Ultimamente eu tenho
ficado vidrado numa cantora estoniana, Iiris (escutem a música dela no fim
deste post). E quando eu gosto de algo, ou alguém, procuro me informar mais
sobre este algo (ou alguém), saber sobre sua cultura, seus gostos, sua
curiosidades. Isso me fascina. Desta forma, e movido pelo clima natalino, fui
em busca de descobrir um pouco sobre o Natal entre os estonianos.
Na língua Estônia, a
palavra para designar o Natal é Jōulud. Por lá, o dia do nascimento de Cristo é
assinalado por essa palavra, anterior à introdução do Cristianismo no mundo.
Tallinn, a capital da Estônia |
O Jōulud já era
festejado na Estónia antes da chegada do Cristianismo naquelas terras, e para
os estónios antigos era uma festa que se prolongava por 17 dias, onde eles festejavam
o solstício de Inverno — o nascimento do Sol (é a partir do solstício de
Inverno que os dias tronam-se mais longos, e o Sol erguer-se mais alto no céu).
O tradicional mercado de Natal de Tallinn |
Durante o Jōulud os
estonianos cometiam excessos no que diz respeito à alimentação e eram proibidos
certos tipos de trabalhos, pois era considerado um tempo de descanso no meio do
longo Inverno sombrio. Mas, o Jōulud foi sempre uma festa dedicada à família e
era considerado um tempo de recolhimento.
Em épocas remotas,
nenhum estranho entrava em casa durante o primeiro dia das festividades. Pior
ainda, se fosse uma mulher, considerava-se o fato um mau presságio. A mesma
crença era válida para a véspera de Ano Novo. Mas hoje, o Natal é uma mistura
de tradicionalismo e de modernidade, uma fusão do profano com o religioso. As
festas concentram-se sobretudo na Véspera de Natal, embora a época natalícia
tenha início no Advento, quando as pessoas compram calendários de Natal e
acendem velas.
Na Estônia, o Natal hoje
é uma festa alegre, mas para viver principalmente entre a família e os amigos
mais chegados (como na maior parte das sociedades que celebram esta data).
Muitas vezes a noite de Natal é passada em casa dos avós ou parentes, para, na
noite do dia 24 de Dezembro, ter com os entes queridos um jantar de Natal.
Depois de ter ido à missa.
A figura do Papai Noel é presente naquela região por conta da proximidade com o lugar ao qual o censo comum, credita, como terra de origem do Papai Noel, a Lapônia, (Mas não vamos aqui discutir a origem do bom velhinho, mesmo porque ainda existem os que acreditam que ele vive no Polo Norte... e eu não mexo com crenças, nem com fantasias...)
Na noite de Natal, as
famílias estonianas com crianças, costumam ter uma visita do Jõuluvana (Pai
Natal, ou Papai Noel), que se desloca num trenó com as suas renas da Lapónia,
Finlândia, para distribuir as prendas para os mais novos. As crianças com
direito a prenda, têm de cantar ou recitar poemas, o mesmo aplica-se aos
adultos. Para os mais indisciplinados, assim como para os pais, o Pai Natal
traz uma vara, habitualmente sem uso.
Se por alguma razão o
Pai Natal não chegar a todas as crianças, as prendas são levadas para debaixo
da árvore de Natal pelos seus ajudantes, os pequenos Duendes. Cabe aos Duendes
vigiar secretamente as crianças durante o ano todo e tomar as devidas notas,
para o Papai Noel saber quem se portou bem ou mal.
No início do mês de
Natal as crianças escrevem uma carta ao Pai Natal onde expressam o que
gostariam de receber. A carta pode ser enviada por correio, para a Lapónia, ou
deixada no peitoril da janela para os Duendes a entregarem ao Papai Noel.
Também no peitoril, as crianças estonianas deixam cada noite de Dezembro as
suas pantufas, para os Duendes colocarem prendinhas ou guloseimas dentro das
pantufas. Este privilégio é destinado às crianças bem comportadas.
Durante o mês de
Dezembro, as crianças aprendem as canções e poemas Natalinos, para na noite de
Natal atuarem para o Papai Noel. Em Dezembro, decorrerão concertos e peças
alegres em todas as escolas, creches e locais de trabalho dos pais, onde são
distribuídas guloseimas e prendas para os mais novos.
Curiosidades:
A primeira Árvore de
Natal público foi erguida na Praça do Município, em Tallinn, no ano remoto de
1441. A tradição de levar
para casa uma árvore de Natal difundiu-se no país durante o século XIX. A
árvore de Natal é um abeto verde. As primeiras decorações usadas na árvore de
Natal eram brinquedos, doces, maçãs e, já mais tarde, velas.
A árvore de Natal mais famosa fica no centro de Tallinn, onde se realiza o mercado de Tallinn, famoso por sua feira natalina.
