Não sei se todo mundo
pensa como eu mas, acredito que se você quer conhecer mais da história do mundo um bom lugar para isso é o Vaticano. Lá, com suas bibliotecas abertas ao público e as “outras”, restritas aos “seletos”,
se pode encontrar de tudo – tudo mesmo... É um lugar que pode levar o sujeito da
loucura à graça em questão de tempo...
Quem gosta de
história e arte tem no Vaticano um prato cheio para se deleitar. Não bastasse o
deleite no sentido figurado, o Vaticano também é lugar de gastronomia. E este é
o real motivo desta postagem, onde trago a indicação de um livro
interessantíssimo: “Os segredos da cozinha do Vaticano” (Editora Planeta). Aproveito pra dedicar este post a uma amiga de longa data, que vem servindo ao
Senhor como Freira – esta é para você Irmã Mônica Velozo.
Autora do livro mostrado acima, Eva Celada, chegou a afirmar que a obra foi a mais trabalhosa e complexa que ela já
realizou em sua carreira como escritora gastronômica – a primeira dificuldade
foi incluir vinte séculos de gastronomia.
“A ideia surgiu como uma casualidade surpreendente, eu fui “tocada” por uma influência que não me atreveria a qualificar de “celestial”, mas isso nasceu depois de uma bela frase: “ Deus está até nos ensopados” de Santa Teresa de Jesus e que portanto não sei se por essa casualidade ou por “outras razões” fui levando a um bom porto apesar das numerosas dificuldades que tem esse livro”.
“A ideia surgiu como uma casualidade surpreendente, eu fui “tocada” por uma influência que não me atreveria a qualificar de “celestial”, mas isso nasceu depois de uma bela frase: “ Deus está até nos ensopados” de Santa Teresa de Jesus e que portanto não sei se por essa casualidade ou por “outras razões” fui levando a um bom porto apesar das numerosas dificuldades que tem esse livro”.
Embora seja verdade que a gastronomia desses
séculos foi uma evolução muito característica, também não tem a ver com o que
comiam os primeiros Papas, incluídos em plena era patrística, sem Corte, com os
do Renascimento, também denominados: “Rei dos Reis”; imaginam então as
diferenças nas suas mesas.
Outra grande
dificuldade que a autora encontrou para seguir adiante na construção do livro
foi sem dúvida, o segredo excessivo com que o Vaticano afronta todo o doméstico
que é considerado “de índole privado” até alguns limites realmente curiosos – e
não há nada mais útil para um escritor, quando tem que incluir grandes períodos
de tempos, que pouco a pouco ele encontre sua historia observando os hábitos
domésticos.
Alguém pode se
questionar sobre porque a autora não escreveu apenas sobre os tempos mais
recentes da gastronomia do vaticano.
Pensando talvez que seria mais comercial publicar sobre o que comia João Paulo
II quando estava doente, ou quando recebia alguém em seu apartamento privado.
Talvez as pessoas tenham curiosidade sobre os sorvetes que tomavam com
frequência Benedicto XVI e de onde vinham, sobre como foi seu menu de coroação
ou porque o Papa adora uma simples sopa de sêmola que normalmente toma a cada
noite.
Porém a curiosidade
vai sempre aumentando, e sempre se encontra alguém que quer ir além, que queira
saber também que no distante século XIII na Corte de Roma se tomava lagosta
trufada e que os deliciosos ovos beneditinos sobre leito de bacalhau era um
capricho de Benedicto III, que ele mesmo sugeriu a receita; ou que o marzipã de
água de rosas se fazia nas cozinhas vaticanas na Idade Média. Também penso que
será de interesse para muitos descobrir que já no princípio do século XX se
fazia cozinha “de autoria” no Vaticano e pratos considerados como grandes
descobrimentos em nossos dias eram habituais em suas mesas, como as saladas de
flores, as massas recheadas de angulas e cobertas com caviar, saborosamente
apresentadas.
Há dezenas de
curiosidades e surpresas que descobre o livro em relação a Gastronomia.
Acontecimentos e sucessos tão reveladores de cada época e os seus protagonistas
que escrevem uma História melhor que a Cristandade, mas não por ele menos
interessante. Um exemplo: João Paulo II quando assistiu a um jantar em homenagem
a sua Coroação, ao ver o menu disse com toda humildade: Não precisava se
incomodar, pizza e pasta era suficiente.
