segunda-feira, 20 de junho de 2016

Coca de San Juan para comemorar Litha (O Solstício de Verão): história ancestral para o mês junino


O solstício de verão nada mais é que o momento em que o Sol está em seu ápice, encontrando-se no seu ponto mais alto e de maior brilho. Esse momento era celebrado pelos antigos celtas e druidas – que o entendiam como “O meio de verão” – e representa além da abundância e plenitude no ano, fertilidade da Terra, e lhe deram o nome de Litha.


O Litha (pronuncia-se “líta”), é celebrado por volta de 22 de dezembro no hemisfério Sul e por volta de 22 de junho no hemisfério Norte, mas pode variar dependendo do calendário. Isso significa que pode ser realizado de 21 a 23 nos meses citados. Mas o certo é que este dia, é o dia mais longo do ano, e representa o declínio do Deus Sol. A partir deste dia, os dias vão ficando cada vez mais curtos, até chegarem ao ápice da escuridão no solstício de inverno. Por isso o solstício de verão era o marco que assinalava o início da metade escura do ano, ao contrário do solstício de inverno.


O solstício de verão é tanto um festival de fogo quanto um festival da água; o fogo sendo um aspecto do Deus e a água um aspecto da Deusa. O festival desenvolveu-se menos e tardiamente nos países celtas, pois estes não eram originalmente de orientação solar. Muitos dos costumes sobreviveram até os tempos modernos, como rolar colina abaixo uma roda pegando fogo. Como acontece em Beltane e em Samhaim, a fogueira é destituída de grande poder mágico. A Deusa e o Deus estão no êxtase de sua união e vemos a Natureza cheia de frutos e flores belos. É o ápice do amor passional entre ambos; a Deusa reina como a Rainha do Verão e o Deus aproveita seu auge, pois depois começará o seu declínio até renascer no inverno.
O momento do Litha relembra que o Sol está com seu poder no auge, mas a partir daí começa a decair, assim como ciclos na nossa vida onde Vida e morte fazem parte de todos os aspectos na Natureza e em nossas vidas.
Nesta festividade o fogo é um aspecto central do festival do solstício de verão, assim como é em Beltane. Mas o caldeirão também é usado neste sabá, cheio de água, para representar a abundância da Deusa, e também nos remeter ao caldeirão de Cerridwen – a deusa tríplice. Outros povos antigos também festejavam a abundância do verão com festivais semelhantes: Vestália (Roma), Dia dos Casais (Grécia), Festa de Epona (País de Gales), Thing-Tide (Escandinávia), Alban Heflin (tradição anglo-saxã) ou a Dança do Sol (nativos norte-americanos).
 È justamente pela existência dos solstícios que existem os trópicos de Câncer e Capricórnio: no solstício de verão no hemisfério Sul, os raios solares incidem perpendicularmente à terra na linha do Trópico de Capricórnio. No solstício de inverno, ocorre a mesma coisa no Trópico de Câncer. E por conta deles alguns costumes antigos resistiram ao tempo até nossos dias, como: na Europa, na américa hispânica e no Brasil as celebrações deste sabá (Litha) foram absorvidas pela festa cristã de São João, cujo nome originou-se da erva usada com fins curativos e mágicos, como proteção ou para proporcionar sonhos e presságios.


As homenagens aos seres da Natureza ou às divindades naturais também foram substituídas pelas populares e folclóricas festas juninas, com danças animadas e comida farta para agradecer pela boa colheita.
Antigamente, os casamentos eram celebrados em junho para garantir-se a fertilidade, sendo esta uma data muito propícia, embora diferente de Beltane, que era reservada aos ritos de fertilidade e ao Casamento Sagrado das divindades.
E, se estamos em junho, só pode significar uma coisa: muito sol, noites quentes e festas animadas para celebrar o Dia de São João – onde se comemora a noite mais curta no dia mais longo do ano.
Já tratei de algumas tradições juninas AQUI , AQUI e AQUI. Por isso, hoje resolvi tratar de um pouco mais de história e apresentar uma especialidade espanhola para esta época, onde as fogueiras de São João brilham na noite escura, e que para as antigas tradições significam o fornecimento da força do sol, que a partir de Litha começam a perder o poder, com os dias cada vez mais curtos e as noites mais longas.


