Quando eu era criança
eu adorava comer muitas coisinhas, digamos, exóticas: eu adorava comer as
folhas da árvore de seriguela (frutinha peculiar que eu ainda gosto, como
gosto das folhas); também adorava comer umas florezinhas rosas, azedinhas, que
davam no jardim lá de casa (não sei o nome delas, mas garanto que se as visse
hoje eu as comeria do mesmo jeito); adorava comer pão com manteiga e açúcar
também... Acredito que isso me permitiu minha abertura ao mundo dos sabores e
das combinações mais improváveis. Mas uma coisa era certa: nenhuma dessas
coisinhas ganhava do sabor que tinha o “pão com maionese” daqueles tempos.
Parecia tudo mais gostoso que hoje... Aliás, acho que a maionese foi o primeiro
molho que comi na vida. Por isso fui pesquisar sobre ela. Quem você acha que veio primeiro, a maionese ou o ovo?
Claro que foi o ovo, mas por pouco (risos). Sabe-se através das pesquisas de alguns
historiadores que tratam da gastronomia que já existia uma mistura de azeite e
ovo na antiguidade, e era consumida pelos antigos egípcios e romanos; a maionese que
conhecemos hoje, uma emulsão de óleo, o ovo e o suco de limão e / ou vinagre,
além de temperos, foi desenvolvida por um dos grandes chefs da França.
Apesar de histórias
da origem de quase todos os “grandes preparos” poder variar, a principal convicção
é que o conceito para o molho de maionese original foi trazido para a França,
em 1756, a partir de Mahón, uma cidade em Minorca nas Ilhas Baleares, na costa
nordeste da Espanha. O que se tornou um dos condimentos preferidos do mundo foi
criado para um banquete para celebrar a vitória pela tomada da cidade de Mahón
pelas forças sob comando de Louis-François-Armand de Vignerot du Plessis, duque
de Richelieu (1696-1788), um marechal da França que era sobrinho-neto do famoso
Cardeal Richelieu.
Localização das Ilhas Baleares |
Os molhos tradicionais
da época eram feitos de creme de leite e ovos. A história nos conta que, o chef
do Duke não tinha creme de leite para a ocasião e então resolveu o substituir
por azeite. E para homenagear àquele momento acabou nomeando o novo molho
"Mahónnaise", em honra da vitória.
Mais tarde saberíamos
que, anos depois de sua estreia, o grande chef francês Marie-Antoine Carême
(1784-1833), fundador do conceito de alta gastronomia, iluminou a receita
original, misturando o óleo vegetal e as gemas em uma emulsão delicada. Foi
esta sua receita que ajudou a lhe tornar famoso em toda a Europa e,
posteriormente, nos Estados Unidos e no mundo.
Eu particularmente
acredito que os molhos são como médiuns da cozinha: conseguem revelar a alma
dos ingredientes, amaciar carnes e sempre, sempre, realçar sabores. E tudo ficou mais gostoso no momento em que cada cultura desenvolveu seu próprio
estilo de molho, usando ingredientes particulares de sua situação geográfica e
técnicas especiais. Assim podemos dizer que a história moderna dos molhos
começou na França durante o reinado de Luís XIV, com o grande chef François
Pierre La Varenne (1618-1678). La Varenne inclusive foi de um famoso livro
sobre a moderna cozinha francesa editado em 1651, Le cuisinier françois
("The French Chef"). Este livro, escrito para os profissionais, foi
uma revolução, a partir de preferências de culinária francesa medieval e codificação
da cozinha francesa moderna.
Assim para
entendermos a importância da maionese nesta história precisamos entender que,
no século XVIII já existia o conceito francês de "molhos-mãe" (molhos
mères, ou como chamamos por aqui, molhos-base. E a maionese é um dos cinco
molhos-mãe, que também incluem: molho espagnole (molho marrom com tomates),
molho de tomate, bechamel (molho branco), velouté (engrossado com manteiga e
farinha (roux)) e holandês (é uma emulsão de gema de ovo e manteiga, geralmente
temperado com suco de limão, sal e pimenta). Todos os outros molhos franceses
são variações desses molhos básicos.
E como a maionese veio para na América?
A salada de maionese - popular em todo o mundo. |
Os pães americanos, lanche que ressalta o poder da maionese. |
Em 1903, Richard
Hellmann chegou a Nova York como um imigrante vindo da Alemanha. Dois anos
depois (1905) ele abriu uma delicatessen e ali vendia saladas com maionese,
feitas a partir de uma receita de sua esposa. A maionese era tão boa que os
clientes pediram para comprá-la. Como naquela época era difícil se encontrar
embalagens em qualquer lugar do bairro, Hellmann começou a vender a maionese
nos "barcos de madeira" – desses usados antigamente para a pesagem de
manteiga na mesa. Até que apareceram os frascos, e nessa altura, eram vendidas
duas variações da receita de maionese que, para distinguir entre os dois,
Hellmann colocava uma fita azul em torno em uma versão.
A receita da
"fita azul" era tão demanda em pedidos e venda que em 1912, Hellmann
desenhou um rótulo com uma fita azul no topo. Essa fita azul continuaria nas
embalagem ao longo do século que viria, não mais como fita em si, mas com
impressões modernas. Como a fama da Maionese Hellmann foi crescendo ao longo do
tempo, então a empresa Best Foods Inc. acabou introduzindo a maionese para os
consumidores da Califórnia. Em 1932, houve uma reunião com Richard Hellmann e
sua empresa foi adquirida pela Best Foods Inc., que por sua vez foi adquirida
pela Unilever, uma enorme corporação multinacional anglo-holandesa, em 2000.
