terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Natal entre os estônios


Ultimamente eu tenho ficado vidrado numa cantora estoniana, Iiris (escutem a música dela no fim deste post). E quando eu gosto de algo, ou alguém, procuro me informar mais sobre este algo (ou alguém), saber sobre sua cultura, seus gostos, sua curiosidades. Isso me fascina. Desta forma, e movido pelo clima natalino, fui em busca de descobrir um pouco sobre o Natal entre os estonianos.



Tallinn, a capital da Estônia 
O Kadriorg, em Tallinn, um jardim inglês fundado por Pedro, o Grande. Lá, você encontrará o Palácio Kadriorg, construído em 1718 como um de seus palácios de verão. Ele fecha às segundas-feiras, exceto para excursões da Royal Caribbean Cruise Line.
castelo de Toompea, na parte alta da cidade velha. Datado da primeira metade do século XIII, o castelo passou por várias reconstruções e agora está em frente à casa rosada do Parlamento, construída em 1773.
Na língua Estônia, a palavra para designar o Natal é Jōulud. Por lá, o dia do nascimento de Cristo é assinalado por essa palavra, anterior à introdução do Cristianismo no mundo.
O Jōulud já era festejado na Estónia antes da chegada do Cristianismo naquelas terras, e para os estónios antigos era uma festa que se prolongava por 17 dias, onde eles festejavam o solstício de Inverno — o nascimento do Sol (é a partir do solstício de Inverno que os dias tronam-se mais longos, e o Sol erguer-se mais alto no céu).

O tradicional mercado de Natal de Tallinn



Durante o Jōulud os estonianos cometiam excessos no que diz respeito à alimentação e eram proibidos certos tipos de trabalhos, pois era considerado um tempo de descanso no meio do longo Inverno sombrio. Mas, o Jōulud foi sempre uma festa dedicada à família e era considerado um tempo de recolhimento.
Em épocas remotas, nenhum estranho entrava em casa durante o primeiro dia das festividades. Pior ainda, se fosse uma mulher, considerava-se o fato um mau presságio. A mesma crença era válida para a véspera de Ano Novo. Mas hoje, o Natal é uma mistura de tradicionalismo e de modernidade, uma fusão do profano com o religioso. As festas concentram-se sobretudo na Véspera de Natal, embora a época natalícia tenha início no Advento, quando as pessoas compram calendários de Natal e acendem velas.
Na Estônia, o Natal hoje é uma festa alegre, mas para viver principalmente entre a família e os amigos mais chegados (como na maior parte das sociedades que celebram esta data). Muitas vezes a noite de Natal é passada em casa dos avós ou parentes, para, na noite do dia 24 de Dezembro, ter com os entes queridos um jantar de Natal. Depois de ter ido à missa.



A figura do Papai Noel é presente naquela região por conta da proximidade com o lugar ao qual o censo comum, credita, como terra de origem do Papai Noel, a Lapônia, (Mas não vamos aqui discutir a origem do bom velhinho, mesmo porque ainda existem os que acreditam que ele vive no Polo Norte... e eu não mexo com crenças, nem com fantasias...)
Na noite de Natal, as famílias estonianas com crianças, costumam ter uma visita do Jõuluvana (Pai Natal, ou Papai Noel), que se desloca num trenó com as suas renas da Lapónia, Finlândia, para distribuir as prendas para os mais novos. As crianças com direito a prenda, têm de cantar ou recitar poemas, o mesmo aplica-se aos adultos. Para os mais indisciplinados, assim como para os pais, o Pai Natal traz uma vara, habitualmente sem uso.
Se por alguma razão o Pai Natal não chegar a todas as crianças, as prendas são levadas para debaixo da árvore de Natal pelos seus ajudantes, os pequenos Duendes. Cabe aos Duendes vigiar secretamente as crianças durante o ano todo e tomar as devidas notas, para o Papai Noel saber quem se portou bem ou mal.
No início do mês de Natal as crianças escrevem uma carta ao Pai Natal onde expressam o que gostariam de receber. A carta pode ser enviada por correio, para a Lapónia, ou deixada no peitoril da janela para os Duendes a entregarem ao Papai Noel. Também no peitoril, as crianças estonianas deixam cada noite de Dezembro as suas pantufas, para os Duendes colocarem prendinhas ou guloseimas dentro das pantufas. Este privilégio é destinado às crianças bem comportadas.
Durante o mês de Dezembro, as crianças aprendem as canções e poemas Natalinos, para na noite de Natal atuarem para o Papai Noel. Em Dezembro, decorrerão concertos e peças alegres em todas as escolas, creches e locais de trabalho dos pais, onde são distribuídas guloseimas e prendas para os mais novos.

Curiosidades:

A primeira Árvore de Natal público foi erguida na Praça do Município, em Tallinn, no ano remoto de 1441. A tradição de levar para casa uma árvore de Natal difundiu-se no país durante o século XIX. A árvore de Natal é um abeto verde. As primeiras decorações usadas na árvore de Natal eram brinquedos, doces, maçãs e, já mais tarde, velas.
A árvore de Natal mais famosa fica no centro de Tallinn, onde se realiza o mercado de Tallinn, famoso por sua feira natalina.


