me envenenando com sua comida, pois desde que cheguei ao México estou vendo tudo de outro modo.” Frida jogou o corpo para trás, ao mesmo tempo que soltava fumaça de seu cigarro. No fundo da cozinha, Agustín Lara cantava no rádio “Solo tú”.
“Por acaso agora o verde do pasto faz você lembrar da melancolia, o sangue lhe lembra as cerejas e a felicidade contagiante de uma tarde lhe lembra um doce de mel?”, perguntou Frida.
“Isso mesmo, isso mesmo”, respondeu Trotsky com movimentos afirmativos, muito próprios dele. De professor, de encantador de palavras.
“Então, devo estar lhe passando alguma coisa minha com o sal, pois para viver essa vida é preciso temperá-la. O senhor já vê que estou doente, por isso acabo ficando tolerante, embora às vezes a vida seja danada além da conta, pois ou faz você sofrer ou faz você aprender. Para isso é que se coloca tomilho, pimenta, cravo e canela, para tirar o gosto ruim. Frida pegou-lhe a mão e ficou passando a almofada de seus dedos pelas rugas dos nós dos dedos dele. Se não veja, o senhor sem pátria e eu sem pata.”



Essa cena é uma descrição do começo do caso entre eles, mas a história evolui até Trotsky mandar cartas e mais cartas apaixonadas para Frida. Segundo ela descreveu, parecia um adolescente totalmente entregue. O problema é que quanto mais ele se jogava, mas Frida tinha certeza que precisava acabar com aquilo. Não lhe apetecia tanta melosidade, além disso, os seguranças de Trostsky e a própria esposa já começavam a observar o comportamento estranho do revolucionário. Sabendo que seria um escândalo que complicaria a situação de Trotsky, e já desinteressada, Frida o incentivou a mudar-se de casa. A passagem mais interessante dessa parte do livro é justamente a que narra o momento em que Diego percebe que Frida concretizou sua vingança. Quando Trotsky disse que iria embora, Diego se revoltou e fez muito barulho.
“Cale a boca, Diego”, murmurou Frida ao ouvido dele antes que continuasse com seu escândalo melodramático.
Diego ficou pasmo.
“Mas você não entende, Frida?” perguntou, irritado, quando se esconderam no quarto para discutir o assunto.
Frida não queria aumentar o problema. Acendeu um cigarro e atirou-lhe a verdade na cara como um pastelão:
“Quem não está entendendo é você. Deixe ele ir, vai ficar melhor comigo ausente da vida dele. Já fiz mais do que ele esperava.”
Diego compreendeu de repente tudo que acontecera debaixo do seu nariz.


Depois que li algumas boas histórias sobre Frida, percebi uma ligação entre nós; talvez a forma de lidar com as dificuldades e tentar transformar elas em coisas boas, converter em arte, e mostrar ao mundo – cada um à sua maneira, é claro. São histórias de superação, cheia de cores vibrantes e perfumadas com as doces lembranças gastronômicas – o que eu tenho demais.
Talvez eu resolva fazer meu próprio livro da Erva Santa. Talvez ele até já esteja escrito, por aqui, quem sabe...
Mas pra não deixar ninguém tão curiosos, deixo cá umas receitinhas, das que Frida bem gostava – e que são fáceis de preparar. Elas foram retiradas do livro “O Segredo de Frida Kahlo”, de Francisco Haghenbeck. Editora Planeta do Brasil – 2011; e para dar mais clima ao preparo deixo, abaixo das receitas, uma das músicas que Frida Kahlo mais gostava de ouvir.


