quarta-feira, 31 de julho de 2024

A comida olímpica e as inovações surgidas das Olimpíadas de Paris de1900 e 1924

 

A curiosidade pode consumir um sujeito de tal forma que explicar como é estar ‘consumido’ pode parecer tarefa fácil, mas não é! Por sorte, hoje, com as facilidades e o auxílio da internet, que conta com bancos de dados importantes, investigar o passado torna-se uma tarefa um pouco mais rápida, mas continua necessitando de curadoria de informações, especialmente pelo fato de também haver muita desinformação circulando na rede.

Eu costumo ter vários arquivos, sobre coisas diferentes. Às vezes, uma curiosidade aparece e na busca dela acabam aparecendo outras, e eu me empolgo com todas. Daí, abro arquivos e vou deixando o que vou descobrindo lá até achar que já tenho algo suficiente para mim – e para dividir com vocês. Nessa tentativa de sanar minhas curiosidades já fiz desfilar por este blog – ou pela página do Facebook - muita preparação interessante, uma dessas foi o caso do antigo doce frito grego que era servido aos campeões olímpicos, ainda na Antiguidade, o Loukoumades, que você pode saber mais clicando AQUI.

Considerando que as Olimpíadas voltaram à Paris, mais uma vez, e com o tempo e a falta de entusiasmo se encarregando de destilar as curiosidades olímpicas hoje me permitir entrar em mais um capítulo sobre a questão da comida olímpica. E parece providencial que isso tenha acontecido justamente no momento em que Paris sedia as Olimpiadas mais uma vez. Depois do texto de hoje vocês vão se dar conta do poder de Paris e da importância dela para os Jogos Olímpicos, incluindo na alimentação.



Na busca sobre material confiável sobre essa questão encontrei a artigos cinéticos e de jornais oferecendo cobertura histórica sobre os jogos olímpicos, até que em um desse fui parar da tese de doutorado de  Xavi Santabàrbara, Evolución y cambios en la nutrición deportiva, la provisión de alimentos y la gastronomía en los Juegos Olímpicos de la era moderna (1896-2020), defendida em 2023 na Universitat Oberta de Catalunya, um trabalho excelente que, embora focado na nutrição dos atletas, apresenta um percurso histórico sobre alimentação nos jogos da era moderna. Alguns pontos apresentados foram ajustados de acordo com algumas informações observadas nessa tese.

Antes de adentrar no objeto dessa investigação, gostaria que observassem a lista de realizações dos Jogos Olímpicos da Era moderna. Dela já parte a primeira curiosidade e inovação partindo de Paris: a divisão jogos de verão e de inverno. Na lista também se poderá ver além dos países e cidades sede dos jogos, os países com maior número de medalhas, o reflexo da guerra.

