sábado, 1 de fevereiro de 2025

O que liga a última fatia de panetone do Natal com San Biagio?

 

Você sabia que existe uma tradição da Lombardia, região ao Norte da Itália e cuja capital é Milão, que pede para que seja guardada a última fatia do panetone que sobrou do Natal, para que ela seja comida apenas no dia 3 de fevereiro? Se nunca ouviu falar dessa história, esse post é pra você!

Isso mesmo que você está pensando, de 25 de dezembro até 3 de fevereiro já se passaram quarenta dias desde o Natal, mas justamente nesse terceiro dia de fevereiro uma tradição popular lombarda nos lembra de comer, pela manhã, tão logo desperte, a bendita fatia do panetone que foi guardada ainda no Natal, geralmente daqueles panetones que foram preparados ou ganhados como presentes de Natal.

Essa tradição nos leva à existência de Biagio di Sebaste, conhecido como San Biagio mas que no Brasil se conhece por São Braz, foi um bispo e santo armênio, venerado pelas Igrejas Católica e Ortodoxa.

Vários milagres foram atribuídos a San Biagio, incluindo o resgate de uma criança que estava sufocando após ingerir uma espinha de peixe: Biagio, então lhe deu uma grande migalha de pão que, descendo pela garganta, moveu e retirou a espinha presa na garganta, salvando assim o menino.

Portanto, em muitos lugares, justamente por causa desse milagre realizado por Biagio, no dia 3 de fevereiro, é tradição realizar a bênção da garganta com duas velas abençoadas cruzadas abaixo do queixo, no dia anterior (2 de fevereiro, dia da Madona Candelária, Nossa Senhora da Candelária, também chamada de Nossa Senhora da Luz, Nossa senhora das Candeias ou Nossa Senhora da Purificação).

Não se sabe muito sobre ele; sabe-se que seu martírio ocorreu durante as perseguições aos cristãos, por volta de 316, durante os conflitos entre os imperadores Constantino (no Ocidente) e Licínio (no Oriente).

Capturado pelos romanos, foi espancado e esfolado vivo com pentes de ferro, usados para cardar lã, e finalmente decapitado por se recusar a renunciar à fé em Cristo. É um santo conhecido e venerado tanto no Ocidente como no Oriente, e faz parte dos quatorze santos chamados ajudantes, ou seja, aqueles santos invocados para a cura de enfermidades particulares.

Após o martírio, Biagio foi proclamado santo e declarado protetor do nariz e da garganta, como dizem os lombardos "San Bias el benediss la forza e él nas".

Na Itália, San Biagio é venerado em muitas cidades e localidades, das quais é também padroeiro de muitas, e é celebrado no dia 3 de fevereiro em quase toda a península. Seus emblemas são o báculo, a vela, a palma e o pente de lã, e ele é obviamente o protetor da garganta.

As relíquias de San Biagio estão guardadas na Basílica de Maratea, cidade da qual ele também é padroeiro: ali chegaram em 723 dentro de uma urna de mármore com uma carga que deveria chegar a Roma vindo de Sebaste, viagem então interrompida em Maratea, a única cidade de Basilicata com vista para o Mar Tirreno, devido a uma tempestade.

Lá mesmo, o Santo é celebrado duas vezes por ano: no dia 3 de fevereiro, como de costume, e dia do aniversário da trasladação das relíquias, onde as celebrações duram 8 dias, desde o primeiro sábado de maio até o segundo domingo do mês.

Mas o que liga o Santo Bispo de Sebaste com a última fatia do panetone do Natal, que sobrou e que, como manda a tradição, deve ser benzida e consumida no dia 3 de fevereiro?

Para encontrar a resposta foi preciso conhecer outra história popular ligada a um milagre, seguindo a vida de San Biagio, que relata precisamente a história de uma mulher que, antes do Natal, trouxe para um frade milanês um panetone que ela mesma havia preparado para sua família e queria que ele o abençoasse. Muito ocupado, o frade cujo nome era Desidério e que alguns o tinham como sendo um homem muito ganancioso, disse-lhe que deixasse o panetone com ele e passasse nos dias seguintes para pegá-lo. Porém, a mulher esqueceu-se e o irmão Desidério, depois de abençoá-lo, começou a comê-lo até perceber que havia terminado.

