Eu lembro como se fosse hoje do meu primeiro trabalho apresentado no meu primeiro ano do bacharelado em Turismo: era aula de inglês e logo nas semanas iniciais do curso o professor já pedia pra apresentarmos, em inglês, um pouco da cultura do país o qual nós, da equipe, sorteássemos. Ficamos com o Reino Unido... Depois de algumas semanas buscando bibliografia, material expositivo de todos os gêneros que remetesse ao país em questão, como a prataria, porcelanas, vestimentas, hinos, etc. Lá se foi eu para a cozinha pra apresentar a gastronomia da terra da Rainha.
É até estranho quando eu falo em “gastronomia da terra da rainha” porque na minha impressão a maioria das pessoas do mundo gastronômico não considera relevante a gastronomia britânica. Mas enfim, esse então era o desafio: mostrar algo relevante e delicioso que pudesse ser degustado pelos comensais da sala. Lembro que comecei a fazer o mise em place às seis da manhã e só me retirei da cozinha as 18h, quase na hora de ir pra aula apresentar o trabalho.
Foi divino!!! A faculdade até então não tinha visto trabalho naquele nível. O professor absorto teve que se render ao que apresentamos. E no fim da apresentação, já podíamos notar que outras salas, de outros cursos, estavam ocupando todos os cantos da sala, pendurados nas janelas. E eis que liberamos a comida, muita comida, e pude ver que na terra da Rainha existem coisas que podem deixar marmanjos suspirando eheheh. Um problema foi instaurado: como fomos a primeira equipe a ser apresentada as próximas teriam que ser melhores do que nós... e foi assim, que depois do trabalho d eingl~es nós conseguimos fazer de todos os trabalhos do bacharelado verdadeiros espetáculos, sobretudo usando da gastronomia pra encantar o público, que só ia crescendo, até chegar a um ponto que só podíamos apresentar os trabalhos no auditório grande da faculdade.
Uma pena que na época, devido a correria pra chegar a tempo e montar a mesa, esquecemos a maquina fotográfica. E ficamos sem recordação daquele dia, que ficará gravado apenas na memória. Uma pena, mas acontece – nas melhores famílias de Londres eheheh.
Dentre os muitos pratos que eu fiz naquele dia, um em especial o pudim de Yorkshire, que ainda faço, vez por outra, e que quando estou preparando lembro daquela situação na faculdade com um prazer inigualável de mostrar competência e ser no que faço.engraçado era ver a reação dos comensais quando mordiam o pudim; todos esperavam um doce... E a curiosidade aguçava ao perceberem que aquele pudim era salgado... Ri muito, e tive que passar horas, semanas depois explicando como eu aprendi a cozinhar aquelas comidas.
Devo confessar que o sucesso do trabalho se deve, em parte, ao Governo Inglês, que através da Embaixada Britânica, me enviou uma gama enorme de material por onde eu pude divagar nas pesquisas. Foi justamente lendo que eu descobri a importância cultural do Pudim de Yorkshire para os súditos da Rainha.
Pudim de Yorkshire é um prato salgado criado na região de Yorkshire, Inglaterra. Ele é feito com uma mistura de ovos, leite e farinha de trigo e é geralmente servido com carne assada ou frango com molho. Embora originando em Yorkshire eles são popular em todo o país, e já famosos pelo mundo. Na Inglaterra são raros os lugares que não servem o legendário pudim de Yorkshire “tradição britânica na mesa de domingo”.
Feito para enganar o estômago em tempos de escassez. O pudim de Yorkshire é uma espécie de bolinho de massa assada para aproveitar a gordura e o molho do rosbife. O pudim era assado embaixo da grelha onde estava a carne, para absorver o sumo que dali pingava. Geralmente consumido antes do rosbife, para encher o estômago e saciar a fome antes do prato de carne.
A origem do pudim Yorkshire é, ainda, desconhecida. Não há desenhos rupestres, hieróglifos e até agora, ninguém desenterrou um prato de pudim Yorkshire antigo enterrado sob as ruas de York. Os pudins podem ter sido trazidos para estas terras por qualquer um dos exércitos invasores através dos séculos, mas, infelizmente, qualquer evidência de isso ainda tem que ser descoberta.
