Eis que já estamos em fevereiro... e o tempo vai passando cada vez mais rapidamente – ou, isso é só impressão minha?
Fevereiro no Brasil é mês de folia. O carnaval, geralmente, toma conta dos brasileiros neste mês... dizem que o carnaval é um expressão cultural, cheia de folclores, que no fim das contas só traz à alegria
Eu, particularmente, não gosto de carnaval. Quando era criança, minha avó materna fazia fantasias para meu irmão e eu, e íamos com a nossa empregada a um clube privado onde se realizava os bailes de carnaval para crianças. Eu achava engraçado, mas não me realizava com aquilo... na adolescência tive a oportunidade de conhecer cidades onde o carnaval é um grande evento, mas também nunca me empolguei.
Hoje em dia percebo que o sentido pagão do carnaval me atrai muito mais do que a própria festa. E vem justamente de um símbolo carnavalesco o mote para a postagem de hoje. Irei fala de Momo – alguém aí sabe a que me refiro?
Garanto que, muitos de vocês, devem ter respondido: do rei Momo (risos).
Mas antes de eu me explicar e falar de Momo, eu gostaria de fazer uma observação, que considero importante:
Eu considero carnaval como uma espécie de febre, que deixa o povo meio louco... Já tive muitas provas para esta minha hipótese; já vi muita gente fazendo loucuras por que era carnaval, ou mesmo nas vésperas deste evento.
Calendrier Magique (1896): An Art Nouveau Calendar of Black Magic - For Siegfried Bing written by Austin de Croze and drawn by Manuel Orazi |
O que eu não sabia, naquela época, é que de algum modo tudo fazia um sentido. E quando eu descobri o motivo, eu ri alto... vejam por que:
Fevereiro é o segundo mês do ano, pelo calendário gregoriano. Geralmente tem a duração de 28 dias, a não ser em anos bissextos, em que é adicionado um dia a este mês. Já existiram três dias 30 de Fevereiro na história.
O calendário gregoriano, implantado em 1582, não foi prontamente seguido por todos os países. Em Novembro de 1699, quando a Suécia (em cujo reino se incluía na época a Finlândia) planejou mudar do calendário Juliano para o gregoriano, havia uma diferença de 11 dias entre eles. O planejado seria omitir o dia extra dos anos bissextos entre 1700 e 1740, incluindo-os*. Assim a mudança seria gradual, mas não foi seguida após seu primeiro ano de implantação. Desta forma, 1700 não foi bissexto na Suécia, mas 1704 e 1708 sim, contrariando o plano. Com isto, o calendário sueco ficou um dia à frente do calendário Juliano, mas ainda dez atrás do gregoriano. Assim, em 1711 os suecos resolveram abandonar o sistema, já que o calendário por eles adotado não tinha correspondentes em qualquer outro país, criando uma enorme confusão. Portanto 1712 foi bissexto e ainda incluiu um dia a mais, o 30 de Fevereiro para voltar em sincronia com o calendário Juliano. A mudança sueca para o calendário gregoriano foi finalmente realizada em 1753, com a exclusão de 11 dias, onde 17 de Fevereiro daquele ano foi seguido por 1° de Março.
(*) dependendo da fonte utilizada a regra é outra: entre 1700 e 1711 omitir-se-ia 1 dia por ano. Mas só foi seguido em 1700. A correção em 1712 seria a mesma para voltar ao calendário Juliano. homenagem ao Imperador Júlio César.
Em 1929, a União Soviética introduziu um calendário revolucionário no qual todos os meses tinham 30 dias e os outros 5 ou 6 dias eram feriados não pertencentes a meses. Em 1930 e 1931, houve portanto um 30 de fevereiro, mas em 1932 os meses voltaram ao sistema tradicional.
O nome fevereiro vem do latim Februarius, inspirado em Februus, deus da morte e da purificação na mitologia etrusca. Februarius significa "Mês da purificação" em latim, parece ser uma palavra de origem sabina e o último mês do calendário romano anterior a 450 A. C. relacionado com a palavra "febre".
Februus foi adorado também pelo Etruscos, onde poderia se ter tornado Febris, deus de malária. Em sua honra, existiam as festividades de Februalia. Estes realizavam-se no tempo mais ou menos idêntico como Lupercalia, em honra de Fauno. Por causa desta coincidência, os dois deuses foram pensados frequentemente como sendo a mesma entidade. Que fique claro que não são.
Depois deste breve divagar sobre história e mitologia, dá para compreender melhor o sentido de “febre” que possui o carnaval, sobretudo no Brasil – digo isso, porque em nenhum lugar do mundo o carnaval é tão “febril”.
Para completar a febre do carnaval, existe uma figura muito popular nestas festas, e que representa toda a soberania do evento: O Rei Momo.
