Ponto de Baiano
Ó SALVE OS SANTOS DA
BAHIA
Ó SALVE A MESA DE
XANGÔ!
JUNTO COM SEU PATUÁ
NÃO HÁ MESA NA BAHIA
QUE NÃO TENHA VATAPÁ!
NÃO HÁ SANTO BEM
SEGURO
QUE NÃO TENHA PATUÁ!
Quando eu comi vatapá
pela primeira vez? Não sei precisar a data. Eu ainda era criança, mas me
recordo o nome da feitora: Fátima do Sarafim – uma amiga de minha Tia Márcia.
Lembro-me dos comentários que só a Fátima fazia um bom vatapá.
Acontece é que o
vatapá da Fátima era o vatapá à cearense, feito com frango, em seu caldo
temperado onde se acrescentava pão dormido amolecido com leite, para dar a
liga, e molho das melhores pimentas para dar aquele "esquenta" no céu da boca.
À medida que o tempo
foi passado, eu conheci o verdadeiro vatapá baiano, exótico e singular. É como
diria Gregório de Matos: “O vatapá é o Brasil em forma de comida”. Ao contrario
do que pensa a maioria das pessoas, o vatapá é legitimamente brasileiro. Tem na
sua composição o reflexo do povo brasileiro, seus ingredientes apresentam
cultivos indígenas e outros trazidos pelos europeus e africanos.
A lista de
ingredientes do vatapá baiano é
diversificada: peixes, pão, fubá, farinha de mandioca, azeite de dendê, leite
de coco, castanha de caju, amendoim, camarão, coco, gengibre, cebola, pimenta,
coentro, etc. Na África o leite de coco não possui o prestígio que usufrui no
Brasil. E apenas em Angola, alguns pratos se aproximam do vatapá, o muambo de
galinha e o quitande de peixe. No entanto a receita foi evoluindo, ganhou
adição de novos componentes e substituiu outros.
O vatapá é um dos recheios do acarajé. |
Muitos ainda sugerem
a origem Yorubá, do vatapá. Mas esta versão foi desmentida por Câmara Cascudo,
grande antropólogo e historiador nordestino, que durante uma viagem à África,
descobriu que ninguém sequer sabia o que significava essa palavra. E mais,
alguns dos alimentos que aqui reconhecemos como africanos, lá são reconhecidos
como brasileiros. Assim é com o Vatapá, que o antropólogo afirma ser de origem
Tupi. Porém não se encontrou o significado tupi para o vatapá.
Brasil sempre
conquista os turistas com alguma particularidade, e nossas iguarias já levaram
ilustres personagens ao deleite – quiçá ao pecado da gula. Foi justamente o
vatapá a iguaria que agradou um dos maiores gênios da humanidade: Einstein.
Manchete de matéria
no O Jornal - 12 de maio de 1925.
Extraída de: MOREIRA,
I.C. e VIDEIRA, A.A.P.(Org.) Einstein e o Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
1995.
Einstein comeu,
ontem, vatapá com pimenta. A manchete é de O Jornal de 12 de maio de 1925.
Albert Einstein estava no Brasil, e em meio a maratonas sem fim de homenagens,
passeios e conferências – que ele achava um tanto chatas, diga-se de passagem.
Num almoço, resolveram oferecer vatapá ao alemão. Com um aviso: “Cuidado com a
pimenta”. Einstein, porém, não mediu a mão com o tempero. Queimou a língua e
começou a suar. Educado, disse que apreciou o quitute, enquanto comia salada de
folhas para aliviar o calor. Anotou em seu diário de viagem: “Visita ao
manicômio, cujo diretor é mulato e uma pessoa especialmente virtuosa. Com ele,
almoço brasileiro com muita pimenta”.
E se você ficou com
água na boca, querendo sentir a pimenta
do vatapá queimando sua língua também, aqui
deixo duas receitas "simples" de vatapá baiano e uma de vatapá
cearense.
Vatapá
baiano
02-colheres de sopa de óleo de girassol
01-cebola grande picada
02-dentes de alho amassados
01-pimentão verde picado
01-tomate sem sementes picado
1/2kg-camarões salgados e escaldados para
tirar o excesso de sal
sal a gosto (se precisar)
01-maço de cheiro-verde completo picado
01-garrafa média de leite de coco
azeite de dendê e pimenta-murupi a gosto
Preparo Coloque o pão de
molho com água suficiente para cobri-lo. Deixe descansar o tempo suficiente
somente para amolecer. Esprema bem o pão e amasse-o com as mãos, ou passe-o no
liquidificador, ligeiramente. Reserve. Em uma panela grande, coloque o óleo e
deixe aquecer. Junte a cebola, o alho e refogue rapidamente. Junte os tomates e
os pimentões. Tempere com pimenta e junte cheiro-verde. Mexa bem por alguns
minutos. Junte a massa de pão e misture. Acrescente o leite de coco, misturando
a cada adição e logo em seguida junte os camarões. Junte o azeite-de-dendê aos
poucos. Misture bem . Amasse bem a pimenta-murupi em um pires com uma ou duas
colheres de sopa de água e junte somente essa água à panela de vatapá (sem as
pimentas). Deixe ferver até que comece a formar uma leve crosta no fundo da
panela. Retire e sirva quente.