Lista dos Jogos Olímpicos de Verão – Era Moderna

Ano

Ordem

Cidade

País

Maior n.º de medalhas

1896

I Olimpíada 

Atenas

Grécia

EUA

1900

II Olimpíada 

Paris

França

França

1904

III Olimpíada 

Saint Louis

EUA

EUA

1906

Edição especial

Atenas

Grécia

França

1908

IV Olimpíada 

Londres

Grã-Bretanha

Grã-Bretanha

1912

Olimpíada 

Estocolmo

Suécia

EUA

1916

VI Olimpíada 

Interrupção devido à I Guerra Mundial

Interrupção devido à I Guerra Mundial

Interrupção devido à I Guerra Mundial

1920

VII Olimpíada 

Antuérpia

Bélgica

EUA

1924

VIII Olimpíada 

Paris

França

EUA

1928

IX Olimpíada 

Amsterdam

Países Baixos

EUA

1932

Olimpíada 

Los Angeles

EUA

EUA

1936

XI Olimpíada 

Berlim

Alemanha

Alemanha

1940

XII Olimpíada 

Interrupção devido à II Guerra Mundial

Interrupção devido à II Guerra Mundial

Interrupção devido à II Guerra Mundial

1944

XIII Olimpíada 

Interrupção devido à II Guerra Mundial

Interrupção devido à II Guerra Mundial

Interrupção devido à II Guerra Mundial

1948

XIV Olimpíada 

Londres

Grã-Bretanha

EUA

1952

XV Olimpíada 

Helsinque

Finlândia  

EUA

1956

XVI Olimpíada 

Melbourne

Austrália

União Soviética

1960

XVII Olimpíada 

Roma

Itália

União Soviética

1964

XVIII Olimpíada 

Tóquio

Japão

EUA

1968

XIX Olimpíada 

Cidade do México

México

EUA

1972

XX Olimpíada 

Munique

Alemanha Ocidental

União Soviética

1976

XXI Olimpíada 

Montreal

Canadá

União Soviética

1980

XXII Olimpíada 

Moscou

União Soviética

União Soviética

1984

XXIII Olimpíada 

Los Angeles

EUA

EUA

1988

XXIV Olimpíada 

Seul

Coreia do Sul

União Soviética

1992

XXV Olimpíada 

Barcelona

Espanha

Equipe Unificada

1996

XXVI Olimpíada 

Atlanta

EUA

EUA

2000

XXVII Olimpíada 

Sydney

Austrália

EUA

2004

XXVIII Olimpíada 

Atenas

Grécia

EUA

2008

XXIX  Olimpíada 

Pequim

China

China

2012

XXX Olimpíada 

Londres

Grã-Bretanha

EUA

2016

XXXI Olimpíada 

Rio de Janeiro

Brasil

EUA

2020

XXXII Olimpíada 

Tóquio

Japão

EUA

2024

XXXIII Olimpíada 

Paris

França

Jogos em andamento

2028

XXXIV Olimpíada 

Los Angeles

EUA

Jogos ainda não iniciados

2032

XXXV Olimpíada 

Brisbane

Austrália

Jogos ainda não iniciados

                            Listagem dos Jogos Olímpicos de Inverno

Ano

Ordem

Cidade

País

Maior n.º de medalhas

1924

Olimpíada 

Chamonix

França

Noruega

1928

II Olimpíada 

São Moritz

Suíça

Noruega

1932

III Olimpíada 

Lake Placid

EUA

EUA

1936

IV Olimpíada 

Garmisch-Partenkirchen

Alemanha

Noruega

1940

Olimpíada 

Interrupção devido à II Guerra Mundial

Interrupção devido à II Guerra Mundial

Interrupção devido à II Guerra Mundial

1944

VI Olimpíada 

Interrupção devido à II Guerra Mundial

Interrupção devido à II Guerra Mundial

Interrupção devido à II Guerra Mundial

1948

Olimpíada 

São Moritz

Suíça

Noruega

1952

VI Olimpíada 

Oslo

Noruega

Noruega

1956

VII Olimpíada 

Cortina d’Ampezzo

Itália

União Soviética

1960

VIII Olimpíada 

Squaw Valley

EUA

União Soviética

1964

IX Olimpíada 

Innsbruck

Áustria

União Soviética

1968

Olimpíada 

Grenoble

França

Noruega

1972

XI  Olimpíada 

Sapporo

Japão

União Soviética

1976

XII Olimpíada 

Innsbruck

Áustria

União Soviética

1980

XIII Olimpíada 

Lake Placid

EUA

União Soviética

1984

XIV Olimpíada 

Sarajevo

Iugoslávia

Alemanha Oriental

1988

XV Olimpíada 

Calgary

Canadá

União Soviética

1992

XVI Olimpíada 

Albertville

França

Alemanha

1994

XVII Olimpíada 

Lillehammer

Noruega

Rússia

1998

XVIII Olimpíada 

Nagano

Japão

Alemanha

2002

XIX Olimpíada 

Salt Lake City

EUA

Noruega

2006

XX Olimpíada 

Turim

Itália

Alemanha

2010

XXI Olimpíada 

Vancouver

Canadá

Canadá

2014

XXII Olimpíada 

Sóchi

Rússia 

Rússia

2018

XXIII Olimpíada 

Pyeongchang

Coreia do Sul

Noruega

2022

XXIV Olimpíada 

Pequim

China

Notuega

2026

XXV Olimpíada 

Milão-Cortina

Itália

Jogos ainda não iniciados

2030

XXVI Olimpíada 

Alpes marítimos

França

Jogos ainda não iniciados

2034

XXVII Olimpíada 

Salt Lake City

EUA

Jogos ainda não iniciados

 

Com isso feito, para continuar, é preciso ressaltar que a França desempenhou um papel proeminente na história dos Jogos Olímpicos modernos.

O Olimpismo organizou o seu renascimento naquele país na virada do século XX e fez com que a França sediasse os Jogos nada menos que cinco vezes, de 1900 a 1992. A história dos Jogos e da França são escritos juntos, desde o Congresso Olímpico que gestou o renascimento dos Jogos Olímpicos que Pierre de Coubertin convocou na Universidade de Sorbonne em 1894 até os Jogos de Paris 2024, 130 anos depois. Esta história cheia de acontecimentos está repleta de desenvolvimentos importantes e novidades que moldaram a história dos Jogos.

 

                               Pierre de Coubertain

Os segundos Jogos Olímpicos da era Moderna (1900)

Como se pode observar na listagem anterior, os primeiros Jogos Olímpicos modernos foram realizados na Grécia, em homenagem aos da Antiguidade.

Os Jogos da II Olimpíada foram organizados em Paris e duraram cinco meses, de maio a outubro de 1900. É preciso dizer que estes Jogos têm uma história particular, o que explica em grande parte o pouco lugar que deixaram na história das Olimpíadas... para grande consternação do "pai" dos Jogos Olímpicos modernos, o pedagogo e historiador francês Pierre de Frédy, popularmente conhecido como Barão de Coubertin ou ainda, Pierre de Courbertin.

Em 1900, os Jogos não eram propriamente olímpicos... e para muito eles foram considerados um fiasco naquela edição.

Parte da história olímpica renasce quando o Barão Pierre de Coubertin manteve seus interesses alimentados por descobertas arqueológicas nas ruínas de Olímpia e propôs a ideia de reviver os Jogos Olímpicos realizados na Grécia Antiga, mas na forma de um evento multiesportivo e internacional, inspirado nos jogos organizados pelo empresário Evangelos Zappas, na Grécia.

Em 23 de junho de 1894, o barão de Coubertin juntou representantes de sociedades esportivas de onze países numa conferência na Universidade Sorbonne, em Paris, onde apresentou e defendeu a sua ideia para os Jogos. No grande anfiteatro da Universidade de Sorbonne, 2.000 pessoas se levantaram em aclamação à sua proposta de reviver os Jogos Olímpicos e com a aprovação da ideia pelo congresso, iniciou-se a escolha da data e do local.

Coubertin sugeriu que os Jogos fossem realizados em 1900, coincidindo com a Exposition Universelle de Paris, os congressistas acreditando que seis anos de espera seria tempo suficiente para diminuir o interesse público, optaram por realizar os Jogos inaugurais em 1896. O processo de escolha da sede ainda é um mistério devido às versões contraditórias que existem.

O que se sabe é que o escritor e empresário grego, Demétrius Vikélas propôs Atenas como sede dos jogos, já que Grécia foi o local de nascimento dos Jogos Olímpicos, essa sugestão foi aprovada por unanimidade. Vikélas naquela ocasião ainda foi eleito como o primeiro presidente do recém-criado Comitê Olímpico Internacional (COI) – após o sucesso da realização dos jogos em 1896, Vikélas retirou-se da presidência do COI e dedicou-se à promoção e generalização da educação básica na Grécia, que considerava uma prioridade. Com isso, o barão Pierre de Coubertin foi seu sucessor na presidência do Comitê Olímpico Internacional de 1896 até 1925.

Como tantos visionários, Pierre de Coubertin tinha seus pontos cegos. Embora tenha dito sobre o esporte: "Para cada homem, mulher e criança, ele oferece uma oportunidade de autoaperfeiçoamento", ele se opôs abertamente à participação de mulheres em eventos de atletismo de elite ao longo de sua vida. No entanto, a participação de mulheres nos Jogos Olímpicos cresceu seis vezes sob a presidência de Coubertin. Com o tempo, os Jogos Olímpicos se tornaram um triunfo da diversidade para homens e mulheres, unindo todas as nações em amizade e paz por meio do esporte na maior celebração da humanidade do mundo.

Nas primeiras edições dos Jogos a importância da alimentação era residual e predominava a autossuficiência. Nos Jogos Olímpicos de Atenas 1896, a alimentação estava disponível apenas para dignitários e os atletas eram responsáveis pela sua própria alimentação (PELLY et al., 2011).

Alfred Picard, comissário geral da Exposição Universal queria organizar “competições internacionais de exercício físico e desporto” no âmbito da Exposição, o que deixou Pierre de Coubertin furioso. Finalmente, um compromisso foi alcançado em 1899: foi decidido que “as competições da Exposição tomam o lugar dos Jogos Olímpicos de 1900 e contam como equivalentes à segunda Olimpíada”. Como resultado, os eventos não são chamados de “Jogos Olímpicos” nos documentos oficiais, mas ainda são considerados Jogos Olímpicos… A difícil arte do compromisso!

