domingo, 24 de abril de 2022

Dumb Cake (Bolo bobo): um bolo místico para atrair relacionamentos

 

Hoje em dia os aplicativos para relacionamento e paquera existem aos milhares na internet facilitando a vida de pessoas ‘solitárias’ pelo mundo. Foi pensando nisso que resolvi encontrar algo parecido em épocas onde a internet ainda não existia. E, entre crendices e simpatias, encontrei um bolo místico, que poderia ser considerado o Tinder do início do século XX. Trata-se do Dumb Cake (em português, bolo bobo, ou ainda, bolo idiota).

O cozimento do bolo mudo  - Impresso por W. Finden, c1843

Geralmente, bolos rituais podem ser rastreados na história, sendo preparados e servidos em muitas ocasiões especais. Não foi diferente com o Dumb cake, sempre preparado em dias auspiciosos (como a Véspera de São Marcos, 24 de abril; Véspera de Santa Inês, 20 de janeiro; Véspera solstício de verão e Halloween) com inúmeras cerimônias, destinados às solteironas, para descobrir seus futuros maridos. O nome pode derivar do inglês medieval 'doom' que significa “destino” ou “julgamento”.

Hoje, por acaso, é Véspera do dia de São Marcos (24 de abril), um dia desses que as crenças recomendam a feitura desse bolo. Uma chance para curiosos que desejam encontrar um amor e visualizar a imagem dessa pessoa depois do ritual de preparo do Dumb Cake.

De qualquer forma, os princípios básicos do ritual eram os mesmos: moças solteiras tinham que fazer uma espécie de bolo juntas em silêncio. Elas comeriam o bolo ou o dariam para outra garota comer, e naquela noite sonhariam com o homem com quem iriam se casar. Até onde conseguir pesquisar, não encontrei menções de homens fazendo parte dos ritual de preparação desse bolo – mas os curiosos podem tentar e depois me falem os resultados.

Comer bolo antes de dormir é uma coisa que seguramente eu mesmo poderia fazer. Entretanto quando se trata de bolo ritual existem exigências que devem ser seguidas. Neste caso, como os ingredientes do bolo são simples, nenhum faltaria. Mas, o que complicava era as versões do ritual que exigiam a presença de mais de uma pessoa para a feitura do bolo – algo que nos dias de hoje com famílias cada vez mais diminutas ainda pode ser complicado se não houver uma preparação prévia.

O Reverendo M.C.F. Morris, em seu 'Yorkshire Folk Talk' de 1892, conta que "O dia apropriado para fazer Dumb Cake era a véspera de Santa Agnes. Não sei quais eram todos os ingredientes do bolo, mas um dos principais era o sal. lembro-me de ter ouvido, há alguns anos, um velho habitante de um dos vales, sobre a composição deste bolo místico. parte no trabalho, acrescentando pequenas porções de seus componentes, mexendo a panela, etc. Durante todo o tempo de sua fabricação e consumo deve ser observado um estrito silêncio. Mesmo quando está sendo retirado do forno cada um dos os interessados devem auxiliar no trabalho. Quando feito, é colocado na mesa no meio da sala, e as quatro pessoas ficam nos quatro cantos da sala. Quando colocado na mesa, o bolo é dividido em porções iguais e colocado em quatro pratos ou vasos. O espírito do futuro marido de uma das quatro aparecia e saboreava no prato de sua futura noiva, sendo visível apenas para aquela cujo marido ele estava destinado a ser. Como preliminar para isso, todas as portas da casa tiveram que ser escancaradas. A hora tradicional para fazer a festa era meia-noite."

A maioria dos registros sugere um bolo muito simples. O 'Evening Telegraph' da quinta-feira, 21 de junho de 1928, diz; "Um 'bolo idiota' era uma mistura de água, farinha, açúcar e sal, e nenhum outro ingrediente, e o silêncio absoluto tinha que ser mantido durante toda a operação. A próxima condição era que dois o fizessem, dois o assassem, e dois deviam quebrá-lo."

Mas esse bolo também podia ter ingredientes notáveis...iria depender de quem o estivesse fazendo. É possível que o Dumb Cake seja um remanescente do antigo ritual xamânico ou 'druídico', onde as visões de futuros maridos eram ajudadas pela adição de ervas alucinógenas, como o visco. Uma possibilidade aumentada pelo fato de que o Dumb Cake está associado a outro conhecido ritual de solteirona que pedia para plantar cânhamo de Cannabis.

A Sacerdotisa Druida Trazendo Visco - De:. Christmas: Its Origin and Associations, 1902

Miss Arabella Whimsey recordada no 'Leeds Mercury' (quinta-feira, 29 de setembro de 1870); "Nunca esquecerei o que fiz na véspera do solstício de verão. Eu e minhas duas irmãs experimentamos o bolo bobo juntas: você deve saber, duas devem fazê-lo, duas assam, duas quebram e a terceira coloca em cada um dos bolos em seus travesseiros, mas você não deve falar uma palavra o tempo todo, então você sonhará com o homem que você vai ter. Foi o que fizemos; e com certeza eu não fiz nada a noite toda além de sonhar com o Sr. Blossom. Na mesma noite, exatamente às doze horas, semeei semente de cânhamo em nosso quintal e disse a mim mesmo: "Semente de cânhamo eu semeio, semente de cânhamo eu minto, e aquele que é meu verdadeiro amor vem atrás de mim e ceifa!" acredita em mim? Olhei para trás e o vi atrás de mim, tão claro quanto os olhos podiam vê-lo.