Tamales de abóbora

Os tamales eram preparados pela Babá de Frida, uma mulher do estado de Oaxaca – local onde nasceu Benito Juaréz, considerado um dos grandes líderes da história do México.
Ingredientes:
1kg de abóboras pequenas
1kg de farinha de milho
3 chiles cuaresmeños (tipo de pimenta mexicana)
2 quesos de hebra (queijo similar à mozarela)
1/4 de xícara de banha de porco
palhas de milho
1 punhado grande de folhas de erva-de-santa-maria (apenas as folhas)
sal e bicarbonato de sódio
Preparo: Pique a abóbora, a pimenta, o queijo e a erva finamente; Prepare a massa com a banha – previamente dissolvida com um pouco de água e pitada e bicarbonato de sódio – e o sal; Coloque uma colher cheia de massa nas palhas de milho; espalhe e coloque uma colher de do picadinho de abóbora; Enrole e deixe cozer numa panela a vapor – leve ao fogo por 1h30; Quando começarem a soltar da palha é sinal de que estão cozidos.
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Arroz à Mexicana
Esta receita aparece no ponto em que, a artista fala sobre seu casamento com Diego Rivera. Para Frida, o casamento era um conjunto de “sonhos capitalistas para comprar um vestido hipocritamente branco” e fez questão de realizar sua cerimônia em meio ao povo.
Ingredientes:
1 xícara de arroz;
azeite de oliva;
caldo de frango;
1 cenoura cortada em cubos;
1 xícara de ervilha;
batatas em cubinhos;
2 tomates médios;
1 pedaço de cebola;
1 dente de alho;
sal.
Preparo: Deixe o arroz de molho por 10 minutos numa panela com água fervente; Escorra e deixe no sol por 15 minutos; Aqueça o azeite numa panela até que fique bem quente e depois frite o arroz com os legumes; Enquanto isso, triture o tomate, a cebola e o alho com um pouco de água; Junte o tomate moído e coado e tempero com sal; Quando o azeite começar a ferver sobre o molho de tomate, acrescente duas xícaras de caldo de frango; Tampe e cozinhe até que o líquido se consuma.


A refeição de Trotsky e Breton (Huachinango com coentro)

 1 huachinango de mais de 2kg limpo e sem escamas (esse é o nome de um peixe vermelho mexicano. Você aqui no Brasil poderá usar pargo, ariacó, cioba, etc.);
8 xícaras de coentro bem picado;
5 pimentas ao escabeche em fatias grossas (existe essa parada pronta nos supermercados, mas outro dia posso passar a receita caseira);
2 cebolas grandes em rodelas;
4 xícaras de azeite de oliva;
sal e pimenta.
Preparo: Faça 3 cortes no lombo do peixe para que o tempero penetre bem. Forre uma panela grande com metade do coentro picado, metade das pimentas e metade da cebola, cubra com metade do azeite e tempere com sal e pimenta. Sobre essa cama, coloque o peixe inteiro, cubra com uma camada igual à primeira, decorando com as pimentas, o coentro e a cebola, e despeje o resto do azeite. Leve ao forno preaquecido a 200º C por 40 minutos, banhando-o com o molho de vez em quando para que não resseque. Sirva na própria panela.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Que tal umas orelhas de gato?


Ontem, antes de dormir, pensei nos gatos que eu tive ao longo da vida... geralmente eram meu amigo fieis...e antes que alguém diga que os cães é que são assim (e eu também os tive), eu percebia a beleza e a liberdade de ser um gato. Eu os respeito - como respeito os cães e sua fidelidade estrema – e gosto deles.
Lembro-me que desde pequeno, eu sempre tive gatos por perto. Na pré-adolescência e adolescência, eles dormia comigo na minha cama. Quando tínhamos gata, elas e seus filhotes também dormiam comigo – e os cachorros menores também (risos) minha cama não era minha – só agora me dei conta disso. Mas eu adorava! Depois que sai de casa, na época da faculdade, fui morar com meu pai em outra cidade [meus pais são separados] e, mais uma vez, lá haviam gatos, siameses, umas pestinhas, que me divertiam...somente agora não tenho gatos (por acreditar que apartamentos não são adequados para eles) e mesmo assim, na faculdade ou na rua, sempre acho um gato que simpatiza comigo e vem pra ser afagado.


