O
tempo tem passado tão rápido que, quando me dou por conta, o ano já está se
indo... Uma coisa que me faz lembrar dessa pressa do tempo são os pães/bolo
(como a colomba, o panetone, o pandoro, o bolo de reis) - eles sempre dão um
indicativo das chegadas de celebrações importantes; estão avisando sobre o fim
ou o começo de um ciclo novo. Vocês já perceberam isso?
Para a minha curiosidade ficar sossegada eu fui investigar mais sobre esse assunto e descobri que os pães/bolo também estão presentes no Halloween. Sabiam disso? Pois é, encontrei o tradicional Barmbrack, figura célebre do Halloween irlandês e, agora, gostaria de dividir um pouco sobre ele como vocês.
Barmbrack
(do gaélico irlandês: bairin Breac), muitas vezes abreviado para brack, é um
pão/bolo frutado - normalmente passas e cascas de frutas cítricas - que,
literalmente, significa "pão manchado (ou salpicado)". O Barmbrack de
Halloween tem uma proximidade como o bolo de reis: tradicionalmente são
escondidos nele alguns objetos que são cozidos junto com a massa e que será
utilizado como uma espécie de jogo de sorte/adivinhação.
Embora
a brincadeira de os doces ou travessuras (trick or treaters) seja uma das
características mais vulgarmente caricaturada para se referir ao Halloween,
muita gente não lembra que a dará era um festival de colheita celebrado com
frutas, nozes e que servia um bom colcannon no jantar (já falei sobre ele
AQUI).
O
fato é que o Halloween tem suas origens no festival celta pré-cristão de
Samhain, celebrado entre 31 de outubro e 1º de novembro, quando se acreditava
que os espíritos daqueles que morreram durante o ano anterior eram autorizados
a passar para o outro mundo – o nosso mundo dos vivos. Fogueiras eram acesas e
presentes de comida e bebida fornecidos para que os espíritos errantes não
passassem fome. Mais tarde, o Samhain evoluiu para a comemoração cristã dos
mortos no Dia de Todos os Santos e Finados, precedida pela vigília de Halloween
- uma noite de festa e diabrura.
A
celebração acontecia no final de um período de trabalho árduo para os
fazendeiros, já que as tarefas de cuidar do gado, cavar as últimas batatas e
empilhar a aveia deveriam ser concluídas até o Halloween. Depois de tanto
trabalho, não admira que as pessoas estivessem com vontade de se soltar.
Na
Irlanda, o festival marcava o ponto de transição entre o outono e o inverno. O
folclore acreditava que esta era uma época em que este mundo e um mundo
alternativo de fadas se fundiam, o que nos permitia fazer coisas que
normalmente não seríamos capazes de fazer, como adivinhação e ver o futuro.
Em
seu livro, The Land of Milk and Honey: The Story of Traditional Irish Food and
Drink, Brid Mahon relata uma série de superstições associadas ao festival. «Não
se deve colher amoras nem tirar maçãs da árvore porque se dizia que os púca [os
duendes do folclore irlandês] cuspiam nelas na noite a seguir ao Samhain. Nos
vales de Antrim diziam que o diabo sacudia se tridente e a manta contra essas
frutas – o que geraria doenças em quem comesse delas.
No
norte de Leinster e em partes do Ulster, a velha tradição de deixar comida para
as fadas no Halloween ainda era observada na memória viva. Um prato de champ
[purê de batata com cebolinha, manteiga e leite], completo com colher, foi
posto no pé de um espinheiro de fada ou espinheiro branco, cujo nome cientifico
é Crataegus monogyna, mais próximo ou na entrada da porta ou de um campo, tanto
no Halloween quanto na Noite de Finados, 2 de novembro. Isso era considerado
por alguns um ritual para os mortos, por outros uma oferenda às fadas.
