Ontem
eu estive em uma comemoração de aniversário e em meio a conversas variadas,
surgiu um comentário meio engraçado envolvendo peras... e foi pensando naquela
conversa que surgiu o post de hoje...
Uma
vez já ouvi alguém dizer que: “todo mundo deveria ter a oportunidade de provar
os clássicos da gastronomia mundial”. Eu devo concordar com esta sugestão.
Seria realmente interessante, se todas as pessoas pudessem se deleitar com as
maravilhas clássicas da culinária, acho que o mundo seria mais feliz. E se eu
pudesse indicar um clássico para que iniciassem a degustação, eu indicaria um
clássico dos clássicos da culinária francesa, Poire Belle Hélène.
Minha
escolha seria fundamentada em um único tópico: esta é uma especialidade da
chamada “cozinha afrodisíaca", bastante cultuada pelos amantes do
romantismo, e geralmente preparadas por pessoas que querem impressionar o (a)
amado (a).
Com
este nome, Poire Belle Hélène, se pode imaginar que seja algo difícil de
preparar. Mas é uma receita das mais tranquilas para ser reproduzida em
qualquer cozinha. Trata-se de peras cozidas numa calda, onde se adiciona alguma
bebida alcoólica (tradicionalmente vinho ou poire), perfumada com especiarias.
E para deixar tudo mais irresistível, é servida na companhia de sorvete de
baunilha com uma calda de chocolate quente.
Para
muitos a pera é uma fruta muito sensual... Dizem que ela exibe bem a
feminilidade: por lembrar as formas femininas e a doçura das mulheres. Na
gastronomia, torna-se uma das frutas mais fáceis para se harmonizar com ervas e
especiarias, e assim causar frisson nas papilas gustativas do mais exigente
gourmet. A mistura perfumada de pera cozida ao vinho e recoberta com chocolate,
outro famoso ingrediente excitante para o corpo e a alma, revela que a perfeição
é quase possível.
Infelizmente
não se sabe o nome do inspirado criador da "Poire Belle Hélène", mas sabe-se que a receita foi criada no século XIX, sob a égide do romance e
da sensualidade. Àquela época, o auge do movimento romântico que esteve
presente em todas as artes, inclusive na gastronomia, a receita foi confeccionada
por ocasião da estreia da opereta La Belle Hélène (17 de dezembro de 1864).
Composta
pelo alemão Jacques Offenbach, La Belle Hélène é uma versão
"caliente" da história dos personagens principais da guerra de Tróia
(A guerra teria de sido originada pelo
rapto da princesa espartana Helena, futuramente conhecida como Helena de Tróia,
esposa do rei lendário Menelau, por Páris (filho do rei Príamo). Isso ocorreu
quando o príncipe troiano foi a Esparta, em missão diplomática, e acabou
apaixonando-se por Helena.
As
Operetas eram uma novidade daqueles tempos e Offenbach foi um dos precursores
do gênero, tipicamente francês. Também chamadas de óperas ligeiras, as operetas
eram pequenas óperas que se
caracterizavam por serem mais leves que as óperas tradicionais (chamadas
de óperas sérias), tanto pela música, alegre e viva, como pelo enredo
descontraído e diálogos falados entre números de música cantada, o que fez com
que, rapidamente, caíssem no gosto popular e obtivessem enorme sucesso.
A
Opereta é considerada a mãe da moderna "Comédia Musical" - peça
teatral cantada, que utiliza atores que também são cantores. Graças a
Offenbach, a opereta tornou especialmente popular em Paris, e seu nome
imortalizou-se ligado a esse gênero musical.
Jacques Offenbach |
Naquela
ocasião, a opereta teve a soberba soprano francesa Hortense Schneider (30
de abril de 1833- 6 de maio 1920) como estrela principal. Hortese já era
bastante admirada por ter uma potente voz, e por possuir uma presença de palco
inigualável, sem falar no seu talento para os diálogos cômicos atados cheios de
insinuações sexuais... Assim, era fácil encontrar os jornalistas daquela época
escrevendo coisas como esta, a seu respeito: "É impossível ser mais
picante, mais bonita e mais original...".
