Quem já provou os
bolinhos conhecidos por mãe-benta sabe que eles viciam. Embora estes bolinhos
estejam sendo esquecidos ao longo dos anos, eles são fáceis de fazer,
deliciosos e podem ser resgatados do ostracismo nas suas aventuras culinárias.
Por isso, hoje o post desta confraria é dedicado a este bolinho peculiar, que sempre
rende boas histórias, a começar pela origem do preparado.
Tantas vezes o padre
Diogo Antônio Feijó, ministro da Justiça de 1831 a 1832 e regente do Império
Brasileiro entre 1835 e 1837, era visto na Rua das Violas, hoje Teófilo Ottoni,
no centro do Rio de Janeiro, indo para a casa do cônego Geraldo Leite Bastos,
seu amigo pessoal, de vida religiosa, correligionários e irmão de Maçonaria.
Nessas visitas, além de trocarem ideias políticas, bebiam café passado no
coador, limonada bastante açucarada e se deleitavam com mãe-benta. As línguas
maldosas diziam sempre que a gula era o pretexto para esses encontros.
Esses bolinhos, cuja
receita é patrimônio da doçaria carioca, são pouco produzidos hoje, mas naquela
época era uma espacialidade de Dona Benta Maria da Conceição Torres, mãe do
cônego Bastos, e se tornou famosa ao ponto que o bolinho ganhou o nome de
mãe-benta.
Padre Feijó |
Uma receita simples a
base de farinha de arroz, leite de coco ou coco ralado, manteiga, ovos e
açúcar, o doce foi apelidado pelo cônego de Mãe-benta. No entanto, apesar dos
registros afirmarem que foi a mãe do cônego que inventou a receita, ela na
verdade pode ter feito uma variação de algum bolo já existente, variando
ingredientes até porque no Brasil colonial e imperial existiam outros docinhos
com o mesmo nome e ingrediente semelhantes, também vendidos em tabuleiros, mas
ninguém superava a especialidade preparada pela mãe do cônego.
Nem mesmo as freiras do Convento da Ajuda, primeiro mosteiro carioca para mulheres, construído ainda no século 18. As freiras daquele convento eram confeiteiras renomadas e, apesar de garantirem que seguiam a mesma receita, o povo achava muito diferente. O Convento da Ajuda era conhecido por preparar doces elogiadíssimos, antes do aparecimento de confeiteiros na cidade do Rio de janeiro.
Nem mesmo as freiras do Convento da Ajuda, primeiro mosteiro carioca para mulheres, construído ainda no século 18. As freiras daquele convento eram confeiteiras renomadas e, apesar de garantirem que seguiam a mesma receita, o povo achava muito diferente. O Convento da Ajuda era conhecido por preparar doces elogiadíssimos, antes do aparecimento de confeiteiros na cidade do Rio de janeiro.
"Não tinham
aparecido o Canceller, o Guimarães, o Francioni, O Neves do lardo do Capim, a
viúva Castagner do Braço de Ouro (Rua do Ourives), o Castelões, o Deroche, o Camarinha,
o Justina da Rua da Cadeia etc." (Manuel Bandeira e Carlos Drummond de
Andrade, Coleção Rio Quatro Séculos, v.5. Livraria José Olympio, Rio de
Janeiro, 1965). "Nos copos d'água (merendas oferecidas aos amigos), doces
que não viessem da Ajuda não tinham valor algum".
Assim, os deliciosos
mães-bentas disputavam a preferência dos comensais com o bom-bocado, suspiro,
canudo desfolhado, filós, baba de moça e pastel de santa clara. E por muito
tempo sempre foi o mais prestigiado.
Convento da Ajuda no Rio de Janeiro, hoje demolido. |
As negras escravas vendiam
sob as ordens das sinhás, cantando: " Mãe-benta, me fia um bolo? / Não
posso senhor tenente/ os bolos são de iaiá/ Não se fia a toda gente".
Apesar do nome, nada
tem a ver com o doce conhecido como Nhá Benta, popularizado pela indústria
paulistana Kopenhagen, lançado em 1950 como o nome inicial de Pão de açúcar,
sendo este um combinado de wafer, chocolate, marshmallow e açúcar.
Os bolinhos mãe-benta
no entanto, são feitos com dois ingredientes conhecidos a bastante tempo pelos
brasileiros: o leite de coco e a farinha de arroz - o arroz é cultivado no
Brasil desde 1584, na Bahia, e desde 1745, no Maranhão. Mas somente em 1766
Portugal autorizou a instalação da primeira descascadora de arroz, no Rio de
Janeiro. E só a partir deste perigoso começou-se a introduzir receitas com
arroz, dentre as mais populares está o arroz doce ou arroz de leite.
Mãe-benta acabou
conquistando muitos fãs nacionais e internacionais: o presidente da república
francesa Paul Doumer e o historiador italiano Guglielmo Ferrero, que o
conheceram o início do século 20 ficaram encantados com o sabor. Mas, garanto
que eles podem te conquistar também, veja como é fácil e se aventure na cozinha
para preparar estas delícias.
12 gemas
2 claras
2 e 3/4 de xícara de chá de açúcar
2 e 3/4 de xícara de chá de manteiga
2 e 1/2 de xícara de chá de farinha de arroz
1 xícara de chá de leite de coco
Manteiga para untar
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