Quando eu morava na Serra da Ibiapaba, tínhamos em casa um gato genioso – era o que minha mãe dizia: Frédéric Eduard II, ou simplesmente Dudu, para os íntimos. Ele era uma loucura! Um gato filho de siamês com vira lata, robusto, caramelo e um espertalhão de marca maior – ele aprendeu uma técnica de subir em cima do fogão para abrir as panelas e retirar a carne que estava lá – isso tudo sem fazer barulho, ás vezes até a tampa da panela ele fechava. Parece mentira, mas pegamos ele no flagra muitas vezes, e outras tantas vezes minha mãe saía dando carreira no larapio. Pena eu não ter imagem dele.
Dudu, as vezes passava dias fora (namorando – era o que minha mãe e minha avó diziam) e quando retornava, morto de fome, vinha aos berros querendo comida; outras vezes chegava com as orelhas rasgadas (brigas com outros felinos). E ele era valente e arisco. A única pessoa da casa que conseguia pegar nele, era EU... saudades daquele felino.
Por conta deste saudosismo todo a receita de hoje é simples: Orelhas de Gato – pra homenagear o Dudu, aonde quer que ele esteja hoje... Não vou trazer a origem dela, pois trata-se apenas de um nome dado a um doce italiano, da época carnavalesca, identificado como crostoli – e que no brasil ainda pode ser chamado de: cueca virada, coscorão e como já mencionei, orelhas de gato.


Este doce teria se popularizado no Brasil a partir da chegada de imigrantes italianos ao país em fins do século XIX. Na Itália é conhecido como um "doce de carnaval" e possui vários nomes distintos, conforme a região do país, sendo os mais conhecidos grostoli, grostói e chiacchiere. Para entender mais sobre os doces de carnaval italianos já falamos sobre eles AQUI.
No Brasil é completamente ignorado o vínculo das orelhas de gato com o carnaval e o doce geralmente é confeccionado com base em receitas que buscam uma massa macia e roliça, muito embora receitas mais tradicionais tenham como objetivo produzir massas crocantes e finas. Costumam ser polvilhadas com açúcar e canela.


O Gato e a Espiritualidade

O tempo foi passando e eu fui morar em apartamento – e gatos não combinam com apartamentos (até eu mudar de ideia não vou privar os bichos da liberdade que eles tanto gostam).
Mas minha ligação com gatos é, digamos, mágica... Já, inclusive, me disseram que eu ando como eles – na época não entendi muito bem o que a pessoa quis dizer, mas levei como um elogio. 


Porém só fui entender melhor sobre os felinos quando li um livro delicioso, The Mythology of Cats: Feline Legend and Lore through the Ages – de Gerald Hausman, Loretta Hausman. A leitura me trouxe o esclarecimento e me permitiu fundamentar “coisas” sobre os gatos que, na prática eu já sabia – e outras suspeitava.
Foi tão boa a leitura que eu gostaria de dividir com vocês um pouco do conteúdo do livro.

“Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não topa o gato.
Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência.
Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento. O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem.


Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode, ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele" não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.
O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluídos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério.


O gato é um monge silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.
O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!


Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.
Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones. Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.


O gato é uma chance de interiorização e sabedoria, posta pelo mistério à disposição do homem." O gato é um animal que tem muito quartzo na glândula pineal, é portanto um transmutador de energia e um animal útil para cura, pois capta a energia ruim do ambiente e transforma em energia boa, -- normalmente onde o gato deita com frequência, significa que não tem boa energia - caso o animal comece a deitar em alguma parte de nosso corpo de forma insistente, é sinal de que aquele órgão ou membro está doente ou prestes a adoecer, pois o bicho já percebeu a energia ruim no referido órgão e então ele escolhe deitar nesta parte do corpo para limpar a energia ruim que tem ali.
Observe que do mesmo jeito que o gato deita em determinado lugar, ele sai de repente, pois ele sente que já limpou a energia do local e não precisa mais dele. O amor do gato pelo dono é de desapego, pois enquanto precisa ele está por perto, quando não, ele se a afasta.


