É tão chato quando a
gente quer saber uma coisa e as fontes não aparecem... Ontem eu estava no
facebook, e curti uma foto da Ana Maria, minha professora de sociologia - da
época em que eu cursava o bacharelado em turismo. A Ana Então postou a foto
abaixo e colocou na legenda o nome do preparado como sendo “ureias de pau”.
Fiquei curioso pra descobrir do que se tratava, mas pela imagem já tinha uma
suspeita... Era da BRUACA que ela estava falando (risos eternos). Bruaca no nordeste brasileiro
significa mulher feia. Mas as bruacas, ou oreias de pau - como a Ana Maria as
chama, de feias não tem nada – por isso a minha curiosidade só aumentou.
Aqui no Ceará muita
gente conhece a bruaca, mas não pelo nome de “ureias de pau” – esta citação da
Ana Maria foi a primeira vez que vi. A bruaca nada mais é do que uma espécie de
panqueca doce, feita com a massa de bolo convencional – só que frita.
Instigado pela
curiosidade, postei um comentário na página do facebook da Ana Maria pedindo
que ela me dissesse a origem do preparado exposto na foto. A resposta veio
rapidamente: Reubens a origem é difícil
descobrir, é tradição aqui no sertão do RN, a receita temos, pois todos da família
sabem fazer...
Como minha
curiosidade não foi saciada, tentei buscar na literatura alguma coisa a
respeito da bruaca/ ureia de pau. Mas não tive êxito. Este fato e o comentário
da Ana Maria me preocupam porque se é, de fato, uma tradição, deveria ser
preservada, e a sua origem faz-se necessário para o entendimento desta
tradição.
Infelizmente, no
Brasil, ainda não somos tão ligados com a preservação do patrimônio cultural
imaterial gastronômico. O que é uma pena. A não preservação dos bens imateriais
gastronômicos também podem levar à desconstrução de uma identidade.
Já escrevi aqui sobre
outra quitanda nordestina, do sertão do Seridó, que está em extinção, o doce seco (Clique aqui para ler), e me assusta sempre que vejo o povo
perdendo o interesse pelo que é seu.
Com as leituras
escassa que pude fazer sobre a bruaca ou oreia de pau, acabei criando as minhas
hipóteses sobre a possível origem da referida quitanda:
H1: Por ter sido um
território invadido por franceses e holandeses, o Rio Grande do Norte seria o
principal berço desta feitura nas terras brasileiras considerando o seguintes
fato: A panqueca é uma especialidade francesa, onde é conhecida como crepe, e este
habito alimentar pode ter se fincado no RN a partir do momento em que os
franceses se espalharam por ali.
H2: a bruaca tem se
assemelha com a panqueca americana, porém é servida sem calda. Esta semelhança
também se explicaria com presença de norte-americanos que tbm habitaram aquela
região tempos atrás.
H3: o nome oreia de
pau seria uma alusão ao fungo conhecido com seu homônimo, orelha-de-pau
(Polyporus sanguineus ou Pycnoporus sanguineus), também chamada urupê e
pironga, é um fungo da família das poliporáceas
Orelhas de pau - fungos. |
Obs.: Depois que o texto base desta postagem foi publicado, a
Ana Maria me enviou a seguinte mensagem – e que traz consigo uma nova hipótese:
Reubens li seu blog e
mais uma curiosidade você precisa descobrir as nossas "Ureias de pau"
não são feitas de farinha de trigo e sim com massa de milho ou flocos de milho,
por isso que se diferencia da picanha e da panqueca que são feitas com farinha
de trigo e ai penso que o processo cultural foi forte. H4 (hipótese da Ana Maria): Como no sertão sempre teve comida de
milho, nem que fosse com milho seco para fazer o cuscuz e o mungunzá, acho que
na falta da farinha de trigo colocaram o milho.
Assim, temos mais um
motivo pra continuar investigando. Logo a Ana Maria me enviará a recita das
ureias de pau que são feitas pela mãe dela, para que possamos experimentar a
distinção das bruacas e ureias de pau.
Preparado deste tipo podem ser tão antigos no mundo que já não teriam uma precisão para sua existência. Na antiguidade uma massa semelhante a que pe usada hoje já era assada em pedra quente, e mais tarde passou a ser preparada em chapa redonda de ferro sobre o fogo.