A coca San Juan (Cuca de São João) é um dos doces catalães mais conhecidos do mundo e um dos pratos mais tradicionais do Mediterrâneo. A história de sua origem é pouco conhecida, e já traz no nome a influência de outras culturas: 'Coca' (em Occitano ‘Còca’) é termo de raízes holandesas; vem da palavra 'kok' da palavra 'Kuchen', que significa uma espécie de bolo. No entanto, explicações para esta relação não se encontram disponíveis pela internet nem nos livros.


Sabe-se que a Coca de San Juan é muito procurada nesta época do ano onde se consomem até 1,6 milhões desses doces na região espanhola da Catalunha. Como outros pratos típicos da Catalunha, a invenção da 'Coca' talvez tenha nascido da necessidade de aproveitar a massa restante da feitura de pães. Quem inventou o doce adicionando uma boa quantidade de açúcar na massa do pão – e posteriormente acrescentaram frutas e recheio de creme.





Os ingredientes básicos desta sobremesa são: farinha, açúcar, sal, fermento em pó, raspas de limão, manteiga, leite ou água (você decide, mas não ambos), frutas cristalizadas e castanhas ou pinolis.

Coca de San Juan
250g de farinha de trigo
100g de açúcar
100 g de manteiga.
2 ovos
20g de fermento para pão em pó.
½ xícara de leite ( ou de água)
½ casca de limão ralado
Pinolis (ou a castanha que preferir)
Frutas cristalizadas variadas
Preparo: Em uma tigela e adicione a farinha, o açúcar, os ovos, o sal, o fermento em pó, raspas de limão e manteiga. Misturar bem com as mãos até a misturar ficar homogênea, sem grumos e desgrudar das mãos. Isto feito, estique a massa no formato que desejar, mas a massa deve ter a espessura de um centímetro. Pincele com ovo batido, adicione pedaços de frutas cristalizadas por cima da massa e deixe descansar até dobrar de volume. Depois de crescida adicione as castanhas, ou qualquer tipo de nozes que você tiver, polvilhe com açúcar por cima e leve ao forno para assar por 20 minutos a 180 ° C.  Depois de assada, deixe esfriar para servir.

Obs.: caso deseje, abra a coca ao meio e recheie com creme de confeiteiro, polvilhe com açúcar e passe o maçarico por cima para formar um caramelo; depois, tampe com a parte de cima da massa e sirva.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Lagosta e Camarões a Newberg


Como vocês estão? Espero que bem. Estamos no mês de junho, mês maravilhoso para quem está no Nordeste brasileiro, pois é tempo das Festas Juninas, repletas de tradição e de muita comida boa. No entanto, como anos anteriores já tratei sobre essa temática este ano gostaria de falar de algo um pouco diferente e fiquei pensando no quê. Daí me veio a lembrança que no próximo domingo será o comemorado aqui no Brasil o Dia dos Namorados, e essa é uma data que sempre têm pessoas querendo impressionar os amados com comida.
Minha dificuldade foi achar algo fácil, que não desse errado no preparo e que fosse realmente gostoso, não só no sabor, mas na história. Pra minha sorte, lembrei de um prato muito famoso, e super fácil de fazer – e que, dependendo do bolso, pode ficar ainda mais sofisticado. Estou falando de lagosta a Newberg que ainda poder virar camarões a Newberg. Vamos entender essa história melhor.
Desde 1870, as estadias em Nova York do rico capitão do mar Ben Wenberg, que operava no comércio de frutas entre Nova York e Cuba, eram um sucesso – ele sempre poderia ser encontrado no famoso Dolmenico’s Restaurant (que àquela época localizava-se na 14th Street) onde Charles Delmonico era gerente.
Numa certa noite de 1876, Wenberg comentou com Charles sobre sua descoberta de uma nova maneira de cozinhar lagosta. Charles ficou intrigado e ordenou que os seguintes ingredientes ser trazido da cozinha para a mesa de Wenberg: Uma lagosta recentemente fervida, arrefecida; creme de leite fresco; manteiga sem sal, clarificada; conhaque francês; xerez espanhol; e o próprio Wenberg providencio ele mesmo o sexto ingrediente, um secreto e vermelho ingrediente, em pó, e deu-se o preparo. Quando Charles provou pronunciou que o ingrediente secreto era a pimenta caiena.



