A curiosidade pode consumir
um sujeito de tal forma que explicar como é estar ‘consumido’ pode parecer
tarefa fácil, mas não é! Por sorte, hoje, com as facilidades e o auxílio da
internet, que conta com bancos de dados importantes, investigar o passado torna-se
uma tarefa um pouco mais rápida, mas continua necessitando de curadoria de
informações, especialmente pelo fato de também haver muita desinformação
circulando na rede.
Eu costumo ter vários
arquivos, sobre coisas diferentes. Às vezes, uma curiosidade aparece e na busca
dela acabam aparecendo outras, e eu me empolgo com todas. Daí, abro arquivos e
vou deixando o que vou descobrindo lá até achar que já tenho algo suficiente
para mim – e para dividir com vocês. Nessa tentativa de sanar minhas
curiosidades já fiz desfilar por este blog – ou pela página do Facebook - muita
preparação interessante, uma dessas foi o caso do antigo doce frito grego que
era servido aos campeões olímpicos, ainda na Antiguidade, o Loukoumades, que
você pode saber mais clicando AQUI.
Considerando que as
Olimpíadas voltaram à Paris, mais uma vez, e com o tempo e a falta de
entusiasmo se encarregando de destilar as curiosidades olímpicas hoje me
permitir entrar em mais um capítulo sobre a questão da comida olímpica. E
parece providencial que isso tenha acontecido justamente no momento em que
Paris sedia as Olimpiadas mais uma vez. Depois do texto de hoje vocês vão se
dar conta do poder de Paris e da importância dela para os Jogos Olímpicos,
incluindo na alimentação.
Na busca sobre material
confiável sobre essa questão encontrei a artigos cinéticos e de jornais
oferecendo cobertura histórica sobre os jogos olímpicos, até que em um desse
fui parar da tese de doutorado de Xavi
Santabàrbara, Evolución y cambios en la nutrición deportiva, la provisión de
alimentos y la gastronomía en los Juegos Olímpicos de la era moderna
(1896-2020), defendida em 2023 na Universitat Oberta de Catalunya, um trabalho
excelente que, embora focado na nutrição dos atletas, apresenta um percurso
histórico sobre alimentação nos jogos da era moderna. Alguns pontos
apresentados foram ajustados de acordo com algumas informações observadas nessa
tese.
Antes de adentrar no objeto dessa investigação, gostaria que observassem a lista de realizações dos Jogos Olímpicos da Era moderna. Dela já parte a primeira curiosidade e inovação partindo de Paris: a divisão jogos de verão e de inverno. Na lista também se poderá ver além dos países e cidades sede dos jogos, os países com maior número de medalhas, o reflexo da guerra.
Lista dos Jogos Olímpicos de Verão – Era
Moderna
Ano |
Ordem |
Cidade |
País |
Maior n.º de medalhas |
1896 |
I Olimpíada |
Atenas |
Grécia |
EUA |
1900 |
II Olimpíada |
Paris |
França |
França |
1904 |
III Olimpíada |
Saint Louis |
EUA |
EUA |
1906 |
Edição especial |
Atenas |
Grécia |
França |
1908 |
IV Olimpíada |
Londres |
Grã-Bretanha |
Grã-Bretanha |
1912 |
V Olimpíada |
Estocolmo |
Suécia |
EUA |
1916 |
VI Olimpíada |
Interrupção devido à I Guerra Mundial |
Interrupção devido à I Guerra Mundial |
Interrupção devido à I Guerra Mundial |
1920 |
VII Olimpíada |
Antuérpia |
Bélgica |
EUA |
1924 |
VIII Olimpíada |
Paris |
França |
EUA |
1928 |
IX Olimpíada |
Amsterdam |
Países Baixos |
EUA |
1932 |
X Olimpíada |
Los Angeles |
EUA |
EUA |
1936 |
XI Olimpíada |
Berlim |
Alemanha |
Alemanha |
1940 |
XII Olimpíada |
Interrupção devido à II Guerra Mundial |
Interrupção
devido à II Guerra Mundial |
Interrupção
devido à II Guerra Mundial |
1944 |
XIII Olimpíada |
Interrupção devido à II
Guerra Mundial |
Interrupção
devido à II Guerra Mundial |
Interrupção
devido à II Guerra Mundial |
1948 |
XIV Olimpíada |
Londres |
Grã-Bretanha |
EUA |
1952 |
XV Olimpíada |
Helsinque |
Finlândia |
EUA |
1956 |
XVI Olimpíada |
Melbourne |
Austrália |
União Soviética |
1960 |
XVII Olimpíada |
Roma |
Itália |
União Soviética |
1964 |
XVIII Olimpíada |
Tóquio |
Japão |
EUA |
1968 |
XIX Olimpíada |
Cidade do México |
México |
EUA |
1972 |
XX Olimpíada |
Munique |
Alemanha Ocidental |
União Soviética |
1976 |
XXI Olimpíada |
Montreal |
Canadá |
União Soviética |
1980 |
XXII Olimpíada |
Moscou |
União Soviética |
União Soviética |
1984 |
XXIII Olimpíada |
Los Angeles |
EUA |
EUA |
1988 |
XXIV Olimpíada |
Seul |
Coreia do Sul |
União Soviética |
1992 |
XXV Olimpíada |
Barcelona |
Espanha |
Equipe Unificada |
1996 |
XXVI Olimpíada |
Atlanta |
EUA |
EUA |
2000 |
XXVII Olimpíada |
Sydney |
Austrália |
EUA |
2004 |
XXVIII Olimpíada |
Atenas |
Grécia |
EUA |
2008 |
XXIX Olimpíada |
Pequim |
China |
China |
2012 |
XXX Olimpíada |
Londres |
Grã-Bretanha |
EUA |
2016 |
XXXI Olimpíada |
Rio de Janeiro |
Brasil |
EUA |
2020 |
XXXII Olimpíada |
Tóquio |
Japão |
EUA |
2024 |
XXXIII Olimpíada |
Paris |
França |
Jogos em andamento |
2028 |
XXXIV Olimpíada |
Los Angeles |
EUA |
Jogos ainda não
iniciados |
2032 |
XXXV Olimpíada |
Brisbane |
Austrália |
Jogos ainda não
iniciados |
Ano |
Ordem |
Cidade |
País |
Maior
n.º de medalhas |
1924 |
I Olimpíada |
Chamonix |
França |
Noruega |
1928 |
II Olimpíada |
São Moritz |
Suíça |
Noruega |
1932 |
III Olimpíada |
Lake
Placid |
EUA |
EUA |
1936 |
IV Olimpíada |
Garmisch-Partenkirchen |
Alemanha |
Noruega |
1940 |
V Olimpíada |
Interrupção
devido à II Guerra Mundial |
Interrupção
devido à II Guerra Mundial |
Interrupção
devido à II Guerra Mundial |
1944 |
VI Olimpíada |
Interrupção
devido à II Guerra Mundial |
Interrupção
devido à II Guerra Mundial |
Interrupção
devido à II Guerra Mundial |
1948 |
