segunda-feira, 6 de setembro de 2021

The Battenberg cake: As origens do bolo xadrez, para comemorar os 11 anos desta Confraria

 

Neste exato dia, há 11 anos, eu dei o clique inicial que deu início a transmissão do conteúdo digital com os meus conhecimentos e aprendizados sobre a cultura gastronômica: o que antes estava escrito em folhas de caderno ganhava a versão virtual em um blog que começou tímido mas, ao poucos, conquistou  milhões de leitores em mais de 170 países – graças ao avanço da tecnologia que permitiu tradução simultânea em apenas um clique, convertendo a escrita em português para a outras linguagens.

Muita coisa mudou de lá para cá, só não mudou o desejo de continuar estudando, pesquisando e escrevendo sobre o que gosto. Sim, aumentou a responsabilidade com o conteúdo; também resolvi incluir as postagens numa página homônima no Facebook, e vieram mais seguidores/leitores. Fico imensamente feliz por receber tantos feedbaks de pessoas que me enviam mensagens agradecendo pelo meu trabalho, por compreenderem a minha dedicação, por aprenderem algo novo a cada dia com as postagens. Mas, principalmente, por entenderem a defesa do meu pensamento que vai sustentando que comida é cultura, uma parte importante da nossa vida que, muitas vezes, passa desapercebida, mas que precisa ser respeitada, valorizada, estudada, comida, compartilhada, registrada, preservada.

Houve também os Haters, claro! Eles estão em todos os lugares para te fazer desistir, acredite. Eu confesso que respondi alguns, mas também tentei entender o que cada um deles escrevia: alguns estavam apenas infelizes por não estarem no meu lugar; outros só queriam visibilidade; tenham, e ainda tem, os chatos da “conversão”, sempre de plantão nas cobranças para que eu transforme o texto em enciclopédias monótonas ou em periódicos acadêmicos – cheios de regras, normas chatíssimas, mas necessárias (eu sei, também escrevo para periódicos acadêmicos. No blog, inclusive, divido minha escrita acadêmica compartilhando os links de livros, artigos e resenhas que publiquei e que envolvem a gastronomia de alguma forma). Mas, aqui o desejo era que o blog fosse apena o meu guarda-memórias – por isso, tinha que ser leve. Alguns entendem isso. Outros não querem entender. De toda forma, continuo. Quero e preciso agradecer a todos, e a cada um dos leitores e leitoras que compartilham um pouco do seu precioso tempo comigo quando leem o que eu escrevo. Muito obrigado! Aos curiosos, até este momento em que escrevo o blog tem 1.449.191 leitores individuais. Estou em todos os continentes!

Para celebrar essa data especial um bolo não poderia faltar. Então busquei um que trouxesse referências da minha história, da ligação com a confeitaria, com uma boa e polêmica história. Assim, hoje falarei sobre as origens do Bolo Xadrez, com vocês o Battenberg Cake.


Quando eu era criança o bolo xadrez sempre esteve presente na minha vida, especialmente quando eu estava de férias e o comia nos restaurantes de parada do ônibus durante a viagem da Serra da Ibiapaba para a capital do Ceará, Fortaleza. Sempre me intrigou como o bolo xadrez era feito, par ter quadrados perfeitos de massa branca intercalados com massa de chocolate, ganhando aquele aspecto de tabuleiro inconfundível. Só muito anos depois eu descobriria que se tratava apenas de cortes, habilidades de montagem e receitas clássicas dominadas por bons confeiteiros... eu imaginei tantas coisas mirabolantes... descobri também que o bolo original não era feito com chocolate, tinha cores e nome diferentes, o que passo a dividir com vocês.

Apesar do nome, Battenberg Cake, trata-se de um bolo originalmente inglês. que é composto de placas coloridas alternadas de um bolo de libra (pound cake, feito com partes iguais de farinha, açúcar, manteiga e ovos) – mas que também pode ser feiro com genoise ou pão-de-ló, geralmente saborizado com essência de amêndoas, unido por geleia de damasco e coberto com pasta de amêndoa (marzipan). A montagem é especial e revela o desenho que lembra um tabuleiro de Xadrez - por isso, no Brasil o nome de Bolo Xadrez. Há quem diga que lembra uma janela feito por uma criança, razão pela qual é conhecido na parte do norte da Inglaterra como 'Bolo da Janela da Igreja'.

