O que é a gastronomia?
Com certeza, não é somente um meio para se alimentar e sobreviver. É ao mesmo
tempo, cultura, história, religião, educação e, ao mesmo tempo, um sistema de
comunicação, um corpo de imagens, um protocolo de usos, de situações e de
condutas.
Quando nos dedicamos
aos estudos da gastronomia, ou mesmo da alimentação, podemos observar a
presença da economia, das tecnologias, dos usos, das representações culturais da vida social de uma
dada população
A comunicação tem um
papel importante para a alimentação, pois foi através dela que se conhecem as famosas
receitas típicas das sociedades, os utensílios, os moveis e a própria evolução social
do homem – que se deu quando ele saiu do nomadismo, descobriu o fogo, aprendeu
a preparar os alimentos de outras maneiras e desenvolveu técnicas de caça,
pesca e a agricultura.
É justamente através da
comunicação que podemos observar como as condições históricas, geográficas,
ecológicas, climáticas, sociais, econômicas, técnicas e culturais interferem e
condicionam a culinária das sociedades. A partir desta premissa captada na
antologia gastronômica expressa pelos cadernos de receitas, por exemplo,
podemos traçar fabulosas viagens por infinitos ingredientes, temperos, aromas,
cores e sabores, festas e alegrias em tempos de abundância e escassez, mitos e
tabus, iguarias como obras de arte, todas assentadas na diversidade material e
cultural de uma determinada sociedade.
Por este mesmo
motivo, esta Confraria tem o orgulho de trazer até vocês um profissional da
comunicação como o primeiro entrevistado do Projeto Sabores da Tradição. O
entrevistado de hoje é o Sr. Claylson Ferreira Martins, membro do Departamento
de Relações Internacionais da Federação Nacional de Jornalistas FENAJ, e Presidente
do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará.
Clayson é um amigo
que conheci algum tempo atrás, quando eu ainda morava em Aracati-CE. É defensor
da criação de conselhos de comunicação no âmbito regional e que está fazendo um
trabalho intenso junto ao Congresso Nacional para que seja aprovada a Proposta
de Emenda à Constituição – PEC 33/09, que reza sobre a obrigatoriedade do
diploma de Jornalista, cujo relator é senador Inácio Arruda (PCdoB).
Claylson Martins |
A partir de agora
vamos conhecer um pouco mais sobre esta personalidade:
Barão de Goumandise (BG): - Pra
quem não lhe conhece, diga quem é você?
Claylson
Martins (CM):
- Sou Claylson Martins, jornalista, atualmente em Brasília a serviço da
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) onde atuo no Departamento de
Relações Internacionais. Nascido em Aracati, onde morei até meus 12 anos.
Depois, me mudei para Fortaleza.
BG: - Você tem raízes numa das cidades históricas do Ceará, Aracati,
terra da internacionalmente famosa Praia de Canoa Quebrada. Assim, me diga:
qual sua memória gustativa dos tempos em que viveu naquela cidade?
CM: - A pergunta não é
tão fácil. São muitos sabores e cheiros da comida feita ainda no fogão a lenha
de uma tia, irmã de minha avó que ajudou na minha criação. O sabor caseiro da
carne de sol com macaxeira e do tempero do feijão, além de frutas como a ata
(pinha ou fruta do conde, sapoti e graviola). Ou, ainda, duma galinhada com uma
saborosa farofa (qual cearense resiste?) e um peixe frito das praias de
Majorlândia, Canoa Quebrada e Quixaba. Parecem ter um sabor especial na praia.
BG: - Como é a vida de um profissional da comunicação?
CM: - É uma vida agitada,
corrida. Precisa ler muito, escrever muito, conhecer de tudo um pouco. enfim,
tem melhorado a formação nos últimos anos mas o mercado cearense é pequeno.
Hoje, os grandes empregadores são os órgãos públicos. A maioria faz parte de
assessorias de imprensa ou de comunicação. Paga-se melhor e o trabalho não é
tão estressante quanto nas redações.
BG: - Como atual presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado
do Ceará e membro da Federação Nacional de Jornalistas, me diga como anda o
Jornalismo no Brasil e particularmente, no CE?
CM - Tem uma grande
diferença de Fortaleza para Brasília, não só pelo clima, pessoas e a cidade em
si, mas também no mercado. Aqui, há mais oportunidades de emprego, mas também
achei a exploração maior. Trabalha-se até 10 horas por dia, entrando às 10h e
saindo entre 19h e 20h. Ganhando o mesmo por 5h de trabalho, seis dias da
semana em Fortaleza. Sem contar que aí ainda tem muita carteira assinada e
aqui, somente pessoa jurídica, tendo o jornalista que abrir uma empresa e perder
vários direitos. Essa precarização das condições de trabalho, baixos salários e
carga horária excessiva ocorrem em todo o país e a luta é reverter isso. Não é
fácil. O STF derrubou a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o
exercício da profissão e piorou ainda mais as coisas para quem está começando
agora. Mas estamos confiantes nesta mudança para melhor com a aprovação de uma
PEC no Senado.
BG: - O que você diria a respeito do jornalismo gastronômico?
MC: - Olha, eu acho esse
bem superficial e ainda em guetos. Encontro pouca coisa sobre, a não ser
revistas e sites especializados.