V Olimpíada |
São Moritz |
Suíça |
Noruega |
1952 |
VI Olimpíada |
Oslo |
Noruega |
Noruega |
1956 |
VII Olimpíada |
Cortina
d’Ampezzo |
Itália |
União Soviética |
1960 |
VIII Olimpíada |
Squaw
Valley |
EUA |
União Soviética |
1964 |
IX Olimpíada |
Innsbruck |
Áustria |
União Soviética |
1968 |
X Olimpíada |
Grenoble |
França |
Noruega |
1972 |
XI Olimpíada |
Sapporo |
Japão |
União Soviética |
1976 |
XII Olimpíada |
Innsbruck |
Áustria |
União Soviética |
1980 |
XIII Olimpíada |
Lake
Placid |
EUA |
União Soviética |
1984 |
XIV Olimpíada |
Sarajevo |
Iugoslávia |
Alemanha Oriental |
1988 |
XV Olimpíada |
Calgary |
Canadá |
União Soviética |
1992 |
XVI Olimpíada |
Albertville |
França |
Alemanha |
1994 |
XVII Olimpíada |
Lillehammer |
Noruega |
Rússia |
1998 |
XVIII Olimpíada |
Nagano |
Japão |
Alemanha |
2002 |
XIX Olimpíada |
Salt Lake
City |
EUA |
Noruega |
2006 |
XX Olimpíada |
Turim |
Itália |
Alemanha |
2010 |
XXI Olimpíada |
Vancouver |
Canadá |
Canadá |
2014 |
XXII Olimpíada |
Sóchi |
Rússia |
Rússia |
2018 |
XXIII Olimpíada |
Pyeongchang |
Coreia do Sul |
Noruega |
2022 |
XXIV Olimpíada |
Pequim |
China |
Notuega |
2026 |
XXV Olimpíada |
Milão-Cortina |
Itália |
Jogos
ainda não iniciados |
2030 |
XXVI Olimpíada |
Alpes
marítimos |
França |
Jogos
ainda não iniciados |
2034 |
XXVII Olimpíada |
Salt Lake
City |
EUA |
Jogos
ainda não iniciados |
Com isso feito, para
continuar, é preciso ressaltar que a França desempenhou um papel proeminente na
história dos Jogos Olímpicos modernos.
O Olimpismo organizou o seu
renascimento naquele país na virada do século XX e fez com que a França
sediasse os Jogos nada menos que cinco vezes, de 1900 a 1992. A história dos
Jogos e da França são escritos juntos, desde o Congresso Olímpico que gestou o
renascimento dos Jogos Olímpicos que Pierre de Coubertin convocou na
Universidade de Sorbonne em 1894 até os Jogos de Paris 2024, 130 anos depois.
Esta história cheia de acontecimentos está repleta de desenvolvimentos
importantes e novidades que moldaram a história dos Jogos.
Os segundos Jogos Olímpicos da era
Moderna (1900)
Como se pode observar na
listagem anterior, os primeiros Jogos Olímpicos modernos foram realizados na
Grécia, em homenagem aos da Antiguidade.
Os Jogos da II Olimpíada
foram organizados em Paris e duraram cinco meses, de maio a outubro de 1900. É
preciso dizer que estes Jogos têm uma história particular, o que explica em
grande parte o pouco lugar que deixaram na história das Olimpíadas... para
grande consternação do "pai" dos Jogos Olímpicos modernos, o pedagogo
e historiador francês Pierre de Frédy, popularmente conhecido como Barão de
Coubertin ou ainda, Pierre de Courbertin.
Em 1900, os Jogos não eram
propriamente olímpicos... e para muito eles foram considerados um fiasco
naquela edição.
Parte da história olímpica
renasce quando o Barão Pierre de Coubertin manteve seus interesses alimentados
por descobertas arqueológicas nas ruínas de Olímpia e propôs a ideia de reviver
os Jogos Olímpicos realizados na Grécia Antiga, mas na forma de um evento
multiesportivo e internacional, inspirado nos jogos organizados pelo empresário
Evangelos Zappas, na Grécia.
Em 23 de junho de 1894, o barão de Coubertin juntou representantes de sociedades esportivas de onze países numa conferência na Universidade Sorbonne, em Paris, onde apresentou e defendeu a sua ideia para os Jogos. No grande anfiteatro da Universidade de Sorbonne, 2.000 pessoas se levantaram em aclamação à sua proposta de reviver os Jogos Olímpicos e com a aprovação da ideia pelo congresso, iniciou-se a escolha da data e do local.
Coubertin sugeriu que os
Jogos fossem realizados em 1900, coincidindo com a Exposition Universelle de
Paris, os congressistas acreditando que seis anos de espera seria tempo
suficiente para diminuir o interesse público, optaram por realizar os Jogos
inaugurais em 1896. O processo de escolha da sede ainda é um mistério devido às
versões contraditórias que existem.
O que se sabe é que o
escritor e empresário grego, Demétrius Vikélas propôs Atenas como sede dos
jogos, já que Grécia foi o local de nascimento dos Jogos Olímpicos, essa
sugestão foi aprovada por unanimidade. Vikélas naquela ocasião ainda foi eleito
como o primeiro presidente do recém-criado Comitê Olímpico Internacional (COI)
– após o sucesso da realização dos jogos em 1896, Vikélas retirou-se da
presidência do COI e dedicou-se à promoção e generalização da educação básica
na Grécia, que considerava uma prioridade. Com isso, o barão Pierre de
Coubertin foi seu sucessor na presidência do Comitê Olímpico Internacional de
1896 até 1925.
Como tantos visionários,
Pierre de Coubertin tinha seus pontos cegos. Embora tenha dito sobre o esporte:
"Para cada homem, mulher e criança, ele oferece uma oportunidade de
autoaperfeiçoamento", ele se opôs abertamente à participação de mulheres
em eventos de atletismo de elite ao longo de sua vida. No entanto, a
participação de mulheres nos Jogos Olímpicos cresceu seis vezes sob a
presidência de Coubertin. Com o tempo, os Jogos Olímpicos se tornaram um
triunfo da diversidade para homens e mulheres, unindo todas as nações em
amizade e paz por meio do esporte na maior celebração da humanidade do mundo.
Nas primeiras edições dos
Jogos a importância da alimentação era residual e predominava a
autossuficiência. Nos Jogos Olímpicos de Atenas 1896, a alimentação estava
disponível apenas para dignitários e os atletas eram responsáveis pela sua
própria alimentação (PELLY et al., 2011).
