A consertada, ou café
consertado, é uma bebida licorosa a base de café, cachaça e especiarias típica
do litoral catarinense brasileiro. É preparada pelos antepassados açorianos que
colonizaram a região que ensinaram o preparo para seus descendentes. O nome vem
do do ato de trabalhar com o café passado, que restava do consumo da família,
que para ser “consertado” era fervido com os demais ingredientes.
Como maneira de
incentivar e resgatar as tradições da região e das famílias que ocuparam e
colonizaram o município de Bombinhas, a prefeitura daquele município
oficializou o reconhecimento da consertada como bebida típica cultural em maio
de 2013.
Bombinhas é um
município de ascendência açoriana, com mais de 14.000 habitantes, que vivem da
pesca, maricultura e do turismo. A lei que oficializa a bebida como típica pode
ser vista na íntegra a seguir:
Projeto de Lei Nº
17/2013
Data: 06/05/2013
Autor: Executivo Municipal
Dispõe sobre a instituição da “Consertada” como bebida
típica cultural do Município de Bombinhas”
PROJETO
DE LEI Nº 017/2013
“Dispõe sobre a instituição da “Consertada” como bebida
típica cultural do Município de Bombinhas”
ANA PAULA DA SILVA, Prefeita Municipal de Bombinhas, Estado
de Santa Catarina, no uso das atribuições conferidas nos termos dos incisos I e
III do art. 64 da Lei Orgânica, faço saber a todos que a Câmara de Vereadores
aprovou e eu sanciono a seguinte Lei;
Art. 1º Fica instituía como bebida típica cultural de
Bombinhas, a “Consertada”.
Art. 2º A “Consertada” é uma bebida típica feita a base de
café, açúcar, cravo, canela, cachaça, gengibre e erva-doce.
Parágrafo único. O nome dá-se em função de ser feita com
café passado, que restava do consumo da família, que para “consertá-lo” fazia
do mesmo um licor com cachaça e especiarias para servir aos visitantes em
momentos de descontração e datas festivas.
Art. 3º A Fundação Municipal de Cultura, manterá banco de
dados acerca da bebida típica “Consertada”, contendo informações a respeito da
mesma, incluindo suas características, além de dados relativos à sua
identificação.
Art. 4º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Bombinhas (SC), 25 de abril de 2013.
ANA PAULA DA SILVA
Prefeita Municipal
MENSAGEM AO PROJETO DE
LEI Nº 017/2013
Submetemos à apreciação e votação dos eminentes Componentes
deste egrégio Poder, o Projeto d Lei nº 17/2013 que institui a “Consertada”
como bebida típica cultural de Bombinhas.
Objetiva o presente, promover a proteção do patrimônio
imaterial do Município, com a cooperação da comunidade bombinense, em
conformidade com o art. 216 da Carta Mãe. O bem imaterial objeto deste
refere-se à identidade e memória do Município de Bombinhas.
Assim, caracterizam-se como bens imateriais as práticas e
domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios, celebrações,
formas de expressão cênicas, comidas e bebidas, em conformidade com a Convenção
da UNESCO para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial.
Ademais, a comunidade bombinense reconhece a “consertada”
como bebida típica do Município, o que legitimamente já integra o patrimônio
cultural, uma vez que a feitura é transmitida de geração em geração, e,
apropriada pela população local.
A “consertada” é uma bebida típica feita à base de café,
açúcar, cravo, canela, cachaça, gengibre e erva-doce, é ideal para as noites
frias e para as rodas de histórias contadas pelos mais sábios em família. A
bebida tornou-se um elemento de identidade do Município, servida principalmente
em época de páscoa.
Para ilustrar os motivos que ensejam segue anexo
conceituação/definição encaminhada pela Fundação Municipal de Cultura.
Por fim, sabedores do acolhimento merecido pela proposta em
análise, contamos com a ratificação do Plenário na forma da merecida aprovação.