BG: - Durante minhas pesquisas, ao longo de vários anos, sempre me
deparei com jornalistas falando nas mais variadas mídias de seus hábitos
alimentares, mostrando os empreendimentos de restauração (restaurantes, bares,
botecos, cafeterias) como locais onde eles recorrem para se alimentar na maior
parte das vezes. Pergunto-lhe: você também é adepto da “rua” como o lugar para
fazer a maioria de suas refeições?
MC: - Não, sempre que
posso eu mesmo preparo minha comida. De vezem quando dou uma espiada de leve em
receitas e pratos diferentes, mas não os sigo à risca. Improviso. Faço questão
de almoçar comida caseira, feita na hora. Nem que seja um simples frango assado
com batatas. Sempre dá para aprimorar com uma manteiga, um molho, um tempero diferente.
Além do mais, não como carne vermelha há algum tempo, o que só me trouxe ganhos
à saúde. Estava com colesterol ruim alto, ácido úrico idem. E só houve melhoras
depois disso e da diminuição a carga de estresse. Na rua, gosto apenas de uma
esfirra ou um petisco mais leve, principalmente caldos de peixe e de frango à
noite.
BG: - Muita gente tem o habito de comer na frente da televisão. Você
é assim?
MC: - Onde moro é
inevitável comer sem estar de frente à TV. Mas gosto sim de fazer isso, desde
que eu possa apreciar o sabor da comida. Mastigo bem, aprecio muito os sabores.
BG: - Já teve uma ótima refeição interrompida por uma Noticia
bombástica? Se sim, pode nos contar como foi?
MC: - Não, não ocorreu
ainda. Mas sei qual sria minha reação. Perderia o apetite na hora e deixaria de
comer.
BG: - Você cozinha ou é do tipo que só é bom de garfo? (se cozinha,
qual sua especialidade)
MC: - Não como muito,
curiosamente. Como pouquíssimo na hora do almoço. Adoro preparar comidas, como
falei antes mas não tenho muita paciência, nem tempo, pois tem que lavar
pratos, panelas e isso me desestimula a fazer mais. Mas adoro também fazer
doces, como o de leite e pudim. Também estou observando uma receita de manjá da
minha tia que mora aqui em Brasília.
BG: - Qual prato que você identificaria como o sabor da sua
tradição, da sua família?
MC: - Peixe. De todos os
modos mas principalmente a peixada cearense.
BG: - Considerando que a mesa
é um lugar onde se deve partilhar, além de uma boa conversa, as delicias
gastronômicas com as pessoas que se gosta, quem você convidaria para um pequeno
encontro gastronômico para que juntos pudessem degustar o sabor da sua
tradição?. Justifique sua resposta,
MC: - Depende muito da
ocasião. Tem umas em que seria melhor a família presente. Gosto muito de rever
parentes que moram distantes e vou logo querendo provar do tempero diferente da
comida. Engraçado que só me dei conta disso agora. Provar da comida de cada
lugar visitado, seja com amigos, seja com a família. Adoro a culinária mineira
e goiana, por exemplo. E também do Rio Grande do Sul. Mas acho que para um
pequeno encontro gastronômico, eu convidaria os amigos mais próximos. Assim,
eles poderiam ser sinceros nas respostas sobre a comida e também em relação a
outros assuntos. Rsrsrs,
BG: - Aperitivo: gostaria de falar mais alguma coisa antes de
encerrarmos?
MC: - Falou-se muito em
comida mas não poderia deixar de registrar minha predileção pelos vinhos. Num
encontro gastronômico, ele não pode faltar, de jeito nenhum. Meu preferido é o
português mas gosto muito do chileno também. Aprendi a apreciar em uma viagem
ao Chile. Também não posso esquecer da nossa tapioca, agora com vários
recheios. Mas aquela molhada ao leite de coco já é suficiente. Não deixo de
provar por nada quando vou ao Ceará, além das castanhas de caju torradas, mel
de caju e suco de murici.
BG: - Pode nos revelar a receita do seu sabor da tradição?
MC: - O meu sabor da
tradição:
1 kg de peixe fresco ( prefiro guaiúba ou
pargo)
3 tomates
1 cebola
3 batatas inglesas descascadas
2 cenouras limpas e cortadas em rodelas
2 pimentões cortados em rodela, sem sementes.
3 colheres ( chá) de maizena.
1/2 xícara (café) de colorau
2 ovos inteiros e cozidos
1 xícara (chá) de coentro, salsa e cebolinha
picados
Preparo:
Limpe
e corte o peixe em postas. Tempere com sal, a gosto. Faça, à parte, um refogado
com o tomate, a cebola, o colorau e o cheiro verde. Acrescente água ao refogado
somente para cobrir o peixe. Quando o refogado estiver fervendo acrescente o
peixe em postas e deixe cozinhar. Cozinhe, em uma outra panela, as batatas, a
cenoura, os pimentões e 2 tomates cortados em gomos. Reserve. Quando o peixe
estiver quase cozido, retire um pouco do caldo para fazer um pirão. Acrescente
ao caldo restante na panela do peixe, 3 colheres de maizena dissolvida em água
fria e deixe o molho engrossar. Após,
Acrescente os ovos cozidos cortados em gomos,
os legumes, os pimentões e os tomates já cozidos. Sirva quente com o pirão.
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