Alfred Picard, comissário
geral da Exposição Universal queria organizar “competições internacionais de
exercício físico e desporto” no âmbito da Exposição, o que deixou Pierre de
Coubertin furioso. Finalmente, um compromisso foi alcançado em 1899: foi decidido
que “as competições da Exposição tomam o lugar dos Jogos Olímpicos de 1900 e
contam como equivalentes à segunda Olimpíada”. Como resultado, os eventos não
são chamados de “Jogos Olímpicos” nos documentos oficiais, mas ainda são
considerados Jogos Olímpicos… A difícil arte do compromisso!
Esta polêmica teve
consequências concretas na organização do evento desportivo. Os Jogos duraram
cinco meses, de maio a outubro de 1900, período da Exposição Universal. Neles
existiram também eventos não reconhecidos pelo COI, como: competições de balão,
pesca, tiro de canhão, etc.
Este contexto particular
explica a ausência de infraestruturas dedicadas aos Jogos de 1900. Foi de fato
decidido que o desenvolvimento de locais reservados às competições desportivas
implicaria elevados custos de construção e não cumpriria o objetivo que
perseguido: a criação de grandes competições temporárias, além de duplicar
custos para a própria Exposição.
O motivo de os Jogos de Paris 1900 terem sido incluídos na Exposition Universelle de 1900, se justifica no fato de que a Exposição Universal era muito mais conhecida na época do que as Olimpíadas, recentemente revividas, para atrair parte do público que a exposição atraiu. Infelizmente, os organizadores da exposição referiram-se aos eventos desportivos como “Competição Internacional de exercícios físicos e desportos” e foi esse o nome que pegou. O termo “Olímpico” era usado tão raramente que muitos espectadores e competidores não sabiam, e permaneceram inconscientes durante anos (às vezes até à sua morte), que tinham participado nos Jogos Olímpicos.
Apesar desta questão
relacionada com a imagem, os primeiros Jogos Olímpicos na França foram um marco
importante: 997 atletas, incluindo as primeiras 22 mulheres de sempre, de 24
países, participaram nas 95 provas. A tenista britânica Charlotte Cooper, então
com 29 anos, fez história em Paris ao se tornar a primeira mulher a conquistar
o prêmio de primeiro lugar em qualquer esporte (as medalhas só passariam a ser
distribuídas em distribuídas em 1904), derrotando a francesa Hélène Prévost por
6/1 e 7/5.
La Cipale, o único vestígio dos Jogos de
1900
Sabendo que as cidades
históricas como Paris possuem muitos monumentos históricos já que seus
vestígios de civilização remonta a cultura chasseana (entre 4 000 e 3 800
a.C.), não seria demais perguntar o que restou como patrimônio das Olimpiadas
de 1900. Para minha cara de pasmo,
restou quase nada...
O único equipamento com
vestígios daquela época é o “velódromo municipal de Vincennes” – adquirido
muito mais tarde pela Câmara Municipal de Paris – inaugurado em 1896 e que
rapidamente ganhou o apelido de “Cipale”. Em 1900, além do ciclismo, também
aconteciam ali provas de ginástica, futebol e rugby.
A pista também seria utilizada para os Jogos de Paris de 1924. De 1968 a 1975, é neste velódromo que aconteceria o Tour de France todos os verões. O “Cipale” recebeu o nome de “Vélodrome Jacques Anquetil” em 1987 e passou por uma grande reforma de 2012 a 2015. A pista ainda poderá ser usada local de treinamento dos Jogos de Paris 2024.
Corrida de 100 km no encontro de exposição no velódromo de Vincennes, 13 de setembro de 1900. Crédito da foto: BNF
Vélodrome Jacques
Anquetil, la cipale au boi de Vincennes , hoje
O jardim das Tulherias
(Centro de Paris) também serviu de recinto para os eventos dos Jogos de 1900.
De fato, foi neste cenário de 25 hectares que aconteceram as lutas de esgrima.
Ainda mais surpreendente é que a Place de Breteuil acolheu provas de hipismo
com a construção de um hipódromo temporário. Não há instalações sustentáveis
dedicadas... portanto, nenhum vestígio deste passado.
Mas então, se não houve
estádio, onde aconteceram os principais eventos de atletismo dos Jogos? No Bois
de Boulogne, nas instalações da Croix Catelan, da qual o Racing Club de France
é concessionário desde 1886... e ainda é hoje. Duas arquibancadas de 600
lugares foram rapidamente instaladas ao longo de um campo gramado onde as raias
dos atletas foram dispostas em cal.
Para os demais eventos, você
deveria sair de Paris. A ilha de Puteaux acolheu o tênis – evento aberto às
mulheres – no âmbito da Société sportif de l’île de Puteaux, fundada em 1873,
um dos primeiros clubes de tênis a surgir na França. As competições de vela
acontecem no Sena, exatamente no trecho de água de Meulan administrado pelo
Cercle de la Voile de Paris. O mesmo local seria utilizado durante os Jogos de
1924.
As competições de tiro foram
organizadas no campo militar de Satory, não muito longe de Versalhes e era
preciso ir a Compiègne no Oise para acompanhar as provas de golfe, porque não
existia campo mais perto da capital.
E como ficava a alimentação nos Jogos de
1900?
Os Jogos Olímpicos de 1900
sendo realizados em Paris estavam no berço da gastronomia mundial da época,
onde se encontravam os melhores gourmets, chefs e restaurantes. O Guia Michelin
usou toda a sua influência para que Paris se tornasse o lugar onde se podia
encontrar os sabores e sabores dos cinco continentes.
É aqui que se marca o
surgimento da “convivência olímpica” entre gastronomia e desporto, que surgiu
nesta edição, que foi celebrada com a Exposição Universal. Diferentemente do
que passou a ocorrer anos depois, em 1900 os restaurantes mais exclusivos de Paris
divertiram os representantes das recepções olímpicas com as suas melhores
especialidades (Williams, 1996).
A revista Olympic Review
apresentando o artigo de Michel Clare (1996), destaca que havia dois principais
polos da atração gastronômica: o Maxim's, na margem direita do rio Sena, e o
Tour d'Argent, na margem esquerda.
O Tour d'Argent oferecia um
pato suculento, criado com cuidado na aldeia de Challans. Enquanto no Maxim's,
os clientes podiam conviver com “A” aristocracia europeia, até Eduardo VII, rei
de Inglaterra, e também saborear vieiras e champanhe, a bebida que logo se
tornou associada a quase todas as vitórias Esportes. Se você quiser entender um
pouco mais sobre isso, clique AQUI.
Maxime Gaillard, criador de
Maxim's, teve um golpe de gênio ao anglicizar seu nome, numa época em que que,
com o ímpeto de Coubertin, o desporto britânico os tornou populares em todo o
mundo. Ele, enquanto fundador do Comitê Olímpico Internacional se cercou de um
grupo de líderes que incluía muitos dos clientes habituais do Maxim (o
restaurante atingiu seu auge durante a era eduardiana, início do século 20),
ele brincou que "banquetes eram uma forma de acolhimento sem a qual nenhum
acontecimento pode estar completo" (CLARE, 1996).