Quanto ao nome, pode ser Battenberg ou Battenburg e exibe, na sua forma mais simples, um padrão de verificação dois por dois distinto, alternadamente colorido de rosa e amarelo. Esse mesmo padrão pode ser verificado nos veículos de emergência no Reino Unido, e eles são oficialmente chamados de marcações Battenburg por causa de sua semelhança com o bolo.

A popularidade da internet replica conteúdos numa rapidez impressionante, e neles muitos dos autores apontam que o bolo Battenberg é exemplarmente britânico, tendo o primeiro sido feito em 1884 para celebrar o casamento do Príncipe Louis de Battenberg com a Princesa Vitória, neta da Rainha Vitória e avó do Príncipe Filipe. Será? Vamos descobrir...

Embora o bolo seja originário da Inglaterra, suas origens exatas não são claras, com as primeiras receitas também usando os nomes alternativos "Bolo Dominó" (Domino Cake, receita de Agnes Bertha Marshall, 1898), "Rolo Napolitano" (Neapolitan Roll, receita de Robert Wells, 1898), ou "Bolo da janela da igreja (Church Window Cake).

O bolo teria sido supostamente uma homenagem para o casamento da princesa Vitória, uma neta da rainha Vitória, com o príncipe Luís de Battenberg em 1884. O nome refere-se à cidade alemã de Battenberg, Hesse, que foi a residência de uma família aristocrática que morreu no início da Idade Média e cujo título foi transferido em 1851 para a Condessa Julia Hauke em nome de seu casamento com o Príncipe Alexandre de Hesse e pelo Reno; depois, primeira condessa de Battenberg, depois princesa de Battenberg, conhecida na Grã-Bretanha desde 1917 como Mountbatten – a mudança ocorreu para evitar complicações que ligassem a realeza com os nazistas.

Existem algumas variações mais detalhadas sobre este tema. Uma delas é a teoria de que as quatro seções do bolo representavam originalmente os quatro príncipes de Battenburg - o próprio Louis e seus irmãos: Alexander, Franz-Joseph e Henry. O único problema com esta história é que as primeiras receitas para este tipo de Bolo Battenburg pedem nove quadrados e não os quatro que são encontrados nas versões modernas.

O que provavelmente ocorreu é que os padeiros britânicos (como os da  J. Lyons & Co.) simplificaram o bolo criando "um battenburg de apenas quatro painéis" que é muito mais fácil de fazer em uma linha de produção.

Nas pesquisas fez-se surgir uma receita ilustrada de um bolo idêntico chamado Gateau à la Domino em uma edição de julho de 1898 da revista de comida e governança vitoriana The Table (A Mesa), publicada e editada por a notável Sra. Agnes Berthe Marshall. Embora os quatro livros da Sra. Marshall sobre culinária e sorvete sejam agora bastante conhecidos, “A Mesa” raramente é citada, embora seja uma das fontes mais extensas e ricas sobre a vida doméstica e a alimentação do final do século XIX e início do século XX. Ela o lançou em 12 de junho de 1886. Havia 1.690 edições semanais até junho de 1918. Foi então renomeado The Table and Housekeeper's Journal e foi publicado quinzenalmente com 547 edições até seu desaparecimento em setembro de 1939. Em sua época, A Mesa era a mais importante revista sobre culinária publicada na Grã-Bretanha. A Sra. Marshall morreu em 1905, mas A Mesa continuou indefinidamente.

Agnes Marshall

A receita da Sra. Marshall para o Bolo Dominó apareceu em 1898, o mesmo ano em que as receitas para dois bolos quase idênticos - Bolo Battenburg de Frederick Vine e Rolo Napolitano de Robert Well foram publicadas. Na aparência, o bolo de Vine é idêntico ao de Marshall, com nove painéis de genoise rosa e branco alternados dentro de um casaco de pasta de amêndoa. Já o bolo Well's, com seus quatro painéis, está mais próximo da versão moderna que hoje chamamos de Bolo Battenburg.