A mulher apareceu para pedir o panetone abençoado no dia 3 de fevereiro, dia de San Biagio. Enquanto o frade se preparava para devolver o embrulho vazio à mulher, desculpando-se pelo ocorrido, notou que naquele prato havia um panetone grande, com o dobro do tamanho daquele deixado pela mulher. Foi um milagre, o milagre de San Biagio que deu início à tradição de trazer uma sobra de panetone para abençoar nesta data e depois comê-lo no café da manhã para proteger a garganta.

A tradição manda que o panetone seja daqueles que restou da comilança natalina, de preferência, mas se não tiver, fique à vontade para comprar um novo (com a industrialização, isso é muito possível)!

Alternativamente, em outras regiões da Itália, são abençoados vários doces ou pães simples que são compartilhados no almoço com todos os convidados; assim a bênção do Santo para proteger a garganta chega a todos aqueles que comem aquele pão abençoado.

A Festa do Pão, em 3 de fevereiro é uma data especial em Salemi, na província de Trapani. De fato, neste dia é celebrado São Biagio, padroeiro da cidade junto com São Nicolau: para a ocasião, Cavadduzzi e Cuddureddi são preparados para a tradicional Festa do Pão.

Cavadduzzi e Cuddureddi são pequenos pães em miniatura, feitos com água e farinha, sem fermento e assados no forno, criados pelas mãos experientes do povo de Salento. Eles são amassados primeiro à mão e depois com a chamada “sbria”, uma ferramenta antiga que tem a função de virar a massa.


A verdadeira maestria consiste na criação de minuciosas decorações e esculturas com a ponta de uma pequena faca chamada “mucacia”. Essas pequenas obras-primas reconstituem, na forma e no nome, alguns episódios marcantes da vida de San Biagio. Em particular, os “cuddureddi” simbolizam a garganta, da qual o santo é o protetor (a tradição diz que ele salvou a vida de um menino que estava morrendo após sufocar com uma espinha de peixe), enquanto os “cavadduzzi”, em forma de gafanhotos, eles relembram um evento que aconteceu durante o reinado de Carlos V.

Em 1542, pela intercessão do santo, a zona rural de Salemi foi libertada de uma invasão de enxames de gafanhotos que destruíram a colheita, o que lhe rendeu o "título" de co-padroeiro da cidade de Salemi. Desde então, esses pães artísticos têm sido reproduzidos todos os anos como um sinal de gratidão.

Os “cavadduzzi”, além de representarem gafanhotos, podem assumir as formas mais díspares resultantes da inspiração criativa dos padeiros: cavalos-marinhos ou outros pequenos animais, mesmo imaginários, até reproduzir partes do corpo do santo como o braço e a mão abençoadora e, novamente, a de um bastão com decorações florais, símbolo de fertilidade. Esses pães podem ser considerados uma espécie de prelúdio antecipatório à “Ceia de São José”, que é celebrada em 19 de março.

A festa, porém, não termina aí, porque para celebrar San Biagio é tradição comer não só sobras do mais famoso panetone milanês, mas também um bolo especial, o bolo San Biagio di Cavriana, produto à base de amêndoas, típico da região de Mântua. Os ingredientes previstos no caderno de especificações permitem apenas produtos isentos de OGM, açúcar, ovos frescos, amêndoas com casca, chocolate preto (mínimo 55%), rum destilado, limão, fava de baunilha e banha, devendo a manteiga estar numa quantidade máxima de 50 %. % em comparação com banha. O ingrediente principal são obviamente as amêndoas de Cavriana de sabor particular e intenso que até foram consideradas afrodisíacas e particularmente apreciadas pela família Gonzaga que as adquiria em quantidades abundantes para deliciar o paladar dos nobres da corte.