Acredito que a maioria de vocês, que estão lendo este texto, já vira este personagem. Logo não creio que seja preciso descrevê-lo. Mas tenho quase que certeza absoluta, que o que vocês não sabem é que a origem deste monarca vem de muitos anos antes do nosso carnaval ser isso que ele é hoje, quando Momo ainda era um deus (acho engraçado, que eu sempre trago a mitologia à tona, porque ela consegue explicar muitas coisas que continuamos fazendo até hoje). Você não leu errado, Momo era um deus.
Na mitologia Greco-romana, Momo (em grego Μωμος, Mômos, "burla", "crítica" ou "zombaria" e em latim Momus) era a personificação do sarcasmo, das burlas e de grande ironia. Era um dos filhos que a deusa Nix, personificação da noite, teve sem um pai (de acordo com Hesíodo, Teogonia, 211ff), ou com Érebo (como conta Cícero, em seu De Natura Deorum, 3.17).
A representação de Momo é semelhante ao bufão. |
A representação de Momo era geralmente de um homem com cara de sarcasmo, usando um gorro com guizos e segurando em uma mão uma máscara e na outra um boneco (que simbolizava a loucura). Era constantemente representado no cortejo de Baco, sempre ao lado de Sileno e Comos, o deus das farras e da dissolução. Conta-se que Momo vivia gargalhando e tirando sarro dos outros deuses, e que este teria sido o principal motivo para ele ter sido expulso do Olimpo, a morada dos deuses.
Um dos episódios mitológicos que envolvem Momo é recordado por Luciano de Samosata (no diálogo ampliado Hermotimus), que diz que Momo foi convidado para avaliar a criação de três deuses, num concurso: Atena, Poseidon e Hefesto. Criticou Atena por ter criado a casa, pois devia ter rodas de ferro em sua base, para que o dono pudesse levá-la assim que viajasse. Zombou do deus do mar por ter criado o Touro com os olhos sob os chifre, quando esses deviam estar no meio, para que ele pudesse ver suas vítimas. Por fim criticou o ferreiro dos deuses por ter fabricado Pandora sem uma porta em seus peitos para que se pudesse ver o que ela mantinha oculto em seu coração. Não bastando isso, ironizou Afrodite, ainda que tudo quanto pudesse dizer dela era que não passava de uma tagarela e que usava sandálias que rangiam no piso do Olimpo. Por fim, teve a audácia de fazer comentários jocosos sobre a infidelidade de Zeus para com Hera. (Filóstrato, Epístolas). Devido a tais fatos, Momo foi exilado do Olimpo, a morada dos deuses, e tornou-se o rei dos loucos, na terra.
Porém, mais tarde, estando Zeus preocupado com o fato de que a Terra oscilava com o peso que a humanidade fazia, permitiu o retorno de Momo ao convívio do Olimpo desde que o ajudasse a descobrir um remédio para tal problema. De forma descontraída e irônica ele sugeriu que Zeus criasse uma mulher, muito bonita, pela quais muitas nações guerreassem e assim se destruíssem. Zeus levou-o a sério e assim nasceu Helena, que levou os gregos à guerra de Tróia.
Sabe-se que antes da era cristã, gregos e romanos incorporaram essa figura mitológica a algumas de suas comemorações, principalmente as que envolviam sexo e bebida. Na Grécia, registros históricos dão conta que os primeiros reis Momos de que se tem notícia desfilavam em festas de orgia por volta dos séculos V ou VI a.C. Geralmente, o escolhido era alguém gordinho e extrovertido - provavelmente vem daí a inspiração para a folia brasileira. Já nas bacanais romanas, os participantes selecionavam um Rei Momo entre os soldados mais belos do exército.
A cerimônia de coroação de Momo como rei vem do tempo da Roma antiga. Para os romanos, Momo era obeso e isso significava fartura e extravagância. Por isso, elegiam o mais belo soldado da tropa romana para ser coroado rei. Como rei Momo, o escolhido podia brincar, comer, beber e fazer o que tivesse vontade durante seu curto reinado. Terminada a festança, ele era levado ao altar do deus Saturno para ser sacrificado. Depois de morto, era velado e enterrado com todas as honrarias de “um chefe de estado”. Se “rei morto, rei posto”, a cada ano era eleito um novo rei Momo.
No século XIX surgia Momo, com aspecto de bufão, sob a forma de um personagem alegre e folião, que substituiu o antigo Rei. Por sua vez, este concedia licença que autorizava a desordem carnavalesca, com bombos, pratos e maracás, parodiando o cerimonial solene do Palácio.
Já no começo do século XX, ficou decidido passar o Rei para carne e osso, sendo consenso que deveria ser alguém alegre, bonachão, bem falante, com cara de glutão, personalidade zombeteira e querida pelo povo, sendo considerado daí o dono do Carnaval.
