Caríssimos
Confrades e Consórores, tudo bem? Espero que sim.
Estava
aqui relendo um material sobre os hábitos alimentares da Família Imperial
Brasileira que foi me enviado pelo arquivo histórico do Museu Imperial a meu
pedido para fundamentar uns artigos científicos que estou escrevendo... e aproveito
esta oportunidade para agradecer, especialmente, à Sra. Fátima Argon, que
realizou o levantamento preliminar das comidas e bebidas do século XIX, a
partir da Família Imperial do Brasil, cuja pesquisa contou com a colaboração de
Átila Beppler Meirelles, Fernanda Moutinho de Almeida e Mônica Salem de Zayas.
Meus sinceros agradecimentos a vocês.
No
conteúdo do material recebido encontrei muitos fatos interessantes que, ao
longo do tempo, irei compartir estas curiosidades com vocês. Começarei isso
hoje, revelando uma peculiaridade gastronômica da princesa Isabel: o fascínio
da princesa pelos doces.
Trechos extraídos da obra de Guilherme Auler A Princesa e
Petrópolis:
Comentários da princesa Isabel sobre a festa
de aniversário sua mãe, a Imperatriz Dona Teresa Cristina: [...] “Ontem me diverti
muito e também dancei muito. Vou lhes contar o que fiz: primeiro, toquei de
quatro mãos com a Mana, dancei a Favorita, a Polca, a valsa lisa e a valsa
pulada, o schottish, a varsoviana, duas contra-danças, os lanceiros a galope
figurado, tomei sorvete, bebi meia xícara de chá com pão-de-ló."
Na quaresma de 1858 ela confidencia: “Hoje
fiz uma verdadeira penitência; como não me deram senão peixe de lata, que não
gosto nada, não comi senão arroz de manteiga e batatas”.
“Eu lhe mando estes marrons-glacês para
Mamãe, posto que Papai não gosta de castanhas”.
No verão de Petrópolis, em 1860: “Acabo de
tomar sorvete; desejava que Papai estivesse aqui para tomar conosco”.
No dia 28/03/1860: “Não vão os figos, porque
não se puderam achar em Petrópolis”.
Ao
longo dos meus estudos o doce sempre se fez muito presente, principalmente,
pelo fato do Brasil já ter sido uma “Açúcarocracia”. Em função disso o nordeste
brasileiro, até hoje, exibe sua doçaria com orgulho e revela seu potencial nato
para a fabricação de doces.
Porém,
é sabido que o povo brasileiro comemora muitas datas especiais com simbologia
importada, principalmente vindas da Europa. Não se pode negar este fato, e bata-se
olhar para as nossas mesas onde as preparações iram nos denunciar (por conta de
suas influências). Assim, hoje tratarei de um dos doces bastante citado nas
frases de Isabel, princesa imperial do Brasil, em suas cartas a parentes: o
Marrom Glacê.
Marrom Glacê |
O
Marron Glacê já foi uma sobremesa muito cobiçada em outras épocas: era
preparação cara, geralmente importada, e com requeria habilidades de
confeiteiros com experiência na técnica delicada do preparo para sair um
produto final bem-feito. Se pudesse lhe comparar, bem genericamente, o seu
sabor com algum doce típico brasileiro, estaria próximo a um doce de batata
doce bem elaborado – mas as castanhas em glacê não devem ter comparações.
Contudo,
trata-se de um doce ainda refinado e delicado, preparado a partir das castanhas
europeias inteiras. O doce tem nome francês, a escrita original é Marron Glacé.
Mas, apesar do nome francês, ele surgiu na Itália.
Acredita-se
que o Império Romano já preparava sobremesas semelhantes, onde as castanhas
eram cozidas e mergulhadas numa ânfora abundante em mel. Tal doce romano fazia
o deleite da bela Amarílis, personagem cantada nas Bucólicas, primeira obra
importante do poeta latino Virgílio, entre os séculos 42 e 39 a. C.
Entretanto,
a receita contemporânea teria surgido em Turim, no fim do século XVI, na corte
dos Savoia, antiga e poderosa família feudal do Norte do país. A ela pertencia
Vittorio Emanuele II, o rei que unificou a Itália em 1861.