Com a ajuda do pessoal do Delmonico’s, Wenberg preparou o prato de lagosta. Wenberg destacou a carne da cauda de lagosta, cortada em pedaços finos, lisos, e arranjou-lhes em uma única camada em uma caçarola bem quente, com manteiga clarificada. A lagosta foi salteada brevemente, e, em seguida, foram adicionados um pouco de creme, um pouco de conhaque e xerez. A mistura foi deixada a ferver lentamente durante alguns minutos. Em seguida, o ingrediente secreto foi adicionado, e a lagosta foi servida. Charles e o pessoal do Delmonico’s e, provavelmente, alguns clientes, provaram o prato e concordaram que era delicioso.
Ranhofer estudou a receita e acrescentou seu toque refinado. O prato foi incluído ao menu como lagosta a la Wenberg, tornando-se rapidamente popular e muito solicitada pela demanda, especialmente pela clientela depois do teatro.



Alguns meses após Wenberg ter partilhado sua descoberta com Charles, os dois homens tiveram uma desavença sobre uma questão que ainda não foi descoberta, mas que acreditasse ter sido algo provavelmente trivial, e que culminou com Charles banindo Wenberg do Delmonico’s, e ainda ordenando que a lagosta a la Wenberg também saísse do menu.
No entanto, os Patronos, ilustres frequentadores do lugar e admiradores do prato passaram a exigir o retorno da iguaria. Por conta disso, Charles correu atrás de uma solução diabolicamente inteligente para resolver o problema. Charles simplesmente inverteu as letras W e N do nome de Wenberg, de modo que se tornou NEW (NOVO), e o prato passou a ser servido como lagosta a la Newberg.
Dentre as muitas pessoas conhecidas que patrocinavam o Delmonico’s estão Jenny Lind , que, comia ali depois de cada show com  Theodore Roosevelt , Mark Twain , Arthur Sullivan ,  Lillian Russell , Charles Dickens , Oscar Wilde , JP Morgan ,James Gordon Bennett, Jr. , Nikola Tesla , Edward VII , o então príncipe de Gales, e Napoleão III de França .
Algum tempo depois, Charles Ranhofer alterou a receita original para adicionar o seu próprio toque. Em seu livro, O epicurista, Ranhofer dá a seguinte receita para lagosta a la Newberg (que também foi chamado lagosta Delmonico’s).
Cozinhar seis lagostas cada uma pesando cerca de duas libras em água fervente com sal por vinte e cinco minutos. Doze libras de lagosta viva quando cozidas rendem de duas libras a duas libras e meia de carne. Quando fria retirar as carnes das caudas e cortar em fatias, colocá-las em um sautoir, cada peça, e adicione manteiga clarificada quente; tempere com sal e frite levemente em ambos os lados, sem corantes; humedecer a essa altura com boa nata crua; rapidamente reduzir à metade; e em seguida, adicione duas ou três colheres de vinho da Madeira; ferver o líquido mais uma vez somente, em seguida, remover e engrossar com um espessamento das gemas de ovos e creme. Cozinhar sem ferver, incorporando um pouco de pimenta vermelha e manteiga; em seguida, organizar as peças em um prato de legumes e despeje o molho por cima.


Já a versão com camarões apareceu nos restaurantes brasileiros no final da década de 1960 e início dos anos 1970. Depois foi sendo incorporado à culinária doméstica para os dias de festa ou visitas - assim como o Strogonoff e o Champignon à Provençal. Talvez o uso do camarão tenha sido uma escolha para baratear o custo da receita, mas o resultado é igualmente delicioso e permite que você tenha variações da mesma receita. Vale a pena experimentar e fazer essa receitinha pro seu amor.

Camarões a Newberg

1 kg de camarão
2 gemas de ovo
1 boa pitada de pimenta Cayena
75 ml vinho madeira ou porto
50 ml de conhaque
300ml de creme de leite fresco
2 colheres de sopa de manteiga clarificada
Sal à gosto
Pimenta do reino (opcional)
Preparo: Coloque a manteiga em uma frigideira grande no fogo alto e quando esta estiver quente adicione os camarões temperados com sal. Frite dos dois lados até que estejam corados. Adicione a pimenta cayena, o conhaque e flambe. Retire os camarões e reserve. Na mesma frigideira coloque a metade do creme de leite e deixe reduzir. Enquanto isso em uma tigela, bata as gemas junto com o restante do creme de leite até ficar uniforme. Retire a frigideira do fogo e junte esta mistura mexendo para não talhar. Retorne ao fogo, junte os camarões e o vinho e deixe reduzir sempre mexendo. Servir em seguida.

Obs.: perfeito para servir com vol-au-vents, com torradas ou com arroz branco com legumes salteados.