De acordo com Haroldo Costa, a primeira representação do rei Momo no Brasil data de 1910 e foi encarnada pelo palhaço negro, artista Benjamim de Oliveira (natural de Pará de Minas), na opereta “Cupido no oriente”, de autoria de Benjamim de Oliveira e David Carlos, levada à cena no Circo Spinelli, no Rio de Janeiro.
No desenrolar da peça, Cupido (Eros), deus alado do amor, filho de Vênus, surge no palácio de um sultão e contracena com odaliscas, fidalgos, conselheiros e também com deuses e deusas da mitologia: Momo, Júpiter, Vênus, Saturno, Mercúrio, Baco, Plutão, Eolo, Vulcano, Esculápio, etc. Há registros de que essa peça tenha ficado em cartaz no período de 1910 a 1912. (Costa, Haroldo. 100 anos de carnaval no Brasil. São Paulo: Irmãos Vitale, 2000)
No Brasil, a tradição de eleger um Rei Momo durante o Carnaval apareceu primeiro no Rio de Janeiro, em 1933. Naquele ano, a coroa foi entregue ao jornalista Morais Cardoso, que ocupou o trono até morrer, em 1948. A novidade fez sucesso e hoje várias cidades brasileiras também escolhem seu Momo.
Uma curiosidade positiva do concurso para Rei Momo do Rio de Janeiro: desde 2004, o concurso carioca trouxe uma novidade: para não estimular a obesidade, o prefeito César Maia liberou a exigência de peso mínimo para os candidatos ao posto. Tanto que o vencedor da eleição, o carioca Wagner Monteiro, tem apenas 85 quilos. O concurso agora privilegia outros critérios, como a capacidade de comunicação do candidato, sua irreverência e uma pitada de samba no pé.
No seu reinado, o Rei Momo recebe a chave da cidade, que simbolicamente governa durante o Carnaval. Mas porque no carnaval?
Na antiguidade as grandes festas em homenagem era responsabilidade do poder público. Com a supremacia do cristianismo a partir do século IV de nossa era, várias tradições pagãs foram combatidas. No entanto, a adesão em massa de não-convertidos ao cristianismo, dificultou a repressão completa. A Igreja foi forçada a consentir com a prática de certos costumes pagãos, muitos dos quais, cristianizados para evitar maiores transtornos.
O carnaval acabou sendo permitido, o que serviu como “válvula de escape” diante das exigências impostas aos medievos no período da Quaresma. Assim, com a influência do cristianismo, as festas pagãs, como o carnaval, deixaram de ser promovidas pelos poderes públicos. Quando, na Idade Média, sob a tolerância da Igreja, voltaram com outro nome: carnevale (vocábulo italiano que significa "adeus à carne). Foi a maneira encontrada para aproveitar o máximo dos últimos momentos antes do jejum de 40 dias da Quaresma quando nenhuma manifestação de alegria era permitida.
Na Idade Média, o carnaval passou a ser chamado de “Festa dos Loucos”, pois o folião perdia completamente sua identidade cristã e se apegava aos costumes pagãos. Na “Festa dos Loucos”, tudo passava a ser permitido.
No Brasil da atualidade o carnaval, já virou uma instituição da cultura brasileira – chegou a virar um produto de atração turística para o mundo, e sua conotação, é muitas vezes ligada aos moldes antigos, quando era sinônimo também para uma festa cheia de bebedeira, sensualidade, promiscuidade, sem limites.
Mas no meio de tanta história, de tanta festa, surge um Momo diferente. O que faz parte da gastronomia, também antigo e cheio de aromas que relembram tempos ancestrais. Refiro-me ao Momo da culinária nepalesa.
A culinária Nepalesa é uma mistura com influencias indianas e chinesa. E por estar situado junto ao Himalaia, acaba , ainda criando suas particularidades gastronômicas (como o pouco uso de carne).
Mas a culinária no Nepal tem dois carros chefe: “Dal Bhat” e “Momo”.
Momo é um tipo um dumpling de massa de arroz, com recheio de vegetais, queijo ou frango e pode ser um dumpling ensopado ou frito. Nada mais são do que mini pasteizinhos que vem regado com um molho apimentado, que pode ser ou não, a base de curry.
Kathmandu, capital do Nepal |
Momo ( Chinês simplificado : 馍馍 ; chinês tradicional : 馍馍 ; pinyin : momo; tibetano : མོག་མོག་, Wylie : mog mog; Nepali : म: म;) é um tipo de bolinho de massa nativo do Tibet e Nepal , e também populares nas regiões limítrofes do Butão, Nepal e os estados dos Himalaias da Índia (especialmente Sikkim). É semelhante ao buuz, da Mongólia, e ao jiaozi dos chineses .
