Tem vezes que a gente
precisa sair da realidade. Nestes momentos ter uma válvula de escape é muito
importante. As mídias especializadas em saúde e qualidade de vida nos trazem
atualmente informações que não são lá muito animadoras como, por exemplo,
afirmam que as relações pessoais estão cada vez mais “informatizadas” – o que
seria um prejuízo imenso pra saúde; e, que a depressão já é um mal do século.
Pensando nestes
assuntos e na minha atual condição (minha crise renal ainda me atormentando)
tenho ido ao hospital e vejo a
quantidade de gente precisando de ajuda, de uma palavra. Nessas horas é melhor
não levar a vida tão a serio, ter paciência e não desistir. Mas, pensando bem,
dar uma de louco pode ser uma solução – pra ver se o tempo muda e a vida fica
melhor.
Pra isso, resolvi
surtar um pouco (risos – como se eu não fizesse isso bastante), e tentar
escrever algo igualmente doido (Eu amo ser louco), porém lúcido e, que isso
fosse expresso, de alguma forma, por alguma veia da possibilidade que a
gastronomia me permite.
Então, pensei em dar
uma relida em O Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã, publicado em 1511,
para ver o que eu poderia extrair.
O ensaio O Elogio da
Loucura é repleto de alusões clássicas, escritas no estilo típico dos
humanistas do Renascimento. A Loucura se compara a um dos deuses, filha de
Plutão e Frescura, educada pela Inebriação e Ignorância, cujos companheiros
fiéis incluem Philautia (amor-próprio), Kolakia (elogios), Lethe
(esquecimento), Misoponia (preguiça), Hedone (prazer), Anoia (Loucura), Tryphe
(falta de vontade), Komos (destempero) e Eegretos Hypnos (sono morto). O Elogio
da Loucura conheceu um enorme êxito popular, para surpresa de Erasmo e, também,
para seu desgosto. O Papa Leão X achou a obra divertida. Antes da morte de
Erasmo já havia sido traduzida para o francês e alemão. Uma edição de 1511 foi
ilustrada com gravuras em madeira de Hans Holbein, que se tornaram as
ilustrações da obra mais difundidas. A obra influenciou a essência da retórica
durante o século XVI, e a arte da adoxografia (o elogio imerecido de pessoas ou
coisas sem valor, vulgares) e se converteu em um exercício popular entre os
estudantes isabelinos.
O fato é que eu não
fiquei inspirado. Daí, fui buscar uma coisa mais divertida, menos densa – na
realidade estava em busca de um livro com conteúdo meio louco, mas que a
maioria das pessoas tivesse noção da sua história. E achei! E vou começar a
divagar por ele.
Os diálogos apresentados
abaixo estão presentes no livro mais citado da literatura universal depois da
Bíblia (pra mim um dos melhores, inclusive), “Alice no País das Maravilhas”, de
Lewis Carroll , onde as relações sociais e a força de vontade fazem toda a
diferença ao longo do texto. Muitos o compreendem como um conto de fadas
moderninho, surreal, onde a imaginação fértil do autor é bem explorada nas
personagens. Eu acho a obra uma verdadeira obra de filosofia, escrita para
crianças e também para adultos – e que conseguiu materializar o fascínio pelo o
impossível numa realidade que pode sim ser vivida por qualquer um, a qualquer
tempo. Basta ficar a tento e abrir bem os olhos.
"Mas eu não
quero me encontrar com gente louca", Observou Alice.
" Você não pode
evitar isso", replicou o gato.
"Todos nós aqui
somos loucos. Eu sou louco, você é louca".
"Como você sabe
que eu sou louca?" indagou Alice.
"Deve ser",
disse o gato, "Ou não estaria aqui".
Alice: Chapeleiro,
você me acha louca?
Chapeleiro: Louca,
louquinha ! Mas vou te contar um segredo: as melhores pessoas são .
Suponho que saiba o
que 'isso' significa. — disse o Camundongo.
Sei muito bem o que
'isso' significa quando eu acho uma coisa. — disse o Pato.
Alice retrucou,
bastante timidamente: "Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente
momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho
que tenho mudado muitas vezes desde então."
Deixe-me pensar: eu
era a mesma quando me levantei essa manhã? Tenho uma ligeira lembrança de que
me senti um bocadinho diferente. Mas, se não sou a mesma, a próxima pergunta é:
Afinal de contas quem eu sou? Ah, este é o grande enigma!
Não bastasse o livro
oportunizar a entrada numa realidade paralela, cheia de exoticidade, outro
ponto nessa loucura escrita é que existem ali muitas referencias gastronômicas.
E isso me atrai ainda mais. Relembremos alguns desses fatos:
A (tadinha) da Alice, tão logo caiu no poço,
passou por vidro de geleia de laranja vazio; e, quando chegou ao chão,
encontrou sobre a mesa uma garrafa com rótulo “Beba-me”. Bebeu. O líquido tinha
um sabor que de acordo com ela, era “uma mistura de torta de cereja, creme de
leite, suco de abacaxi, peru assado, doce puxa-puxa e torradas quentes com
manteiga”. Acontece que a tal bebida foi um problema: mesmo saborosa, a fez ir
encolhendo até ficar “com uns vinte e cinco centímetros”.