Sucesso
sem precedentes, La Belle Hélène teve mais de 500 apresentações sem que o
entusiasmo do público se arrefecesse. Mais que uma simples reconstituição da
famosa história Antiguidade grega, La Belle Hélène era uma sátira erótica e
mordaz sobre uma sociedade hedonista, referência direta à alta sociedade que
gravitava em torno de Napoleão III. A cena do primeiro ato, que narra um
absurdo jogo de charadas vencido por Páris, constitui uma transposição dos jogos
de salão comumente praticados na corte. O terceiro ato, que se passa no mar,
evoca um dos destinos turísticos prediletos do Imperador. Com "La Belle
Hélène, Offenbach legou à posteridade uma outra obra truculenta e colorida,
fiel à espírito do Segundo Império
Schneider
não possuía uma beleza clássica mas era considerada uma mulher muito sensual,
principalmente na sua vida fora do
palco. Sua vida amorosa, em particular, foi intensa, repleta de tumultos e
recheada com a sucessão de amantes nobres, entre os quais se incluíram o
Príncipe de Gales, o futuro Edward VII, Napoleão III e do duque de Morny. As
más línguas da época a chamavam de “le passage des princes” (passagem dos
príncipes) ou “la divine scandaleuse" (a divina escandalosa). Morreu em
1878, em Paris, aos 87 anos, quatro décadas depois de ter se casado e
abandonado os palcos.
Esta
foi a voluptuosa grande artista e polêmica mulher que, ao interpretar nos
palcos a bela e passional Helena de Tróia, acabou inspirando um cozinheiro que
permanece anônimo na história, mas que graças a seu feito gastronômico, conseguiu incluir nos
menus do romantismo a sensualíssima
Poire Belle Hélene, e conservá-la presente nos cardápios da atualidade.
As
origens mitológicas da Guerra de Tróia
O julgamento de Páris |
Um
dos primeiros elos da cadeia de eventos que formaram o prelúdio da guerra de
Tróia foi forjado por Prometeu, o grande benfeitor da humanidade. Prometeu, um
primo de Zeus, tinha dado o fogo aos homens, um elemento cujos benefícios
tinham tão-somente sido desfrutados pelos deuses. Tinha também ensinado os
homens para oferecer aos deuses apenas a gordura e os ossos em sacrifícios de
animais, mantendo as melhores partes para eles próprios. Para punir Prometeu,
Zeus o acorrentou num alto penhasco nas montanhas e diariamente enviava uma
águia para comer seu fígado, o qual voltava a crescer à noite.
De
acordo com algumas fontes, Prometeu acabou sendo libertado por Hércules, mas
outras dizem que foi libertado por Zeus, quando finalmente concordou em
contar-lhe um importante segredo. Este segredo relacionava-se à ninfa do mar
Tétis, que era tão bela que contava com vários deuses entre seus admiradores,
incluindo Posídon e o próprio Zeus; entretanto uma profecia conhecida apenas
por Prometeu predisse que o filho de Tétis estava destinado a ser mais
importante que seu pai. Ao saber disso, Zeus rapidamente abandonou a idéia de
ser o pai de um filho de Tétis, decidindo, ao invés, que deveria se casar com o
mortal Peleu; o filho nascido deles seria Aquiles, o maior dos heróis gregos em
Tróia.
Tétis
inicialmente resistiu aos avanços de Peleu, assumindo a forma de fogo,
serpentes, monstros e outras formas, mas ele a segurava fortemente apesar de
todas as suas transformações, acabando por se submeter. Todos os deuses e
deusas do Olimpo, menos uma, foram convidados para o magnífico casamento de
Peleu e Tétis; no meio da festa, Éris, a única deusa que não tinha sido
convidada, entrou abruptamente no local e atirou entre os convidados o Pomo da
Discórdia, com a inscrição "a mais formosa".
Esta
maça foi requisitada por três deusas, Hera, Atena e Afrodite. Como elas não
conseguiram chegar a um acordo, e Zeus estava compreensivelmente relutante em
resolver a disputa, enviou as deusas para terem suas belezas julgadas pelo
pastor Páris, no Monte Ida, fora da cidade de Tróia, na orla oriental do
Mediterrâneo.
Páris
era filho de Príamo, rei de Tróia, mas quando a esposa de Príamo, Hécuba,
estava grávida de Páris, sonhou que estava dando à luz a uma tocha donde
surgiam serpentes sibilantes, assim, quando o bebê nasceu, foi entregue a uma
criada com ordens de levá-lo ao Monte Ida e matá-lo. A criada, entretanto, ao
invés de matá-lo, simplesmente o deixou na montanha para morrer; ele foi salvo
por pastores, sendo criado para também se transformar em um deles. Enquanto
Páris estava vigiando seu rebanho, Hermes levou as três deusas para que as
julgasse. Cada uma ofereceu uma recompensa se fosse a escolhida; Hera ofereceu
riqueza e poder, Atena ofereceu habilidade militar e sabedoria e Afrodite
ofereceu o amor da mais bela mulher do mundo. Conferindo a vitória a Afrodite,
acabou incorrendo na ira das outras duas, as quais se tornaram daí para a
frente inimigas implacáveis de Tróia. Logo depois, Páris retornou por acaso a
Tróia, onde sua habilidade nas competições atléticas e sua surpreendente bela
aparência causaram interesse nos seus pais, que rapidamente estabeleceram sua
identidade e o receberam de volta com entusiasmo.
