terça-feira, 8 de abril de 2014

Os Ovos Vermelhos da Páscoa Grega ( Κόκκινα πασχαλινά αυγά )


Eu estava aqui me lembrando da minha infância... e recordei de ovos coloridos. Quem nunca comeu um ovo colorido, daqueles que a gente encontra num botequim? Pois eu comi muitos quando criança. Meu tio Mário, vez por outra, me levava a uns lugares com ele, e me lembro de uma bodega que servia esses ovos coloridos – mas o que eu gostava mesmo era de comer ovos moles com pimenta do reino e sal [delícia].
Naquela época eu já era um curioso e já quis saber como aqueles ovos eram feitos. Me lembro que um dia perguntei isso ao dono da bodega e ele me disse que pintava os ovos – e a minha mente infantil imaginou o cara com potes de tinta guache aquarelando os ovos...
O tempo passou, eu cresci, e descobri que os ovos pintados são mais velhos do que eu pensava. Já existia essa mania de pintar ovos desde a antiguidade, sobretudo na época pascal.Mas hoje eu quero falar especialmente dos ovos vermelhos. Não por que o vermelho seja uma das cores que mais gosto, mas porque ovos vermelhos são símbolo de páscoa na Grécia.


Eu sei bem que os ovos de páscoa feitos de chocolate é que são a vedete desta estação, inclusive na Grécia eles também existem, mas por lá existe a tradição de presentear com Ovos Vermelhos de Páscoa ou Κόκκινα πασχαλινά αυγά (Kókina pasxaliná avgá - Kókina pasxhaliná avghá) – tradição essa que vem desde a antiguidade.
Naquela época presentear com ovos tinha um significado importante, eles eram considerados os presentes perfeitos da natureza e simbolizavam a chegada da primavera, sendo utilizados como objetos de comemoração. Representavam a vida, o surgimento do mundo em diversas crenças. O ovo teria o poder da vida e acreditava-se que se podia repassar esse pode a tudo que fosse vivo (plantas, animais e homens).



Na antiguidade esse trabalho de tingimento dos ovos começava na madrugada, o que marcava o começo de um novo dia; a panela que era utilizada para o cozimento dos ovos deveria ser novam o número de ovos era determinado anteriormente e a tinta que restava da pintura era guardada pro quarenta dias e não poderia ser jogada fora de casa.
Para os Cristão Gregos ortodoxos existe também um ritual para se tingir os futuros ovos de presente: o tingimento dos ovos deve acontecer sempre na quinta-feira que antecede a Páscoa (Μεγάλη Πέμπτη - Megháli Penpti ou Grande Quinta) e por isso é chamada de Κοκκινοπέφτη (Kokinopéfti - quinta vermelha) – essa data relembra o episódio do derramamento do sangue de Cristo.



O milagre do Ovo vermelho realizado por Maria Madalena

Nasceu em Magdalena (de onde surge o seu nome), uma vila a 4 km ao Norte de Tiberíade, na Síria. Na juventude foi possuída por forças do mal, mas quando recebida na fé cristã tornou-se sã. O Evangelho narra que Cristo passou pelas cidades e vilas proclamando a Boa Nova sobre o Reino dos Céus e iam com Ele os doze apóstolos e algumas senhoras, as quais Ele curou dos espíritos malignos e de doenças: “Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios, Joanna, esposa de Cuza, procurador de Herodes e Suzana e muitas outras que O serviam com seus bens (Lc. 8,3)”.
Maria Madalena foi zelosa cristã cuja fé e amor por Cristo nada podia derrotar ou abalar no mundo. A Santa, como fiel discípula, foi com Seu Senhor, acompanhou-O até o Gólgota e foi a primeira a encontrar o túmulo vazio “... dois anjos vestidos de branco, sentados...” os quais anunciaram-na a Ressurreição de Cristo. Assim como foi a primeira para quem o Senhor Ressuscitado se manifestou e enviou-a aos discípulos com a Boa Nova.