No Egito dos faraós, o gato era adorado na figura da deusa Bastet, representada comumente com corpo de mulher e cabeça de gata. Esta bela deusa era o símbolo da luz, do calor e da energia. Era também o símbolo da lua, e acreditava-se que tinha o poder de fertilizar a terra e os homens, curar doenças e conduzir as almas dos mortos. Nesta época, os gatos eram considerados guardiões do outro mundo, e eram comuns em muitos amuletos.
O gato imortal existe, em algum mundo intermediário entre a vida e a morte, observando e esperando, passivo até o momento em que o espírito humano se torna livre. Então, e somente então, ele irá liderar a alma até seu repouso final."

Deusa Bastet - a deusa gata do Egito
Durante grande parte da história egípcia, animais vivos associados a deuses foram criados nos templos, onde viviam com mimado luxo. Um crocodilo que representava o deus do Sol, da Terra e da Água descansava no tanque do templo Crocodilópolis. O íbis de Thot era guardado em Hermópolis. Uma gata que representava uma Deusa da alegria e do amor vivia preguiçosamente num templo em Bast. E, quando estes animais morriam eram mumificados  como seres humanos.


O culto dos animais e da natureza é comum às sociedades primitivas, nas quais o homem é dominado pelo mundo que o cerca e existe graças a ele. Mas, a medida que este homem adquire mais experiência e aprende a enfrentar a natureza, o respeito pelos mistérios naturais diminui ao mesmo tempo que aumenta a valorização das qualidades humanas. Neste momento, seus deuses passam por um processo de transição de conceitos zoomórficos para antropomórficos, abandonando a forma animal para assumir a forma humana. Foi exatamente o que ocorreu com os egípcios. Algum tempo antes do advento da Primeira Dinastia, o antromorfismo, concepção dos deuses sob forma humana, apareceu na religião egípcia.
Mas a tradição não morre com facilidade e os velhos conceitos religiosos não são substituídos da noite para o dia. Os egípcios incorporaram o antropomorfismo pouco a pouco, fundindo as três ideias da natureza, do animal e do homem. Uma das primeiras divindades que experimentaram esta fusão foi Sekhmet com sua cabeça de leoa.
No Templo de Luxor, cães e gatos viviam em paz. Mas os egípcios não olhavam para eles com olhar indiferente ou compassivo. "Estes seres", diziam eles, "são receptáculos da alma. Não têm necessidade de conhecer os espíritos porque eles são os espíritos."
Bastet é a Deusa gata de Bubastis (cidade do Delta do Nilo), era guardiã das casas, feroz defensora de seus filhos, representando o amor maternal. É também a Deusa de música e da dança, protetora de todos os gatos, mas inimiga das serpentes. Filha do Sol, encarna o aspecto pacífico da deusa Sekhmet.


Os egípcios parecem ter tido dificuldades para dissociar estas duas divindades e dizem que Bastet e Sekhmet são uma única pessoa com personalidades e características diferentes. A primeira é amável e sossegada, enquanto que a segunda é guerreira implacável. Quando Bastet se enfurecia transformava- se na terrível Sekhmet uma leoa que punha fogo pela garganta. Passada da cólera metamorfoseava- se novamente em gata, reassumindo sua docilidade.
Pelo seu aspecto colérico é associada a Sekhmet e, em virtude dessa identificação com a esposa de Ptah e ma~e artificial de Nefertum (o filho de Ptak e Sekhemet). Mahés, o deus da cabeça de leão, era também visto como seu filho. Em outra assimilação, é aproximada de Mut (Mut-Bastet), chegando a ser chamada de "Senhora de Icheru", título de Mut.
Em sua forma primitiva era representada como uma mulher com cabeça de leoa, que levava em uma das mãos a cruz ankl, símbolo da vida e na outra, um cetro. Mais tarde, adota a iconografia de uma gata. Esta gata aparece então, majestosamente erguida sobre suas patas traseiras e adornada com joias (brinco na orelha), ou como uma mulher com cabeça de gata.
Quando se apresenta na forma de gata, essa Deusa está ainda, conectada com a Lua. Quando representada na forma de leoa é associada à luz solar. Bastet também é conhecida como a "Senhora do Leste", enquanto que Sehkmet é a "Senhora do Oeste". Bastet é esposa e irmã do deus Sol e a alma da Isis. Bastet era sempre representada com uma ninhada de gatinhos a seus pés para simbolizar a fertilidade.
O gato, tão amado pelos egípcios, não era apenas um felino ardiloso e inteligente. É também a encarnação de Rá, de Hathor e de Bastet. O templo de Bastet mantinha gatos sagrados que eram embalsamados em grande cerimônia quando morriam. Todo aquele que matasse um gato no Egito recebia sentença de morte. Gatos pretos eram especialmente sagrados a Bastet, por isso é muito tê-los em casa. O símbolo do gato preto era utilizado pelos médicos egípcios para anunciar a sua capacidade de cura.
Pensava-se que os sacerdotes de Bastet tivessem criado o gato doméstico a partir do "cerval", felídeo africano conhecido no sul do Saara.
O sistro e o espelho de Hathor eram decorados com gatos. Este animal representava a lua (Pasht). O nome egípcio para o gato era "Mau". O gato foi domesticado logo no início e era muito valorizado por ser matador de cobras.

