quinta-feira, 8 de maio de 2025

A Pasta do Conclave e o outras Curiosidades Gastronômicas desse evento envolto em Mistérios

 

Um conclave está sempre envolto em mistérios e tramas. Muita informação é produzida dentro dos muros vaticanos antes, durante e depois da eleição do novo Papa. E, obviamente, o campo gastronômico não fica de fora dessa questão.

O conclave que elegerá o 267º Papa começou oficialmente: após a Missa pro eligendo Romano Pontifice na Basílica de São Pedro pela manhã (com a presença de mais de 5.000 pessoas), no dia 7 de maio, às 16h30, os 133 cardeais eleitores se reuniram na Capela Sistina.

E tudo começa com uma liturgia centenária: como sempre, o conclave acontece no dia seguinte à anulação do anel do Pescador e do selo papal, e abre com o "Extra Omnes" (desta vez pronunciado por Monsenhor Diego Giovanni Ravelli, Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias). Então os cardeais começam a votar e uma primeira fumaça — provavelmente preta — é esperada já no primeiro dia. Só os sinais de fumaça nos darão uma ideia do que acontecerá na Capela Sistina: o conclave é secreto. A própria palavra já diz: vem do latim,"com chaves", serve para indicar que os cardeais ficarão num "quarto trancado", neste caso, a belíssima Capela Sistina. O termo conclave foi usado pela primeira vez pelo Papa Honório III.

Especialmente pelo sigilo que envolve o evento, sabe-se muito pouco sobre o que acontece no conclave, mas há algumas curiosidades gastronômicas e enológicas que podem ao menos nos dar uma ideia do que ocorre nos bastidores do encontro mais secreto do mundo.


O que os cardeais comem no conclave?

A dieta dos cardeais no conclave segue um padrão muito preciso: um café da manhã leve, geralmente com pão e geleia, um almoço completo - com primeiros pratos como risoto e macarrão, carne branca, peixe, vegetais e frutas - e um jantar frugal. Sobremesa só é permitida aos domingos e geralmente é um bolo comum ou outra preparação simples, como pudim. Em suma, uma alimentação saudável e equilibrada, com as devidas limitações para os alérgicos e os (muitos) cardeais que sofrem de diabetes, pressão alta ou outras doenças típicas dos idosos.

Quem "criou" o menu do conclave?

Esse esquema remonta a 1300, quando Clemente VI deu regras muito precisas também sobre as refeições dos cardeais eleitores: três pratos, dos quais um era sopa, carne, peixe ou ovos e, finalmente, queijo ou fruta.

                                                Clemente VI

Que Papa colocou os cardeais do conclave em restrição alimentar para que o resultado do conclave saísse logo?

As regras de Clemente VI tornaram-se necessárias após as restrições impostas por Gregório X, eleito após o mais longo conclave da história (três anos inteiros). Para tornar a estadia dos cardeais menos agradável, ele pensou em obrigá-los a comer pão e água se não elegessem um novo papa em 8 dias.

                                                     Gregório X

Como que é a massa servida no conclave?

A pasta del conclave é mais uma lenda do que uma receita, que pode remontar às restrições impostas por Gregório X: uma massa simples, com manteiga e parmesão. Simboliza a sobriedade à qual os cardeais estão vinculados e a arte de se virar numa situação como a do claustro, em que é preciso cozinhar com poucos ingredientes disponíveis.

Qual foi o conclave mais saboroso?

O conclave em que Júlio III foi eleito, de novembro de 1549 a fevereiro de 1450, também é famoso por ter sido decididamente gourmet. Na época, o cozinheiro era Bartolomeo Scappi, o chef mais famoso do Renascimento (e sem dúvida o primeiro chef mais famoso do mundo), serviu aos Papas Pio IV e Pio V. Seu livro de 1570, Opera dell’Arte del Cucinare – o primeiro livro de receitas publicado por um chef profissional – o catapultou para a fama. Em seu livro, ele conta que os pratos preparados na cozinha para os cardeais eram rigorosamente verificados pelos guardas antes de serem colocados em uma espécie de roda giratória, com uma ordem estabelecida por sorteio. Pelo mesmo motivo, pratos que pudessem conter uma mensagem secreta, como bolos e frangos inteiros ou raviólis recheados, eram proibidos. Até o vinho e a água tinham que ser servidos em copos transparentes (como acontece até hoje). Portanto, parece que o ditado “confiar é bom, não confiar é melhor” era tão verdadeiro naquela época quanto é agora. Em seu livro, Scappi fala sobre refeições elaboradas e fartas, mesmo que sempre extremamente "supervisionadas".


Quem cozinha para os cardeais do Conclave?

Os cardeais eleitores sempre comerão em Santa Marta (Domus Sanctae Marthae), a residência do Papa Francisco, que agora hospeda a maioria dos cardeais do conclave. A preparação das refeições é supervisionada pelas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, que foram chamadas para administrar a Domus Sanctae Marthae, a moderna residência hoteleira onde a maioria dos 133 cardeais (não todos, pois há 105 suítes e 26 quartos individuais) viverão durante o conclave. Elas terão auxílio de pessoal especializado.