A
mais bela mulher do mundo era Helena, a filha de Zeus e Leda. Muitos reis e
nobres desejaram desposá-la, e antes que seu pai mortal, Tíndaro, anunciasse o
nome do feliz escolhido, fez todos jurarem respeitar a escolha de Helena e
virem em ajuda de seu marido se fosse raptada.
Helena de Tróia |
Helena
casou com Menelau, rei de Esparta, e na época que Páris veio visitá-los tinham
uma filha, Hermíone. Menelau recebeu Páris muito bem em sua casa, mas Páris
pagou esta hospitalidade raptando Helena e fugindo com ela de volta a Tróia. A
participação de Helena nesta situação é explicada de diferentes maneiras nas
várias fontes: foi raptada contra a sua vontade, ou Afrodite deixou-a louca de
desejo por Páris ou, a mais elaborada de todas, nunca foi para Tróia, e foi por
causa de um fantasma que os gregos gastaram dez longos anos em guerra.
6 peras firmes (mais pra verdes que pra maduras)
suco de 1 limão
1½ xícara de chá de vinho branco seco ou poire
1 xícara de chá de água
1 xícara de chá de açúcar
1/2 favo ou 4 gotas de essência de baunilha
1 pau de canela
3 grãos de pimenta-do-reino branca ou preta
1 boa pitada de noz moscada
Calda de chocolate
300 g de chocolate ao leite (ou amargo ou meio amargo, conforme a sua preferência)
½ xícara de chá da calda de cozimento das peras
150 ml de creme de leite
1 cálice (50 ml) de poire ou licor de cacau (opcional)
Preparo:
Peras - Descasque as peras mantendo o cabinho. Retire o fundo de cada uma como na foto ao lado. Numa panela grande, coloque a água, o açúcar, a fava de baunilha (se usar essência ela deve ser colocada só depois do cozimento das peras), a canela, os grãos de pimenta-do-reino e leve ao fogo deixando ferver até dissolver todo o açúcar e obter uma calda rala. Quando estiver transparente, retire do fogo e acrescente o vinho, o suco de limão e coloque as peras em pé dentro da panela. Tampe a panela e leve-a novamente ao fogo, por aproximadamente 30 minutos, ou até as peras ficarem macias. Depois de cozidas, acrescente a noz moscada à calda e banhe as peras com ela antes de retirá-las da panela para que esfriem. Reserve. Passe a calda por uma peneira para retirar os resíduos e reserve. Calda de Chocolate Pique o chocolate e pequenos pedaços com uma faca ou outro instrumento apropriado, tomando cuidado para não se cortar. Coloque o chocolate picado em um refratário e derreta-o em banho-maria (quando a água começar a ferver, desligue o fogo e mexa bem o chocolate até que derreta por igual. A seguir, acrescente meia xícara (chá) da calda de reservada e misture bem até obter um molho homogêneo. Depois, acrescente o creme de leite e a bebida alcoólica e continue a mexer até homogeneizar completamente. Prepare a calda com antecedência, coloque em um recipiente, feche bem e conserve na geladeira. Na hora de servir, é só reaquecer no banho-maria ou no microondas. Montagem Num recipiente individual (um prato, uma cumbuca ou uma taça, por exemplo) coloque uma pêra, uma bola de sorvete de creme e regue com a calda de chocolate quente (o que sobrar é bom ir à mesa, quentinho, numa molheira, afinal, chocolate todo mundo sempre quer mais um pouquinho). Se quiser incrementar um pouco mais, acrescente chantilly e amêndoas fatiadas torradas . Sirva em seguida.
Dica: Existem muitas formas de se servir a Poire Belle Hélène. Inteiras como nessa receita, ou partida ao meio, ou ainda fatiada. Escolha a da sua preferência. O importante é degustá-la com prazer. Para acompanhar, o melhor champagne ou espumante que você puder conseguir é uma boa pedida. Se brut, demi-sec ou doce fica a seu critério - a melhor bebida é aquela que a gente gosta.
Bom dia. Estava procurando um outro modo de preparo da Pera Belle Helene e acabei deparando com seu blog. Muito bom. Parabéns. Por hoje vou ficar só a ver a Pera Belle Helene mas com certeza me despertou vontade em dar um PASSEIO por mais tempo pelo blog. Mas está de parabéns.
ResponderExcluirMAZOLA ( Juiz de Fora , MG )