Pode ser que existam outras receitas. Mas não se tem consenso de quem foi o primeiro a conceber a receita. Mas essa receita de Marshall, como o nome de Dominó, leva a crear de que, realmente o bolo não foi feito para a realeza. Se fosse assim, por que a Sra. Marshall, doze anos após o casamento, chamaria de Bolo Dominó e Wells de Rolinho Napolitano?

Gateau à la Domino da Senhora Marshall, em  The Table,  July 2nd 1898.

Wells não ilustra seu bolo. mas a receita que ele publicou em Cakes and Buns (1898), ao contrário das versões de Marshall e Vine, indica que o  bolo deveria ser polvilhado com coco desidratado tingido de rosa e tem apenas quatro painéis.

Abaixo está a receita completa da Sra. Marshall, uma versão do bolo com marzipã, e com sabor de baunilha e maraschino, sua versão é mais sofisticada do que Vine's ou Well's, cujas receitas mais simples foram pensadas para o comércio e não para o fabricante de bolos doméstico. Ela também registrou os direitos autorais de sua receita - veja abaixo - e declarou que era nova. Talvez os outros dois o tenham beliscado e renomeado para disfarçar sua origem. Portanto, para tomar uma liberdade terrível com a frase bem conhecida de Gertrude Stein relativa a uma flor bem conhecida, "Um bolo de dominó, é um rolo napolitano, é um bolo de Battenburg. E, possivelmente seja uma criação da sra. Marshall.






Os Domino Cakes eram normalmente pequenos retângulos de genoise decorados com glacê em forma de dominó, como o nº 4 nesta fina cromolitografia de Kronheim de Mary Jewry, Warne's Model Cookery and Housekeeping Book (Londres: 1868)



Outra das receitas mais antigas para um bolo Battenburg com seções coloridas foi publicada por Frederick Vine em 1898 em seu maravilhoso livro Salable Shop Goods for Counter-Tray and Window… (Londres, Inglaterra: Office of the Baker and Confectioner, 1898).

Vine foi um dos padeiros/confeiteiros profissionais mais eminentes de sua época. Ele não foi apenas o autor de vários livros, mas também o editor da principal revista comercial The British Baker. Em sua receita para bolo Battenburg, ele nos diz claramente para criar um bolo com nove seções, alternadamente coloridas de vermelho e branco. Ele ilustra o bolo acabado neste diagrama apresentado na imagem acima. Compreenda, entretanto, que esta imagem apareceu apenas quatorze anos após o casamento de Louis e Victoria e foi publicada pelo padeiro mais respeitado de Londres. Se Frederick Vine não sabia como um Bolo Battenburg deveria parecer, então quem saberia? Bem, alguns outros na verdade.

Nos primeiros anos do século XX, vários profissionais também publicaram receitas e ilustrações que concordam inteiramente com as de Vine. Por exemplo, a receita em The Book of Cakes de T. Percy Lewis e A. G. Bromley (Londres: 1903) também pede nove painéis, como mostrado em sua impressionante ilustração cromolitográfica.

Infelizmente, até o momento, não foi encontrei nenhum que relato contemporâneo desse bolo que confirme que foi inventado para homenagear o casamento real de 1884. Esse fato pode muito bem ser verdade e talvez a tradição seja baseada em uma memória popular, mas não parece estar fundamentada em nenhum registro escrito. Nem há relatos que liguem o número de suas seções aos príncipes de Battenburg, a menos, é claro, que houvesse cinco outros que não conhecemos – já que a receita original pedia nove seções.

Talvez Louis tivesse outros irmãos sobre os quais seu pai se calou! A história dos quatro painéis e dos príncipes parece ter surgido recentemente. Mas sabendo que tenho leitores na Alemanha e Reino Unido, se houver alguém por aí que coincidentemente tenha estudado o tema e tenha documentação ligando este bolo ao casamento do príncipe de Battenburg, gostaria humildemente que compartilhassem as fontes conosco para conhecermos melhor dessa história.