                             A Casa Santa Marta fica logo atrás da Basílica de São Pedro, no Vaticano

Porque não é possível saber exatamente quem cozinha para os cardeais?

Nada mais se sabe sobre os detalhes dos menus diários ou sobre o chef - se houver algum famoso (embora duvide, depois dos ensinamentos de Francesco) - que ficará encarregado de cozinhar diariamente. Assim como os cardeais, os funcionários de restaurantes também devem fazer um juramento de sigilo. Afinal, as refeições estão entre os momentos mais delicados de um conclave.

Por que as refeições dos cardeais eleitores do conclave devem ser silenciosas (e supervisionadas)?

Afinal, as refeições estão entre os poucos momentos que os cardeais eleitores podem passar juntos fora da Capela Sistina e, portanto, são potencialmente os mais arriscados, já que, ao falarem entre si, podem violar seu juramento de sigilo ao planejar estratégias de votação. Por esse motivo, as refeições são servidas em silêncio e o refeitório é um dos locais mais vigiados. Scappi, por exemplo, também conta em seu livro que, antes de serem colocados na cornuta (a cesta onde era colocado o almoço de cada cardeal), todos os pratos eram verificados para garantir que não continham mensagens ocultas. Além disso, durante séculos, até copos e guardanapos foram verificados pelo mesmo motivo.

Vinho no conclave: quais são as regras?

Os cardeais podem tomar um pouco de vinho, mas bebidas destiladas são excluídas. Uma regra que algumas pessoas aparentemente violaram no passado ao carregá-los na mala. Parece que os cardeais gostam muito de conhaque, e que alguns até o beberam na companhia do papa eleito. 

Assim, por mais de 750 anos, regras rígidas protegeram o que os cardeais podiam ou não comer, para evitar mensagens ocultas não apenas na comida, mas também nos guardanapos (uma espécie de pizzini ante litteram). Embora a comida historicamente sempre tenha representado um risco potencial, comer na cantina continua sendo um dos contextos em que as negociações entre cardeais podem ocorrer.

Basta pensar no filme lançado em 2024, Conclave, onde quase todos os diálogos não acontecem nas salas eleitorais, mas sim no refeitório. As refeições barulhentas contrastam com o conclave em si, que é quase completamente silencioso. No entanto, mesmo em torno do silêncio cerimonial, ocorre muita comunicação, grande parte da qual ocorre com e por meio da comida.

Mas o filme tem licença poética criativa e, mesmo, que se possa presumir que o ele não represente com precisão o que acontece a portas fechadas, é indubitavelmente verdade que na cultura gastronômica papal — assim como na cultura em geral — o que você come, como você come e com quem você come diz muito.

O código de sigilo do conclave remonta a 1274, quando o Papa Gregório X estabeleceu as regras que ainda hoje, em parte, ditam como as eleições papais são conduzidas. Além do protocolo rigoroso e das restrições alimentares, as refeições que o “chef” Scappi descreve mais tarde em seu livro parecem substanciosas e equilibradas, e incluem salada, frutas, frios, vinho e água fresca. Da mesma forma, Scappi também fala sobre as acomodações confortáveis para os cardeais. Cada um tinha sua própria cela grande, decorada com seda e mobiliada com bom gosto, com uma cama, uma mesa, um cabideiro, dois bancos, um penico e um jarro trancado, entre outros itens. Segundo Scappi, servir em um conclave papal renascentista não era um trabalho desagradável, desde que não se preocupasse com a vigilância constante, que instilava certo medo.

As regras do falecido Papa Gregório X incluíam o isolamento do conclave — uma regra ainda em vigor hoje — e o racionamento de comida para os cardeais. Após três dias sem consentimento, os cardeais recebiam apenas uma refeição por dia; depois de oito dias, apenas pão e água. Ou seja: mexa-se.

Em meados de 1300, essas regras foram relaxadas por Clemente VI, que permitiu refeições de três pratos consistindo de sopa; um prato principal à base de peixe, carne ou ovos; e uma sobremesa, que pode incluir queijo ou fruta. Embora o racionamento não tenha durado, ainda há um controle rigoroso sobre os conclaves hoje, tanto à mesa quanto em espaços compartilhados dentro dos muros do Vaticano.

Voltando aos dias de hoje, a comida dos cardeais, como previsto, continuará frugal e preparada de acordo com um protocolo rigoroso e sob supervisão rigorosa. A Igreja Católica moderna – especialmente sob a liderança do Papa Francisco – espera comunicar uma imagem simples e genuína. As preocupações de que alimentos (frangos inteiros, em particular, como os servidos no filme Conclave) pudessem conter mensagens secretas reais desapareceram. Mas, enquanto o Vaticano está sendo revistado em busca de dispositivos eletrônicos escondidos em preparação para o próximo conclave — algo que se tornou impossível devido ao desligamento de repetidores em toda a área — os cardeais se prepararão pessoalmente para se aventurar por Roma após as eleições, antes de retornar às suas respectivas dioceses, talvez parando em uma das tavernas da cidade e, quem sabe, se perguntando se esta será sua última ceia após a eleição do novo Papa.

