sábado, 23 de outubro de 2010

Confusão da B(R)OA!!!

No post passado, coloquei uma receita de boinha que eu muito faço em casa. E foi demasiadamente engraçado quando , fuçando a internet, encontrei um causo real sobre a presença da Broa no Brasil. Vejamos o que eu encontrei:

A Broa é uma quitanda basicamente feita de fubá e água (ou leite em alguns casos) com ligeiras modificações aqui e ali por conta do tempero, ela é famosa no Brasil faz parte do café-da-manhã de muitos brasileiros – principalmente no Brasil interiorano do nordeste e centro-oeste.

DEFINITIVAMENTE, Não lhe cabe a extensão "de fubá" ou "de milho", pois se feita de outra farinha, QUE NÃO A DE MILHO, NÃO É BROA.

E não existe uma Broa melhor do que a feita com fubá moído em moinho d'água, que além de resgatar a tradição, preserva as qualidades e potencialidades do milho. Pena que este tipo de farinha de milho é cada vez menos encontrada no Brasil seja por causa da industrialização ou pela falta de interesse das pessoas em fabricá-la.  A broa é tão popular que já foi motivo de chacota entre pessoas do alto escalão do Governo, como o Ex-Ministro. Aluísio Pimenta, que em um de seus discursos a citou com o exemplo de marco cultural.

Para apoiá-lo, Saul Martins escreveu o artigo "Broa de Milho & cachaça" (Jornal Estado de Minas edição de 08.02.1986) para reafirmar que o conceito de cultura é mais abrangente e não está restrito a tão somente manifestações artísticas de elite, como pensam alguns.

 Embora presidente da Comissão Mineira do Folclore, Saul Martins cometeu um equívoco, por creditar aos norte-americanos a introdução da broa em Minas e no Brasil.

À época, o autor desta página e responsável pelo site, lembrou-se de ter visto o registro de broa em livro dos primeiros de registro da vida em Vila Rica. Foi em 1975, quando empregado da Prefeitura Municipal de Ouro Preto, descobriu no amontoado de documentos um livro datado de 8 (de março?) de 1724, aberto por Domingos de Souza Braga, para registro de aforamentos. Entretanto o livro não foi utilizado para a finalidade expressa em sua abertura. Em janeiro e fevereiro de 1733, foi utilizado para lançamento de gastos domésticos. Esse documento era a prova de que a broa aqui tinha chegado com os portugueses, pois 132 anos antes do final da Guerra de Secessão, já era apreciada em Vila Rica.

A essa altura, os documentos já haviam sido transferidos para o "Centro de Estudos do Ciclo do Ouro", instalado na Casa dos Contos, propriedade da Receita Federal. E foram transferidos em boa hora, porque se tivessem ficado por mais tempo em poder da prefeitura, talvez não mais existissem. O que era chamado de arquivo não passava de um amontoado de documentos empoeirados no fundo do galpão do almoxarifado.

No período chuvoso, muitas goteiras; a viver no meio da papelada, ratos e aranhas. O forte odor de urina de rato denunciava sua presença. E se os documentos não foram destruídos, talvez os roedores tivessem mais consciência do seu valor. Na Casa dos Contos foi conseguida a cópia, que acompanhou correspondência ao jornal Estado de Minas, apontando o equívoco do articulista. Infelizmente, nada do esclarecimento foi repassado ao público. Mesmo com a prova apresentada, o assunto não mereceu crédito.