A fotografia abaixo do Ship's Baker de Richard Bond (Londres, de1923) mostra que em 1923, o bolo Battenburg ainda estava sendo feito com nove painéis, como testemunha a imagem. Para quem não sabe, Bond é outro esquecido herói da culinária britânica que se especializou em livros sobre culinária marítima.

Bolo Battenburg de Richard Bond, The Ship's Baker (Londres: 1923).

Richard Bond do frontispício de seu livro Sea Cookery (Londres: 1910).

Um bolo Battenburg bem feito é um desafio técnico para qualquer padeiro. Tanto que no passado, a tarefa de construir um desses bolos era frequentemente atribuída a padeiros e confeiteiros aprendizes para testar suas proezas e os resultados eram frequentemente exibidos. Em 1936, a edição do livro de Vine, podemos ver como os Bolos Battenburg (bem, pelo menos as versões exibicionistas deles) chegaram a se parecer nos anos trinta.

Como podem ver na imagem, nos anos trinta, o número de painéis do bolo  multiplicou-se de nove para vinte e cinco - a Art Déco enlouqueceu! Talvez os padeiros agora não estivessem apenas homenageando os irmãos principescos de Sua Alteza Serena (incluindo os ilegítimos), mas também todos os seus netos e bisnetos! Quantos ele tinha?

Então, quando o Battenburg Cake acabou com apenas quatro painéis? Provavelmente a industrialização foi o motivo: eles teriam mudado para apenas quatro seções na época em que começaram a ser fabricados por grandes padeiros industriais como J. Lyons & Co, que, pelo que sei, começou a produzi-los em massa antes da Segunda Guerra Mundial. A J. Lyons & Co. começou como uma casa de chás, que virou uma rede dela e também administrava um restaurante de alto luxo britânico, compraram uma antiga fábrica de chá que se especializou na fabricação de  chás, biscoitos e bolos, com hoteis também integrando o patrimônio num concglomerado fundado em 1884. Vários tipos de bolos foram e continuam sendo produzidos pela Lyons  de maneira industrial, e ainda estão disponíveis nas prateleiras das mercearias, incluindo a torta de melado Lyons (Lyons treacle tart), Lyons Bakewell tart, Lyons Battenberg, e os pães-de-ló Lyons - Lyons Treacle tart, Lyons Bakewell tart, Lyons Battenberg, and Lyons Trifle sponges - a empresa também é conhecida pelo uso pioneiro de computadores.  



Lyons Corner House recriada pelo Museu de Londres.

De toda forma, voltando ao enunciado sobre o bolo, suponho que um Battenburg de quatro painéis é muito mais fácil de fazer em uma linha de produção do que um bolo com nove seções. Alguém poderia me esclarecer?

Se é assim, de onde veio a história sobre os quatro príncipes de Battenburg? Deve ter sido inventada pelos por contadores de histórias que queriam dar um ar de glamour ao bolo, talvez elevar seu valor de mercado, ou, simplesmente, ter mais uma história pra contar.

Se há um herói nesta história, al´me da Sra. marshall, seria Frederick Vine. Esse esquecido escritor britânico, foi o autor de outro livro chamado Cakes and How to Make Them. Infelizmente, nenhuma das edições deste livro é datada, embora algumas evidências apontem para uma publicação um ano antes do de Mercadorias vendáveis, possivelmente por volta de 1890. Se isso estiver correto, e mais pesquisas são necessárias para confirmá-lo, este livro contém a mais antiga receita conhecida para o Bolo Battenburg.


Ao curioso, sim, temos a receita no Bolo Battenburg inicial de Vine, que é, na verdade, um bolo simples de frutas feito em uma forma tradicional para bolo de bolo inglês. Se você quiser fazer, aqui está sua receita com a tradução.

No. 84 Battenburg Cakes.

4lb flour.

One and three quarters of a pound of butter.

One and three quarters of a pound of sugar.

Two and a half pounds of sultana raisins.

Three quarters of a pound of peel (mixed).