Esta polêmica teve consequências concretas na organização do evento desportivo. Os Jogos duraram cinco meses, de maio a outubro de 1900, período da Exposição Universal. Neles existiram também eventos não reconhecidos pelo COI, como: competições de balão, pesca, tiro de canhão, etc.

Este contexto particular explica a ausência de infraestruturas dedicadas aos Jogos de 1900. Foi de fato decidido que o desenvolvimento de locais reservados às competições desportivas implicaria elevados custos de construção e não cumpriria o objetivo que perseguido: a criação de grandes competições temporárias, além de duplicar custos para a própria Exposição.

O motivo de os Jogos de Paris 1900 terem sido incluídos na Exposition Universelle de 1900, se justifica no fato de que a Exposição Universal era muito mais conhecida na época do que as Olimpíadas, recentemente revividas, para atrair parte do público que a exposição atraiu. Infelizmente, os organizadores da exposição referiram-se aos eventos desportivos como “Competição Internacional de exercícios físicos e desportos” e foi esse o nome que pegou. O termo “Olímpico” era usado tão raramente que muitos espectadores e competidores não sabiam, e permaneceram inconscientes durante anos (às vezes até à sua morte), que tinham participado nos Jogos Olímpicos. 

Pierre de Coubertin (1863-1937), educador francês, renovador dos Jogos Olímpicos. e presidente do Comitê Olímpico Internacional de 1896 a 1925. Crédito da foto:© Roger-Violl / Roger-Violl

Apesar desta questão relacionada com a imagem, os primeiros Jogos Olímpicos na França foram um marco importante: 997 atletas, incluindo as primeiras 22 mulheres de sempre, de 24 países, participaram nas 95 provas. A tenista britânica Charlotte Cooper, então com 29 anos, fez história em Paris ao se tornar a primeira mulher a conquistar o prêmio de primeiro lugar em qualquer esporte (as medalhas só passariam a ser distribuídas em distribuídas em 1904), derrotando a francesa Hélène Prévost por 6/1 e 7/5. 

                                                           Charlotte Coope

La Cipale, o único vestígio dos Jogos de 1900

Sabendo que as cidades históricas como Paris possuem muitos monumentos históricos já que seus vestígios de civilização remonta a cultura chasseana (entre 4 000 e 3 800 a.C.), não seria demais perguntar o que restou como patrimônio das Olimpiadas de 1900.  Para minha cara de pasmo, restou quase nada...

O único equipamento com vestígios daquela época é o “velódromo municipal de Vincennes” – adquirido muito mais tarde pela Câmara Municipal de Paris – inaugurado em 1896 e que rapidamente ganhou o apelido de “Cipale”. Em 1900, além do ciclismo, também aconteciam ali provas de ginástica, futebol e rugby.

A pista também seria utilizada para os Jogos de Paris de 1924. De 1968 a 1975, é neste velódromo que aconteceria o Tour de France todos os verões. O “Cipale” recebeu o nome de “Vélodrome Jacques Anquetil” em 1987 e passou por uma grande reforma de 2012 a 2015. A pista ainda poderá ser usada local de treinamento dos Jogos de Paris 2024. 

Corrida de 100 km no encontro de exposição no velódromo de Vincennes, 13 de setembro de 1900. Crédito da foto: BNF 

Vélodrome Jacques Anquetil, la cipale au boi de Vincennes , hoje

O jardim das Tulherias (Centro de Paris) também serviu de recinto para os eventos dos Jogos de 1900. De fato, foi neste cenário de 25 hectares que aconteceram as lutas de esgrima. Ainda mais surpreendente é que a Place de Breteuil acolheu provas de hipismo com a construção de um hipódromo temporário. Não há instalações sustentáveis dedicadas... portanto, nenhum vestígio deste passado.

Mas então, se não houve estádio, onde aconteceram os principais eventos de atletismo dos Jogos? No Bois de Boulogne, nas instalações da Croix Catelan, da qual o Racing Club de France é concessionário desde 1886... e ainda é hoje. Duas arquibancadas de 600 lugares foram rapidamente instaladas ao longo de um campo gramado onde as raias dos atletas foram dispostas em cal.

Para os demais eventos, você deveria sair de Paris. A ilha de Puteaux acolheu o tênis – evento aberto às mulheres – no âmbito da Société sportif de l’île de Puteaux, fundada em 1873, um dos primeiros clubes de tênis a surgir na França. As competições de vela acontecem no Sena, exatamente no trecho de água de Meulan administrado pelo Cercle de la Voile de Paris. O mesmo local seria utilizado durante os Jogos de 1924.

As competições de tiro foram organizadas no campo militar de Satory, não muito longe de Versalhes e era preciso ir a Compiègne no Oise para acompanhar as provas de golfe, porque não existia campo mais perto da capital. 

E como ficava a alimentação nos Jogos de 1900?

Os Jogos Olímpicos de 1900 sendo realizados em Paris estavam no berço da gastronomia mundial da época, onde se encontravam os melhores gourmets, chefs e restaurantes. O Guia Michelin usou toda a sua influência para que Paris se tornasse o lugar onde se podia encontrar os sabores e sabores dos cinco continentes.

É aqui que se marca o surgimento da “convivência olímpica” entre gastronomia e desporto, que surgiu nesta edição, que foi celebrada com a Exposição Universal. Diferentemente do que passou a ocorrer anos depois, em 1900 os restaurantes mais exclusivos de Paris divertiram os representantes das recepções olímpicas com as suas melhores especialidades (Williams, 1996).

A revista Olympic Review apresentando o artigo de Michel Clare (1996), destaca que havia dois principais polos da atração gastronômica: o Maxim's, na margem direita do rio Sena, e o Tour d'Argent, na margem esquerda.

                                      La Tour d'Argent

O Tour d'Argent oferecia um pato suculento, criado com cuidado na aldeia de Challans. Enquanto no Maxim's, os clientes podiam conviver com “A” aristocracia europeia, até Eduardo VII, rei de Inglaterra, e também saborear vieiras e champanhe, a bebida que logo se tornou associada a quase todas as vitórias Esportes. Se você quiser entender um pouco mais sobre isso, clique AQUI.

                                     Maxim's

Maxime Gaillard, criador de Maxim's, teve um golpe de gênio ao anglicizar seu nome, numa época em que que, com o ímpeto de Coubertin, o desporto britânico os tornou populares em todo o mundo. Ele, enquanto fundador do Comitê Olímpico Internacional se cercou de um grupo de líderes que incluía muitos dos clientes habituais do Maxim (o restaurante atingiu seu auge durante a era eduardiana, início do século 20), ele brincou que "banquetes eram uma forma de acolhimento sem a qual nenhum acontecimento pode estar completo" (CLARE, 1996).