Os Jogos de 1900, realizados
de 14 de maio a 18 de outubro. Neles, cada esporte tinha sua comissão catering,
conforme detalhado no Relatório Oficial dos Jogos Olímpicos. Os II jogos olímpicos de Paris 1900. Por exemplo,
o banquete dos ginastas foi realizado em Saint-Mande, no "Salon des
Familles", com alimentação fornecida por todos restaurantes vizinhos.
Foram 900 convidados (WILLIAMS, 1996).
Paris 1924: os últimos Jogos
de Paris antes de um interlúdio de um século
Seis Olimpíadas depois, os
Jogos foram novamente organizados em Paris – e em torno dela, visto que o
evento tinha crescido desde 1900. Desta vez, os Jogos foram devidamente
chamados de “Olimpíadas” e atraíram um interesse considerável na capital.
Naquele ano, o programa incluiu 126 provas em 17 esportes, e 135 dos 3.089
atletas que disputavam a vitória eram mulheres. O evento também ganhava
destaque em todo o mundo; 44 países em todos os continentes enviaram atletas
para competir. Os Jogos de 1924 duraram mais de quatro meses. Uma competição
artística aconteceu primeiro, revivendo uma tradição dos antigos Jogos
Olímpicos, quando os torneios esportivos e culturais eram combinados. Os
concursos de arquitetura, literatura, pintura, escultura e música decorreram de
15 de março a 15 de abril de 1924, na preparação para as competições
desportivas, que decorreram de 4 de maio a 27 de julho.
Os Jogos de Paris 1924 foram
os primeiros a apresentar o lema olímpico Citius, Altius, Fortius (“Mais
rápido, mais alto, mais forte”), que o Padre Henri Didon cunhou e Pierre de
Coubertin emprestou e promoveu.
A inovação maior de Paris:
ela inventou a Vila Olímpica!
Os Jogos de Paris já estavam
abrindo novos caminhos em 1924, quando introduziram a noção de Vila Olímpica –
que todos os Jogos desde então adotaram.
A primeira Vila Olímpica foi
construída perto do Stade Olympique em Colombes, a noroeste de Paris. Era uma
série de cabanas temporárias de madeira, com três camas cada. Os atletas
recebiam três refeições diárias e dividiam banheiros, chuveiros e refeitório. A
aldeia tinha casa de câmbio, tinturaria, cabeleireiro, banca de jornal e
correios. Ao contrário das que se seguiram, a vila de 1924 não foi construída
para ser utilizada após os Jogos.
A localização das arenas e
da vila espalhou a celebração pelas cidades vizinhas de Paris. Assim, a área da
Grande Paris esteve envolvida nos Jogos Olímpicos de 1924 – tal como está nos
Jogos de 2024. O Estádio e Vila Olímpica de Colombes, a bacia de remo de
Argenteuil, os campos de caça de Versalhes e Issy les Moulineaux, os campos de
pólo de Bagatelle e Saint Cloud e demais instalações levaram a emoção dos Jogos
a toda a região.
Outra inovação gestada a
partir de Paris foi a criação dos Jogos Olímpicos de Inverno.
Chamonix 1924: os primeiros
Jogos de Inverno da história
Os Jogos de Paris 1924 não
foram os únicos, nem os primeiros, realizados na França naquele ano. Eles
seguiram a Semana Internacional de Esportes de Inverno, que aconteceu em
Chamonix de 25 de janeiro a 4 de fevereiro de 1924 e foi patrocinada pelo
Comitê Olímpico Internacional. Houve alguns eventos desportivos no gelo em
Olimpíadas anteriores (por exemplo, hóquei no gelo nos Jogos de Antuérpia no
verão de 1920), mas, retrospectivamente, as competições em Chamonix em 1924
ficaram conhecidas como os primeiros Jogos Olímpicos de Inverno.
Os 258 atletas incluíam 11
mulheres e vieram de 16 nações. Eles participaram de 16 provas envolvendo 6
disciplinas. O programa ainda não incluía desportos que desde então se tornaram
pilares olímpicos, como o esqui alpino, mas mesmo assim o evento foi um sucesso
de público: atraiu mais de 10.000 espectadores pagantes no total, o que levou o
COI a organizar os Jogos Olímpicos de Inverno subsequentes.
Os países escandinavos, que
inicialmente relutaram em participar e apoiar o evento, roubaram a cena nos
primeiros Jogos Olímpicos de Inverno – você pode perceber claramente observando
a lista no início dessa postagem. Os dois candidatos que conquistaram mais
medalhas foram Clas Thunberg (Finlândia) com cinco medalhas, incluindo três de
ouro, e Thorleif Haug (Noruega) com três de ouro. Ao todo, atletas finlandeses,
noruegueses e suecos conquistaram 30 das 49 medalhas do evento.
Grenoble 1968: entrando na
modernidade
As Olimpíadas de Inverno
retornaram à França 44 anos depois para sua décima edição. Eles foram
realizados em Grenoble, uma cidade plana que tem a vantagem de ser cercada por
montanhas. Os maciços próximos de Belledonne, Vercors e Grandes Rousses
sediaram os eventos nas encostas e Grenoble sediou os torneios no gelo. Um
destaque nos Jogos de Grenoble foi a proeza dos atletas franceses no esqui
alpino (disciplina que havia sido acrescentada ao programa dos Jogos de Inverno
de Garmisch-Partenkirchen, em 1936). Jean-Claude Killy venceu os três torneios
em que participou, em Chamrousse, um resort na cordilheira de Belledonne com
vista para Grenoble; Marielle Goitschel conquistou a medalha de ouro no torneio
de slalom feminino.
Jogos pioneiros transmitidos
em cores
Os Jogos de Grenoble também
deram ao mundo do Olimpismo a sua quota-parte de inovações – na história da
tecnologia e na história dos Jogos. Foram os primeiros Jogos a serem
transmitidos em cores, o que não era pouca coisa na época.
O Comitê Organizador de
Grenoble 1968 também deu ao Olimpismo sua primeira mascote, Shuss –
representava a uma figura de um pequeno homem sobre esquis e foi desenhado por
Mme Lafargue. Por mais não oficial que fosse, Shuss era usado em chaveiros,
ímãs, relógios e uma infinidade de outros itens, e logo se tornou extremamente
popular entre o povo de Grenoble.
É justo dizer que o sucesso
de Shuss é um novo desenvolvimento porque todos os Jogos Olímpicos desde então,
começando com Munique quatro anos depois, em 1972, tiveram a primeira mascote
oficial, Waldi – criada por Elena Winschermann, ela é um dachshund, um animal
muito popular na Bavária, famoso por sua resistência, tenacidade e agilidade. A
mascote tem cores diferentes: sua cabeça e rabo são azul claro, e seu corpo tem
listas com pelo menos três das seis cores Olímpicas.