Isso poderia ser lamentável se você vivesse no período moderno, onde o ritual era apenas meio lembrado e os ingredientes amplamente esquecidos, como neste relatório de 1813.

Efeitos fatais de Dumb-Cake malfeito
Stamford Mercury - sexta-feira, 19 de fevereiro de 1813

Weather and Folk Lore of Peterborough and District (Tempo e folclore de Peterborough e Distrito), de Charles Dick (1911) descreve todo o ritual de maneira bem clara:

"Bolo bobo. Na véspera do solstício de verão, três meninas são obrigadas a fazer um bolo bobo. Duas devem fazer, duas assar, duas devem quebrá-lo e a terceira colocar um pedaço sob cada um de seus travesseiros. O silêncio estrito deve ser preservado. O seguinte são as instruções de como proceder: duas devem ir à despensa e juntas pegar os vários ingredientes. Primeiro elas pegam uma tigela, cada uma segurando e lavam e secam juntas. Depois cada uma pega uma colher de farinha, uma colher de água e um pouco de sal. Ao fazer o bolo, elas devem ficar em cima de algo que nunca pisaram antes. Devem misturar e enrolar. Depois, traçam uma linha no meio do bolo e cada menina corta suas iniciais cada uma no lado oposto os lados da linha que separam. Então as duas colocam no forno e assam. Duas tiram do forno, e quebram na linha e os dois pedaços são dados à terceira menina que coloca um pedaço debaixo de cada travesseiro e elas sonharão com o seu futuro. Nenhuma palavra deve ser dita e as duas garotas depois de dar as peças para a terceira garota têm que andar de costas para a cama e ir para a cama de costas. Uma palavra ou exclamação de qualquer uma das três garotas quebrará o encanto. Caso surja um vendaval e o vento pareça estar sussurrando no quarto, durante o cozimento ou na última parte da preparação, se olharem por cima do ombro esquerdo, verão seus futuros maridos. Em alguns distritos os pedaços de bolo são comidos na cama e não colocados debaixo dos travesseiros, mas nada deve ser bebido antes do café da manhã na manhã seguinte. Outra variação é que duas só fazem o bolo e passam pela mesma forma que o anterior, só que eles mesmos dividem, depois cada uma come sua porção e vai para a cama de costas como no primeiro caso e nada deve ser bebido ou uma palavra dita. Um peixe salgado seco cru, comido antes de ir para a cama em silêncio e andando para trás e indo para a cama da mesma maneira, faz com que o futuro marido apareça em um sonho com um copo de água na mão, se abstêm, ou um copo de cerveja se for abstêmio. ele não é um. Nada deve ser bebido antes do café da manhã. Uma velha disse que havia experimentado há mais de 40 anos e seu marido lhe trouxe um copo de cerveja e ele não era um abstêmio, mas o contrário".

A receita de 1911, do Weather and Folk Lore of Peterborough and District, de Charles Dick, parece apropriada para nossos dias: uma possibilidade para executar a receita completa (ainda que muito simples) requer o uso de apenas duas pessoas – na época, meninas, especificamente. Preste atenção, você deve fazer assim, seguindo o recomendado na descrição acima:

o bolo bobo da receita acima

Convide alguém para sua casa para fazer o bolo com você. Deixe claro que os dois devem ir para a cama depois que o bolo estivesse preparado e fosse comido – então faça-o perto da meia noite como o recomendado na tradição.

Comecem separando os ingredientes. Certifiquem-se para cada um estar pisando em cima de algo que nunca pisou antes (pode ser em cima de livros, de sacolas, sejam criativos). Então começa o preparo do bolo em silêncio. Juntos, limpem uma tigela e a sequem-na.  Cada um de coloca uma colher de farinha (ou seja, será duas colheres de farinha no total. Uma para cada pessoas; uma colher de água para cada um (duas no total) e uma pitada de sal na tigela e mistura-se até formar uma massa. Ambos devem amassar um pouco a massa e a moldá-la em um círculo. Em seguida, marca-se o centro com uma faca e adiciona-se as iniciais do nome de cada uma das pessoas que prepara o bolo. O bolo (embora sejamos honestos – era massa de pão mesmo) deve ser assado por 12 minutos enquanto as pessoas permanecem sem dizer uma palavra e tentando fazer o mínimo de barulho possível. Uma vez assado, as duas pessoas tiram o bolo juntos forno e, muito solenemente, o quebram ao meio. Cada um come a sua parte silêncio, então, andando para trás, vão para a cama, dormir.   Então é só esperar o resultado do sai seguindo, pois haverá visão em sonho.