Por que razão as pessoas os estonianos comiam (ainda há
os que fazem isso) 7, 9, e mesmo 12 vezes, na Véspera de Natal?
Estes números eram
mágicos, e a alimentação em excesso garantia fartura para o ano seguinte. Se os
homens comessem sete vezes na Véspera de Natal dizia-se que no ano seguinte
teriam a força de sete homens.
Por que razão a comida tinha de ficar em cima da mesa
durante toda a noite?
Acreditava-se que os
antepassados e outros espíritos apareciam em casa na noite de Natal, bem como
na noite de Ano Novo e na Epifania.
Há 350 anos que existe na Estónia o costume de declarar a
Paz de Natal
No dia 24 de Dezembro
de cada ano, o Presidente da Estónia proclama a Paz de Natal e assiste a uma
missa. Esta tradição iniciou-se no século XVII, por ordem da Rainha Cristina,
da Suécia.
Pratos típicos
Uma ceia de Natal tipicamente estoniana |
As bebidas mais apreciadas
nesta época costumavam ser a cerveja e o hidromel fermentado em casa. A cerveja
de hidromel fermentada no dia de S. Tomás tinha de durar até à Epifania. A
fermentação da cerveja era trabalho dos homens, e tinha de ser começada a meio
da noite, para que não lhe deitassem mau-olhado. A cerveja fazia-se com
centeio, cevada, trigo e aveia. O malte de centeio era o ingrediente mais usado
no fabrico da cerveja. Presentemente o vinho aquecido também se popularizou.
Abaixo você vai
encontrar algumas iguarias tradicionais desta época para festejar o Natal à
maneira dos estonianos.
Piparkoogid
(biscoitos de gengibre)
250 gramas de mel ou de melaço
100 gramas de açúcar
50 gramas de manteiga
2 colheres de chá de mescla de especiarias
(canela, cravinho, cardamomo, gengibre, noz-moscada),
um pouco de sal
1 ovo
300-500 gramas de farinha
2 colheres de chá de fermento em pó
Preparo: Ferve-se o melaço
com o açúcar e a manteiga, sem nunca deixar de mexer. Juntam-se as especiarias
e bate-se para arrefecer. Adiciona-se o ovo já batido e a farinha misturada com
o fermento. Bater até conseguir uma massa sólida. Deixar repousar em lugar
fresco. Enrolar a massa. Untar a grelha, enformar os bolos usando formas de
biscoito (mais tipicamente a forma de estrela, coração, lua ou homenzinho) e
colocá-los sobre a grelha para assar. Depois de prontos, os biscoitos podem ser
decorados com o glacé colorido.
Patê de
fígado
500 gramas de fígado de vitela
200 gramas de toucinho defumado
2 cebolas
2 cenouras
Pimenta, noz-moscada
1 copo de água
100 gramas de manteiga
Açúcar
Conhaque, aguardente ou rum
Preparo: Corta-se o toucinho
e frita-se com os vegetais cortados às rodelas. Adiciona-se o fígado cortado em
fatias e mexe-se até a mistura adquirir a cor castanha. Juntar a água e os
temperos e deixar ferver até todos os ingredientes ficarem macios. Passar pelo
passe-vite. Acrescentar a manteiga e bater. Colocar em tigelas e armazenar num
local fresco.
Rosolje
(Salada de batata com beterraba)
700 gramas de beterrabas cozidas
400 gramas de batatas cozidas
200 gramas de cenouras cozidas
1 arenque não muito salgado (pode ser salmão)
1 ou 2 pepinos em vinagre
200 gramas de carne de porco ou de vaca,
assada.
2 a 3 ovos cozidos
6 dl de requeijão
Sal, conforme o paladar
½ colher de chá de mostarda
Um pouco de açúcar
Cebolinhas para enfeitar
Preparo: Salada para 10 a 12
pessoas. Esta salada contém uma abundante quantidade de beterraba roxa cozida,
cujo sabor adocicado combina bem com o arenque salgado e os pepinos em vinagre.
Descascar as batatas, as cenouras e as beterrabas; descascar as maçãs e
tirar-lhes o caroço. Cortar o arenque às fatias, tirando a pele e até as
espinhas mais pequenas. Cortar tudo (exceto os ovos), em cubos muito pequenos.
Preparar um molho com o requeijão, a mostarda, o sal e o açúcar. Despejar os
ingredientes dentro do molho e deixar tapado no frigorífico durante uma ou duas
horas; tirar uma hora antes de servir à mesa. Pôr um monte de salada em cada
prato, cobrir com os ovos cortados em rodelas muito finas e decorar com as
cebolinhas cortadas.