Sessenta e oito anos depois
dos primeiros Jogos Olímpicos de Inverno em Chamonix, em 1924, e 24 anos depois
dos de Grenoble, os Jogos estavam de volta aos Alpes franceses. Desta vez, eles
assumiram o controle de Albertville e dos vales vizinhos de Tarentaise e
Beaufortain. De 8 a 23 de fevereiro de 1992, as Olimpíadas de Albertville
acolheram 1.801 atletas, incluindo 488 mulheres, de 64 países ao redor do
mundo, para participarem de 57 competições.
Com a sua incomparável
variedade de extensas áreas de esqui nas proximidades – incluindo Val d'Isère,
Tignes, Courchevel, La Plagne e Méribel –, o vale Tarentaise forneceu os locais
para todos os torneios, exceto o esqui cross-country e o biatlo (que foram
realizados em Les Saisies, no vale de Beaufortain) e as competições de
patinação (que aconteceram em Albertville).
Os Jogos beneficiaram a
região da Savoie, uma região cultural em Ródano-Alpes, na França, em geral e o
vale da Tarentaise em particular de várias maneiras: estimularam o seu
desenvolvimento e abriram a área com a construção de novas infraestruturas,
especialmente estradas, que foram construídas para tornar as viagens mais
convenientes para os fãs e facilitar a logística em torno dos Jogos. Quando os
Jogos terminaram, os resorts da região aproveitaram ao máximo as novas
instalações e o novo interesse pelos desportos de inverno que os Jogos
suscitaram, para atrair um número crescente de turistas e continuar a
expandir-se.
Outra inovação vinda da
França: reinventar as cerimônias de abertura e a combinação dos Jogos Olímpicos
com as Paraolimpíadas
A cerimônia de abertura,
produzida por Philippe Decouflé, impressionou os telespectadores com uma
imersão total num universo mágico entrelaçando imagens, música e coreografias
milimétricas com cerca de 3.000 artistas. No auge da cerimônia, o último portador
da tocha apareceu com um menino da Sabóia (Savoie). O nome do portador da tocha
foi mantido em segredo até o último minuto e era ninguém menos que Michel
Platini – uma surpresa total. Albertville 1992 introduziu as cerimônias de
abertura e encerramento em uma nova dimensão e reescreveu as regras das
cerimônias anteriores.
Albertville foi a primeira
cidade a sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno pela primeira vez
em 1992. Um mês após o fim das Olimpíadas, as Paraolimpíadas de Inverno
aconteceram de 25 de março a 1º de abril, e as 79 provas foram realizadas em
Tignes para fins práticos. razões. Tignes também sediou a competição olímpica
de esqui estilo livre (magnatas), vencida pelo francês Edgar Grospiron, um mês
antes.
Paris 2024: reescrevendo as
regras – de novo
Trinta e dois anos depois de Albertville 1992, Paris 2024 planeja fazer o que a França fez sempre que organizou os Jogos: alargar as fronteiras. Realizar os primeiros Jogos neutros em carbono, os primeiros Jogos com igualdade de gênero e os primeiros Jogos a incluir competições em que todos podem participar: é isso que Paris 2024 pretende fazer, honrar a herança olímpica de França e levá-la a o próximo nível. Aguardaremos até o final dos jogos para ter ideia se esses objetivos foram atingidos.
Enquanto hoje podemos
aproveitar o espetáculo e a competição das Olimpíadas de 2024, uma olhada para
a última vez que Paris sediou os jogos nos dá uma ideia de quanto tempo se
passou e como teria sido participar deste evento nos Loucos Anos Vinte.
As Olimpíadas de Verão de
1924, os Jogos da VIII Olimpíada, marcaram um momento significativo na história
do esporte. Retornando a Paris pela segunda vez, a primeira em 1900, esses
Jogos exibiram proezas atléticas e destacaram o cenário culinário em evolução
dos Loucos Anos Vinte.
Agora é o momento de
embarcarmos em uma jornada gastronômica pelo tempo, explorando os pratos que
abasteciam os atletas e encantavam os espectadores durante aquela era de ouro
dos esportes e da culinária.
As Olimpíadas de 1924
ocorreram durante uma era vibrante conhecida como os Loucos Anos Vinte: Paris
estava no centro deste renascimento cultural, com seus cafés movimentados,
clubes de jazz e cena artística de vanguarda. Essa energia e inovação se estenderam
ao mundo culinário, influenciando a comida servida durante os Jogos.
Naquela época alguns pratos
populares de 1924 ganharam ainda mais destaque, dentre eles:
Boeuf à la Mode: Este
clássico prato de carne bovina francesa braseado 9refogado lentamente) em vinho
continuou sendo um alimento básico, fornecendo nutrição saudável para atletas e
espectadores. É uma receita tradicional da culinária francesa criada por
François Pierre de la Varenne em 1651. Este prato consiste num pedaço de carne
e cenoura cozida em vinho branco aromatizado com ervas da Provença. Requer uma
cozedura lenta e longa para obter uma carne muito tenra. Este prato também pode
ser chamado de bœuf mode ou bœuf carottes (carne com cenoura). O termo da mode
significa “a carne é preparada no estilo caseiro”.
O primeiro restaurante à la
carte de Paris também tinha este nome. Fundado em 1792, chamava-se
originalmente Meot, em homenagem aos seus criadores, os irmãos Meot de
Marselha. Então, sob o nome de Bœuf à la mode, ele teve várias décadas de
glória; seu sinal representava um boi vestido com vestido, xale e chapéu de
penas. Sob sua direção, um homem chamado Tissot assumiu o restaurante e
preparava essa carne de maneira Incrível. Na Restaurante, ele era visto usando
vestido, xale, chapéu de penas e adornado com brincos pendentes. O restaurante
servia “a boa cozinha burguesa em sua pequena sala, complementada por salões e
armários localizados no mezanino.
Mas o “a mode” passou e a
sua cozinha provençal, cheirosa e colorida, foi atacada e até a sua marca
denegrida. Foi Honoré de Balzac quem o abordou pela primeira vez, em 1826, no
Le Petit Dictionnaire critique et anecdotique des Enseignes de Paris, por um
baterista. Assustado com os preços, denunciou: “Bœuf à la Mode (Au).
Restaurandor (entenda-se, restaurante) perto do Palais-Royal. Um Xalé e um
chapéu adornam um boi que o dono do restaurante calambourdista pensou poder
chamar de moda; alguns, enganados pelo jogo de palavras, quiseram experimentar
a culinária, mas acharam-na um pouco salgada demais ".