A primeira receita já registrada aparece no livro, The Whole Duty of a Woman, em 1737 e listado como A Pudding Dripping (Pudim de gotejamento) - o gotejamento proveniente de carne assada no espeto.
Pudding Dripping - 'Make a good batter as for pancakes; put in a hot toss-pan over the fire with a bit of butter to fry the bottom a little then put the pan and butter under a shoulder of mutton, instead of a dripping pan, keeping frequently shaking it by the handle and it will be light and savoury, and fit to take up when your mutton is enough; then turn it in a dish and serve it hot.'
A próxima receita registrada fez do pudim com vísceras, uma iguaria local se tornar o prato favorito de uma nação após a publicação no The Art of Cookery Made Plain and Easy (A arte da culinária Feitos Simples e fáceis) por Hannah Glasse, em 1747.
Take a quart of milk, four eggs, and a little salt, make it up into a thick batter with flour, like a pancake batter. You must have a good piece of meat at the fire, take a stew-pan and put some dripping in, set it on the fire, when it boils, pour in your pudding, let it bake on the fire till you think it is high enough, then turn a plate upside-down in the dripping-pan, that the dripping may not be blacked; set your stew-pan on it under your meat, and let the dripping drop on the pudding, and the heat of the fire come to it, to make it of a fine brown. When your meat is done and set to table, drain all the fat from your pudding, and set it on the fire again to dry a little; then slide it as dry as you can into a dish, melt some butter, and pour into a cup, and set in the middle of the pudding. It is an exceeding good pudding, the gravy of the meat eats well with it.
Glasse foi um dos escritores de gastronomia mais famosos de sua época, pela popularidade de seu livro espalhou o termo pudim de Yorkshire, dizendo que “tratava-se de um pudim muito bom para ser comido com molho de carne ". Deve-se a Hannah Glasses a fama que o pudim ganhou dali por diante.
Outra referencia famosa sobre o pudim de Yorkshire encontra-se numa das obras da escritora Agatha Christie:
Outra referencia famosa sobre o pudim de Yorkshire encontra-se numa das obras da escritora Agatha Christie:
– I say, that fat’s corking hot. What are you going to put in it?
– Yorkshire pudding.
– Good old Yorkshire. Roast beef of old England, is that the menu for today?
Mas já chega de literatura, o negócio é por a mão na massa e preparar o pudim para o almoço – ou para o jantar.
Pudim de Yorkshire
125 gramas de farinha de trigo
1/4 colher de chá de sal
1/4 colher de chá de fermento em pó
2 unidades de ovo (grandes)
275 ml de leite
1 colher de sopa de manteiga derretida
24 colheres de chá de óleo (para as formas)
Preparo: Junte todos os ingredientes em uma tigela e bata até obter uma massa homogênea. Transfira para outro recipiente e deixe descansar por 2 horas. Pre-aqueça o forno a 200°C. Coloque aproximadamente duas colheres de chá de óleo em cada uma das 12 forminhas. Arranje-as na assadeira e coloque-as no forno para esquentar o óleo. Retire a assadeira do forno. Distribua a massa pelas forminhas, enchendo-as até a metade. devolva ao forno e asse por 25 - 30 minutos ou até que os pudins fiquem estufados e dourados. Retire das forminhas e sirva imediatamente. Acompanhe com carne assada e molho.
Adorei o blog. Fui procurar a receita porque vi o Jamie Oliver fazendo. Achei a receita e a história por trás dela. Parabéns. Receita qualquer um pode postareceber, alguns podem fazer mas se deliciar com a história do prato só aqueles que gostam e sabem comer bem.
ResponderExcluirMuito bom! É ótimo saber a história do prato e sua experiência com o prato também. Fui procurar essa receita após vê-la em meu livro de técnicas culinárias da Le Cordon Bleu e ficar curiosa sobre o preparo. No fim, achei muito mais do que procurava. Obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirObrigado por compartilhar.
ResponderExcluirMuito bom
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