Acontece que bolo pra mim é coisa séria. E seguramente existe muitas versões para bolos. E se você não deseja fazer um bolo bobo para descobrir um romance futuro, você pode ao menos ser criativo e fazer um bolo bobo novo usando a sua criatividade. A minha sugestão é de um bolo, diferente do bolo místico e cheio de ritual, mas que você pode fazer em casa substituindo e ou acrescentando ingrediente. Em inglês ele pode ter o nome de Dump Cake, bolo de despejo – no sentido de despejar tudo numa mesma tigela e já sair pronto. O que não deixa de ser um bolo bobo pela praticidade. Veja a receita e se surpreenda com a gostosura.


Dump cake

Ingredientes

1 lata de abacaxi em calda picado, drenado

1 vidro de cerejas em calda, ou dois vidros se preferir

1 pacote de mistura para bolo pronto sabor baunilha (mas você pode variar o sabor)

1 xícara de manteiga sem sal gelada

1/4 xícara de nozes picadas, como nozes, pistache ou amendoim, opcional

Preparo: Pré-aqueça o forno a 180 C.  Numa assadeira média retangular despeje o abacaxi picado uniformemente. Usando uma colher, espalhe uniformemente as cerejas em calda em cima do abacaxi. Polvilhe por cima toda a mistura para bolo uniformemente. Corte a manteiga gelada em fatias e coloque uniformemente sobre a mistura de bolo. Polvilhe nozes por cima da mistura com a manteiga. Asse por 1 hora. Este bolo pode ser servido quente com sorvete, ou frio.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Prinsesstårta (Bolo da Princesa) a mais icônica sobremesa da sueca

 

O Bolo ou Torta da princesa (Prinsesstårta) é sem dúvida a sobremesa mais icônica da Suécia. Constituído com camadas pão de ló, creme de confeiteiro, chantilly e, na maioria das vezes, geleia de framboesa ou essa fruta fresca, tornou-se popular em todo o mundo, não apenas pelo sabor, mas também pela aparência.

Apresentado na forma de cúpula, coberto com marzipã verde e agraciado com um único botão rosa, é a imagem de refinamento e feminilidade – bonito de se ver e delicioso até a última mordida. Para alguns, isso é suficiente. Mas, para um comedor curioso, no entanto, certas questões se apresentam imediatamente, tais como: por que é chamado de Princesstårta, como é mais comumente referido em sua terra natal, e embora certamente bonito, por que a cor característica do bolo é o verde?


Depois de algumas investigações cheguei a algumas conclusões que passo a dividir com vocês. O Bolo da Princesa foi originalmente criado por Johanna Antonia "Jenny" Åkerström-Söderström , popularmente conhecida como Jenny Åkerström, no início do século XX. Autora de livros de receitas e especialista em economia doméstica, Åkerström também foi instrutora das princesas da Suécia: Margaretha (1899–1977; mais tarde princesa da Dinamarca), princesa Märtha (1901–1954; mais tarde princesa da Noruega) e princesa Astrid (1905–1935; mais tarde rainha dos belgas), filhas do príncipe Carl, irmão do rei Gustavo V; e da princesa Ingeborg da Dinamarca.


                                                    Johanna Antonia "Jenny" Åkerström-Söderström 

Åkerström escrevia artigos sobre comida na revista semanal de Bonnier, Vecko-Journalen e na revista mensal de Bonnier. Ela dirigia uma famosa escola doméstica para meninas em Estocolmo, Jenny Åkerströms Husmodersskola, e ganhou fama devido ao fato de que as princesas Margaretha, Märtha e Astrid estavam entre os alunos.

Em 1929, Åkerström publicou seu primeiro livro de receitas, uma série pesada composta por quatro volumes intitulados Prinsessornas kokbok (livro de receitas da princesa) que rinha a capa enfeitada com retratos das princesas eram suas alunas.

Talvez fosse simplesmente uma tática de marketing empregada por Åkerström para vender mais livros. Mas era um aceno importante que ressaltava as conexões da autora na influência real, e mostrava as receitas que ela estava divulgando para o público em geral. Seja qual for o raciocínio, os livros de receitas foram um grande sucesso. Eles foram reimpressos dezoito vezes antes de 1952. Curiosamente, nenhuma dessas edições contém uma receita de Bolo de Princesa.

Dilema Real: Por que o Bolo da Princesa é Verde?

Inicialmente se faz importante dizer que, preparações que levam o nome de Bolo de princesa podem ser rastreadas até o final do século XIX. Porém, geralmente tratam de receitas muitos diferentes desta que se tornou popular na Suécia.

Já em 1884, um bolo de princesa foi descrito no livro de Mathilda Langlet, The Housewife in the City and in the Country. A evidência mais antiga, na Suécia, para o nome bolo da princesa é um anúncio publicado no Natal de 1893 no Smålandsposten e no início do século XX havia anúncios em muitos jornais suecos de bolo de Natal, onde, entre outras coisas, o bolo da princesa é mencionado. Em 1901, o jornal Dagen publicou uma receita de bolo de princesa com sabor de amêndoas (doces) e amêndoas amargas. E em 1924 o Svenska Dagbladet publicou uma receita de bolo de princesa, que era um bolo com creme de amêndoa guarnecido com amêndoas doces torradas e pistache.