Os Jogos de 1900, realizados de 14 de maio a 18 de outubro. Neles, cada esporte tinha sua comissão catering, conforme detalhado no Relatório Oficial dos Jogos Olímpicos.  Os II jogos olímpicos de Paris 1900. Por exemplo, o banquete dos ginastas foi realizado em Saint-Mande, no "Salon des Familles", com alimentação fornecida por todos restaurantes vizinhos. Foram 900 convidados (WILLIAMS, 1996).

Paris 1924: os últimos Jogos de Paris antes de um interlúdio de um século

Seis Olimpíadas depois, os Jogos foram novamente organizados em Paris – e em torno dela, visto que o evento tinha crescido desde 1900. Desta vez, os Jogos foram devidamente chamados de “Olimpíadas” e atraíram um interesse considerável na capital. Naquele ano, o programa incluiu 126 provas em 17 esportes, e 135 dos 3.089 atletas que disputavam a vitória eram mulheres. O evento também ganhava destaque em todo o mundo; 44 países em todos os continentes enviaram atletas para competir. Os Jogos de 1924 duraram mais de quatro meses. Uma competição artística aconteceu primeiro, revivendo uma tradição dos antigos Jogos Olímpicos, quando os torneios esportivos e culturais eram combinados. Os concursos de arquitetura, literatura, pintura, escultura e música decorreram de 15 de março a 15 de abril de 1924, na preparação para as competições desportivas, que decorreram de 4 de maio a 27 de julho.

Os Jogos de Paris 1924 foram os primeiros a apresentar o lema olímpico Citius, Altius, Fortius (“Mais rápido, mais alto, mais forte”), que o Padre Henri Didon cunhou e Pierre de Coubertin emprestou e promoveu.

A inovação maior de Paris: ela inventou a Vila Olímpica!

Os Jogos de Paris já estavam abrindo novos caminhos em 1924, quando introduziram a noção de Vila Olímpica – que todos os Jogos desde então adotaram.

A primeira Vila Olímpica foi construída perto do Stade Olympique em Colombes, a noroeste de Paris. Era uma série de cabanas temporárias de madeira, com três camas cada. Os atletas recebiam três refeições diárias e dividiam banheiros, chuveiros e refeitório. A aldeia tinha casa de câmbio, tinturaria, cabeleireiro, banca de jornal e correios. Ao contrário das que se seguiram, a vila de 1924 não foi construída para ser utilizada após os Jogos.

A localização das arenas e da vila espalhou a celebração pelas cidades vizinhas de Paris. Assim, a área da Grande Paris esteve envolvida nos Jogos Olímpicos de 1924 – tal como está nos Jogos de 2024. O Estádio e Vila Olímpica de Colombes, a bacia de remo de Argenteuil, os campos de caça de Versalhes e Issy les Moulineaux, os campos de pólo de Bagatelle e Saint Cloud e demais instalações levaram a emoção dos Jogos a toda a região.

Outra inovação gestada a partir de Paris foi a criação dos Jogos Olímpicos de Inverno.

Chamonix 1924: os primeiros Jogos de Inverno da história

Os Jogos de Paris 1924 não foram os únicos, nem os primeiros, realizados na França naquele ano. Eles seguiram a Semana Internacional de Esportes de Inverno, que aconteceu em Chamonix de 25 de janeiro a 4 de fevereiro de 1924 e foi patrocinada pelo Comitê Olímpico Internacional. Houve alguns eventos desportivos no gelo em Olimpíadas anteriores (por exemplo, hóquei no gelo nos Jogos de Antuérpia no verão de 1920), mas, retrospectivamente, as competições em Chamonix em 1924 ficaram conhecidas como os primeiros Jogos Olímpicos de Inverno.

Os 258 atletas incluíam 11 mulheres e vieram de 16 nações. Eles participaram de 16 provas envolvendo 6 disciplinas. O programa ainda não incluía desportos que desde então se tornaram pilares olímpicos, como o esqui alpino, mas mesmo assim o evento foi um sucesso de público: atraiu mais de 10.000 espectadores pagantes no total, o que levou o COI a organizar os Jogos Olímpicos de Inverno subsequentes.

Os países escandinavos, que inicialmente relutaram em participar e apoiar o evento, roubaram a cena nos primeiros Jogos Olímpicos de Inverno – você pode perceber claramente observando a lista no início dessa postagem. Os dois candidatos que conquistaram mais medalhas foram Clas Thunberg (Finlândia) com cinco medalhas, incluindo três de ouro, e Thorleif Haug (Noruega) com três de ouro. Ao todo, atletas finlandeses, noruegueses e suecos conquistaram 30 das 49 medalhas do evento.

Grenoble 1968: entrando na modernidade

As Olimpíadas de Inverno retornaram à França 44 anos depois para sua décima edição. Eles foram realizados em Grenoble, uma cidade plana que tem a vantagem de ser cercada por montanhas. Os maciços próximos de Belledonne, Vercors e Grandes Rousses sediaram os eventos nas encostas e Grenoble sediou os torneios no gelo. Um destaque nos Jogos de Grenoble foi a proeza dos atletas franceses no esqui alpino (disciplina que havia sido acrescentada ao programa dos Jogos de Inverno de Garmisch-Partenkirchen, em 1936). Jean-Claude Killy venceu os três torneios em que participou, em Chamrousse, um resort na cordilheira de Belledonne com vista para Grenoble; Marielle Goitschel conquistou a medalha de ouro no torneio de slalom feminino.

Jogos pioneiros transmitidos em cores

Os Jogos de Grenoble também deram ao mundo do Olimpismo a sua quota-parte de inovações – na história da tecnologia e na história dos Jogos. Foram os primeiros Jogos a serem transmitidos em cores, o que não era pouca coisa na época.

O Comitê Organizador de Grenoble 1968 também deu ao Olimpismo sua primeira mascote, Shuss – representava a uma figura de um pequeno homem sobre esquis e foi desenhado por Mme Lafargue. Por mais não oficial que fosse, Shuss era usado em chaveiros, ímãs, relógios e uma infinidade de outros itens, e logo se tornou extremamente popular entre o povo de Grenoble.

É justo dizer que o sucesso de Shuss é um novo desenvolvimento porque todos os Jogos Olímpicos desde então, começando com Munique quatro anos depois, em 1972, tiveram a primeira mascote oficial, Waldi – criada por Elena Winschermann, ela é um dachshund, um animal muito popular na Bavária, famoso por sua resistência, tenacidade e agilidade. A mascote tem cores diferentes: sua cabeça e rabo são azul claro, e seu corpo tem listas com pelo menos três das seis cores Olímpicas.