Preparado deste tipo podem ser tão antigos no mundo que já não teriam uma precisão para sua existência. Na antiguidade uma massa semelhante a que pe usada hoje já era assada em pedra quente, e mais tarde passou a ser preparada em chapa redonda de ferro sobre o fogo.
Há indícios de que
suas raízes estejam no pão indiano chapati e nas panquecas chinesas. Mas os
primeiros registros de panquecas foram feitos no século I, pelo gastrônomo
romano Apicius, autor do receituário De re coquinaria. Ali se descobre que já
naquele tempo as panquecas eram feitas com a mistura de leite, água, ovos e um
pouco de farinha. Entretanto, os italianos defendem que a especialidade nasceu
quatro séculos mais tarde - sem ter água entre os ingredientes. Tal versão,
religiosa, figura na Grande Enciclopedia Illustrata della Gastronomia
(Selezione dal Reader's Digest, Milão, 2000).
No século V,
peregrinos franceses compareceram em peso a Roma para a Festa della Canderola.
Chegaram cansados e famintos, porém movidos pela fé. O papa Gelasio, empenhado
em recebê-los bem, ordenou que a cozinha do palácio pontifício fosse abastecida
com tantos ovos, sacos de farinha e litros de leite quanto fosse possível. As
panquecas teriam nascido ali, ao acaso. Segundo essa história, os peregrinos
saborearam a novidade e levaram a fórmula para a França.
E se minhas hipóteses
se confirmarem, com estúdios contínuos, poderemos ter um típico elemento
gastronômico de aculturação sendo amplamente difundido no nordeste brasileiro.
Vou continuar esta investigação, mas se
alguém tiver alguma fonte confiável sobre este assunto, por favor, me envie. Afinal, como diz a música: Mistérios sempre há de pintar por aí...
Independente qual
seja a origem, a verdade é que a bruaca ou ureias de pau é uma coisinha
deliciosa pra se tomar com um cafezinho no fim de tarde.
Bruaca
2 xícaras de farinha de trigo com fermento
1 xícara de açúcar
2 ovos pequenos
1/2 xícara de leite
3 colheres de margarina
1 pitadinha de sal
Margarina pra fritar
Preparo: Coloque todos os
ingredientes em uma tigela e mexa, até ficar um creme bem homogeneizado. Em
fogo baixo, coloque uma colher de margarina em uma frigideira para derreter e
adicione uma quantidade generosa da massa preparada. Deixe fritar, vire o outro
lado para que frite também. Repita a operação até acabar a massa. Servir em
seguida.
1
xícara de leite
1
xícara de farinha de trigo
2
xícaras de fubá de milho
1
xícara de açúcar
1
pitada de sal
Preparo: Bata todos os
ingredientes numa tigela grande com uma colher de pau. A massa deve ficar
consistente. Aqueça bem uma frigideira e frite com pouquíssimo óleo em fogo
baixo (cerca de um minuto cada lado). Verifique com um palito se a massa está
cozida.
LEGAL
ResponderExcluirAdorei a receita de bruacas. Quando era menina minha mãe fazia para o lanche. Vou matar as saudades e preparar agora mesmo.
ResponderExcluiruma coisa que sua professora falou e vc não comentou e no entanto pra eu que sou do Oeste do RN faz o maior sentido é fato de que por aqui as bruacas são chamadas de PICANHAS... pq eu não sei... kkk os mais velhos chamam "Ureia de Pau" já a palavra Bruaca pra definir essa panqueca doce vi pela primeira vez pesquisando na internet. valew.
ResponderExcluir"Oreia" de pau (orelha), me parec3 mais dentro de uma lógica de evolução do "falar" caipira... muito interessante e exemplificador da evolução linguística
ResponderExcluirA origem da Bruaca é relacionada aos primeiros Judeus que chegaram no Nordeste. É o famoso Pão Asmo da Bíblia sagrada, o pão da Páscoa judaica ou o pão assado. A receita original é pouco diferente já que vai Azeite ao invés da Margarina e não ter fermento. Está é a verdadeira história da Bruaca, sua história é relacionada ao povo Judeu que colonizou o Nordeste.
ResponderExcluirMuito boa a matéria. Faço sempre a oreia de pau ou malassado,como costumamos chamar também. Aprendi com meu marido que era natural do Rio Grande do Norte.
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