Na década que se seguiu,
esta difamação foi continuada pela Revue de Paris. Esta revista literária, que
se preocupava em atiçar o ódio, publicou em 1835: “Le Bœuf à la Mode (…)
justifica o seu nome vulgar e de mau gosto com uma pintura que lhe serve de sinal
(…) Os Sulistas (…) que também são muito apaixonados pela sua cozinha
perfumada, vêm em multidões ao Bœuf à la mode, que fez fortuna desde que Paris
foi invadida pelo departamento de Bouches-du-Rhône. "
Tendo se tornado um simples
bistrô, o Le Bœuf à la mode fechou suas portas em 1936, após uma lenta descida
ao inferno e apesar de ter sido adquirido por Prosper Montagné como
proprietário. permanecem.
Hoje, deste restaurante que
marcou a história de Paris ainda se pode ver a fachada na 8 rue de Valois, de
onde só resta a placa, enegrecida pelo tempo e ignorada por todos.
Sole Meunière: Um prato
simples, mas elegante, de linguado passado em farinha de trigo e frito na
manteiga, popularizado pela tendência de uma culinária mais leve e refinada.
Sole meunière (ou sole à la
meunière) é um prato de peixe clássico da culinária francesa. É constituído por
um linguado, de preferência inteiro, que tinha retirada a pele cinzenta,
coberto levemente com farinha de trigo e frito numa frigideira com manteiga
clarificada, depois incluído salsa picada e um pouco de suco de limão. Você
também pode usar apenas filés de linguado. O linguado tem textura leve, mas
macia e sabor suave. Num serviço clássico, o garçom retira as espinhas e
prepara pratos de filé de linguado à beira da mesa. Como o linguado é um peixe
chato, um único peixe produzirá quatro filés em vez de dois.
Na culinária francesa, o
linguado é provavelmente o rei dos peixes. Na verdade, este peixe é o
protagonista do prato preferido do Rei Luís XIV: o Sole Meuniere!
O termo Meuniére significa
em francês "esposa do moleiro" (aquele que moe os grãos de trigo ou
outros cereais). Assim, cozinhar algo à la meunière indica a forma de preparo
que se inicia com passar, neste caso o linguado, pela farinha trigo antes de
fritá-lo. É uma das receitas francesas mais icônicas e já devia ser apreciado
desde antes da época do "Le Roi Soleil". É bastante comum de ver um
Sole Meuniére de duas maneiras: o original, feito com linguado; e, uma versão
mais popular feita com truta.
A popularidade desta
receita, principalmente nos Estados Unidos, foi facilitada pela chef e
personalidade da TV Julia Child. Em seu livro de memórias “Minha Vida na
França”, Julia descreve seu primeiro Sole Meuniére no Restaurante La Couronne,
em Rouen: "Perfeitamente dourado em um molho de manteiga com uma pitada de
salsa picada por cima. Levei uma garfada de peixe à boca, dei uma mordida e
mastiguei lentamente. A polpa do linguado era delicada, com um sabor leve, mas
distinto de oceano que se misturou maravilhosamente com a manteiga dourada. Era
um pedaço de perfeição.”
Poulet à la King: Um prato
de frango cremoso que ganhou popularidade internacional, refletindo a crescente
influência americana na culinária francesa. Já tratei sobre ele no blog. Para
saber mais sobre ele, clique AQUI.
Crêpes Suzette: Esta sobremesa dramática, frequentemente preparada à mesa com um flambado de licor sabor laranja, sintetizou as experiências gastronômicas teatrais da época. Esse é uma clássica sobremesa francesa e ela também já foi abordada no blog, para saber mais sobre ela clique AQUI.
Salade Niçoise: Uma salada refrescante da Riviera Francesa, perfeita para refeições de verão durante os Jogos.
A salada Niçoise é uma
especialidade culinária da tradicional salada composta da cozinha Niçoise, até
hoje difundida em todo o mundo em múltiplas variações e adaptações. Constitui
uma das principais entradas da cozinha provençal e mediterrânica, sendo mesmo
uma refeição por direito próprio.
Esta salada é composta por
vegetais crus (da estação e se possível da horta) é tradicionalmente composta
por produtos locais de Nice, com folhas de salada, tomate (aos quartos),
pimentos verdes “chifre de boi”, alho, cebola roxa ou cebolinha, favas, aipo,
pequenas alcachofras roxas cruas, ovos cozidos, filetes de anchova (em azeite
ou salgados) ou atum natural, azeitonas pretas Niçoise e azeite de oliva.
A salada Niçoise era
originalmente feita simplesmente com tomate, anchovas e azeite. A receita
original contemporânea é composta por tomates salgados três vezes e inclui
sempre: tomate, pimentão, seja verde ou vermelho cortado em pedaços e uma
proteína (ovo, anchova ou atum). O atum, no início do século XIX, era caro e só
era consumido nos feriados, caso contrário era substituído pelas anchovas. Com
exceção dos ovos cozidos e, possivelmente, do atum grelhado, todos os
ingredientes são crus.
Alguns historiadores locais
acreditam que o famoso chef e autor de livros de culinária Auguste Escoffier
(1846-1935), nascido em Villeneuve-Loubet (perto de Nice), cometeu o
sacrilégio, segundo os puristas locais de Nice, de adicionar batata e vagens
(vegetais cozidos) com a receita tradicional original à base de vegetais crus.
Rabanetes pequenos, longos e fatiados, comumente incorporados em pratos
familiares e comerciais (e um vegetal local comido cru), geralmente não são
mencionados nas receitas tradicionais.
“Mas quem inventou o termo
“salada nicoise”? Nos livros de receitas mais antigos vemos por vezes escrita
salada de tomate… e nunca salada Niçoise. A primeira menção escrita à “salada
Niçoise” é de um escritor amigo de Matisse e não de um cozinheiro. Jules Romain
escreveu em Men of Good Will em 1918 (portanto antes do livro de Escoffier) que
seu herói come uma “salada Niçoise” no Falicon. Foi ele quem acrescentou o
termo niçoise depois da salada para dar um toque de exotismo aos seus leitores
parisienses, ou viu esse nome na lousa do restaurateur Bonifassi? » — Alex Benvenuto, Henri Matisse, Nice e Vence
1917-1954
A salada Nicaeoise é um dos
pratos regionais da cozinha gaulesa que Asterix e Obelix trazem de Nicéia para
sua aldeia no final de sua aventura no Tour de Gaule de Asterix.
Inovações culinárias da
década de 1920
As Olimpíadas de 1924
coincidiram com várias inovações culinárias que teriam sido exibidas durante o
evento:
Refrigeração: A tecnologia
de refrigeração aprimorada melhorou a preservação de alimentos e o serviço de
pratos resfriados.
Alimentos enlatados: A
popularidade dos produtos enlatados aumentou, oferecendo conveniência e
variedade aos visitantes do mundo todo.