 A Pasta del Conclave, cheia de Mistérios, seria uma Prato de Clausura Nascido (Talvez) para Acelerar a Eleição do Papa

 Mais do que uma tradição secular, existe uma lenda nas origens da "pasta del Conclave". Um mito, se não exatamente “uma invenção. Uma receita pobre que desperta curiosidade, mas da qual não há nenhum vestígio entre os documentos oficiais. Poucos ingredientes, quase nenhuma comprovação, apenas hipóteses entre simplicidade, segredo e simbolismo. Mas que nos dias do conclave acaba virando um emblema da gastronomia papal.

A suposta receita da “pasta del Conclave” é tão nobre quanto básica, dados seus apenas três ingredientes: massa longa ou curta — não há especificação sobre o formato — para ser cozida e depois mexida em uma panela com um pouco de manteiga e uma generosa pitada de parmesão. Longe das liturgias, não faltam versões mais saborosas, facilmente replicáveis, que incluem a adição de pimenta-do-reino moída na hora ou revisitadas com pecorino em vez de parmesão.

O certo é dizer que nas origens do prato reina a incerteza: A receita não parece estar de forma alguma formalmente ligada à liturgia do Conclave. Mas, por outro lado, nem mesmo a dieta em si, à qual os cardeais terão de aderir, é regulamentada. Não há dúvida de que se trata de uma receita pobre, cuja simplicidade de ingredientes e de preparo contrasta com pratos mais elaborados e deliciosos, longe da sobriedade. Também se pode levantar a hipótese de que este nome lhe foi dado em referência a um prato de "regime de clausura". Nasce de poucos e pobres ingredientes, tal como quando nos encontramos confinados à força e sem uma despensa bem abastecida para nos servirmos.

No entanto, parece haver alguma hipótese histórica que justificaria a ligação entre a receita e o claustro cardinalício. O prato pode ter se consolidado na tradição no final do século XIII, com a instituição do próprio Conclave — em 1274 — a mando do Papa Gregório X. Eleito após quase três anos de consultas, o pontífice — na constituição apostólica Ubi Periculum — ditou regras rígidas para acelerar o processo eleitoral, usando a comida como ferramenta de pressão. Em particular, o racionamento progressivo das refeições a serem servidas aos cardeais: de três por dia para apenas uma, se o escrutínio durasse mais de três dias, até apenas água, pão e vinho se o conclave durasse mais de oito dias. Mesmo em caso de desacordo, teria sido a fome que teria levado os cardeais a um acordo sobre o nome do pontífice em pouco tempo. E nesse sentido, após três dias de análise, a substancial "massa do Conclave" teria sido o compromisso certo para servir como única refeição do dia. Mas o segredo que cerca a eleição do pontífice é o mesmo que cerca os livros de receitas do Vaticano.

As Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo preparam refeições a serem servidas aos cardeais durante o período de clausura, de acordo com rigorosos ditames. Um cardápio marcado pela sobriedade e leveza para não forçar a digestão dos cardeais, mas acima de tudo uma alimentação nutritiva para auxiliar a concentração. Receitas inspiradas na tradição gastronômica italiana, propostas em sua versão mais leve. Cereais, carnes brancas, peixes, vegetais e frutas da estação. Tudo preparado dentro do Vaticano, para evitar contaminação.

Qualquer dispositivo eletrônico é proibido, nem mesmo bolos em camadas ou bolo de carne serão servidos aos cardeais: nada que possa conter mensagens secretas em seu interior, sob pena de excomunhão. Uma questão de comida e religião: dois cultos que se entrelaçam e que, no caso da "pasta del Conclave", deram vida a uma tradição romantizada. Mistérios que não excluem, contudo, a possibilidade de que o prato, simbolicamente branco, possa ser o último prato servido às mesas antes do aguardado "Habemus papam".

Logo, a Pasta del Conclave é muito mais que um simples prato de massa in bianco: é uma história, um símbolo de sobriedade e decisão, um sabor que vem de séculos distantes para nos lembrar como, às vezes, até a simplicidade pode ter um peso decisivo. A Receita de Pasta del Conclave é uma preparação essencial, feita apenas com massa, manteiga e parmesão, mas que traz consigo o sabor do tempo e a disciplina da escolha.

Não é apenas uma questão de gosto, mas de memória. Esta massa leva o nome de um episódio histórico emblemático. 



Pasta del Conclave

(Ingredientes para 4 pessoas)

360g de massa a sua escolha.

100 g de manteiga

perguntas de Parmigiano Reggiano

(Se você quiser incrementar, pode colocar um pouco de pimenta do reino moída na hora)

 

Preparo: cozinhe a massa em bastante água quente com sal e, quando estiver cozida, escorra-a e coloque-a em uma tigela com a manteiga. Misture bem, adicione o Parmigiano Reggiano, um pouco da água do cozimento do macarrão ainda quente e misture bem. Depois de obter uma massa cremosa, coloque-a em um prato, polvilhe com pouco de parmesão – e se você quiser burlar a regra, coloque um pouco de pimenta-do-reino moída, e sua Pasta del Conclave estará pronta.

 

 

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