Mas se o marrom glacê nasceu
em terras italianas, por que batizá-lo com um nome francês?
Em
italiano, o doce deveria chamar-se de marrone
candito, mas os Savoia julgavam mais elegante falar francês. E assim, o
resultado final para batizar o doce que surgiu por acaso, quando um cozinheiro
distraído que trabalhava para o duque Carlo Emanuele I de Savoia (1562-1630),
cozinhou na calda, em vez de água, as castanhas destinadas ao recheio de um
javali.
A
história nos conta que a cidade italiana de Turim comprava açúcar de Veneza,
também ao Norte da Itália e, por muito tempo, conservou seu monopólio na
Europa. Ao ser incorporado pelos confeiteiros da corte de Luís XIV (1651-1715),
o marrom glacê adotou cidadania francesa.
Posteriormente,
a receita foi aperfeiçoada na Ardèche, pequena região do sudeste do país, com
fama de produzir as melhores castanhas. Assim a França se encarregou de
difundir este doce pelo mundo como forma de valorizar suas castanhas.
A
técnica contemporânea de preparo do doce começa com uma rígida seleção das
castanhas: somente as maiores, perfeitas e macias - cerca de 20% de um total -
se transformarão em doce.
Depois
de descascadas, as castanhas são envolvidas em véu de tule para serem, em seguida,
cozidas na água quente por um tempo preciso. Posteriormente, eliminam-se as que
não resistiram ao calor e racharam. O passo seguinte consiste em colocar as
castanhas numa grelha, onde elas receberão um banho de xarope de açúcar. Depois
de alguns instantes no forno, o preparo termina.
Os
marrons glacês são acondicionados individualmente em papel alumínio (ou papel manteiga
ou em papel encerado) e colocados em embalagem de papelão ou vidro.
Uma
variação do doce é apresentá-lo macerado em calda, licor, rum ou cerveja.
Existe também o creme de marrons (um tipo de geleia feito com açúcar), o purê
de castanhas (o mesmo produto, sem açúcar) e a conserva de castanhas em
pedaços.
Não
existe relação, entretanto, entre o marrom glacê e o doce homônimo brasileiro, feito
à base de batata-doce, xarope de glicose, espessante e acidulante. Não que o
doce de bata seja um doce ruim ou sem qualidade. Mas é um marrom glacê tão
falso quanto uma nota de três reais.
As castanhas europeias
(portuguesas)
Castanheira |
A
castanha é o fruto de uma árvore de origem asiática, do gênero Castanea. Foi
levada para a Líbia e dali se alastrou pela bacia do Mediterrâneo.
Hoje,
encontra-se desde o Norte da África à Dinamarca, dos Estados Unidos ao Brasil.
Alcança de 20 a 30 metros de altura e passa a dar frutos aos 25 anos. No
início, cada pé fornece de 15 a 20 quilos anuais de castanhas. Aos 50 anos, a
produção sobe para 80 a 110 quilos.
No
Sul da Itália, perto do Monte Etna, o maior vulcão europeu, existe uma
castanheira com mais de 400 anos de idade. Isso lhe confere o status de árvore
longeva.
O
fruto se desenvolve no interior de uma carapaça espinhosa, conhecida como
ouriço. No outono, amadurece e despenca dos galhos. Não pode ser comido cru. Só
quando assado ou cozido revela suas deliciosas características.
Divide-se
em dois tipos: a castanha propriamente dita e o marrom. No primeiro, o ouriço
acomoda dois ou três frutos. O marrom nasce solitário.
A
castanha-do-Pará (ou Castanha do Brasil) e a castanha de caju têm papéis
importantes na economia brasileira. Mas não pertencem ao mesmo gênero. A
castanha europeia contém elevado teor calórico: é ainda, rica em proteínas,
vitaminas A, B e C; além de ser dotada com sais minerais, magnésio, enxofre e
cloro, ajudou populações inteiras de camponeses franceses e italianos do
passado a enfrentar a fome no inverno europeu.