Outra teoria sugere que o nome do bolo pode ser uma alusão ao uso da amêndoa princesa na confecção do bolo – esse tipo de amêndoa, durante a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, era comercializada como a melhor variedade de amêndoa. A amêndoa Princesa é semelhante em sabor a Nonpareil, a principal amêndoa comercializada hoje. É encorpada, doce e agradável. Antes do desenvolvimento da variedade Nonpareil, esta era uma amêndoa de sobremesa favorita usada em doces e comida crua como lanche. O Catálogo Barren Hill Nursery de Felix Gillet, de 1885, descreve a variedade Princess ou Ladies Thin Shell como comum nas lojas de confeiteiros, onde era amplamente utilizada na fabricação de certos bolos e doces – ou seja, era o tipo mais apreciado para a sobremesa. A casca é tão fina que pode ser esmagada entre os dedos revelando um caroço gordo, doce e rico. 

Não encontrei na literatura uma conclusão definitiva sobre por que o marzipã em cima de um bolo de princesa é tradicionalmente colorido de verde. Pelo menos faria mais sentido para mim se o bolo fosse aromatizado com menta ou pistache. Os livros de confeitaria francesa, considerados chiques e que influenciaram o mundo todo nem sequer mencionam um bolo de princesa com aspecto semelhante. Minha teoria é que o marzipã foi tingido de verde para manter a tradição da primeira preparação.

Há uma menção, no entanto, de três bolos diferentes que Åkerström criou, um para cada princesa sueca: eram sobremesas elaboradas, cobertas de decorações e muito difíceis de serem reproduzidas por qualquer cozinheiro doméstico.  Alguns dizem que o bolo da princesa foi um amálgama desses três bolos, sendo mais parecido com a confecção destinada a princesa Astrid, que foi moldado em uma cúpula, decorado com segmentos de uva (como aparece na imagem abaixo) e folhas, e está muito longe do simples e clássico bolo de princesa que conhecemos hoje.




 Imagens dos bolos das princesas e receitas a partir do Prinsessornas kokbok 

Ainda consegui encontrar que Annika Larsson, uma confeiteira do Grillska Konditoriet em Estocolmo, é creditada por combinar características dos três bolos criados por Åkerström e ter preparado o bolo de princesa que se tornou tradição. Se de fato for isso, o bolo verde apareceu na Finlândia pouco depois de se tornar popular na Suécia dos anos 1930, e continua sendo um bolo tradicional desde então, principalmente para festas e formaturas.

Nos anos 1934-1935, vários jornais de Estocolmo anunciaram o bolo de princesa da Norrmalm, e no Dia dos Pais, em novembro de 1935, a Konsum anunciou um bolo de princesa com uma base de pão de ló e creme coberto com maçapão.


Embora isso não responda completamente à pergunta de por que o bolo é verde, lança alguma luz sobre o assunto e deixa-o aberto a algumas suposições. Talvez quando Annika esteve combinando os melhores aspectos de cada bolo, ela simplesmente optou pelo tom de verde por uma preferência pessoal. Talvez ela tivesse um excesso de corante verde e isso foi feito por razões mais práticas – e as reproduções futuras apenas mantiveram a cor de acordo que aquela preparação.

Eu gostaria de ter algo mais mirabolante ou verdadeiramente poético para justificar, como pensar em algo assim: talvez o verde fosse uma cor que pegou o público sueco porque representava a esperança da primavera, como as primeiras folhas suaves de grama surgindo nos invernos frios e escuros. Mas seja qual for o motivo, uma coisa é certa: o bolo da princesa é certamente a mais icônica e representativa das sobremesas suecas. E, sempre, o vemos em tons de verde enfeitando delicadamente as mesas e encantando os paladares.

Depois de uma análise mais detalhada, no entanto, percebi que a primeira receita publicada em um livro de receitas sueco moderno, chamada bolo da princesa, era uma receita para Grön Tårta (ou bolo verde), encontrado no Prinsessornas kokbok, e já apresentava cobertura de pasta de amêndoa colorida, mas sem geleia, e foi compilado por Jenny Åkerström – uma rápida comparação mostrou que era quase semelhante ao bolo da princesa moderno, completo com sua cobertura de marzipã verde.





Embora algumas suposições devam ser feitas para ir de lá para cá, a receita original do Grön Tårta (ou bolo verde) veio do Princesses Cookbook, e não é um salto muito grande supor que o apelido pouco apetitoso do bolo foi rapidamente alterado para algo mais atraente, e o que poderia ser mais atraente do que uma princesa?

Prinsesstårta, às vezes escrito bolo de princesstårta, historicamente ou em variantes, tem sido chamado de bolo verde (grön tårta), bolo regente (regenttårta) e bolo de ópera (operatårta) – não confunda este último com o gateau opéra dos franceses. 




Gateau Opera do Franceses

Ainda há variantes em outras cores: quando o bolo leva a cobertura de marzipã branco pode ser chamado de bolo de príncipe e, às vezes, se encontra o bolo Carl Gustaf quando a cobertura de marzipã aparece em amarelo. Um bolo sapo é uma espécie de bolo de princesa menor decorado de forma que se assemelhe a uma cara de sapo, onde um corte no marzipã verde se transforma na boca do sapo.