Junto à garrafa, na
mesma mesa, havia um bolo com a indicação “Coma-me”. Comeu. E aconteceu o
contrário, foi crescendo, crescendo, tanto “que quase perdeu os pés de vista”.
A conclusão, para ela, era simples: “Sei que alguma coisa interessante vai
acontecer cada vez que eu beber ou comer qualquer coisa”. .
E assim fez, degustando até “seixos que se transformavam em bolos espalhados pelo chão” e “cogumelo que tinha uma lagarta sentada”
Em outra passagem,
quando Alice vai à casa da Duquesa, vê a cozinha “cheia de fumaça de um lado a
outro. A cozinheira estava inclinada sobre o fogão, mexendo um caldeirão enorme
que parecia cheio de sopa”.
Alice pensou: “Tem pimenta demais naquela sopa”
porque “pelo menos no ar havia muita pimenta”. Isso fazia com que todos
espirrassem sem parar, “menos a cozinheira e um gato enorme, sentado junto ao
forno”. Após o que vai dizendo frases filosóficas, como “A pimenta torna as
pessoas belicosas; vinagre as torna acres, camomila as torna amargas e o açúcar
e coisas parecidas tornam as crianças doces e suaves”; concluindo “Gostaria que
as pessoas grandes soubessem disso: não seriam tão sovinas com doces e coisas
assim”.
Outra sopa aparece
num instigante diálogo, que será entendido de um jeito por crianças; e de
outro, por adultos.
Rainha: – “Você já
viu a Falsa Tartaruga?
Alice: – “Não. Nem
sei o que é uma Falsa Tartaruga”
Rainha: – “É aquilo
de que se faz a falsa sopa de tartaruga”.
Um diálogo
surrealista, até porque a sopa, na realidade, era feita com carne de vitela: “Que
bela sopa, de osso ou aveia, a ferver na panela cheia”!
Depois, “a Rainha de
Copas fez umas tortas. “E, certo dia de verão, o Valete de Copas roubou as
tortas”. Então organizaram um tribunal para julgar o Valete. O juiz era o
próprio Rei de Copas. “No meio do tribunal havia uma mesa, com uma grande
travessa cheia de tortas”. E tão apetitosas eram que Alice, morrendo de fome,
pensou: “Quem me dera que esse julgamento acabasse logo e eles distribuíssem o
lanche”. Faltando lembrar o chá na casa do Chapeleiro Maluco, com seus
convidados – a Lebre de Março e um sonolento Leirão (tipo de roedor europeu) –
que tomavam chá “diante da casa, sob uma árvore”. Havia, naquele lugar, “uma
mesa posta – com chá, torradas e a melhor manteiga que tinha”. E por aí vai.
Agora, caros amigos,
peço-vos que quando tiverem um tempinho, leiam o livro. Releiam-no se for o
caso, mas abra os olhos para o que está nas entrelinhas dos diálogos
construídos por Lewis Carroll. Ou se preferir faça como eu: - “Dê uma de
Alice”. Saia um pouco da sua realidade, deixe o impossível acontecer.
Para ajudar, uns
delírios etílicos, que viram sem fotos dos mesmos – só para que caiam na
brincadeira...
O
Coelho Branco
ingredientes
1 parte de licor de baunilha (Schnapps)
2 partes de creme de leite
Preparo: Adicione o licor de
um copo alto e despeje o creme de leite.
O gato
de Cheshire
ingredientes
1 parte de rum temperado (Captain Morgan ou
Sailor Jerry)
1 parte de pêssego Schnapps
1 parte de suco de laranja
Preparo:
Misture
todos os ingredientes em um copo com gelo.
O
Chapeleiro Maluco
ingredientes
1 parte de vodka
1 parte de licor de pêssego Schnapps
1 parte de limonada
1 parte de coca-cola
Preparo:
misture
no shaker a vodka, o licor, a limonada, em seguida, despeje sobre o gelo e
adicione e complete com a coca cola.
Alice
(não alcoólica)
ingredientes
1 parte de grenadine
1 parte de suco de laranja
2 partes de suco de abacaxi
4 partes de creme
Preparo:
Misture
todos os ingredientes em um copo.
A
Rainha de Copas
ingredientes
1 parte de licor amaretto amêndoa
1 parte de licor de melão Midori
2 partes Blue Curacao licor
2 partes de suco de cranberry
Preparo:
Combine
o Midori com o amaretto em um copo, em seguida, adicionar o Curaçao azul e suco
de cranberry.
Alice
Através do Espelho
ingredientes
2 partes de absinto
1 parte de vodka de baunilha
1 parte de água
cubo de açúcar
Preparo:
Combine
o absinto e vodka em um copo de absinto. Depositar uma colher de absinto e cubo
de açúcar no topo do vidro e lentamente verter água sobre o açúcar,
dissolvendo-o no vidro. Mexa delicadamente e beber com cuidado!
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