Cultura de coquetéis: A era
da proibição nos Estados Unidos levou a uma cena de coquetéis em expansão em
Paris, com novas bebidas inventadas e apreciadas.
Também passou-se a observar
as Influências internacionais
Como um evento
internacional, as Olimpíadas de 1924 reuniram diversas tradições culinárias:
Sanduíches americanos:
Sanduíches rápidos e portáteis se tornaram populares como refeições
convenientes para os espectadores.
Culinária colonial: Os laços
coloniais da França introduziram novos ingredientes e sabores da África e da
Ásia.
Massas italianas: A
crescente popularidade da culinária italiana fez com que pratos de massas
aparecessem em mais cardápios parisienses.
Bebidas das Olimpíadas de
1924
Champanhe: A bebida
comemorativa francesa por excelência, perfeita para brindar vitórias atléticas.
Aperitivos: Bebidas como
Dubonnet e Lillet ganharam popularidade como bebidas antes do jantar.
Café: A cultura do café
parisiense permaneceu forte, com espectadores e atletas apreciando expresso e
café com leite.
A Grande inovação de Paris
para Jogos: A Vila Olímpica e o Refeitório
Os Jogos de 1924
introduziram a primeira Vila Olímpica, localizada em Colombes, uma comuna
francesa na região administrativa da Ilha-de-França, no departamento de
Hauts-de-Seine. Este novo conceito trouxe consigo instalações de refeições
centralizadas para atletas, oferecendo:
Refeições balanceadas: a
nutrição para atletas se tornou um foco, com refeições projetadas para fornecer
energia e auxiliar na recuperação.
Opções internacionais: a
vila tinha como objetivo atender às necessidades e preferências alimentares dos
atletas de vários países.
Refeições comunitárias: a
vila fomentou um senso de comunidade entre os atletas por meio de refeições
compartilhadas.
Legado culinário das
Olimpíadas de 1924
As Olimpíadas de Paris de
1924 deixaram um impacto duradouro no mundo culinário: elas exibiram a
culinária francesa globalmente, consolidando ainda mais a reputação de Paris
como uma capital gastronômica; o evento destacou a importância da nutrição no
desempenho atlético, influenciando abordagens futuras para refeições
esportivas; a troca internacional de ideias culinárias durante os Jogos
contribuiu para a evolução contínua da culinária francesa.
As Olimpíadas de Paris de
1924 foram uma celebração de conquistas atléticas e uma vitrine de excelência
culinária. De pratos tradicionais franceses a novas criações inovadoras, a
comida dos Jogos refletiu o espírito dinâmico dos loucos anos 20. Ao olharmos
para essa era de ouro dos esportes e da gastronomia, podemos apreciar como o
cenário culinário das Olimpíadas de 1924 lançou as bases para a abordagem
diversificada e focada na nutrição da comida em eventos olímpicos modernos.
Seja você é um entusiasta da
comida, um fã de história ou um fã olímpico, a história culinária dos Jogos de
1924 oferece uma janela única para um período transformador tanto nos esportes
quanto na gastronomia. À medida que continuamos a celebrar as tradições
olímpicas, os sabores de Paris de 1924 nos lembram da rica herança que conecta
comida, cultura e excelência atlética.
Compreendendo o impacto da
Vila Olimpica de 1924
Antes da cerimônia de
abertura das Olimpíadas de Paris, na sexta-feira, os atletas estão se
acomodando em suas acomodações na Vila Olímpica. A vila em Seine-Saint-Denis
tinha o tamanho de 70 campos de futebol e oferecia comodidades, incluindo uma
ampla praça de alimentação com diversas culinárias, uma ampla academia e um
centro médico, informava a Associated Press. É até o lar de uma padaria, ou
padaria francesa, que oferece aulas de culinária para atletas olímpicos que
procuram uma maneira de relaxar, informou o The New York Times.
Por estes padrões, as
acomodações oferecidas nas últimas Olimpíadas de Paris – realizadas há um
século – eram rudimentares. No entanto, ainda foram pioneiros: as Olimpíadas de
1924 abrigaram a primeira Vila Olímpica, inspirada pelo desejo dos organizadores
de simplificar a logística dos Jogos e reunir atletas de muitas nações em um só
lugar.
Muitos dos 3.089 atletas que
competiram em 17 esportes naquele ano ficaram na Vila Olímpica, que oferecia
três refeições por dia, água corrente e proximidade de seus eventos.
Quando Paris sediou as
Olimpíadas em 1924, foi a primeira vez que os atletas ficaram juntos em uma
vila.
A Vila Olímpica estreou nas Olimpíadas de Paris em 1924. Arquivo Hulton/Imagens Getty
Antes de 1924, as delegações
ficavam em hotéis, edifícios militares ou com famílias locais nas cidades-sede,
segundo o Centro de Estudos Olímpicos.
Mas em 1923, o conselho executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI)
decidiu que um comitê organizador dos Jogos era obrigado a “fornecer moradia e
todos os serviços necessários aos atletas”, de acordo com um artigo de 2011
publicado na revista Asian Social Science pela organização canadense. Centro de
Ciência e Educação.
“Um contrato deve ser
firmado e os encargos devem ser fixados a cada vez”, informava o COI. “As
despesas necessárias devem ser assumidas pelas próprias nações participantes.”
Os organizadores das
Olimpíadas de Paris de 1924 também acreditavam que abrigar atletas juntos
trazia benefícios além da logística e do custo.
“Ao reunir jovens de todas
as nações, [os Jogos Olímpicos] ajudam a fomentar esse sentimento de
cordialidade que ensina os homens a se conhecerem melhor uns com os outros
primeiro e depois a terem mais estima uns pelos outros, um processo que os
Jogos de Paris terão. ajudou muito", disse Frantz Reichel,
secretário-geral do comitê organizador das Olimpíadas de Paris de 1924, de
acordo com as Olimpíadas.
A Vila Olímpica era composta
por modestas cabanas de madeira. ARQUIVOS CNOSF/Arquivos CNOSF/AFP via Getty
Images
A vila foi construída perto
do Stade Olympique de Colombes, onde muitos eventos esportivos foram realizados
a noroeste de Paris. Segundo o Centro de Estudos Olímpicos, as suas cabanas
básicas de madeira foram concebidas para três ocupantes cada, com três camas,
duas bacias para lavar roupa e um chuveiro. As estruturas eram separadas por
caminhos de terra que podiam ser acessados de carro.
O Guinness World Records,
que reconhece Paris como o lar da primeira Vila Olímpica, observou que foi
somente nos Jogos de Los Angeles, em 1932, que a Vila Olímpica apresentou
"cozinhas e outras comodidades modernas". As delegações pagaram pela hospedagem
e alimentação, que incluía alimentação, lavanderia e banho.