O fato é que este é o bolo de verão perfeito: fresco e refrescante, não é apenas delicioso, mas um triunfo de se ver e o complemento perfeito para qualquer menu de verão.

Princesstårta

Para o creme de confeiteiro

600 ml de leite

1 vagem de baunilha, cortada e raspada, ou 1 colher de sopa de pasta de baunilha

6 gemas

100g de açúcar mascavo

50g de amido de milho

50g de manteiga sem sal

 Para a geleia:

200g de framboesas, frescas ou congeladas e descongeladas

175g de açúcar refinado

 Para o pão de ló

4 ovos grandes

150g de açúcar refinado

75g de amido de milho

75g de farinha de trigo

1 colher de fermento em pó

50g de manteiga, derretida

 Para o marzipã:

400g de amêndoas moídas

150g de açúcar mascavo

250g de açúcar de confeiteiro, mais extra para polvilhar

2 claras de ovos médios, batidos

1 colher de chá de extrato de amêndoa pasta de corante alimentar verde

Decoração:

1 rosa comestível de cor rosa claro – pode ser feita de marzipã, ou de outra pasta comestível com fondant.

Preparo: Para o creme de baunilha: Misture o leite, as sementes de baunilha e a vagem de baunilha em uma panela de fundo grosso e coloque em fogo baixo até ferver. Retire do fogo e deixe o creme descansar enquanto a baunilha perfuma o leite. Em uma tigela grande, bata as gemas, o açúcar e o amido de milho até ficar esbranquiçado e cremoso. Remova a fava de baunilha do leite morno, mas não a descarte, você pode lavá-la e secá-la e reutilizá-la para fazer açúcar de baunilha ou pó de baunilha para receitas futuras. Misture o leite morno lentamente na mistura de ovos. Despeje a mistura de volta na panela e cozinhe em fogo baixo por 4-5 minutos e mexa até a mistura engrossar. Retire do fogo e bata a manteiga até derreter e incorporar. Transfira para uma tigela, cubra a superfície com filme plástico, pressionando o plástico contra a superfície do creme para evitar a formação de uma película. Reserve para esfriar na geladeira. Para a geleia: Coloque as framboesas em uma panela funda com o açúcar e duas colheres de água. Cozinhe delicadamente em fogo baixo, mexendo de vez em quando até que o açúcar se dissolva. Leve a mistura para ferver e cozinhe por cerca de quatro minutos. Transfira para uma tigela resistente ao calor e deixe esfriar completamente. Para o pão de ló: Pré-aqueça o forno a 180 C. Unte e forre o fundo de uma forma de aro removível (9 polegadas) com papel manteiga. Coloque os ovos e o açúcar em uma tigela grande e, usando uma batedeira, bata até que a mistura fique bem clara e espessa e o batedor deixe um rastro na superfície quando levantado. Isso levará cerca de cinco minutos. Peneire o amido de milho, a farinha e o fermento sobre a mistura de ovos e misture cuidadosamente usando uma colher grande de metal. Junte a manteiga derretida, tomando cuidado para não misturar demais. Despeje a mistura na forma preparada anteriormente e leve ao forno por 25-30 minutos até que o pão de ló esteja dourado e comece a encolher das laterais da forma. Retire do forno e reserve para esfriar. Quando esfriar o suficiente para manusear, vire em uma gradinha para esfriar completamente. Montagem: Para montar o bolo, usando uma faca serrilhada, corte o pão de ló horizontalmente em três camadas iguais. Coloque uma delas em um prato de servir. Espalhe uma camada muito fina de creme de confeiteiro sobre a base da primeira camada de pão de ló.  Coloque um quarto do creme de confeiteiro em um saco de confeitar com um pequeno bico liso e faça uma borda ao redor da borda do pão de ló – isso é para conter a geleia. Coloque a geleia sobre o pão de ló e espalhe uniformemente dentro da borda. Em uma tigela, bata 600ml do creme de leite fresco para picos firmes. Dobre metade do chantilly no creme de confeiteiro restante. Espalhe a outra metade do chantilly sobre a geleia. Coloque a segunda camada de pão de ló em cima e espalhe a mistura de creme restante e alise formando uma cúpula. Coloque a terceira camada de pão de ló por cima. Reserve na geladeira por uma hora. Para o marzipã, misture as amêndoas moídas até formar uma farinha fininha e os açúcares na batedeira com gancho de massa, antes de adicionar as claras de ovos e o extrato de amêndoa – isso tudo pode ser incorporado à mão. Sove na tigela até formar uma massa firme e bastante macia e lisinha. Desenforme sobre uma superfície polvilhada com açúcar de confeiteiro. Usando um palito de coquetel, adicione uma pequena quantidade de corante verde e amasse até obter um tom verde pastel uniforme. Abra o marzipã em uma superfície levemente polvilhada com açúcar de confeiteiro, grande o suficiente para cobrir o bolo. Levante o marzipã sobre o bolo e, usando as mãos, molde as laterais do bolo para obter um acabamento suave. Corte qualquer excesso. Finalize colocando a rosa comestível no topo.

