E o Brasil chegou às
quartas de finais da Copa do Mundo. Depois de um jogo tenso, que se estendeu
para os pênaltis, teremos mais um adversário latino-americano na próxima etapa.
Desta vez será a Colômbia.
E como prometido na
postagem anterior, cada vez que o Brasil passar de fase, teremos aqui um delicioso
petisco do adversário. Hoje tratarei das AREPAS. Conhecem?
Desde o final do século
XV se sabe da arepa na Europa, mas foi desde o princípio do século XVI que os
detalhes sobre ela apareceram graças a cronistas que pisando em solo americano
fizeram referências a esta auspiciosa receita nativa. A primeira referência à
palavra arepas foi fornecida por Galeotto Cei, em Viaje y descripción de las
Indias (1539-1553):
Eles fazem um outro
tipo de pão [com milho] ao modo de tortillas, um dedo de espessura, redonda e
grande como um prato francês, um pouco mais ou menos, e as colocam para
cozinhar em uma frigideira sobre o fogo, untando-a com gordura para evitar que
pregue, virando-as até que estejam cozidos em ambos os lados e chamar essa
classe de areppas e alguns de fecteguas.
Algumas fontes dizem
que a palavra vem do Cumanagoto - língua do povo ameríndio da etnia Caribe, que
viveu na antiga província de Nueva Andaluzia chamada hoje de Cumaná, e cujos
descendentes habitam atualmente o norte do Estado de Anzoátegui, Venezuela. Nesse
local o vocábulo arepa significa “maiz” (milho), ingrediente básico na
preparação do arepa. Portanto, alguns historiadores situam a Venezuela como
lugar da origem da arepa.
Dificilmente se contesta
a origem indígena de arepa. O acadêmico e ensaísta histórico sobre a cultura da
América do Sul, Mariano Picon Salas destaca sua semelhança com a forma do disco
solar: é "como se nelas as nobres raças que a criaram quisessem venerar a
esse primeiro e mais visível deus que aquece a terra. "
O viajante sueco Carl
August Gosselman, que reconheceu a Colômbia pelas regiões de Antioquia e Viejo
Caldas, escreveu em seu livro Viaje por Colombia 1825-1826 em seu retorno a
Estocolmo: O que é mais abundante [na
Venezuela] é o milho, que se vendido na forma de arepas, grossos bolinhos de
muito bom sabor, saudáveis e mais nutritivos do que o pão, independentemente da
porção de água que eles contêm. Hoje, ricos e pobres comem com gosto as
saborosas arepas.
As Arepas eram
preparadas e consumidas pelos nativos dos territórios correspondentes aos
atuais Colômbia, Panamá e Venezuela, desde antes da chegada dos espanhóis; hoje
é considerada um ícone cultural representante da Colômbia e Venezuela, e uma
herança comum e compartilhada por ambas nações.
Arepa com recheio |
Na Colômbia se
celebra anualmente o Festival de la Arepa Colombiana nas cinco principais
cidades: Bogotá, Medelin, Cali, Barranquilla e Bucaramanga, e ocorrem nos meses
de agosto e dezembro.
A arepa é um alimento
preparado de diferentes maneiras, dependendo da região da América e dos produtos
regionais particulares agregados a ela. Tradicionalmente pode ser preparada com
farinha de casabe (uma espécie de mandioca) ou farinha de milho moído. Com a
modernidade e suas facilidades, geralmente as arepas são feitas com farinha de
milho pré-cozida, branca ou amarela, que é vendida nos mercados, e que
misturado com água e um pouco de sal (a gosto) e amassando com as mãos até
obter uma massa compacta até que se permita fazer bolinhas que logo serão
achatadas para se dar a forma desejada. Finalmente, você pode grelhar (chamado
na Venezuela "budare", ao forno, a la parrilla, fritar e até ferver.
Na colombia a região
conhecida como Antioquia la Grande (Antioquia, Caldas, Risaralda e Quindío), os
habitantes tornaram a arepa em espécie de ícone, não só de seu poder, mas da
sua maneira de ser e de pensar. Para os Antioqueños a arepa é tudo e a vida não
existe sem arepas. Na linguagem paisa arepa é sexualidade, é ponderação, mas ás
vezes é torpeza. Paradoxalmente, Antioqueños
converteram este bolinho de massa na sua mais ilustre condecoração para
lisonjear, a si mesmo ou a estranhos, um colar delas. Arepa é parte da herança
cultural colombiana e pode ser considerada como um símbolo de unidade gastronômica nacional.
Definitivamente, no
século passado, as coisas mudaram surpreendentemente. E as arepas Antioqueñas
não escaparam dessas mudanças. Aquilo que até o final do século XIX foi sempre
preparado, tal e qual como descrito por Cólon aos reis de Espanha, ou seja,
sendo moída no pilão indígena e assado em cayana, atualmente se fa em casa,
quase que magicamente com farinha de milho desidratada ou pelas fábricas
automatizada de arepas. E, além disso, a pequena bola clássica, que durante
séculos acompanhou feijão e ensopados hoje começa a ser preparada com recheios
versáteis.
Se você ficou com
agua na boca, e querendo experimentar arepas, abaixo deixo duas receitinhas pra
você testar. E que venha a Colômbia! (vou estar comendo arepas ao som de
Shakira – veja o vídeo bacaninha que ela
fez para esta Copa no final desse post),
Arepas
com queijo
1 xícara de farinha de milho pré-cozida
1 xícara de água morna
¼ de queijo parmesão ralado
½ xícara de queijo ralado branco
1 colher sopa de manteiga
Óleo (caso deseje umedecer a frigideira para
que não pregue)
Sal
Preparo: Misturar a farinha de milho, sal e água em um
recipiente onde você pode trabalhar a massa. Adicione os queijos e manteiga.
Misture bem até virar uma massa compacta e desgrudar das mãos. Aqueça uma
frigideira, de preferência antiaderente, no fogo baixo. Faça bolinhas da massa
como se fosse fazer um hambúrgue, dê uma leve achatada e leve para assar, deixe
dourar por igual dos dois lados. E servir em seguida. Você pode colocar
recheios nela.
Arepa
(Branca)
500g de canjica branca
1,5L de água
1 xícara de queijo ralado branco
Preparo: Coloque em uma
panela a canjica, previamente lavada, e acrescente água. Deixe cozinhar em fogo
médio até a água evaporar por completo - o milho deve ficar bem macio. Deixe
repousar até ele ficar na temperatura ambiente. Depois, o milho deve ser moído,
junte o queijo e amasse bem com um pouco de sal até virar uma massa homogênea e
suave. Pra finalizar, molde a massa em forma de disco e leve pra assar,
preferencialmente na grelha - pode ser na chapa, frigideira ou forno com um
pouco de manteiga para não grudar.
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