No Nepal os momos (ou momo-cha) são um petisco popular. O prato foi trazido para o Nepal pelos comerciantes da comunidade Newar de Kathmandu, que negociam suas mercadorias desde muito tempo. Pode-se encontrar muitos recheios diferentes, tanto a base de carne de búfalo, queijos e os vegetarianos.
Os momos mais tradicionais podem vir recheados com a carne de Yak. |
Nos últimos anos, a popularidade de momo tem aumentado muito - você provavelmente não vai encontrar ninguém em Kathmandu que não gosta de momo ou pelo menos que não tenha ouvido falar sobre eles. Hoje em dia, com a globalização, você pode facilmente encontrar momos com peru, frango, carne de cabra, ou vegetais misturados. Mas a prevalência de Momo vegetariano é uma prova da tradição. (Uma boa, e prática, maneira de fazer Momo é usando a massa para Wonton Wrappers, cuja receita segue também abaixo)
Agora só resta você experimentar este diferente tipo de Momo no carnaval. Vai que, de repente, vira mais um hábito de carnaval.
Momo – uma receita básica e bem original
Para a massa
630 gramas de farinha de trigo
Água o quanto baste (cerca de 150 ml) para que a massa possa ser sovada.
Preparo da massa
Acrescentar água á farinha aos poucos até atinjar uma consistência em que a massa possa ser sovada.Essa massa deve ser sovada por uns 15 a 20 minutos! Cobri-la com um filme plástico e deixar descansar!
Para o recheio(existe uma variedade imensa)
500 gramas de carne moída de porco
metade de um repolho médio cortado em tiras fininhas
uma colher pequena de alho ralado
uma colher pequena de gengibre ralado
metade de uma cebola ralada
1 tomate pequeno picadinho e retirado o excesso de água com um papel toalha
2 colheres e meia grande de sal
1 colher grande de coriander em pó (coentro)
1 colher grande de cumim em pó (cominho)
duas pitadas de turmerick
2 colheres grandes de óleo
Misturar todos os ingredientes muito bem!!
Montagem: Pegar pequenas porções da massa e abrir com um rolo em forma circular deixando a periferia mais fina do que a parte central (para que o recheio possa ser colocado). Polvilhar a mesa de trabalho com farinha para facilitar o trabalho. Colocar o recheio em cada porção aberta e fechar o momo utilizando os dedos indicador e polegar da mão direita como se estivesse puxando as beiradas da massa para cima e torcendo as pontas para fechar o momo. O importante é fechar bem o momo .
Cozinhar na panela à vapor untando -a com óleo para que os momos não grudem . Tempo de cozimento vai depender do tamanho .Cerca de 10 a 15 minutos. E está pronto!! Deve ser comido ainda quente e com molho.
Molho
Cozinhar numa panela:
1 colher grande de gengibre picado
4 dentes de alho bem picados
2 tomates pequenos bem picados
2 colheres chá de sal
2 pitadas de turmerick
2 colheres grandes de pimenta vermelha em pó
2 colher grande de óleo
250 ml de água
Momos tibetanos (Vegetariano)
Para a Massa:
Água (suficiente para dar liga a massa, sem empapar ou seco demais)
Farinha branca:500g
Sal: segundo o gosto
Bicarbonato de Sódio: 1 colher de chá
Para o Recheio
Seitan: 500g
Aipo: um ramo
Folhas de coentro: um ramo
Cebolas: 3 médias
Alho: 3
Gengibre: 1 colher de chá
Preparo: Corte o seitan, a cebola, o alho, o gengibre, o aipo, o coentro. Corte muito fino de modo a obter um recheio. Misture o Bicarbonato o sal com a farinha. Faça uma massa e depois pequenas bolas, que achata sendo mais finas nos bordos e mais grossas no centro. Ponha uma colher do recheio no centro e dobre. Ponha a cozer a vapor durante 15 minutos. Coma quente com um molho picante ou outro ao seu gosto.
Wonton Wrappers
Ingredientes:
1 ovo
¾ de colher de chá de sal
2 xícaras de farinha de trigo
1/3 para ½ de xícara de água, conforme necessário
Farinha extra se necessário
Preparação: Bata levemente o ovo com o sal. Adicione a água. Peneire a farinha em uma tigela grande. Faça um buraco no meio e adicione a mistura de ovos e água. Misture com a farinha. (Adicione mais água do que a receita pede se a massa estiver muito seca). Formar a massa em uma bola e sove por aproximadamente 5 minutos, ou até formar uma massa lisa, maleável. Cubra e deixe descansar por 30 minutos. Coloque a massa sobre uma superfície polvilhada com farinha. Abra com um rolo deixando a massa bem fina, e corte em quadrados de mais ou menos 4cm quadrados. Depois coloque um saco plástico e leve para a geladeira ou freezer até que esteja pronto para uso.
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