quarta-feira, 30 de outubro de 2013

“Pois eu sou um bom cozinheiro” - poesia e culinária com Vinícius de Moraes

Quando a gente acorda romântico, ler uma poesia sempre é bom. Acontece que eu queria ler uma poesia de alguém que também fosse bom na gastronomia, bom de garfo também (às vezes, na maioria das vezes, eu tenho uma ideia meio “perturbadas” [risos]. E eu geralmente acredito nelas, o que me faz pesquisar sempre. Pra minha sorte, essas minhas ideias são perturbadas, mas são legais – pelo menos eu acho assim. Coisa de louco). Pois bem, achei o poeta que eu estava buscando e, de quebra, ainda angariei umas receitinhas dele pra eu preparar enquanto estiver ouvindo as músicas que ele também compunha e cantava... seja bem-vindo a um pedacinho da cozinha do “poetinha”, Vinicius de Moraes.
Descobri o livro “Pois sou um bom cozinheiro – receitas, histórias e sabores da vida de Vinícius de Moraes”, onde se pode encontrar textos, poemas e receitas de comidinhas que o se dedicava a preparar e a comer. A obra editada pela Companhia das Letras (em setembro deste ano) faz parte das comemorações do centenário do nascimento de Vinícius de Moraes (19 de Outubro de 1913).


O livro está dividido em 3 partes. De cara, o sumário logo nos remente a um livro de poesia, pela disposição do texto, que acaba nos apresentando receitas variadas de épocas distintas da vida do poeta. 
A primeira parte, “Receitas da casa, era uma casa muito engraçada”, mostra um pouco da infância de Vinícius, mostrando seu s aromas, sabores e lugares traz as lembranças da sua infância com seus sabores, lugares – pois traz também receitas do período em que Vinicius ficou fora do Brasil e outras onde ele próprio ia para a cozinha preparar como a “feijoada à minha moda”.


“Receitas de rua, eu não ando só, só ando em boa companhia” é título mais que apropriado para a segunda parte do livro, que apresenta as receitas de restaurantes e bares frequentados por Vinícius, não apenas na sua tão amada cidade do Rio de Janeiro, mas  em Minas Gerais, na Bahia, na Itália, em Los Angeles, dentre outras.


Por fim, a terceira parte, “Receita da obra, as coisas que mais gosto”, estão lá descritos os delírios culinários com os quais o poetinha se deleitava, incluindo pratos que ele citou em sua obra como a “rica e gostosa farofinha para depois do amor” e “é importante saber fazer ovos mexidos, molhos, sopinhas..."


Quem acompanha um pouco da obra de Vinícius de Moraes, com certeza, sabe da sua dedicação não só pela poesia e música, seu gosto pelo uísque – bebida que considerava o cachorro engarrafado do homem - , mas também pela gastronomia. Gostava tanto que, por vezes, escrevia poesias envolvendo e descrevendo pratos interessantes como “a feijoada à minha moda”, que você ouvirá agora, na voz do próprio autor:





Tão brasileira como a garota de Ipanema, a poesia acima revela o encanto de Vinicius pelas características da brasilidade, até mesmo na comida, no modo do preparo, na espera...


Luciana de Moraes, filha do poeta foi quem idealizou o livro, escrito por Daniela Narciso e Edith Gonçalves (orgs), dedicado à Luciana de Moraes, quarta filha do poetinha. Seguramente é uma obra interessantíssima para os apaixonados por gastronomia. 
Luciana veio a falecer em 2011, era ela quem reproduzia as ceias de natal na casa dos avós paternos... uma inspiração herdada do pai. Assim, Edith Gonçalves assumiu o projeto ao lado da Chef e produtora gastronômica Daniela Narciso, e ficaram responsáveis pela pesquisa e organização que levou dois anos para ser concluída, inquirindo textos, poemas, letras e acabaram montando o que seria o cenário da vida gastronômica de Vinícius de Moraes, através das receitas, sendo que, sua irmã mais nova Leta é quem até hoje guarda registros das receitas da família.
Uma coisa que me deixou mais ligado ao poetinha, foi descobrir que ele tinha umas ideias meia loucas, com as minhas (lembra que eu comecei o texto falando das minhas ideias loucas?) – e que também davam certo. Tipo: ele desenvolvia novas técnicas para preparar os alimentos, numa dessas, ele acabou desenvolvendo sua habilidade em descascar cenouras utilizando palha de aço (Sei, que vai ter gente reclamando disso depois, gente preocupada com a segurança alimentar. Mas loucura é assim, correr ricos).
 O poetinha era um confesso “assaltante noturno de geladeira” – nem sempre ele escondia os rastros dos seus delitos gastronômicos noturnos. Pois certa vez deixou ele esqueceu os óculos no refrigerador (risos).
O final do livro é apoteótico, uniu o renomado chef brasileiro Alex Atala com textos de Vinícius de Moraes, transformado em receitas – por isso recomendo que você vá a livraria comprar o livro para ler, preparar e saborear as sugestões que estão contidas na leitura.
Se preferir, prepare a feijoada, à moda do Vinicius; E para a sobremesa segue abaixo uma outra receitinha que ele bem adorava.

Baba de moça com calda dourada
(“Essa é a receita original de baba de moça a que Vinícius se referia ao escrever para a mãe, Lydia, na época em que estava no exterior. Também é um doce que leva muitas gemas, lindo aos olhos quando pronto”)
Ingredientes
500 g de açúcar
1 coco fresco ralado
1 copo americano de água fervente
10 gemas passadas em uma peneira fina
Canela em pó a gosto para polvilhar

Preparo: Com o açúcar, faça uma calda grossa, até atingir ponto de pasta (calda grossa, proporção: 2 partes de açúcar para uma parte de água. Deixe ferver por aproximadamente 45 minutos, podendo chegar a 1 hora ou um pouco mais). Coloque o coco fresco ralado em um guardanapo grande de pano. Despeje a água fervente sobre o coco e retire o leite, espremendo bem. Acrescente esse leite à calda de açúcar e leve ao fogo até que ela alcance novamente ponto de pasta. Adicione então as gemas peneiradas, mexendo continuamente, e quando levantar fervura, retire a mistura do fogo. Sirva o doce em copinhos, polvilhando-os com canela moída, ou utilize em recheios de bolos e doces. (8 porções/ 30 minutos)

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