A tradição da Torta di San Biagio

A festa do Padroeiro é celebrada no município de Mântua de 2 a 4 de fevereiro há 450 anos. Nestes dias a Comunidade é chamada a participar no antigo rito de bênção da garganta pelo sacerdote. A preparação nos dias atuais recebeu o reconhecimento de P.A.T. (Produto Agroalimentar Tradicional Italiano) além de ser uma "De.C.O." (Denominação Comunal de Origem).

Assim, no dia 3 de fevereiro, acontece em Cavriana, pequena cidade da província de Mântua, um antigo rito: a bênção da garganta concedida na igreja pelo sacerdote por meio de duas velas cruzadas sob o queixo.

E a torta di San Biagio é a sobremesa típica desta festa. Reza a lenda que a receita é muito antiga e que originalmente o bolo à base de amêndoa tinha mais de três metros de diâmetro. Este era então cortado e oferecido ao público reunido na Piazza Castello.

 De fato, já em 1600, eram colhidas nas amendoeiras de Cavriana amêndoas de sabor particular e intenso, graças ao agradável ambiente montanhoso, este tipo de noz era considerada por todos um afrodisíaco; nos meses de inverno, os próprios membros da ilustre família dos Gonzagas compravam grandes quantidades para deleitar o paladar dos nobres da corte.

Conta-se que, num certo período dos anos de 1600, o rei francês Luís XIII enviou ao Ducado de Mântua uma delegação de cozinheiros e confeiteiros experientes com a tarefa de aprender novas receitas para utilizar no palácio. Os chefs franceses tomaram imediatamente conhecimento das amêndoas de Cavriana e por isso quiseram fazer uma Inspecção durante a centenária feira de San Biagio.


A população que tomou conhecimento do assunto ganhou vida para tentar dar um acolhimento digno a estes estrangeiros e decidiu preparar algo único para doar à Rainha Ana, a famosa e culta esposa de Luís XIII.

Das mãos experientes das mulheres cavrianas e da mistura de ingredientes simples nasceu uma sobremesa de amêndoa com um sabor contrastante; mas, ao mesmo tempo equilibrado: rústica como a terra de onde veio, requintada como a soberana a quem foi dedicada. Desde então é costume nos dias dessa festividade realizar o ritual de cortar e entregar o bolo e dividir com todos os visitantes: sinal de que o tempo não apaga as coisas feitas com amor e generosidade.

Torta di San Biagio

Para a massa

400g de farinha de trigo

120 ml de vinho branco seco

80g de manteiga

80g de açúcar

1 colher de chá de extrato de baunilha

As rapas de um limão

Para o recheio

300 g de amêndoas doces descascadas e picadas

100g de açúcar

100g de chocolate amargo picado (ou em gotas)

2 ovos

Preparo: Primeiro ligue o forno e leve-o à temperatura de 180° C. Prepare a massa básica colocando a farinha numa superfície de mármore 9ou onde você possa amassar), junte o açúcar, a manteiga em temperatura ambiente (ponto de pomada), o vinho branco, a baunilha e as raspas de limão. Misture os ingredientes cuidadosamente e obtenha uma bola de massa. (você também pode usar o mixer ou a batedeira com o gancho). Abra dois terços da massa com um rolo e coloque-a no fundo e nas bordas de uma forma de uma forma de 24cm de diamentro (forma media) previamente untada com manteiga e enfarinhada, ou forrada com papel manteiga. Prepare o recheio misturando numa tigela as amêndoas descascadas e picadas, o açúcar, os ovos e o chocolate picado (ou em gotas); Depois de obter uma mistura macia, despeje-a na massa previamente preparada, nivelando bem. Decore a superfície com a restante massa cortada em tiras cruzadas, como numa torta tradicional; leve ao forno e asse por cerca de 30-35 minutos (verifique, porque o tempo depende sempre do forno; deve dourar bem, mas não muito). Retire do forno, deixe esfriar completamente e retire da forma.

Nota: existe aqueles que incrementam essa receita agregando ao recheio uma porção de biscoitos amaretti quebrados, se desejar isso, você pode adicionar no preparo do recheio 100g de amaretti picados grosseiramente.