O sistro é uma espécie de chocalho
O gato está claramente associado à Grande Deusa e, portanto, ao ciclo Fecundidade- Fertilidade - Sexualidade – Água - Lua. Segundo Robert Graves, não é muito difícil imaginar porque os gatos são considerados particularmente sagrados em relação à deusa-Lua: "Os olhos dos gatos brilham à noite, eles se alimentam de camundongos (símbolos de epidemia); copulam abertamente e se deslocam sem ruído; são prolíficos, mas podem devorar seus próprios filhos; suas cores variam, como as da Lua, do branco ao vermelho e ao preto.
Bast é a mãe de todos os felinos identificada pelos gregos, com Ártemis ou Diana, também chamadas de mãe dos felinos. Ela pode ser honrada com a criação de um pequeno santuário em seu jardim, posicionando uma estátua de gato no centro dele. Para você pedir suas bênçãos, prepare um pequeno altar dentro de sua casa com fotos ou estátuas de gatos, pode ser qualquer tipo de felino. Coloque junto fotos de sua família e acrescente duas velas verdes em pontos distintos. Pronto, agora você estará com a proteção de Bastet.
No Império Novo, patenteia ainda a sua vertente de Deusa leonina da guerra, para conhecer, no período líbico, a sua fase de apogeu como divindade nacional, quando Bubastis, passou de capital do 18º sepat do Alto Egito a capital do Egito, durante as XXII e XXIII dinastias.
Chechonk I (924-889 a,C,) e vários outros representantes da XXII dinastia (líbica ou bubástica) auto-qualificaram- se de "filhos de Bastet", refeletindo a antroponímia do Egito líbio e sua crescente popularidade.
A Deusa Bastet acabou convertida em objeto de caça as bruxas na Idade Média devida a sua associação com as mulheres e com a Lua. É possível que o nexo de Bastet com os gatos fizera com que estes fossem perseguidos juntamente com as mulheres acusadas de bruxaria.


Acredita-se que a dança do ventre tenha sua origem há mais de 5 mil anos no Egito Antigo. Era praticada pelas altas sacerdotisas em rituais para a deusa Ísis. No Egito, a dança contava a história dos deuses, modo bem simples de transmiti-la para o povo. A dança substituía as cartas, sendo que cada movimento do corpo tinha um significado próprio.
Em meados de abril, as sacerdotisas de BASTET (deusa que representava os poderes benéficos do Sol) desciam o rio Nilo, anunciando as festividades em homenagem à Deusa. Para tanto usavam uma espécie de sino de metal, que mais tarde foi substituído pelos snujes (as castanholas árabes). Acreditava-se também que ao dançar com os snujes, a bailarina purificava o ambiente, espantando os maus espíritos.
Antigamente a cidade que abrigava o templo de Bastet se chamava de Per-Bastet,  "Casa de  melhores descrições: "Outros templos podem até serem maiores, mas nenhum dá tanto prazer de olhar". Ele fala do santuário situado no centro da cidade e rodeado de água por grandes canais que davam ao lugar o aspecto de uma ilha. Quando em seu interior, se elevava um bosque com árvores gigantescas, que circundavam o amplo tempo onde repousa a estátua da deusa.