 

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Daiquiri: uma breve história do icônico coquetel cubano

 

Sei você tem vaga noção de coquetelaria ou gosta de umas bebericagens, você já ouviu falar do Daiquiri, um clássico coquetel cubano. Por outro lado, muito provavelmente, você tenha uma visão meio distorcida entre o que tem sido comercializado e uma receita original.

Se sua memória não for boa, usando o Google, você vai ver imagens de Daiquiris como uma bebida clara, de aspecto congelado, muitas vezes aromatizado com frutas decididamente não tropicais, como morangos.

Daí, você se depara livros de receitas de coquetéis cubanos vintage e antigos, como o Manual del Cantinero de 1915, de John B. Escalante (você poderá acessar AQUI), é ele vai te surpreender pois a receita traz sabores e licores inesperados - mas igualmente sem morangos.

Pra um livro que foi publicado logo após a época em que o daiquiri foi supostamente inventado, há que espere encontrar ingredientes como rum, suco de limão e açúcar. Afinal, isso é mais ou menos o que algumas pessoas hoje chamam de daiquiri tradicional ou clássico, basta ver as imagens no Google pra confirmar essa ideia. Em vez disso, a receita pede grenadine, o que não é tão incomum e, o mais interessante, pedia Curaçao.

Alguns tipos de Curaçau

Com isso já percebi as variações do daiquiri desde a primeira metade do século XX em livros de coquetéis cubanos. As receitas variavam tanto, porém os únicos ingredientes constantes eram justamente rum, suco de limão e açúcar. Entretanto, receitas de daiquiri com apenas esses ingredientes são minoria.

Por exemplo, o livreto de 1948 intitulado Ron Daiquiri Coctelera, impresso pela empresa Ron Daiquiri, tem quatro receitas diferentes de daiquiri. O primeiro pede rum, suco de limão e açúcar (ainda não é xarope simples) ou grenadine como adoçante.

As três outras receitas pedem ingredientes como Curaçao, suco de laranja, suco de toranja e Maraschino, além de rum, suco de limão e açúcar(1). Este livreto está em inglês e ainda diferencia entre limão e lima. Outros livros não.

Três das receitas pedem que as misturas sejam agitadas com gelo e coadas. O outro, o daiquiri “Florida Style”, em homenagem ao bar La Florida, manda bater em uma coqueteleira elétrica com gelo picado.

Muitas das mesmas variações estão presentes em um livro anterior de 1939 e outro publicado pelo bar La Florida em 1934. Esses livros incluem várias receitas de daiquiri, duas das quais pedem a mistura em um shaker elétrico, ou “eletricamente”, com gelo finamente raspado ou picado.(2).

Ambos são chamados de “estilo Flórida”, o que significa que esse estilo de daiquiri misturado ou batido com gelo picado era o estilo particular do bar La Florida.

Parece então que, do início a meados da década de 1930, o daiquiri havia assumido sua forma congelada pelo menos parte do tempo. Mas apenas algumas vezes; parece ainda ter sido principalmente um coquetel agitado e coado até a década de 1950, pelo menos.

O Manual de Cocteleria de 1959 tem duas receitas de daiquiri. Uma delas é o Banana Daiquiri, que pede suco de limão, rum e banana (sem açúcar!). O outro pede rum, açúcar, suco de limão e Maraschino (3).

Todos esses ingredientes provavelmente foram adicionados e experimentados com o passar do tempo, com o daiquiri original, que é o primeiro já feito, sendo apenas rum, açúcar e suco de limão.

Uma história em outro livro de 1948, contada por alguém que afirma ter estado presente quando foi inventada, diz que a bebida nasceu por necessidade e escassez. (4)

A história conta que um mineiro chamado Cox na parte oriental de Cuba, em El Cobre mais especificamente, foi convidado a fazer uma bebida para um visitante (o homem que conta a história). Mas o refeitório não tinha vermute. Tudo o que eles tinham era rum, açúcar e suco de limão. Então Cox juntou esses ingredientes, sacudiu com gelo até ficar bem frio, coou e serviu ao convidado. E assim nasceu o Daiquiri (4).

Histórias de origem são sempre difíceis de provar, mas essa é mais ou menos a origem geralmente aceita da icônica bebida cubana. As variações que surgiram ao longo dos anos são exemplos de como as receitas muitas vezes ganham vida própria. Eles evoluem. É por isso que é tão difícil dizer quando ou se algo é ou não “autêntico” ou “tradicional”. Na verdade, eu diria que muito pouco do que consideramos autêntico no reino da comida e bebida realmente é.

O daiquiri, como várias outras bebidas do Caribe, foi alterado. Foi diluído e alterado quase irreconhecível para atender a um público diferente. Mas vale a pena notar que em nenhum momento de sua existência, exceto talvez naquela primeira vez nas minas de El Cobre, houve um acordo sobre uma única receita que é a receita do daiquiri.

A receita abaixo foi publicada em 1915, e retirada de El Manual del Cantinero.5

Daiquiri Cocktail

Ingredientes

suco de um limão

1 colher de sopa de açúcar 

1 colher de sopa de xarope de granadina

1 colher de sopa de Curaçao

50 ml rum light (Bacardí)

Preparo: Coloque vários cubos de gelo em uma coqueteleira. Adicione todos os ingredientes e agite até ficar bem gelado. Coe em uma taça de coquetel ou champanhe e sirva.