Tradições

Por que razão as pessoas os estonianos comiam (ainda há os que fazem isso) 7, 9, e mesmo 12 vezes, na Véspera de Natal?
Estes números eram mágicos, e a alimentação em excesso garantia fartura para o ano seguinte. Se os homens comessem sete vezes na Véspera de Natal dizia-se que no ano seguinte teriam a força de sete homens.

Por que razão a comida tinha de ficar em cima da mesa durante toda a noite?
Acreditava-se que os antepassados e outros espíritos apareciam em casa na noite de Natal, bem como na noite de Ano Novo e na Epifania.

Há 350 anos que existe na Estónia o costume de declarar a Paz de Natal
No dia 24 de Dezembro de cada ano, o Presidente da Estónia proclama a Paz de Natal e assiste a uma missa. Esta tradição iniciou-se no século XVII, por ordem da Rainha Cristina, da Suécia.


Pratos típicos

Uma ceia de Natal tipicamente estoniana
No Natal, é tradição os estonianos comerem carne de porco com chucrute, ou chucrute estônio (mulgikapsad), batatas cozidas, grelos de nabo e cabeça de porco, salsichas e chouriço de sangue, galantina de porco ou de vaca, salada de batatas com beterraba roxa e patês. Entre as sobremesas, os biscoitos de gengibre (piparkoogid) e o maçapão são os mais populares.
As bebidas mais apreciadas nesta época costumavam ser a cerveja e o hidromel fermentado em casa. A cerveja de hidromel fermentada no dia de S. Tomás tinha de durar até à Epifania. A fermentação da cerveja era trabalho dos homens, e tinha de ser começada a meio da noite, para que não lhe deitassem mau-olhado. A cerveja fazia-se com centeio, cevada, trigo e aveia. O malte de centeio era o ingrediente mais usado no fabrico da cerveja. Presentemente o vinho aquecido também se popularizou.

Abaixo você vai encontrar algumas iguarias tradicionais desta época para festejar o Natal à maneira dos estonianos.

Piparkoogid (biscoitos de gengibre)

250 gramas de mel ou de melaço
100 gramas de açúcar
50 gramas de manteiga
2 colheres de chá de mescla de especiarias (canela, cravinho, cardamomo, gengibre, noz-moscada),
um pouco de sal
1 ovo
300-500 gramas de farinha
2 colheres de chá de fermento em pó
Preparo: Ferve-se o melaço com o açúcar e a manteiga, sem nunca deixar de mexer. Juntam-se as especiarias e bate-se para arrefecer. Adiciona-se o ovo já batido e a farinha misturada com o fermento. Bater até conseguir uma massa sólida. Deixar repousar em lugar fresco. Enrolar a massa. Untar a grelha, enformar os bolos usando formas de biscoito (mais tipicamente a forma de estrela, coração, lua ou homenzinho) e colocá-los sobre a grelha para assar. Depois de prontos, os biscoitos podem ser decorados com o glacé colorido.

Patê de fígado

500 gramas de fígado de vitela
200 gramas de toucinho defumado
2 cebolas
2 cenouras
Pimenta, noz-moscada
1 copo de água
100 gramas de manteiga
Açúcar
Conhaque, aguardente ou rum
Preparo: Corta-se o toucinho e frita-se com os vegetais cortados às rodelas. Adiciona-se o fígado cortado em fatias e mexe-se até a mistura adquirir a cor castanha. Juntar a água e os temperos e deixar ferver até todos os ingredientes ficarem macios. Passar pelo passe-vite. Acrescentar a manteiga e bater. Colocar em tigelas e armazenar num local fresco.


Rosolje (Salada de batata com beterraba)

700 gramas de beterrabas cozidas
400 gramas de batatas cozidas
200 gramas de cenouras cozidas
1 arenque não muito salgado (pode ser salmão)
1 ou 2 pepinos em vinagre
200 gramas de carne de porco ou de vaca, assada.
2 a 3 ovos cozidos
6 dl de requeijão
Sal, conforme o paladar
½ colher de chá de mostarda
Um pouco de açúcar
Cebolinhas para enfeitar
Preparo: Salada para 10 a 12 pessoas. Esta salada contém uma abundante quantidade de beterraba roxa cozida, cujo sabor adocicado combina bem com o arenque salgado e os pepinos em vinagre. Descascar as batatas, as cenouras e as beterrabas; descascar as maçãs e tirar-lhes o caroço. Cortar o arenque às fatias, tirando a pele e até as espinhas mais pequenas. Cortar tudo (exceto os ovos), em cubos muito pequenos. Preparar um molho com o requeijão, a mostarda, o sal e o açúcar. Despejar os ingredientes dentro do molho e deixar tapado no frigorífico durante uma ou duas horas; tirar uma hora antes de servir à mesa. Pôr um monte de salada em cada prato, cobrir com os ovos cortados em rodelas muito finas e decorar com as cebolinhas cortadas.