Madalena entregando o ovo vermelho a Tibério - Afresco.
A Tradição relata que pregando em Roma, ela chegou ao palácio do imperador Tibério. Na audiência com o imperador ela lhe contou sobre o Senhor Jesus Cristo sobre seu ensinamento e ressurreição dos mortos. O imperador duvidou do milagre da ressurreição e pedia provas a Maria Madalena. Então ela pegou um ovo cozido que estava em cima da mesa e entregando-o ao imperador disse “Cristo Ressuscitou!” Durante estas palavras o ovo branco ficou vermelho carmim nas mãos do imperador. Este evento é registrado no mosteiro de Santa Maria Madalena, localizado em Jerusalém . O mosteiro foi construído em 1885. Neste há um afresco de Maria Madalena na frente de Tibério César
Depois, como os apóstolos, viajou pregando a Boa Nova aos países entre a Itália e a Ásia Menor. Quando aportou em Éfeso, uniu-se ao Apóstolo João, o teólogo, a fim de junto com ele propagar a Fé Cristã, e assim até o fim de sua vida. Morreu em Éfeso e as sua relíquias em 899 foram trazidas pelo Imperador Bizantino Leão VI, o sábio, para Constantinopla.
Conforme a tradição Maria Madalena foi chamada “igual aos apóstolos”, e seu culto é, em geral, na Igreja Ortodoxa como na Igreja Romana.


Ovos vermelhos ou coloridos?

Quanto as cores usadas para o tingimento, elas vinham de meios naturais: a cor de mel era obtida a partir das cascas de cebola, a cor amarela das folhas de amendoeira, o vermelho vivo das papoulas. Contudo a cor vermelha era a mais usada, pelo seu significado (sangue do Cristo, o que dá a vida). Hoje em dia ficou mais fácil fazer o tingimento de comidas, inclusive dos ovos, pois existem muitos tipos de anilinas comestíveis que se pode encontrar em qualquer supermercados.
Outro ritual envolvendo os ovos tingidos acontece a missa da Ressurreição e se repete ao longo de todo o dia de Páscoa: é a quebra dos ovos. Cada pessoa ganha um ovo e segura firmemente envolto na mão, então bate no ovo que está na mão da outra pessoa e ao quebrar um dos ovos diz Χριστός Ανέστη (Xhristós Anésti) - Cristo ressuscitou, e a outra pessoa responde Αληθώς Ανέστη (Alithós Anésti) - Na verdade, ressuscitou. A quebra dos ovos vermelhos simboliza a Ressurreição de Cristo.



Tão bonito, tão poético, tão simbólico que deu vontade de fazer por estas terras brasileiras. Sem contar que a presença desses ovos vermelhos ainda é arte de um pão grego de páscoa que será tema da próxima postagem (aguardem). Até lá, deixo a receita pra tingir os ovos de vermelho,

Ovos Vermelhos de Páscoa
Kókina pascaliná avgá
Κόκκινα πασχαλινά αυγά

1 dúzia de ovos brancos médios
Anilina vermelha o quanto baste (coloque o bastante pra ficar com uma cor viva)
2 colheres de sopa de vinagre
2 folhas de papel absorvente
Óleo para dar acabamento

Preparo: Coloque uma ou duas folhas de papel absorvente no fundo de uma panela. Coloque os ovos sobre o papel com cuidado ajeitando para não ficarem batendo uns nos outros. Cubra os ovos com água até um dedo acima do nível dos ovos e inicie o aquecimento. Quando iniciar a fervura, abaixe o fogo até um ponto em que a água continue borbulhando e cozinhe os ovos por 10 minutos. Dissolva a anilina em um copo com pouca água conforme as instruções da embalagem, misture o vinagre e adicione aos ovos. Deixe ferver por mais 5 a 10 minutos. Apague o fogo e retire os ovos colocando num aparador forrado com papel absorvente. Deixe esfriar um pouco, molhe um papel absorvente com um pouco de óleo e passe sobre toda a superfície dos ovos para dar brilho. Retire o excesso de óleo com outro papel absorvente.
Dicas: Caso precise colocar os ovos uns sobre os outros, coloque sempre um papel absorvente entre eles para não quebrarem enquanto cozinham. Escolha ovos pequenos para tingir, quanto menores mais grossa é a casca. Ovos naturalmente vermelhos não pegam bem a tintura, mas os brancos tem a casca mais fina e quebram com mais facilidade, por isso melhor usar o papel absorvente para evitar que quebrem.

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