Atletas relaxaram na
Vila Olímpica de Paris em 1924. Topical Press/Hulton Archive/Getty Images
As equipes reservavam camas
mediante pagamento de um depósito e, em seguida, eram cobradas diárias de
hospedagem e alimentação, segundo o Centro de Estudos Olímpicos. Os atletas
recebiam três refeições por dia – desjejum, almoço e jantar, nisso incluíam meia
garrafa de vinho.
Os atletas recebiam três refeições diárias na Vila Olímpica. ARQUIVOS CNOSF/Arquivos CNOSF/AFP via Getty Images
O jantar consistia em três
pratos – sopa, um prato que incluía um tipo de carne e sobremesa – e aos
atletas foi oferecida “meia garrafa de vinho no almoço e no jantar todos os
dias”, informou o The Times de Londres.
Totalmente diferente de
2024, pois nenhum vinho ou bebida alcoólica será oferecido na vila Olímpica.
A primeira Vila
Olímpica contava com comodidades como serviço telefônico e salão de beleza.
ARQUIVOS CNOSF/Arquivos CNOSF/AFP via Getty Images
Outros serviços incluíam
lavanderia e acesso telegráfico e telefônico, de acordo com o Centro de Estudos
Olímpicos.
O Estádio Olímpico de Colombes sediou eventos como atletismo, futebol, equitação e esgrima. ARQUIVOS CNOSF/Arquivos CNOSF/AFP via Getty Images
O Stade de Colombes foi
posteriormente renomeado como Stade Yves-du-Manoir. Ele sediará eventos de
hóquei em campo nas Olimpíadas de 2024.
Nem todos os desportes realizavam os seus eventos no Stade de Colombes, por isso fazia sentido que os atletas que competiam em eventos realizados fora de Paris ficassem perto dos seus respetivos locais, em vez de na Vila Olímpica. Por exemplo, de acordo com o Centro de Estudos Olímpicos, os atletas que participaram em eventos de tiro permaneceram perto dos locais em Reims e Châlons-sur-Marne (agora chamados Châlons-en-Champagne), que ficam a cerca de 160 quilómetros a nordeste de Paris.
s países exibiram suas bandeiras na Vila Olímpica. ARQUIVOS CNOSF/Arquivos CNOSF/AFP via Getty Images
A Vila Olímpica era apenas
para ser temporária, por isso foi demolida após a saída dos atletas. O Centro
de Estudos Olímpicos disse que só nos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936 é que
os edifícios construídos para as Vilas Olímpicas foram reutilizados para outros
fins, como residências ou museus.
Atualmente, após as
Olimpíadas de 2024, a vila Olímpica de Paris 2024 conta com 82 prédios e 7,2
mil quartos destinados a receber um total de 15 mil atletas das 207 delegações
olímpicas e das 185 paralímpicas. A construção custou 2 bilhões de euros e após
os jogos dará origem a um novo bairro, com os prédios sendo convertidos em
instalações residenciais e comerciais. Isso já nos mostra o quão longe a Vila
Olímpica avançou desde sua primeira iteração modesta na cidade, há 100 anos.
Agora se você desejar
experimentar uma comidinha boa, daquela época e servida para atletas e
visitantes, a receita está descrita abaixo. Faça e depois me conta...
Para os curiosos, REFERÊNCIAS:
CLARE, M. Olympic conviviality. Gastronomy at the Olympic Games. Olympic Rev. n.26, p.36–39, 1996.
COI. Pierre de Coubertin: Visionary and Founder of the Modern Olympics. Disponível em: < https://olympics.com/ioc/pierre-de-coubertin >.
GUINESS WORLD. First Olympic Village. Disponivel em: < https://www.guinnessworldrecords.com/world-records/first-olympic-village >.
Nicolas
Méra, N. Le fiasco olympique des Jeux de Paris 1900. SLATE. Disponivel desde
06/08/2023 em: <
https://www.slate.fr/story/251098/fiasco-olympique-jeux-paris-1900-jo-exposition-universelle-epreuves-insolites-peche-tir-canon-pigeons
>.
OLYMPICS. La France et l'olympisme: plus d'un siècle de premières. 2024. Disponível em: < https://olympics.com/fr/paris-2024/les-jeux/jeux-olympiques-et-paralympiques/olympisme-francais >.
PARIS. Sur les traces des Jeux olympiques parisiens de 1900 et 1924. Disponivel desde 27/06/2024, em: < https://www.paris.fr/pages/sur-les-traces-des-jeux-olympiques-parisiens-de-1900-et-1924-24239 >.
PELLY, F. E.; O'CONNOR, H. T.; DENYER, G. S.; CATERSON, I. D. Evolution of food provision to athletes at the summer Olympic Games. Nutrition reviews, 69(6), 321-332. 2011.
SANTABÀRBARA,
Xavi. Evolución y cambios en la nutrición deportiva, la provisión de alimentos
y la gastronomía en los Juegos Olímpicos de la era moderna (1896-2020). Tesis
Doctoral. Universitat Oberta de Catalunya. 2023.
WILLIAMS, R. Gold medal appetites. Gastronomy at the Olympic Games. Olympic Rev. n.26: p.40–44. 1996.
Beouf à la mode
1,2 kg de carne cortada em pedaços não muito grande
1 kg de cenoura
1 cebola grande
2 dentes grandes de alho
150ml de vinho branco seco
60ml de Caldo de carne
1 buquê garni (amarre numa linha folhas
ramos de salsa, tomilho, folhas de louro e aipo)
3 colheres de sopa de azeite de oliva
Sal e pimenta do reino à gosto
Salsinha picada pra finalizar
Preparo: Comece cortando a carne em pedaços.
Descasque e corte a cebola. Descasque e corte as cenouras em rodelas. Descasque
os dentes de alho. Em uma caçarola grande, aqueça o azeite. Adicione os pedaços
de carne e doure-os por todos os lados. Adicione as cebolas e continue
cozinhando por 5 minutos. Deglaçar a caçarola com o vinho branco. Deixe ferver
por 2 minutos e depois acrescente o caldo por cima. Adicione o bouquet garni,
os dentes de alho, sal e pimenta. Deixe ferver e cubra com a tampa. Cozinhe em
fogo baixo por 2 horas. Verifique a panela vez por outra e se achar que precisa
de um pouquinho mais de liquido coloque água, ou caldo de carne se tiver
pronto. Passado esse tempo, adicione as rodelas de cenoura. Continue cozinhando
em fogo baixo por mais 1 hora. Ajuste o tempero e sirva quente. Decorara com
salsinha.
Dicas: Como aqui, para esse prato usar mandril ou bochecha de boi cortada em cubos grandes (deixe cerca de 3 horas de cozimento em fogo baixo). Em algumas versões dessa receita a carne não é cortada em pedaços, mas sim inteira. Fique à vontade para fazer ao seu modo, afinal esse é o nome da receita!