Há muito o que explicar nesta receita, da história de Curaçao à história de Grenadine, ao Rum Bacardi e às limas vs. limões!

Mas a granadina de fora por enquanto, mas quero falar brevemente sobre os outros.

Bacardí, embora não seja mais fabricado em Cuba desde logo após a revolução de 1959, ainda é fabricado e disponível.

O Curaçao é um pouco complicado. O Curaçao que muitos conhecem é podem ter em casa é aquele do tipo azul, que é mais ou menos o mais disponível, e mais comercial. Porém, em seu estado natural, Curaçao é claro; a cor é adicionada para a estética. O azul combinado com o grenadine, dá a essa mistura em particular um lindo tom roxo-avermelhado, não tenho certeza de quando o Curaçao ficou azul.

Pelo que pude encontrar, provavelmente não aconteceu até que esta receita fosse publicada. Mas como a cor não dá sabor, imagino que não importaria se não estivesse claro.

E, finalmente, uma nota sobre limas. Quando os cubanos, e de fato a maioria dos latino-americanos, dizem “limón”, que é limão em inglês, eles se referem ao cítrico verde que os americanos chamam de limes (limão Taiti). O limão americano, o amarelo (siciliano), mais escasso na América Latina e raramente solicitado nas receitas.

Há uma história complicada por trás disso. É centrado em quais tipos de cítricos cresceram melhor do que outros nas Américas. No final, foi o tipo verde que assumiu. Então, quando uma pessoa latino-americana diz limón, ela quer dizer o tipo verde (limão taiti). Isso causa todo tipo de confusão quando dizemos que limão significa limão americano(siciliano).

Referência

1. Ron Daiquiri Coctelera: Cocktail Book, Compañia Ron Daiquiri S.A., Habana, Cuba, 1948, 6.

2. Cuna Del Daiquiri Cocktail: La Habana, Cuba (La Habana: Talleres de Artes Graficas, 1939), 25-26. Bar La Florida Cocktails, Habana, Cuba, 1934.

3. Manual de Cocteleria (La Habana: Editorial Excelsior, 1959), recipes 8 and 35.

4. Hilario Alonzo Sanchez, El Arte del Cantinero: Los Vinos y Licores (La Habana: Imprenta Fernandez y Cia, 1948), 264-275.

5. John B. Escalante, Manual del Cantinero (Habana: Imprenta Moderna, 1915), 13. 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

La Chandeleur e a Festa dos crepes na França

 

Hoje é 02 de fevereiro, e aqui no Brasil a data comemora no candomblé o Dia de Iemanjá (Salve Odoyá); enquanto os católicos celebram o Dia de Nossa Senhora da Candelária, a Senhora dos Navegantes; festividades que também envolvem comidas de celebração como o mugunzá branco (canjica branca) adoçado com mel (para Iemanjá) e o pirão de peixe (para a Candelária). Mas você sabia que, na França essa data é chamada de "Fête de la Chandeleur" (Festa da Candeláriia, em francês), uma celebração que relembra a Apresentação de Jesus no Templo? Pois é, mas que na França é também um dia em que se faz festa para comer crepes e galettes (esse é o nome que se dá para os crepes salgados) por todo o país. Agora, você deve estar se perguntado o que tem a ver a religião com os crepes?

Antes que apareça alguém reclamando por eu estar usando “O Crepe’ ao invés de “A Crepe”, eu devo salientar que essa confusão ocorre pelo fato da palavra crepe vem do francês, onde o termo é substantivo feminino. Contudo, no português, o substantivo é masculino. Logo, a maneira correra aqui no Brasil é “O Crepe” – por isso está assim. Dito isso, volto ao que interessa.


Nossa Senhora da Candelária
Iemanjá

A Apresentação de Jesus no Templo é um dia religioso comemorado em vários países. Então, a Festa da Candelária na França, onde também é chamada de Fête des Chandelles (Festa das Velas), embora hoje ela esteja ligada à religião católica, tem origens nas antigas religiões a muitos séculos.

Os Celtas, que também viveram em várias partes da França, tinham uma tradição de fazer uma procissão cheia de tochas para celebrar Brigit, deusa da fecundidade, que abençoava as sementes que seriam plantadas em breve. Os romanos retomaram esse costume e organizavam as Lupercales, que eram procissões com tochas em honra a Lupercus ou Pan, deus da fecundidade. Era uma forma de comemorar o final do inverno e a chegada de dias mais clementes e fecundos para a agricultura.


Lupercalia

Outra interpretação para a origem de La Chandeleur é que a festa seria dedicada à deusa Ceres (Deméter na Mitologia Grega), que representava a colheita e não fertilizava a terra durante três meses, ou seja, no inverno. Uma procissão com tochas era realizada, lembrando a procura da deusa por sua filha, Proserpina (ou Perséfone para os gregos), raptada por Plutão (Hades), o deus dos infernos. A luz das tochas na procissão simbolizava a vitória sobre as sombras da morte. Nos dois casos de origem pagã, a festa era realizada em torno de 15 de fevereiro.