Vatapá
baiano II
1 peixe de 2,5kg cortado em postas
1 cebola grande cortada em rodelas
4 tomates sem casca, em rodelas
5 colheres de coentro picado
4 colheres sopa de azeite de dendê
200g de camarão seco defumado, torrado e
descascado
1 xícara de castanha de caju
1 xícara de amendoim torrado e descascado
1 pedaço de 7cm de gengibre
2 pães de fôrma sem casca
2 xícaras de leite de coco
4 xícaras de água
sal e pimenta-do-reino a gosto
Preparo Tempere o peixe com
sal e pimenta. Arrume as postas numa panela fazendo camadas alternadas de
cebola, tomate e coentro. Molhe com suco de limão. Acrescente o azeite-de-dendê
por cima, tampe a panela e leve ao fogo. Cozinhe até que o peixe esteja macio.
Retire o peixe dos temperos do caldo. Tire as espinhas e reserve o peixe. Passe
os temperos de cozimento do peixe pelo liquidificador junto com o caldo, o
camarão seco, a castanha de caju o amendoim e o gengibre. Reserve. Numa vasilha
grande, coloque todas as fatias de pão, junte o leite de côco e amasse bem.
Acrescente a água e mexa. Junte os temperos moídos e coloque tudo numa panela.
Acrescente ½ xícara de azeite-de-dendê e leve ao fogo para cozinhar, mexendo
com uma colher de pau. Deixe ferver por 15 minutos, mexendo até obter um creme
brilhante. Acrescente os pedaços de peixe reservados e misture. Sirva quente.
Vatapá
Cearense
10 pães cariocas/francês secos
1,5 litros de leite de vaca
1 peito de frango (cerca de 600 g)
2 tabletes de caldo de galinha
1 pimentão verde
2 maços de coentro
2 cebolas médias
1/2 (meio) vidro de azeite de dendê
1 lata pequena de milho verde
Pimenta e sal a gosto
Preparo Temos que
primeiramente colocar os pães de molho no leite para umedecer; estando úmidos e
desmanchando coloque uma das cebolas cortada grosseiramente na mistura de leite
com pão e misture bem. Em seguida faça o mesmo com o coentro; Coloque um pouco
de sal na mistura. Enquanto o leite e o pão ganham o sabor da cebola com o
coentro, coloque o peito para cozinhar em pedaços junto com os 2 tabletes de
caldo de galinha; Depois de cozido coloque-os para esfriar e reserve o caldo.
Depois de frio desfie-o grosseiramente, porque se ficar muito fino você não
consegue sentir o frango na hora de comer; No liquidificador coloque a mistura
do pão e bata até ficar bem homogênea, bem misturada, faça isso com toda
mistura e reserve. No fogão coloque uma panela de tamanho médio, que você veja
que vai caber tudo e sobrar um pouquinho de espaço para que você possa ficar
mexendo sem problemas. Na panela coloque o dendê, a outra cebola e o pimentão
picadinhos e deixe dourar. Depois de dourada cebola coloque todo peito do
frango que já foi desfiado e misture bem, deixe o frango ficar bem da cor de
dendê, feito isso coloque o caldo, uns 400 ml que havíamos reservado, no frango
e deixe pegar o sabor por uns 10 minutos. Feito isso coloque a mistura de pão
que já foi passada no liquidificador e fique mexendo bem para que o pão não
grude no fundo da panela, isso por uns 30 minutos, quando você perceber que
está cozido o pão fica bem grosso e borbulhando, se você achar que não está
grosso como você quer coloque uma colher de farinha de trigo num copo de 180ml
de leite e coloque na mistura . Quando estiver bem grosso coloque o milho verde
e corrija o sal e misture por mais uns 3 minutos Desligue o fogo e coloque a
pimenta, a gosto.
Muito bom texto sobre o vatapá...sou apreciador do prato e sempre faço em reuniões de amigos, acompanhado de arroz branco e polenta. Faço o que chamo de vatapá mineiro, com galinha caipira e sem carregar demais na pimenta e nem no dendê, bem ao gosto de mineiro. Aqui a receita apareceu na bagagem de uma baiana, que ensinou pra sua filha, que ensinou pra cunhada, que ensinou pra irmã que é minha sogra...É um pouco diferente do cearense...
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