1 oz of cream of tartar.

1 oz. carbonate of soda.

8 eggs.

1 quart milk.

Method. - Weigh and rub on the board as before directed, and weigh into large size twopenny greased bread pans ten ounces for sixpenny cakes. sprinkle chopped almonds over. Bake in a moderate oven. These cakes sell well wherever introduced.

From Frederick T. Vine ("Compton Dene"), Cakes and How to Make Them. (nd. c.1890), p. 77.

 No. 84 Battenburg Cakes (Tradução)

4lb de farinha.

Um e três quartos de libra de manteiga.

Um e três quartos de libra de açúcar.

Um quilo e meio de passas sultana.

Três quartos de libra de casca (misturada).

1 onça de creme de tártaro.

1 onça carbonato de refrigerante.

8 ovos.

1 litro de leite.

Método. - Pese e esfregue na placa conforme as instruções anteriores, e pese em forminhas grandes de pão untado de dois lados dez onças para bolos de seis penny. polvilhe as amêndoas picadas. Asse em forno moderado. Esses bolos vendem bem onde quer que sejam introduzidos.

De Frederick T. Vine ("Compton Dene"), Cakes and How to Make Them. (nd. c.1890), p. 77.

Observe que Vine, cujo pseudônimo era Compton Dene, nos diz que "Esses bolos vendem bem onde quer que sejam introduzidos." Isso indicaria que o bolo Battenburg foi uma chegada bastante recente à cena da padaria no início da década de 1890. O casal real se casou apenas seis anos antes de a receita ser impressa. Portanto, talvez este “bolo primordial”, que continha frutas secas,  tivesse pretensões de ser o bolo comemorativo original do que o bolo mais conhecido de várias cores.

Vine estava no auge de sua carreira na época do casamento. Se ele estivesse vivo agora, ou se tivéssemos mais registros sobre ele, tenho certeza de que seria capaz de nos dizer por que um bolo de frutas delicioso, mas indefinível, foi substituído por um intruso doce e chamativo em questão de seis anos.

Bem, suponho que a moral desta história não seja acreditar em tudo o que você vê na televisão ou lê na internet, principalmente pela Wikipedia, de onde boa parte dos escritores da internet tiram suas fontes.

Para aqueles de vocês mais interessados em fatos do que em ficção, aqui está a assinatura e a placa do livro de Frederick Vine, tiradas de seu exemplar do Regenerador Gastronômico de Alexis Soyer. Você também deve ter notado que, ao longo do escrito escrevi Battenburg com um 'u', em vez de Battenberg, o que parece ser uma prática contemporânea. Bem, também acompanhei o Sr. Vine neste assunto, pois acho que ele deveria ter a última palavra.

Mas, vamos a outras curiosidades. Bolos coloridos eram conhecidos desde o século XVII. Essa prática tem origem na Alemanha, inclusive já tratei sobre isso no post que fiz sobre as origens do bolo Mármore (mesclado) que você pode conferir AQUI. Mas não somente a ideia de massas colorida e o nome fazem ligação com a Alemanha.

O marzipan, uma pasta espessa criada com amêndoas moídas e açúcar, é mais conhecido por sua capacidade de se transformar em formas extravagantes do que como cobertura para bolos. A pasta é originária da Pérsia, mas não para os propósitos culinários de hoje. De acordo com os registros de Rhazes, um médico de renome que viveu de 850 a 923, era originalmente usada como pomada curativa.

As primeiras ocorrências registradas de marzipan na Inglaterra aparecem em meados do século XV, quando era conhecido como marchpane. (O marzipan chegou ao Mediterrâneo muito mais cedo, talvez até antes da Idade Média.) A confecção ainda faz uma aparição em Romeu e Julieta, quando um Servo observa: "Meu Deus, salve-me um pedaço de marchpã!" Eventualmente, a grafia alemã como a conhecemos hoje, marzipan, venceu.

O uso de marzipan em um bolo Battenberg tem um propósito duplo. Primeiro, ele revela uma clara herança alemã do bolo (o país se imagina como a capital do maçapão da Europa) e também permite que o doce tenha um toque decadente e ornamentado, já que o marzipan era bastante caro para usar, mesmo em pequenas quantidades.