Deusa Deméter

Foi em 472 que o papa Gelásio I decide “cristianizar” a comemoração, tornando-a símbolo da Apresentação de Jesus no Templo. Segundo a tradição hebraica, os bebês primogênitos do sexo masculino deveriam ser levados ao templo, quarenta dias após o nascimento, para serem apresentados a Deus. Quarenta dias após o Natal (nascimento de Jesus) cai em 2 de fevereiro.

De acordo com a Bíblia, um velho homem, Simeão, e a profetisa Ana reconheceram o menino como Deus, a luz de Israel. Por isso, Gelásio associa a antiga festa pagã das velas com a comemoração cristã. Nesse dia, é celebrada também a Purificação da Virgem Maria, outra tradição hebraica que diz que as mulheres deveriam ser purificadas 40 dias após o parto.

Mas, onde os crepes entram nessa história? Ocorre que, o papa Gelásio I apropriou-se a antiga festa pagã dos romanos. Então, no dia 2 de fevereiro, começaram a ser organizadas em Roma procissões, só que em vez de tochas eram velas bentas. No século VII, Festa do Candelarum se tornou tão popular, que antes mesmo da Aurora já havia fiéis chegando à cidade. Aí, para matar a fome dessa multidão, começaram a distribuir os crepes de trigo ‘candial’ (muito branco).

Essa tradição dos crepes com a Chandeleur (Apresentação de Jesus no Templo) continua na França. Na Idade Média, os camponeses iam à Missa pela manhã já com a velas para serem benzidas. Aí eles voltavam para casa, com a vela acesa, e percorriam todos os cômodos da residência, para levar luz e prosperidade ao lar. Durante essa procissão doméstica, a vela deveria ficar acesa. Se ela apagasse, era sinal de azar. Depois, ela era guardada em uma gaveta e só era retirada dali em situações dramáticas, como no caso da morte de alguém da família.


No mesmo dia, à noite, os crepes eram degustados. Pela sua forma redonda, a cor dourada e o fato de ser quente, o crepe lembrava o sol. O que combinava também com a festa religiosa, pois, para os cristãos, Cristo é a luz do Mundo. A tradição mandava que os crepes deveriam ser feitos com o trigo excedente do ano anterior, para trazer prosperidade na colheita do ano que começava. Também era uma forma de aproveitar o que sobrava do cereal.

E não para por aí! Os primeiros crepes deveriam ser feitos no fogo e jogados para o alto várias vezes com a mão direita, enquanto a mão esquerda deveria segurar uma moeda. Isso tudo para atrair a prosperidade. Depois, a moeda era enrolada no crepe, levada em procissão até o quarto para ser jogada em cima do armário, onde deveria ficar até o ano seguinte. Deixar a moeda cair, era azar para o ano todo.

Há historiadores que estabelecem a origem do crepe em 7000 a.C. Naquela época, era uma panqueca bem grossa, feita com uma pasta misturando água e vários cereais triturados. Uma pedra chata, muito quente, permitia o cozimento.

Na Bretanha, região francesa, foi no século XIII que surgiu o crepe. O trigo sarraceno, trazido de volta à França após as cruzadas na Ásia, possibilitou fazer essa fina camada de massa, de forma redonda. Este é o início da tradicional galette bretã! Pois, lá, os crepes salgados são sempre preparados com farinha de trigo sarraceno, também chamada de “farine de blé noir’, a vantagem desta farinha é que não contém glúten.

A galette de trigo mourisco deve ser distinguida do crepe doce, para a qual são utilizados farinha de trigo, leite, ovos e manteiga. Mas em ambos os casos, a preparação ganha em gula com as suas guarnições de recheio – que podem ser os mais variados possíveis.

Graças ao seu percurso histórico, o crepe tem alma viajante e hoje pode ser encontrado em todo o mundo, com pequenas variações: desde a famosa panqueca americana, que é menor e mais grossa; o bonitinho blini do Leste Europeu, ou ainda na tortilla mexicana, preparada com farinha de milho. O crepe francês ainda é primo da piadine italiana ou do baghrir norte-africano, e até da bruaca cearense do nordeste brasileiro. Todos, umas delícias de se perder o rumo.

Hoje não é preciso fazermos tantos rituais. Mas, sem dúvida, crepes e galettes, são excelentes opções para se deliciar.

 

Crepes (Massa Tradicional)

Para a Galette (massa salgada de crepe):

1 xícara de leite

5 colheres (sopa) de manteiga derretida

1 ovo

1 xícara de farinha de trigo

uma pitada de sal

Para a massa doce de crepe:

Adicione 1 colher (sopa) de açúcar.

Preparo: Numa tigela grande, misture o leite, a manteiga e o ovo, batendo com um fouet ou garfo. Vá colocando a farinha de trigo pouco a pouco, misturando bem. Adicione a pitada de sal e/ou, para a versão doce, o açúcar. Misture. Leve à geladeira por uma hora para a massa “descansar”. Para fritar os crepes, esquente bem uma frigideira e coloque uma colher de manteiga. Disponha uma concha da massa e espalhe bem por toda a frigideira. Quando estiver cozido o lado de baixo, vire e deixe cozinhar do outro lado. Retire, reserve num prato e recheie/sirva como quiser! Rende de 6 crepes.