Depois
da tradicional ceia de colcannon, os jovens brincavam de pegar maçãs em um
barril ou bacia com água, ou permitiam que a casca de uma maçã caísse no chão
na crença de que ela mostraria a letra inicial do nome de um(a) namorado(a). Um
passatempo favorito eram casais namorarem sentados ao redor do fogo contando
histórias e assando nozes ... e quase todos os jogos e práticas usados naquela
noite tinham a ver com amor e namoro.
Até
há relativamente pouco tempo, 1º de novembro era um dia de abstinência, o que
explica a falta de carne nos pratos tradicionalmente associados ao Halloween.
De acordo com as regras da igreja, nenhuma carne era permitida. Colcannon, bolo
de maçã e crustáceos, bem como maçãs e nozes faziam parte da refeição festiva.
O colcannon – que consiste em purê de batata e misturado com couve picada ou
repolho verde e cebola – era comido mergulhando cada colher em um poço de
manteiga, mas era cozido em uma panela com um grande fundo redondo, três
perninhas e duas alças em forma de orelha nas laterais – isso te membra um caldeirão
de bruxa?
Mas
era o Barmbrack - ou Bairín Breac (pão salpicado, como em salpicado com frutas)
em irlandês - é um parente próximo do bara brith galês, a grande estrela
gastronômica; um pão/bolo simples, mas ricamente frutado que é bem adequado
para uma cobertura generosa de manteiga e um excelente acompanhamento para um
bule de chá. O sabor especial ficava por conta das frutas utilizadas serem
antes embebidas em whisky ou chá, o que confere um sabor rico.
O
nome barmbrack está ligado à espuma ou "barm" que sobra após a
fermentação da cerveja ou ale, que é misturada com passas especiarias para
fazer um pão/bolo pesado e frutado; que, embora seja comido o ano todo, é
apenas no Halloween que as adições simbólicas são feitas à mistura, cada uma com
um suposto significado de adivinhação para o ano que se inicia.
Os
símbolos mais comuns de serem encontrados dentro de um Barmbrack, eram: uma ervilha, um palito de fósforo, um pedaço
de tecido, uma moeda, um dedal e um anel. Destes, os únicos que valem a pena
ter são a moeda (previsivelmente um indicador de riqueza) e o anel - mas apenas
se você for solteiro e quisesse se casar, já que isso indica um casamento
iminente. Se você encontrasse a ervilha, não iria se casar tão cedo, enquanto o
palito de fósforo está associado a um casamento infeliz ou disputa; o pano
indicaria má sorte e pobreza, e o dedal representa que você ficaria solteirona
- todas as previsões bastante sombrias e valeriam por um período de 12 meses,
até que o próximo Hallowween surgiisse e outro Bramrbrack como aquele seria
feito..
Ainda
havia um item mais raro, mas que poderia ainda ser incluído; um broche ou uma
pequena medalha religiosa.: neste caso, quem quer que tenha encontrado a
medalha provavelmente acabará sendo padre ou freira no futuro – e tornou-se
este outro símbolo profético que a maioria deseja evitar.
Durante
o final do século XIX, muitas padarias comerciais começaram a vender barmbrack,
completo com esses símbolos dentro, mas nos últimos anos existem poucas
padarias dispostas a arriscar um litígio em caso de dente quebrado ou
engasgamento.
Para
se comer um Barmbrack como os antigos irlandeses faziam é fácil: corta-se ele
em fatias que devem ser torradas com manteiga e servidas juntamente com uma
xícara de chá.
Agora,
que tal preparar um Barmbrack para este Halloween? O pulo do gato é prepara-lo
com antecedência para deixa-lo maturando os sabores e comê-lo na noite de
Halloween. A receita é fácil, veja:
Excelente uma aula riquíssima com um assunto muito interessante, não sabia nada desse pào/bolo.Obrigada,um ótimo halloween.
ResponderExcluirObrigada. Vou fazer.
ResponderExcluirQue maravilha, como bom ter você Barão em nossas vidas com essas curiosidades sobre as histórias de povos.
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