ANA PAULA DA SILVA
Prefeita Municipal
Fonte: Veja AQUI
Na elaboração da bebida se utiliza café forte
passado, acrescentado de especiarias (gengibre, canela, cravo e erva doce) com
cachaça. Não há uma receita única ou original, trata-se de preparação familiar
transmitida “de boca em boca”, geralmente de mãe para filha. Um vídeo circula
na internet com a preparação da bebida. Confira:
A consertada ainda pode
ser encontrada no litoral Norte de São Paulo, mais precisamente no município de
São Sebastião. Coincidentemente a geografia é similar com a península de Porto
Belo, onde fica o município de Bombinhas. Em São Sebastião, a Fazenda Santana
datada de 1743, realiza a festa da padroeira no dia 26 de julho, onde há 320
anos a Consertada é servida de graça. O motivo é simples, segundo a tradição
local a bebida é servida para fechar o corpo dos participantes.
A relação de do estado
de Santa Catarina com o café é antiga: A cultura do café inicia na ilha em 1786,
atingindo no século XIX alto volume de produção de café de excelente qualidade,
servindo não só ao consumo local, mas para a exportação para o Rio da Prata e
Europa (Várzea, 1984, p. 225-226).
Na França, o café de
sombreado catarinense ganha o primeiro prêmio nas exposições de produtos
agrícolas. Pereira et al, (1991),
Várzea (1984), Caruso (1989) ressaltam a qualidade e o apreço da comunidade da
Ilha pelo famoso café sombreado.
O café sombreado nasceu
da necessidade de esconder o café na sombra das bananeiras e laranjeiras para
não serem encontrados pela fiscalização, que era feita pelo mar (Pereira et al (1991, p.75). Na época existia
comércio clandestino de café e de farinha de mandioca. E como se tratava de
comércio clandestino, não foi permitida a continuidade da produção, assim
destinado a desaparecer.
No entanto, Caruso
(1989, p. 61) apresenta a seguinte explicação para a origem do café sombreado, explica
que o café queimava com as geadas que davam durante o inverno e que ao serem
plantados embaixo de árvores, ficavam sombreados e protegidos do frio intenso.
A qualidade do pó de
café daquela região é inegável, e sua produção foi descrita por Pereira et al (1991, p. 77): o pó de café era
produzido da seguinte forma: os grãos do café sombreado eram colhidos, secos ao
sol em eiras, descascados em pilões manuais, torrados nos fornos dos engenhos
de farinha, nos tachos de açúcar ou nas chapas dos fogões caseiros e moídos por
pilões manuais.
Outra técnica caseira
típica para o preparo de café é apresentada por Pereira et al (1991, p. 77), trata-se da técnica manezinha de preparar o
café “cabeludo” (muito pouco conhecido pelos atuais morados da região):
ferve-se a água com o pó dentro, depois deixa-se decantar por um instante e
serve-se a gosto e como diz esse autor, fica de forma “integral”, pois, na sua
concepção, utilizando o coador se removia do café determinadas características
da cafeína.
Como a concertada é
preparada com café e cachaça, cabe apresentar que Várzea (1984 p. 206-207)
relata que as aguardentes mais famosas da Ilha eram aquelas produzidas no
Ribeirão da Ilha e na Lagoa da Conceição e Pereira et al (1991, p. 80)
concordando com essa afirmação, lembra ainda que a cachaça do “Seu Chico” era
uma das mais procuradas.
Fonte:
VÁRZEA, V. Santa
Catarina: A Ilha. Florianópolis: IOESC, 1984.
PEREIRA, N. V.; PEREIRA,
F. V. SILVA NETO, W. J. Ribeirão da ilha - vida e retratos: um distrito em
destaque. Florianópolis, Fundação Franklin Cascaes, 1991.
CARUSO, R. C. Franklin
Cascaes: vida e arte, e a colonização açoriana. Florianópolis: 2° edição
revisada. Ed. da UFSC, 1989.
Consertada
1 litro Café forte passado
500 ml Cachaça
100 g Açúcar mascavo
20 g Gengibre
4 uni Cravo
2 uni Canela em pau
Erva doce a gosto (opcional)
Preparo: Levar ao fogo, em uma
panela alta, o açúcar, gengibre, cravo e a canela e deixar a mistura derreter
como se fosse um caramelo, deixando
ficar na cor dourada. Em seguida juntar o café, mexer e deixar dissolver
o caramelo, juntar a cachaça e ferver por dez minutos. Se desejar pode colocar
erva doce e mais açúcar.
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