 Sült (Galantina de porco ou de vaca)

2 a 2,5 quilos de carne de porco ou vitela com ossos e peles (podem acrescentar-se pezinhos de porco ou mão de vaca)
1 cebola amarela cortada com a casca (para dar cor)
1 cenoura, cortada
8 a 10 grãos de pimenta
6 grãos de pimenta da Jamaica
1 folha de louro
Sal
Preparo: Lavar a carne e metê-la numa caçarola com água fria. Deixar levantar fervura e ferver durante 1 ou 2 minutos; despejar a água e lavar a carne e a caçarola, de modo a que não fique espuma. Despejar água limpa a ferver sobre a carne e deixar em fogo brando, sem a tampa, até que a carne se desligue dos ossos (3 a 4 horas). Não ferver demasiado depressa, se não a galantina não ficará transparente. Tirar a gordura à medida em que ela for subindo à superfície, e acrescentar mais água a ferver, se necessário. Ao fim de uma ou duas horas, juntar a cenoura e a cebola, as especiarias e 2 a 3 colheres de chá de sal durante os últimos 10 minutos. Retirar a carne, deixar arrefecer e cortar em pedaços pequenos. Coar o caldo, pôr a carne e o caldo numa panela e adicionar uma boa dose de sal, porque o arrefecimento atenua o gosto. Ferver outra vez, deixar arrefecer durante alguns minutos e colocar em formas ou em pequenas tigelas, previamente passadas por água fria. Cobrir com folha de plástico ou de alumínio e guardar num local fresco. A galantina tanto se serve ao jantar, acompanhada com batatas quentes, como num buffet frio. Em qualquer dos casos acompanha-se com mostarda, vinagre suave ou rábanos em vinagre.

 Verivorst (Chouriço de sangue)

1,25 quilos de grãos de cevada com casca
750 gramas de carne (toucinho defumado)
200 gramas de cebolas
Sal, pimenta
Manjerona, orégano, cominho
½ litro de sangue
Cerca de 10 metros de tripas
Preparo: Meter as sêmolas lavadas em água quente salgada e ferver até fazer uma papa. Cortar o presunto em bocados pequenos e fritá-lo com rodelas de cebola até alourar, juntar aos grãos de cevada e ferver até obter uma papa. Depois de arrefecer, adicionar o sangue e os temperos. Encher as tripas com a mistura, mas não muito, porque o sangue e os grãos de cevada incham com a fervura. Atar as pontas das tripas com cordel macio. Meter os chouriços em água morna e fervê-los lentamente durante cerca de 30 minutos. Arrefecer rapidamente os chouriços e guardá-los em lugar fresco. Servem-se fritos ou assados no forno. Antes de fritar, mergulhar os chouriços em água quente. Serve-se com toucinho fumado frito, doce de arandos e mirtilos vermelhos ou salada de abóbora.

Uma tradição mais antiga era a preparação da chouriça branca, mais tarde substituída pelo chouriço de sangue. A chouriça branca leva os mesmos ingredientes, exceto o sangue.

 Mulgikapsad (Chucrute estônio)

1 quilo de chucrute
½ copo de grãos de cevada descascada
400-500 gramas de toucinho defumado
1 a 2 cebolas
Sal, açúcar
Água
Preparo: Meter o chucrute numa caçarola com a cevada e carne. Cobrir com água e estufar tapado. É importante que a água não ferva. Adicionar sal e açúcar. Cortar as cebolas em pequenos cubos e fritá-las num pouco de gordura ou de azeite. Em seguida, juntá-las ao chucrute. O chucrute estónio serve-se com carne de porco e batatas cozidas.

 Karask (Bolo torrado)

¼ de litro de leite fermentado
1 ovo
1 colher de chá de sal
1 colher de chá de açúcar
2 colheres de chá de azeite ou outra gordura
I colher de chá de cominho
1 copo de farinha de cevada
¾ de copo de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento
Preparo: Bater o ovo com o sal e o açúcar, adicionar o leite fermentado, a gordura derretida, os cominhos e a farinha grossa com o fermento. Amassar até conseguir uma massa leve e macia. Colocar a massa numa forma untada com gordura e levar ao forno. Serve-se com manteiga, mel ou doce de arando.

 Maçapão

150 gramas de amêndoas
1 clara de ovo
150 gramas de açúcar em pó
Preparo: Pelar as amêndoas e moê-las tão fino quanto possível. Misturar as amêndoas moídas com a clara de ovo e mexer até obter uma massa uniforme, juntando o açúcar aos poucos. Bater a massa até esta atingir uma elasticidade consistente.

A massa usa-se na decoração de bolos e de doces. Segundo uma lenda, o maçapão foi criado acidentalmente em Raeapteek, uma botica de Tallinn, e recebeu o nome de Pão de Martinho. Atualmente, este doce é produzido pela Confeitaria Kalev.

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