É bastante curioso, à primeira vista, que um bolo quintessencialmente inglês tenha um nome que homenageia uma pequena cidade alemã. No entanto, a política europeia e os casamentos reais às vezes podem fazer com que o implausível tivesse (um pouco) sentido. Homenagens...

O fato é que o Batterberg Cake, atendeu tanto ao gosto britânico quanto à estética alemã, com um design que refletia a arquitetura rococó alemã e ingredientes (como geleia de damasco) que eram populares no paladar inglês.

A popularidade e a facilidade de tingir do chocolate pode ter surgido nesse contexto, também para agradar aos ingleses que já adoravam um chocolate. No Brasil, entretanto, o Bolo Xadrez, sempre foi feito com as seções de massa branca e de chocolate, recheado/colado com brigadeiro – uma combinação que agrada ao paladar brasileiro, mas que seria doce demais para os europeus.

Abaixo você terá duas opções de receitas executáveis para esse bolo. Garanto qu e vão agradar aos olhos e aos paladares dos convivas com quem você desejar partilhar dessa delícia. 

Batterberg Cake

Para bolo de amêndoas (branco)

175g de manteiga muito macia

175g de açúcar refinado dourado

140g de farinha com fermento

50g de amêndoas moídas

½ colher de chá de fermento em pó

3 ovos médios

½ colher de chá de extrato de baunilha

¼ colher de chá de extrato de amêndoa

Para o bolo rosa

Os mesmos ingredientes para um bolo branco amêndoas (receita acima0

corante alimentar rosa, usei ½ colher de chá pasta alimentar de rosas Squires

Para montar

200g de geleia de damasco

2 x blocos de marzipã branco

pouco açúcar de confeiteiro, para polvilhar

Preparo: PASSO 1- Aqueça o forno a 180 ° C e forre a base e as laterais de uma forma quadrada de 20 cm com papel manteiga (a maneira mais fácil é cruzar tiras de 2 x 20 cm de comprimento sobre a base). Mas se preferir unte apenas com manteiga e enfarinhe. Para fazer o bolo de amêndoa, coloque a manteiga, o açúcar, a farinha, a amêndoa moída, o fermento, os ovos, a baunilha e o extrato de amêndoa em uma tigela grande. Bata com um batedor até obter uma mistura ficar homogênea. Coloque a massa na forma e leve ao forno por 25-30 minutos – faça o teste do palito, ele deve sair limpo. Deixe esfriar na forma por 10 minutos, depois transfira para uma gradinha para terminar de esfriar enquanto faz a segunda esponja. PASSO 2- Para o bolo rosa, forre a assadeira como acima. Misture todos os ingredientes como acima, mas não adicione o extrato de amêndoa. Adicione um pouco de corante alimentício rosa. Em seguida, raspe tudo na forma e leve ao forno como antes. Legal. PASSO 3 - Para montar, aqueça a geleia em uma frigideira pequena até que fique escorrendo, depois peneire. Apenas apare as bordas opostas do bolo de amêndoa e do bolo rosa, para ficar retinho. Meça a altura igual para todo o bolo, corte ao meio na altura do comprimento, e cada parte novamente ao meio o que obterá 4 partes iguais com a mesma largura – use uma régua para ajudar. Repita o processo com o bolo rosa. PASSO 4¬- Pegue 2 fatias de bolo de amêndoa e 2 fatias de bolo rosa e ajuste o corte para que fiquem do mesmo comprimento. Estenda um bloco de maçapão em uma superfície levemente polvilhada com açúcar de confeiteiro com pouco mais de 20 cm de largura e continue afinando o marzipan  no sentido do comprimento até que o marzipan tenha cerca de 0,5 cm de espessura. Pincele com geleia de damasco e, em seguida, coloque uma fatia rosada e uma de amêndoa lado a lado em uma das pontas do maçapão, espalhando a geleia no meio de cada fatia, servindo a geleia de cola. Pincele mais geleia em cima dos bolos e, em seguida, faça um sanduíche com as 2 fatias restantes, alternando as cores para dar um efeito xadrez. PASSO 5 - Com cuidado, levante o marzipan  e alise o bolo com as mãos e feche as laterais com cuidado. Apare os lados do marzipan quando estiver fechando as laterais – você pode frisar as bordas usando os dedos e o polegar (ou, mais simplesmente, pressione com os dentes do garfo). PASSO 6 - Monte o segundo Battenberg e guarde em uma caixa hermética ou bem embrulhado em filme plástico por até 3 dias. Pode ser congelado por até um mês. 