A devoção zoolátrica dessa época reconhece o gato como uma manifestação da Deusa. Em Bubatis, além do templo da Deusa (escavado por E. Naville, entre 1887-1889), havia vastos cemitérios de gatos sagrados, onde se encontravam maravilhosos bronzes representando esses animais.
Heródoto, visivelmente fascinado com o culto por esta Deusa, explica suas cerimônias religiosas: "quando os egípcios comemoravam as festas em Bubatis, se comportavam da seguinte maneira: vão até o rio, homens e mulheres em grande número, que lá chegando se amontoam em embarcações... Ao chegar no santuário, honravam a Deusa com vários sacrifícios e bebiam então muito vinho. Segundo o povo desta região, chegavam a se reunir entre homens e mulheres mais de 70.000 pessoas. Estas festas são comemoradas até hoje no mês de abril. Cerca de 100 mil gatos mumificados eram enterrados em cada festival, em honra da felina "Virgem-Deusa" .
Segundo Claudinei Prietro, "o culto a Bastet já era praticado na primeira Dinastia. Ela era homenageada com longas procissões à luz de tochas e com mistérios sagrados, como Deusa da Magia e Tecelagem. Aquela que não nasceu, mas gerou a si mesma. Os egípcios celebravam o banquete de Bastet com música alegre, dança e bebida numa festa de alegria e prazer total, onde seus adoradores balançavam um sistro durante a celebração para homenageá-la. "
Símbolos: sistro, Lua, Sol, ankh, olho de Hórus.
Dia: Domingo
Cores: verde, laranja, dourado, amarelo.
Aroma: açafrão.

Orelhas de gato doce

3 ovos
100 ml de leite morno
50 g de fermento fresco
50 g de margarina
100 g de açúcar
500 g de farinha de trigo
1 pitada de sal
Açúcar e canela para polvilhar
Óleo para fritar   
Preparo: Dissolva o fermento no leite. Em uma outra tigela, misture a farinha, o açúcar, os ovos, a margarina, o sal e, por último, o leite com o fermento dissolvido. Cubra com um plástico, deixe descansar por cerca de 30 minutos até a massa dobrar de volume. Depois disso você deve abrir a massa e cortá-la em retângulos de 10 cm x 3,5 cm (os cortes em losangos deixam a massa com o formato das orelhas de gato), mais ou menos. Faça também um pequeno corte no centro do retângulo.
Crostoli no formato tradicional

Corte para orelhas de gato
 E aí peça para a criançada passar as extremidades por dentro do corte central. Aí é só deixar crescer novamente por 10 minutos e fritar em óleo bem quente (130º). Deixe esfriar e polvilhe com açúcar e canela a depois é só se deliciar.

Orelhas de gato salgadas
3 ovos
1 cebola grande picada
1 maço de cebola verde picada
1 copo de leite
1/2 copo de azeite
50g de fermento fresco
1 colher de sal
1 caldo knorr (sabor carne)
Farinha de trigo o quanto baste

Preparo: Bata no liquidificador todos os ingredientes, menos a farinha. Coloque numa vasilha e vá juntando a farinha aso poucos, amassando bem até ficar no ponto de esticar e cortar. Cubra com um plástico, deixe descansar por cerca de 30 minutos até a massa dobrar de volume. Depois disso você deve abrir a massa e cortá-la em retângulos de 10 cm x 3,5 cm, mais ou menos. Faça também um pequeno corte no centro do retângulo. E aí peça para a criançada passar as extremidades por dentro do corte central. Aí é só deixar crescer novamente por 10 minutos e fritar em óleo bem quente (130º). Deixe esfriar e polvilhe com açúcar e canela a depois é só se deliciar.