Marrom
Glacê de Castanha (simples)
Ingredientes:
40 unidades de castanha portuguesa grandes
quanto baste de açúcar
Preparo: Escolha 40 castanhas
bem grandes e robustas. Tire as cascas grossas e retire as peles, deitando-as
em água fervendo e deixando amolecer. Trabalhe sem deixar a água esfriar. Feito
isso, coloque as castanhas, duas a duas, em quadrados de filó, e amarre com
linhas, como trouxinhas. Então, pese as trouxinhas e, com o mesmo peso, pese a
quantidade de açúcar. Deite as castanhas num tacho cubra com bastante água
morna e deixe cozinhar até ficarem bem tenras, que cedam ao apertar com os
dedos. Do açúcar, faça uma calda em ponto de pasta, com uma fava de baunilha.
Escorra as castanhas e deite-as bem quentes na calda também quente, leve-a a
tomar ponto de novo e guarde. No dia seguinte, repita a operação, juntando 1/2
kg de açúcar e guarde. No terceiro dia, leve o tacho ao fogo, apure mais o
ponto e retire as castanhas para uma peneira. Junte as partidas, a fim de
colocá-las com a calda. Leve de novo a calda ao fogo, tome ponto de açúcar e
enrole-os em papel alumínio. No dia seguinte o açúcar se funde e elas ficam no
ponto.
Marron
Glacê com whisky
Ingredientes:
1 ½ kg de castanhas portuguesas
500 g de açúcar
250 ml de água
1 colher de sopa de whisky
1 colher (chá) de essência de baunilha
Prepare: Coloque as castanhas
para cozinhar na panela de pressão; Após a panela pegar pressão, deixe cozinhar
por mais 30 minutos; Depois de cozidas, descasque as castanhas e passe-as pela
peneira ou pelo multiprocessador e reserve; Em uma panela, coloque a água, o
açúcar, o whisky e a baunilha; Leve ao fogo e quando a calda estiver bem
dissolvida, acrescente a massa da castanha, sem parar de mexer para não
empelotar; Quando estiver desgrudando do fundo da panela, tire do fogo; Coloque
em uma vasilha para esfriar e sirva.
Marron-Glacê
de Batata Doce
Ingredientes
1 1/2 kg de batata doce
1 kg de açúcar
200 ml de água de coco fresca
2 colheres (sopa) cheias de cacau em pó
2 colheres (sopa) de óleo
1 colher (chá) de essência de baunilha
100 g de coco ralado
Coco ralado ou açúcar para enfeitar
Preparo: Cozinhe as batatas
descascadas com 1 colher de açúcar até que fiquem macias, mas não totalmente
cozidas. Escorra bem a água e passe no espremedor de batatas. Coloque numa
panela a massa da batata doce, adicionando o restante dos ingredientes. Cozinhe
em fogo brando, mexendo sempre com colher de pau até soltar do fundo da panela.
Deve ficar bem firme. Com uma colher de sobremesa, pegue pequenas porções de
massa e enrole na palma das mãos untadas, dando a forma que desejar. Ou, se
preferir enforme no formato que desejar. Passe no açúcar ou no coco e deixe secar.
Deixe pernoitar na geladeira antes de servir.
Olá meu amigo,adorei seu blog,simplesmente divino!!!Estava pesquisando sobre Marrom Glacé e aqui me deparei.Eu adoro doces e convido-lhe a conhecer um dos meus blogs(sentindosabores.blogspot.com),espero que aprecie lá tbm,só posto doces :).Gostei muito de sua colocação sobre a tradição nordestina de doces...Bjos e até,parabéns!!!
ResponderExcluirFoi uma surpresa pra mim, hoje eu pude conhecer um pouco mais do marrom glacé, já havia comido mas não sabia a sua história.
ResponderExcluirDivino....parabens
ResponderExcluirótimo texto! estou produzindo o creme de marrom glacê em Bragança Paulista. por isso resolvi pesquisar um pouco sobre a história do doce e encontrei o teu blog. agora está explicado porque as castanhas glaceadas têm um preço tão elevado... no ano que vem vou tentar preparar delas também. grata _/\_
ResponderExcluirAdorei suas informações. Pretendo fazer estes doces para serem apreciados no Natal..
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