Os brasileiros mais
sofisticados eram os únicos que conheciam a maionese – poucos os preparavam em
casa com as receitas vindas da Europa ou dos EUA. A maionese Hellmann’s só
chegou ao Brasil trinta anos depois do seu surgimento nos em Nova Iorque
(alguns afirmam que ela chegou em 1962, e já tinha um público ansioso).
Uma das principais
queixas dos consumidores brasileiros de maionese na década de 70 era o fato de
lambuzarem os talheres ao retirar o produto da embalagem. Para tentar resolver
o problema, a Santista Alimentos – hoje Bunge – adotou em 1979 potes de vidro
com boca larga para a Maionegg’s.
Somente tampas
metálicas de rosca fechavam os potes de vidro das maioneses brasileiras até
1985. Foi quando a Refinações de Milho Brasil, seguindo uma tendência
internacional, decidiu adotar selos de vedação para reforçar a proteção – e
aumentar consideravelmente a vida-de-prateleira – da maionese Hellmann’s (marca
hoje controlada pela Unilever). Para destacar seu pioneirismo, a empresa
veiculou anúncio em revistas exaltando “a maionese que você precisa abrir duas
vezes – a única com selo de vedação”. A peça, reproduzida abaixo, é criação de
Rogério Morais Martins, então na Dogma Propaganda.
A concorrente da
Hellmann’s, a Maionegg’s, trouxe ainda
mais inovação, além dos eu pote exclusivo no formato apresentava-se com uma
tampa plástica, que eliminava o problema de ferrugem, comum nas tampas de aço,
e também já trazia o disco de vedação de alumínio, que impedia a entrada de
oxigênio, aumentando o shelf life do produto.
Hoje em dia a
variedade de sabores e formato de suas embalagens é uma verdadeira loucura. Mas
há nada mais delicioso do que maionese caseira. Qualquer semelhança com
maionese comercial é altamente improvável.
Ao procurar a receita
perfeita, seja como molho ou como um agente de mistura, acabei escolhendo uma
receita que tivesse toda a instrução clássica da culinária francesa. E,
portanto, eu obviamente escolhi a receita de Julia Child – que não foge do
clássico. Alias vocês podem encontrar um capitulo inteiro sobre
maionese no Volume 1 of Mastering The Art Of French Cooking (co-written with
Louisette Bertholle and Simone Beck).
Julia Child dizia que maionese podia ser batida à mão (a forma original), feita com uma batedeira ou em um liquidificador. E que para fazer uma boa maionese ter boas gemas é muito importantes. E, como diz Julia, "... é quase automático, e nenhuma habilidade culinária entra na preparação." Desnecessário dizer, que isso significa que qualquer um pode fazer?
Mas adverte:
"Maionese feita à mão requer familiaridade as gemas. É certamente longe de
ser difícil uma vez que você entender o processo, e depois de ter feito isso
algumas vezes, você será capaz de com confiança fazer um litro de molho em dez
minutos."
A receita da maionese perfeita
Para que sua maionese
tenha uma qualidade excepcional é necessário seguir alguns passos citados por
Julia Child. Vejamos:
Temperatura Ambiente: Tenha todos os
ingredientes em temperatura ambiente. Se eles não estiverem, aquecer a tigela
em água quente para tirar o frio das gemas, aqueça o óleo para deixá-lo morno,
se ele estiver frio.
Gemas: Sempre bata as gemas por um minuto ou
dois, antes de acrescentar alguma coisa a elas. Quando elas estiverem espessas
e pegajosas, elas estão prontas para absorver o óleo.
Adicionando o óleo: O óleo deve ser
adicionado muito lentamente no início, até que o processo de emulsão e comece a
agir e tornar o líquido num creme. Quando começara engrossar o óleo pode ser
incorporado mais rapidamente.
Proporções: A quantidade máxima
de óleo de um ovo grande pode absorver é de seis onças, ou ¾ xícara de óleo.
Quando este máximo for excedido, as propriedades de ligação das gemas quebram,
e o molho afina ou coalha. Se você nunca fez antes de maionese, é mais seguro
para não exceder xícara de óleo por gema de ovo ½. Aqui está uma tabela dando
proporções para diferentes quantidades de molho:
Número de gemas
|
Xicaras de óleo
|
Vinagre ou suco
de limão
|
Quantidade final
de molho
|
2
|
De 1 a 1 e meio
|
De 2 a 3 colheres de sopa
|
1 ¼ a 1 ¾ xicaras
|
3
|
De 1 e meio a 2 ¼
|
De 3 a 5 colheres de sopa
|
2 a 2 ¾ xicaras
|
4
|
De 2 a 3
|
De 4 a 6 colheres de sopa
|
2 ½ a 3 xicaras
|
6
|
De 4 a 4 ½
|
6 a 10 colheres de sopa
|
3 ¾ a 5 ½ xicaras
|
Bom, já que é
possível fazer sua maionese caseira, agora vamos incrementá-la...
Maionese
temperada do Barão
ingredientes
500g de maionese
7 Alhos pequenos picados e amassados
1/2 caldo knorr de bacon
Um pouco de orégano
10 bolinhas de pimenta-do-reino amassadas
2 colheres (sopa) de cebolinha picada
2 colheres (sopa) de salsinha picada
Vinagre à gosto
Preparo: Bata o alho com o
caldo de bacon, a maionese e a pimenta do reino ate sentir que já está, tudo
bem integrado. Em seguida misture o resto dos ingredientes, bata rapidamente
apenas para misturar as erva e o vinagre e pronto. Simples assim.
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