               Albertville 1992: os Jogos tomam conta do Vale Tarentaise

Sessenta e oito anos depois dos primeiros Jogos Olímpicos de Inverno em Chamonix, em 1924, e 24 anos depois dos de Grenoble, os Jogos estavam de volta aos Alpes franceses. Desta vez, eles assumiram o controle de Albertville e dos vales vizinhos de Tarentaise e Beaufortain. De 8 a 23 de fevereiro de 1992, as Olimpíadas de Albertville acolheram 1.801 atletas, incluindo 488 mulheres, de 64 países ao redor do mundo, para participarem de 57 competições.



Com a sua incomparável variedade de extensas áreas de esqui nas proximidades – incluindo Val d'Isère, Tignes, Courchevel, La Plagne e Méribel –, o vale Tarentaise forneceu os locais para todos os torneios, exceto o esqui cross-country e o biatlo (que foram realizados em Les Saisies, no vale de Beaufortain) e as competições de patinação (que aconteceram em Albertville).

Os Jogos beneficiaram a região da Savoie, uma região cultural em Ródano-Alpes, na França, em geral e o vale da Tarentaise em particular de várias maneiras: estimularam o seu desenvolvimento e abriram a área com a construção de novas infraestruturas, especialmente estradas, que foram construídas para tornar as viagens mais convenientes para os fãs e facilitar a logística em torno dos Jogos. Quando os Jogos terminaram, os resorts da região aproveitaram ao máximo as novas instalações e o novo interesse pelos desportos de inverno que os Jogos suscitaram, para atrair um número crescente de turistas e continuar a expandir-se.

Outra inovação vinda da França: reinventar as cerimônias de abertura e a combinação dos Jogos Olímpicos com as Paraolimpíadas

A cerimônia de abertura, produzida por Philippe Decouflé, impressionou os telespectadores com uma imersão total num universo mágico entrelaçando imagens, música e coreografias milimétricas com cerca de 3.000 artistas. No auge da cerimônia, o último portador da tocha apareceu com um menino da Sabóia (Savoie). O nome do portador da tocha foi mantido em segredo até o último minuto e era ninguém menos que Michel Platini – uma surpresa total. Albertville 1992 introduziu as cerimônias de abertura e encerramento em uma nova dimensão e reescreveu as regras das cerimônias anteriores.

Albertville foi a primeira cidade a sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno pela primeira vez em 1992. Um mês após o fim das Olimpíadas, as Paraolimpíadas de Inverno aconteceram de 25 de março a 1º de abril, e as 79 provas foram realizadas em Tignes para fins práticos. razões. Tignes também sediou a competição olímpica de esqui estilo livre (magnatas), vencida pelo francês Edgar Grospiron, um mês antes.

Paris 2024: reescrevendo as regras – de novo

Trinta e dois anos depois de Albertville 1992, Paris 2024 planeja fazer o que a França fez sempre que organizou os Jogos: alargar as fronteiras. Realizar os primeiros Jogos neutros em carbono, os primeiros Jogos com igualdade de gênero e os primeiros Jogos a incluir competições em que todos podem participar: é isso que Paris 2024 pretende fazer, honrar a herança olímpica de França e levá-la a o próximo nível. Aguardaremos até o final dos jogos para ter ideia se esses objetivos foram atingidos.

Enquanto hoje podemos aproveitar o espetáculo e a competição das Olimpíadas de 2024, uma olhada para a última vez que Paris sediou os jogos nos dá uma ideia de quanto tempo se passou e como teria sido participar deste evento nos Loucos Anos Vinte.

As Olimpíadas de Verão de 1924, os Jogos da VIII Olimpíada, marcaram um momento significativo na história do esporte. Retornando a Paris pela segunda vez, a primeira em 1900, esses Jogos exibiram proezas atléticas e destacaram o cenário culinário em evolução dos Loucos Anos Vinte.

Agora é o momento de embarcarmos em uma jornada gastronômica pelo tempo, explorando os pratos que abasteciam os atletas e encantavam os espectadores durante aquela era de ouro dos esportes e da culinária.

As Olimpíadas de 1924 ocorreram durante uma era vibrante conhecida como os Loucos Anos Vinte: Paris estava no centro deste renascimento cultural, com seus cafés movimentados, clubes de jazz e cena artística de vanguarda. Essa energia e inovação se estenderam ao mundo culinário, influenciando a comida servida durante os Jogos.

Naquela época alguns pratos populares de 1924 ganharam ainda mais destaque, dentre eles:

Boeuf à la Mode: Este clássico prato de carne bovina francesa braseado 9refogado lentamente) em vinho continuou sendo um alimento básico, fornecendo nutrição saudável para atletas e espectadores. É uma receita tradicional da culinária francesa criada por François Pierre de la Varenne em 1651. Este prato consiste num pedaço de carne e cenoura cozida em vinho branco aromatizado com ervas da Provença. Requer uma cozedura lenta e longa para obter uma carne muito tenra. Este prato também pode ser chamado de bœuf mode ou bœuf carottes (carne com cenoura). O termo da mode significa “a carne é preparada no estilo caseiro”.

O primeiro restaurante à la carte de Paris também tinha este nome. Fundado em 1792, chamava-se originalmente Meot, em homenagem aos seus criadores, os irmãos Meot de Marselha. Então, sob o nome de Bœuf à la mode, ele teve várias décadas de glória; seu sinal representava um boi vestido com vestido, xale e chapéu de penas. Sob sua direção, um homem chamado Tissot assumiu o restaurante e preparava essa carne de maneira Incrível. Na Restaurante, ele era visto usando vestido, xale, chapéu de penas e adornado com brincos pendentes. O restaurante servia “a boa cozinha burguesa em sua pequena sala, complementada por salões e armários localizados no mezanino.



Mas o “a mode” passou e a sua cozinha provençal, cheirosa e colorida, foi atacada e até a sua marca denegrida. Foi Honoré de Balzac quem o abordou pela primeira vez, em 1826, no Le Petit Dictionnaire critique et anecdotique des Enseignes de Paris, por um baterista. Assustado com os preços, denunciou: “Bœuf à la Mode (Au). Restaurandor (entenda-se, restaurante) perto do Palais-Royal. Um Xalé e um chapéu adornam um boi que o dono do restaurante calambourdista pensou poder chamar de moda; alguns, enganados pelo jogo de palavras, quiseram experimentar a culinária, mas acharam-na um pouco salgada demais ".