Sült (Galantina de porco ou de vaca)
2 a 2,5 quilos de carne de porco ou vitela
com ossos e peles (podem acrescentar-se pezinhos de porco ou mão de vaca)
1 cebola amarela cortada com a casca (para
dar cor)
1 cenoura, cortada
8 a 10 grãos de pimenta
6 grãos de pimenta da Jamaica
1 folha de louro
Sal
Preparo: Lavar a carne e
metê-la numa caçarola com água fria. Deixar levantar fervura e ferver durante 1
ou 2 minutos; despejar a água e lavar a carne e a caçarola, de modo a que não
fique espuma. Despejar água limpa a ferver sobre a carne e deixar em fogo
brando, sem a tampa, até que a carne se desligue dos ossos (3 a 4 horas). Não
ferver demasiado depressa, se não a galantina não ficará transparente. Tirar a
gordura à medida em que ela for subindo à superfície, e acrescentar mais água a
ferver, se necessário. Ao fim de uma ou duas horas, juntar a cenoura e a
cebola, as especiarias e 2 a 3 colheres de chá de sal durante os últimos 10 minutos.
Retirar a carne, deixar arrefecer e cortar em pedaços pequenos. Coar o caldo,
pôr a carne e o caldo numa panela e adicionar uma boa dose de sal, porque o
arrefecimento atenua o gosto. Ferver outra vez, deixar arrefecer durante alguns
minutos e colocar em formas ou em pequenas tigelas, previamente passadas por
água fria. Cobrir com folha de plástico ou de alumínio e guardar num local
fresco. A galantina tanto se serve ao jantar, acompanhada com batatas quentes,
como num buffet frio. Em qualquer dos casos acompanha-se com mostarda, vinagre
suave ou rábanos em vinagre.
Verivorst (Chouriço de sangue)
1,25 quilos de grãos de cevada com casca
750 gramas de carne (toucinho defumado)
200 gramas de cebolas
Sal, pimenta
Manjerona, orégano, cominho
½ litro de sangue
Cerca de 10 metros de tripas
Preparo: Meter as sêmolas
lavadas em água quente salgada e ferver até fazer uma papa. Cortar o presunto
em bocados pequenos e fritá-lo com rodelas de cebola até alourar, juntar aos
grãos de cevada e ferver até obter uma papa. Depois de arrefecer, adicionar o
sangue e os temperos. Encher as tripas com a mistura, mas não muito, porque o
sangue e os grãos de cevada incham com a fervura. Atar as pontas das tripas com
cordel macio. Meter os chouriços em água morna e fervê-los lentamente durante
cerca de 30 minutos. Arrefecer rapidamente os chouriços e guardá-los em lugar
fresco. Servem-se fritos ou assados no forno. Antes de fritar, mergulhar os
chouriços em água quente. Serve-se com toucinho fumado frito, doce de arandos e
mirtilos vermelhos ou salada de abóbora.
Uma tradição mais antiga era a preparação da
chouriça branca, mais tarde substituída pelo chouriço de sangue. A chouriça
branca leva os mesmos ingredientes, exceto o sangue.
Mulgikapsad (Chucrute estônio)
1 quilo de chucrute
½ copo de grãos de cevada descascada
400-500 gramas de toucinho defumado
1 a 2 cebolas
Sal, açúcar
Água
Preparo: Meter o chucrute
numa caçarola com a cevada e carne. Cobrir com água e estufar tapado. É
importante que a água não ferva. Adicionar sal e açúcar. Cortar as cebolas em
pequenos cubos e fritá-las num pouco de gordura ou de azeite. Em seguida,
juntá-las ao chucrute. O chucrute estónio serve-se com carne de porco e batatas
cozidas.
Karask (Bolo torrado)
¼ de litro de leite fermentado
1 ovo
1 colher de chá de sal
1 colher de chá de açúcar
2 colheres de chá de azeite ou outra gordura
I colher de chá de cominho
1 copo de farinha de cevada
¾ de copo de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento
Preparo: Bater o ovo com o
sal e o açúcar, adicionar o leite fermentado, a gordura derretida, os cominhos
e a farinha grossa com o fermento. Amassar até conseguir uma massa leve e
macia. Colocar a massa numa forma untada com gordura e levar ao forno. Serve-se
com manteiga, mel ou doce de arando.
Maçapão
150 gramas de amêndoas
1 clara de ovo
150 gramas de açúcar em pó
Preparo: Pelar as amêndoas e
moê-las tão fino quanto possível. Misturar as amêndoas moídas com a clara de
ovo e mexer até obter uma massa uniforme, juntando o açúcar aos poucos. Bater a
massa até esta atingir uma elasticidade consistente.
A massa usa-se na decoração de bolos e de
doces. Segundo uma lenda, o maçapão foi criado acidentalmente em Raeapteek, uma
botica de Tallinn, e recebeu o nome de Pão de Martinho. Atualmente, este doce é
produzido pela Confeitaria Kalev.
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