Bolo Battenberg de chocolate

3/4 de xícara (170g) de manteiga amolecida

3/4 de xícara (150g) de açúcar refinado

3 ovos grandes

1 xícara (125g) de farinha de trigo

1/2 xícara (50g) de farinha de amêndoa (amêndoas moídas)

1 1/4 colher de chá (5g) de fermento em pó

1/4 colher de chá (1g) de sal

2 colheres de sopa (30ml) de leite

Para massa de amêndoa

1 colher de chá (5g) de extrato de amêndoa

Para massa de chocolate

2 colheres de sopa (16g) de cacau em pó sem açúcar

1 colher de sopa (15g) de açúcar

2 colheres de sopa (30ml) de leite

Para rechear (colar) os bolos

3/4 xícara (180g) de geleia de damasco

Para o Marzipan

2 xícaras (200g) de farinha de amêndoa (amêndoas moídas)

1 xícara (120g) de açúcar em pó

4 colheres de sopa (60g) de geleia de damasco

2 colheres de sopa (16g) de cacau em pó sem açúcar

1 colher de chá (5g) de extrato de amêndoa

Preparo: Pré-aqueça o forno a 180 ° C. Unte e forre uma forma quadrada de 20cm com papel manteiga, dividindo-a ao meio usando uma parede de papel (você faz dobras de papel alumínio do tamanho da forma, com a  ajuda de uma régua). Em uma tigela média, misture a farinha com a farinha de amêndoa, o fermento e o sal. Em uma tigela grande misture a manteiga com o açúcar até ficar cremoso. Adicione os ovos um de cada vez e misture para incorporar. Gradualmente, adicione a mistura de farinha e leite e misture para combinar. Divida a massa ao meio. Para a massa de amêndoa incorpore o extrato de amêndoa. Para a massa de chocolate misture o cacau em pó, o leite e o açúcar em uma pequena tigela e incorpore na outra metade da massa. Despeje cada massa na metade da assadeira preparada. Asse por cerca de 30-35 minutos até que um palito inserido no centro do bolo saia limpo. Retire do forno e deixe esfriar por 5 minutos na assadeira e depois esfrie completamente sobre uma gradinha. Enquanto isso, aqueça a geleia de damasco, peneire e deixe esfriar. Quando os bolos estiverem completamente frios, corte as laterais para nivelar e e corte no tamanho igual, ao meio no sentido do comprimento e cada uma delas ao meio novamente, e terá 4 partes iguais, duas de cada cor. Coloque uma tira de bolo de chocolate em uma superfície de trabalho, pincele a parte superior e as laterais com geleia de damasco e coloque um bolo de amêndoas ao lado. Repita com as outras tiras de bolo por cima. Certifique-se de pincelar cada uma com geleia de damasco. Prepare o marzipan. Coloque a farinha de amêndoa (amêndoas moídas), o açúcar em pó e o cacau em pó na tigela do processador de alimentos. Moer para combinar. Adicione a geleia de damasco e o extrato de amêndoas e continue triturando até formar uma mistura. Sove um pouco em suas mãos para unir. Use um rolo para abrir o marzipan duas folhas de papel manteiga, em uma camada fina. Corte a pasta de amêndoa em um retângulo de 20 x 30 cm. Enrole o bolo firmemente no marzipan. Corte as pontas e leve à geladeira até a hora de servir.

 

Um comentário:

  1. Adorei conhecer esta confraria! Obrigada pelo compartilhamento das suas pesquisas.

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