Na década que se seguiu, esta difamação foi continuada pela Revue de Paris. Esta revista literária, que se preocupava em atiçar o ódio, publicou em 1835: “Le Bœuf à la Mode (…) justifica o seu nome vulgar e de mau gosto com uma pintura que lhe serve de sinal (…) Os Sulistas (…) que também são muito apaixonados pela sua cozinha perfumada, vêm em multidões ao Bœuf à la mode, que fez fortuna desde que Paris foi invadida pelo departamento de Bouches-du-Rhône. "

Tendo se tornado um simples bistrô, o Le Bœuf à la mode fechou suas portas em 1936, após uma lenta descida ao inferno e apesar de ter sido adquirido por Prosper Montagné como proprietário. permanecem.

Hoje, deste restaurante que marcou a história de Paris ainda se pode ver a fachada na 8 rue de Valois, de onde só resta a placa, enegrecida pelo tempo e ignorada por todos. 

Sole Meunière: Um prato simples, mas elegante, de linguado passado em farinha de trigo e frito na manteiga, popularizado pela tendência de uma culinária mais leve e refinada.

Sole meunière (ou sole à la meunière) é um prato de peixe clássico da culinária francesa. É constituído por um linguado, de preferência inteiro, que tinha retirada a pele cinzenta, coberto levemente com farinha de trigo e frito numa frigideira com manteiga clarificada, depois incluído salsa picada e um pouco de suco de limão. Você também pode usar apenas filés de linguado. O linguado tem textura leve, mas macia e sabor suave. Num serviço clássico, o garçom retira as espinhas e prepara pratos de filé de linguado à beira da mesa. Como o linguado é um peixe chato, um único peixe produzirá quatro filés em vez de dois.

Na culinária francesa, o linguado é provavelmente o rei dos peixes. Na verdade, este peixe é o protagonista do prato preferido do Rei Luís XIV: o Sole Meuniere!

O termo Meuniére significa em francês "esposa do moleiro" (aquele que moe os grãos de trigo ou outros cereais). Assim, cozinhar algo à la meunière indica a forma de preparo que se inicia com passar, neste caso o linguado, pela farinha trigo antes de fritá-lo. É uma das receitas francesas mais icônicas e já devia ser apreciado desde antes da época do "Le Roi Soleil". É bastante comum de ver um Sole Meuniére de duas maneiras: o original, feito com linguado; e, uma versão mais popular feita com truta.

A popularidade desta receita, principalmente nos Estados Unidos, foi facilitada pela chef e personalidade da TV Julia Child. Em seu livro de memórias “Minha Vida na França”, Julia descreve seu primeiro Sole Meuniére no Restaurante La Couronne, em Rouen: "Perfeitamente dourado em um molho de manteiga com uma pitada de salsa picada por cima. Levei uma garfada de peixe à boca, dei uma mordida e mastiguei lentamente. A polpa do linguado era delicada, com um sabor leve, mas distinto de oceano que se misturou maravilhosamente com a manteiga dourada. Era um pedaço de perfeição.”

Poulet à la King: Um prato de frango cremoso que ganhou popularidade internacional, refletindo a crescente influência americana na culinária francesa. Já tratei sobre ele no blog. Para saber mais sobre ele, clique AQUI.

Crêpes Suzette: Esta sobremesa dramática, frequentemente preparada à mesa com um flambado de licor sabor laranja, sintetizou as experiências gastronômicas teatrais da época. Esse é uma clássica sobremesa francesa e ela também já foi abordada no blog, para saber mais sobre ela clique AQUI.

Salade Niçoise: Uma salada refrescante da Riviera Francesa, perfeita para refeições de verão durante os Jogos.

A salada Niçoise é uma especialidade culinária da tradicional salada composta da cozinha Niçoise, até hoje difundida em todo o mundo em múltiplas variações e adaptações. Constitui uma das principais entradas da cozinha provençal e mediterrânica, sendo mesmo uma refeição por direito próprio.

Esta salada é composta por vegetais crus (da estação e se possível da horta) é tradicionalmente composta por produtos locais de Nice, com folhas de salada, tomate (aos quartos), pimentos verdes “chifre de boi”, alho, cebola roxa ou cebolinha, favas, aipo, pequenas alcachofras roxas cruas, ovos cozidos, filetes de anchova (em azeite ou salgados) ou atum natural, azeitonas pretas Niçoise e azeite de oliva.

A salada Niçoise era originalmente feita simplesmente com tomate, anchovas e azeite. A receita original contemporânea é composta por tomates salgados três vezes e inclui sempre: tomate, pimentão, seja verde ou vermelho cortado em pedaços e uma proteína (ovo, anchova ou atum). O atum, no início do século XIX, era caro e só era consumido nos feriados, caso contrário era substituído pelas anchovas. Com exceção dos ovos cozidos e, possivelmente, do atum grelhado, todos os ingredientes são crus.

Alguns historiadores locais acreditam que o famoso chef e autor de livros de culinária Auguste Escoffier (1846-1935), nascido em Villeneuve-Loubet (perto de Nice), cometeu o sacrilégio, segundo os puristas locais de Nice, de adicionar batata e vagens (vegetais cozidos) com a receita tradicional original à base de vegetais crus. Rabanetes pequenos, longos e fatiados, comumente incorporados em pratos familiares e comerciais (e um vegetal local comido cru), geralmente não são mencionados nas receitas tradicionais.

“Mas quem inventou o termo “salada nicoise”? Nos livros de receitas mais antigos vemos por vezes escrita salada de tomate… e nunca salada Niçoise. A primeira menção escrita à “salada Niçoise” é de um escritor amigo de Matisse e não de um cozinheiro. Jules Romain escreveu em Men of Good Will em 1918 (portanto antes do livro de Escoffier) que seu herói come uma “salada Niçoise” no Falicon. Foi ele quem acrescentou o termo niçoise depois da salada para dar um toque de exotismo aos seus leitores parisienses, ou viu esse nome na lousa do restaurateur Bonifassi? »  — Alex Benvenuto, Henri Matisse, Nice e Vence 1917-1954

A salada Nicaeoise é um dos pratos regionais da cozinha gaulesa que Asterix e Obelix trazem de Nicéia para sua aldeia no final de sua aventura no Tour de Gaule de Asterix.

Inovações culinárias da década de 1920

As Olimpíadas de 1924 coincidiram com várias inovações culinárias que teriam sido exibidas durante o evento:

Refrigeração: A tecnologia de refrigeração aprimorada melhorou a preservação de alimentos e o serviço de pratos resfriados.

Alimentos enlatados: A popularidade dos produtos enlatados aumentou, oferecendo conveniência e variedade aos visitantes do mundo todo.

Cultura de coquetéis: A era da proibição nos Estados Unidos levou a uma cena de coquetéis em expansão em Paris, com novas bebidas inventadas e apreciadas.

Também passou-se a observar as Influências internacionais

Como um evento internacional, as Olimpíadas de 1924 reuniram diversas tradições culinárias:

Sanduíches americanos: Sanduíches rápidos e portáteis se tornaram populares como refeições convenientes para os espectadores.