É que por acaso o
papa não sabia que a cozinha italiana oferece centenas de pratos saborosos a
margem destes tão populares? A resposta, é que o Papa não era um grande
gastrônomo, quando ia a Roma até ser eleito sumo Pontífice comia somente pizza
e pasta, não visitava os restaurantes luxuosos. Ele gostava de comer também a
sobremesa, adorava conversar depois de comer, depois que terminava a sobremesa,
solicitava que fosse retirado tudo e que ficasse somente o café. Até o final de
seus dias foi assim, privadamente ele comia uma simples comida polaca e somente
quando vinha algum convidado ele colocava outros pratos que pra ele
especialmente não gostava.
Quanto ao segredo do
Vaticano, por sorte junto a postura oficial convive uma postura mais flexível
que algumas pessoas do Vaticano assumem como produto próprio de mudança dos
tempos, graças as quais o trabalho da autora, em
ocasiões desanimada, não foi finalmente desesperado durante os meses que passou em Roma, coincidindo por acaso com a mudança de Papa em Abril de 2005. A autora chega até a agradecer à todos
aqueles que lhe pediram para não mencionar certos detalhes...
Observa-se no livro
que os papas da era clássica se utilizavam de uma culinária abaixo da influência do
“Regimen Sanitatis”; os da Idade Média com sua gastronomia distinta, apenas nos cercavam
de banquetes impressionantes pela quantidade de alimentos que apresentavam
na mesa, quase como símbolo externo de seu status para o próprio consumo
até o ponto de que a maior parte do alimento estava destinado aos serviços e as sobras era destinada aos fiéis que esperavam na porta.
O Renascimento
encaminha ao florescimento do prazer terrenal, à sofisticação e incluía a
ostentação mais preciosa, a comida já supõe um desfrute em si mesma, até o
século XIX onde o alimento já sem necessidade de bulas nem limitações se adapta
a necessidade do homem, buscando os Papas do século XXI satisfazer a seus
convidados e cobrir suas próprias necessidades, mas já visto de uma nova forma:
racionalidade e serenidade, porque comer o que deseja, pode significar até comer
pouco.
A conhecida expressão
“boccato di cardinali”, cujo sentido literal é “bocado do cardeal” continua
significando: bocado delicioso, o que come o cardeal - que disso ele entende - é que
é saboroso. A razão desta expressão é precisamente para evidenciar que a boa culinária vaticana pertence aos cardeais. Eles são os
que melhor comem no Vaticano.
Durante mais de vinte
séculos, a cozinha Vaticana foi excelsa e ainda tendo em conta as modas
culinárias, no Vaticano se comia o melhor dos melhores. As principais
características dessa cozinha que ficou até o momento (baseada principalmente
na gastronomia de representação) são o consumo de deliciosas aves, os mais
extraordinários peixes (agora alimento habitual dos cardeais e do Papa),
mariscos em combinação com outros produtos como arroz e massas, embutidos e
aperitivos (absolutamente valorizados em todas as épocas), tortas tanto doces
como salgadas, estes últimos apresentados de mil formas, molhos feitos com
verduras e que tem sido melhorados e preparados de formas deliciosas e uma
grande variedade de salsas que contém na maioria das apresentações. A sorveteria
(sorvetes) assim como a doçaria e o tratamento da fruta, são outros dos
componentes característicos da cozinha, que hoje poderia denominar como a
cozinha mediterrânea mais internacional e saborosa do mundo.
Através de quase
trezentas páginas, maravilhosamente ilustradas por cerca de duzentas
fotografias e gravuras, nas que já obtemos informação de centenas de pessoas e
documentações de dezenas de livros, “Os segredos da cozinha do Vaticano” relata
a vida cotidiana dos papas nas diferentes épocas, seu hábitos alimentícios, as
peripécias gastronômicas de suas viagens e protocolo das suas comidas, anedotas
e curiosidades de seus banquetes, sua intervenção nos assuntos domésticos…
Ali encontra-se cento e
sessenta receitas de uso comum nas cozinhas vaticanas ao longo da História e, o
mais importante, se constata na influência definitiva do Vaticano na forma de
comer, da Cristandade durante séculos até nossos dias, criando hábitos como
consumo de peixe, descartando outros como a ingestão de carne diária em favor dos
legumes, recomendando o consumo moderado de vinho em detrimento de outras
bebidas e favorecimento do consumo de frutas e verduras, por considerar simples
e econômicas e também de fácil acesso para todos. Por fim, criando o que hoje
conhecemos como DIETA MEDITERRÂNEA.
Vale muito a pena ler
– segue abaixo algumas receitinhas made in vaticano, retiradas do livro.
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