No Brasil, primeiro é preciso que a pessoa tenha "pedigree", seja um "medalhão", para merecer atenção de altas instâncias. Nove anos mais tarde, em fevereiro de 1995, o assunto foi tratado no jornal  O LIBERAL, coluna OPINIÃO, como veremos a baixo:
OPINIÃO -A broa em Ouro Preto. Na edição anterior, a broa foi aqui citada de passagem, recordando episódio singular em que, lançada nos meios de comunicação, se não por quem dela se lembrou primeiro, o foi, contudo, pelos que se levantaram a questionar o que, no seu entendimento, era a manifestação do mau gosto de um ministro da Cultura. O fato se deu em fins de 1985 ou princípios de 1986, quando aquela pasta estava nas mãos do professor Aluísio Pimenta, e, este querendo chamar a atenção para a abrangência da cultura, apontou a broa como exemplo entre usos e costumes, que entram na formação de nossa identidade cultural. Talvez a broa tivesse passado despercebida, se alguns auto-nomeados do "do mais fino paladar" não se insurgissem contra a introdução na mesa daquela iguaria, dita caipira. O protesto de uns poucos foi o bastante para aguçar a curiosidade dos demais comensais que, daí em diante, dela se serviram e degustaram, achando-a boa e condizente com o próprio paladar. A broa, até então acanhada ao lado do bule esmaltado de café, apareceu em colunas sociais, foi tema de crônicas e artigos, matéria jornalística dos grandes noticiosos da televisão. Se tentaram cobri-la de pejo diante do pão, mais nobre, por outro lado não faltaram os que saíram em sua defesa, e do caboclo que a prepara com o milho por ele mesmo plantado, colhido e moído. Entretanto no interessado artigo sob o título "Broa & Cachaça", publicado no jornal Estado de Minas, segunda seção, página 2, de 8 de fevereiro de 1986, Saul Martins em sua ação de degustar a nossa broa acabou sendo enganado pelo paladar: conferiu-lhe origem e introdução em nossa culinária em desacordo com a história. Segundo ele, a broa teria sido introduzida no Brasil por imigrantes norte-americanos, sulistas derrotados pelos nortistas anti-escravagistas na Guerra de Secessão, finda em 1865. Ainda de acordo com aquele articulista, a palavra broa seria adaptação brasileira de "bread" (pão em inglês). Acontece que há registros a contestar tal afirmação. E um deles data de 1724, na forma de livro aberto por Domingos de Souza Braga com o título "Tombo da Villa para se lançarem os aforamentos", porém não usado conforme o termo de abertura. Em janeiro e fevereiro de 1733, foi ele usado para registro da aquisição de víveres, entre eles a broa aparecendo com 13 lançamentos, superada apenas por leite que aprece 15 vezes. Ao lado de mercadorias, cujos nomes estão ilegíveis, aparecem menos vezes outros itens da alimentação tais como farinha, pão, carne de porco, melado, banana, açúcar, vinagre e aguardente. Curiosamente, o feijão só aprece uma vez, assim como bacalhau, toucinho e paio. Sendo uma amostra muito pequena, durante dois meses apenas, porque em março já não se registrou nada, permanecendo o restante do livro em branco, por ela não se pode dizer que a broa fosse um item básico da alimentação. Contudo, pode-se dizer que era muito apreciada por alguém em Vila Rica, há 262 anos passados. Mas, o mais importante mesmo, no momento, é que pelo registro nesse livro prova-se que a broa não foi introduzida por imigrantes norte-americanos ao término da Guerra de Secessão, como escreveu Saul Martins, pois 132 antes daquele fato histórico já era conhecida e consumida em Vila Rica. E muito menos é derivado de "bread". A broa deve ter sido introduzida pelos próprios portugueses, e, a palavra é derivada diretamente do gótico BRAUTH, como ensina o LELLO. Aliás, pelo som, é muito mais lógica a derivação direta de "brauth" do que através "bread". O livro, talvez o mais antigo registro de itens da alimentação  mineira, fazia parte do acervo de documentos da Prefeitura Municipal de Ouro Preto até 1976, quando então se transferiu para o "Centro de Estudos do Ciclo do Ouro" (Casa dos Contos), sob a orientação do historiador Tarquínio J. Barbosa de Oliveira. Embora atrasada 9 anos, por falta de oportunidade no momento próprio, a contestação só foi possível graças à existência daquele registro com não mais que 5 páginas escritas, o que demonstra a importância da preservação de documentos. Graças a eles, conhece-se a história como aconteceu, e se evita seja reescrita, mesmo com boas intenções.
 . Em Portugal, diz-se que "boroa ou broa é palavra nortenha antiga, formada provalmente a partir de "boruna", pertencente a idioma pré-romano da Hispânia"  .   Lá também a broa é muito apreciada. Recentemente, em Viseu, foi assada a maior broa do mundo, devidamente incluída no Guinness. Consumiu 1.700 quilos de fubá, 400 quilos de farinha de centeio, 1.400 litros de água, sal e fermento. Segundo se informa, a broa foi fatiada para 40 mil pessoas.

No entanto, ainda se cabe mais investigação sobre o assunto...


BROA

1½ xícara (chá) de fubá;
1 pitada de sal
6 ovos
1 xícara (chá) de leite
1 xícara (chá) de manteiga
½ xícara (chá) de açúcar
1 xícara (chá) de farinha de trigo

Peneire numa tigela 1 xícara (chá) de fubá com a farinha de trigo, o açúcar e o sal. Reserve. Misture numa panela a manteiga (reserve 1 colher de sopa), o leite e 1 xícara (chá) de água. Leve ao fogo e, assim que ferver, junte de uma vez os ingredientes secos. Mexa vigoro¬sa¬¬mente e cozinhe por 20 minutos, sem parar de mexer, até obter um mingau encorpado. O fubá deve ser bem cozido como se fosse polenta. Retire do fogo, despeje numa tigela e deixe esfriar por 15 minutos, mexendo de vez em quando. Ligue o forno à temperatura média. Em seguida, adicione os ovos, um a um, mexendo sempre a cada adição. Continue a mexer vigorosamente até a massa ficar macia e um pouco mole (não é ponto de enrolar). Umedeça uma tigela de 10 cm de diâmetro (do tamanho de 1 xícara de chá) e polvilhe com parte do fubá restante. Coloque na tigela um pouco mais de 1 colher (sopa) de massa. Rode a tigela para formar as broinhas e disponha-as numa assadeira untada com a manteiga reservada. Deixe uma distância de 2 cm entre as broas. Repita a operação até terminar a massa. Sempre que necessário, umedeça um pouco a tigela e coloque mais fubá. Leve ao forno por 25 minutos, ou até as broinhas dourarem. Retire do forno e sirva quente.

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