Culinária colonial: Os laços coloniais da França introduziram novos ingredientes e sabores da África e da Ásia.

Massas italianas: A crescente popularidade da culinária italiana fez com que pratos de massas aparecessem em mais cardápios parisienses.

Bebidas das Olimpíadas de 1924

Champanhe: A bebida comemorativa francesa por excelência, perfeita para brindar vitórias atléticas.

Aperitivos: Bebidas como Dubonnet e Lillet ganharam popularidade como bebidas antes do jantar.

Café: A cultura do café parisiense permaneceu forte, com espectadores e atletas apreciando expresso e café com leite.

A Grande inovação de Paris para Jogos: A Vila Olímpica e o Refeitório

Os Jogos de 1924 introduziram a primeira Vila Olímpica, localizada em Colombes, uma comuna francesa na região administrativa da Ilha-de-França, no departamento de Hauts-de-Seine. Este novo conceito trouxe consigo instalações de refeições centralizadas para atletas, oferecendo:

Refeições balanceadas: a nutrição para atletas se tornou um foco, com refeições projetadas para fornecer energia e auxiliar na recuperação.

Opções internacionais: a vila tinha como objetivo atender às necessidades e preferências alimentares dos atletas de vários países.

Refeições comunitárias: a vila fomentou um senso de comunidade entre os atletas por meio de refeições compartilhadas.

Legado culinário das Olimpíadas de 1924

As Olimpíadas de Paris de 1924 deixaram um impacto duradouro no mundo culinário: elas exibiram a culinária francesa globalmente, consolidando ainda mais a reputação de Paris como uma capital gastronômica; o evento destacou a importância da nutrição no desempenho atlético, influenciando abordagens futuras para refeições esportivas; a troca internacional de ideias culinárias durante os Jogos contribuiu para a evolução contínua da culinária francesa.

As Olimpíadas de Paris de 1924 foram uma celebração de conquistas atléticas e uma vitrine de excelência culinária. De pratos tradicionais franceses a novas criações inovadoras, a comida dos Jogos refletiu o espírito dinâmico dos loucos anos 20. Ao olharmos para essa era de ouro dos esportes e da gastronomia, podemos apreciar como o cenário culinário das Olimpíadas de 1924 lançou as bases para a abordagem diversificada e focada na nutrição da comida em eventos olímpicos modernos.

Seja você é um entusiasta da comida, um fã de história ou um fã olímpico, a história culinária dos Jogos de 1924 oferece uma janela única para um período transformador tanto nos esportes quanto na gastronomia. À medida que continuamos a celebrar as tradições olímpicas, os sabores de Paris de 1924 nos lembram da rica herança que conecta comida, cultura e excelência atlética.

Compreendendo o impacto da Vila Olimpica de 1924

Antes da cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris, na sexta-feira, os atletas estão se acomodando em suas acomodações na Vila Olímpica. A vila em Seine-Saint-Denis tinha o tamanho de 70 campos de futebol e oferecia comodidades, incluindo uma ampla praça de alimentação com diversas culinárias, uma ampla academia e um centro médico, informava a Associated Press. É até o lar de uma padaria, ou padaria francesa, que oferece aulas de culinária para atletas olímpicos que procuram uma maneira de relaxar, informou o The New York Times.

Por estes padrões, as acomodações oferecidas nas últimas Olimpíadas de Paris – realizadas há um século – eram rudimentares. No entanto, ainda foram pioneiros: as Olimpíadas de 1924 abrigaram a primeira Vila Olímpica, inspirada pelo desejo dos organizadores de simplificar a logística dos Jogos e reunir atletas de muitas nações em um só lugar.

Muitos dos 3.089 atletas que competiram em 17 esportes naquele ano ficaram na Vila Olímpica, que oferecia três refeições por dia, água corrente e proximidade de seus eventos.

Quando Paris sediou as Olimpíadas em 1924, foi a primeira vez que os atletas ficaram juntos em uma vila.

A Vila Olímpica estreou nas Olimpíadas de Paris em 1924. Arquivo Hulton/Imagens Getty

Antes de 1924, as delegações ficavam em hotéis, edifícios militares ou com famílias locais nas cidades-sede, segundo o Centro de Estudos Olímpicos.  Mas em 1923, o conselho executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu que um comitê organizador dos Jogos era obrigado a “fornecer moradia e todos os serviços necessários aos atletas”, de acordo com um artigo de 2011 publicado na revista Asian Social Science pela organização canadense. Centro de Ciência e Educação.

“Um contrato deve ser firmado e os encargos devem ser fixados a cada vez”, informava o COI. “As despesas necessárias devem ser assumidas pelas próprias nações participantes.”

Os organizadores das Olimpíadas de Paris de 1924 também acreditavam que abrigar atletas juntos trazia benefícios além da logística e do custo.

“Ao reunir jovens de todas as nações, [os Jogos Olímpicos] ajudam a fomentar esse sentimento de cordialidade que ensina os homens a se conhecerem melhor uns com os outros primeiro e depois a terem mais estima uns pelos outros, um processo que os Jogos de Paris terão. ajudou muito", disse Frantz Reichel, secretário-geral do comitê organizador das Olimpíadas de Paris de 1924, de acordo com as Olimpíadas.

A Vila Olímpica era composta por modestas cabanas de madeira. ARQUIVOS CNOSF/Arquivos CNOSF/AFP via Getty Images

A vila foi construída perto do Stade Olympique de Colombes, onde muitos eventos esportivos foram realizados a noroeste de Paris. Segundo o Centro de Estudos Olímpicos, as suas cabanas básicas de madeira foram concebidas para três ocupantes cada, com três camas, duas bacias para lavar roupa e um chuveiro. As estruturas eram separadas por caminhos de terra que podiam ser acessados de carro.

O Guinness World Records, que reconhece Paris como o lar da primeira Vila Olímpica, observou que foi somente nos Jogos de Los Angeles, em 1932, que a Vila Olímpica apresentou "cozinhas e outras comodidades modernas". As delegações pagaram pela hospedagem e alimentação, que incluía alimentação, lavanderia e banho.

Atletas relaxaram na Vila Olímpica de Paris em 1924. Topical Press/Hulton Archive/Getty Images

As equipes reservavam camas mediante pagamento de um depósito e, em seguida, eram cobradas diárias de hospedagem e alimentação, segundo o Centro de Estudos Olímpicos. Os atletas recebiam três refeições por dia – desjejum, almoço e jantar, nisso incluíam meia garrafa de vinho.

Os atletas recebiam três refeições diárias na Vila Olímpica. ARQUIVOS CNOSF/Arquivos CNOSF/AFP via Getty Images

O jantar consistia em três pratos – sopa, um prato que incluía um tipo de carne e sobremesa – e aos atletas foi oferecida “meia garrafa de vinho no almoço e no jantar todos os dias”, informou o The Times de Londres.

Totalmente diferente de 2024, pois nenhum vinho ou bebida alcoólica será oferecido na vila Olímpica.

A primeira Vila Olímpica contava com comodidades como serviço telefônico e salão de beleza. ARQUIVOS CNOSF/Arquivos CNOSF/AFP via Getty Images

Outros serviços incluíam lavanderia e acesso telegráfico e telefônico, de acordo com o Centro de Estudos Olímpicos.

O Estádio Olímpico de Colombes sediou eventos como atletismo, futebol, equitação e esgrima. ARQUIVOS CNOSF/Arquivos CNOSF/AFP via Getty Images

 Anteriormente uma pista de corrida de cavalos inaugurada em 1883, tornou-se um estádio em 1907, segundo o site de turismo de Paris. Foi totalmente reformado para acomodar 45.000 espectadores nas Olimpíadas. O estádio acolheu as cerimónias de abertura e encerramento, bem como eventos desportivos como provas equestres, futebol, rugby, atletismo e alguns pentatlos.

O Stade de Colombes foi posteriormente renomeado como Stade Yves-du-Manoir. Ele sediará eventos de hóquei em campo nas Olimpíadas de 2024.

Nem todos os desportes realizavam os seus eventos no Stade de Colombes, por isso fazia sentido que os atletas que competiam em eventos realizados fora de Paris ficassem perto dos seus respetivos locais, em vez de na Vila Olímpica. Por exemplo, de acordo com o Centro de Estudos Olímpicos, os atletas que participaram em eventos de tiro permaneceram perto dos locais em Reims e Châlons-sur-Marne (agora chamados Châlons-en-Champagne), que ficam a cerca de 160 quilómetros a nordeste de Paris.

s países exibiram suas bandeiras na Vila Olímpica. ARQUIVOS CNOSF/Arquivos CNOSF/AFP via Getty Images

A Vila Olímpica era apenas para ser temporária, por isso foi demolida após a saída dos atletas. O Centro de Estudos Olímpicos disse que só nos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936 é que os edifícios construídos para as Vilas Olímpicas foram reutilizados para outros fins, como residências ou museus.

Atualmente, após as Olimpíadas de 2024, a vila Olímpica de Paris 2024 conta com 82 prédios e 7,2 mil quartos destinados a receber um total de 15 mil atletas das 207 delegações olímpicas e das 185 paralímpicas. A construção custou 2 bilhões de euros e após os jogos dará origem a um novo bairro, com os prédios sendo convertidos em instalações residenciais e comerciais. Isso já nos mostra o quão longe a Vila Olímpica avançou desde sua primeira iteração modesta na cidade, há 100 anos.

Agora se você desejar experimentar uma comidinha boa, daquela época e servida para atletas e visitantes, a receita está descrita abaixo. Faça e depois me conta...

Para os curiosos, REFERÊNCIAS:

CLARE, M. Olympic conviviality. Gastronomy at the Olympic Games. Olympic Rev. n.26, p.36–39, 1996. 

COI. Pierre de Coubertin: Visionary and Founder of the Modern Olympics. Disponível em: < https://olympics.com/ioc/pierre-de-coubertin >. 

GUINESS WORLD. First Olympic Village. Disponivel em: < https://www.guinnessworldrecords.com/world-records/first-olympic-village >. 

Nicolas Méra, N. Le fiasco olympique des Jeux de Paris 1900. SLATE. Disponivel desde 06/08/2023 em: < https://www.slate.fr/story/251098/fiasco-olympique-jeux-paris-1900-jo-exposition-universelle-epreuves-insolites-peche-tir-canon-pigeons >.

OLYMPICS. La France et l'olympisme: plus d'un siècle de premières. 2024. Disponível em: < https://olympics.com/fr/paris-2024/les-jeux/jeux-olympiques-et-paralympiques/olympisme-francais >.

PARIS. Sur les traces des Jeux olympiques parisiens de 1900 et 1924. Disponivel desde 27/06/2024, em: < https://www.paris.fr/pages/sur-les-traces-des-jeux-olympiques-parisiens-de-1900-et-1924-24239 >.

PELLY, F. E.; O'CONNOR, H. T.; DENYER, G. S.; CATERSON, I. D. Evolution of food provision to athletes at the summer Olympic Games. Nutrition reviews, 69(6), 321-332. 2011. 

SANTABÀRBARA, Xavi. Evolución y cambios en la nutrición deportiva, la provisión de alimentos y la gastronomía en los Juegos Olímpicos de la era moderna (1896-2020). Tesis Doctoral. Universitat Oberta de Catalunya. 2023.

WILLIAMS, R. Gold medal appetites. Gastronomy at the Olympic Games. Olympic Rev. n.26: p.40–44. 1996.

Beouf à la mode

1,2 kg de carne cortada em pedaços não muito grande

1 kg de cenoura

1 cebola grande

2 dentes grandes de alho

150ml de vinho branco seco

60ml de Caldo de carne

1 buquê garni (amarre numa linha folhas ramos de salsa, tomilho, folhas de louro e aipo)

3 colheres de sopa de azeite de oliva

Sal e pimenta do reino à gosto

Salsinha picada pra finalizar

Preparo: Comece cortando a carne em pedaços. Descasque e corte a cebola. Descasque e corte as cenouras em rodelas. Descasque os dentes de alho. Em uma caçarola grande, aqueça o azeite. Adicione os pedaços de carne e doure-os por todos os lados. Adicione as cebolas e continue cozinhando por 5 minutos. Deglaçar a caçarola com o vinho branco. Deixe ferver por 2 minutos e depois acrescente o caldo por cima. Adicione o bouquet garni, os dentes de alho, sal e pimenta. Deixe ferver e cubra com a tampa. Cozinhe em fogo baixo por 2 horas. Verifique a panela vez por outra e se achar que precisa de um pouquinho mais de liquido coloque água, ou caldo de carne se tiver pronto. Passado esse tempo, adicione as rodelas de cenoura. Continue cozinhando em fogo baixo por mais 1 hora. Ajuste o tempero e sirva quente. Decorara com salsinha.

Dicas: Como aqui, para esse prato usar mandril ou bochecha de boi cortada em cubos grandes (deixe cerca de 3 horas de cozimento em fogo baixo). Em algumas versões dessa receita a carne não é cortada em pedaços, mas sim inteira. Fique à vontade para fazer ao seu modo, afinal esse é o nome da receita!