domingo, 30 de janeiro de 2011

Pomos da Discórdia: das lendas para as mesas

Engraçado como as coisas inexplicavelmente retornam...
Estudei mitologia, de diversos povos, durante dez anos e de repente parei. Talvez por que me apareceram coisas novas pra pesquisar; talvez por que eu precisasse ver os resultados de anos de estudos; talvez eu precisasse repassar o que eu aprendi...
Hoje, porém, me peguei  num questionamento que me levou aos estudos mitológicos mais uma vez. Hoje, divido com vocês um pouco da minha curiosidade e de minhas “teorias”.
Desde as aulas de Ensino Religioso que eu tinha na escola, ou mesmo nas aulas do catecismo, os  “facilitadores” ensinavam erradamente um detalhe importante para a crença cristã: era repassado que quando adão e Eva comeram a maça da arvore proibida o mundo caiu em desgraça.
Eu sempre fui questionador, polemico até, e sempre que eu percebia algo errado e resolvia falar era um deus nos acuda (risos). E embora eu não tivesse a leitura que tenho hoje, ou mesmo a experiência, eu já sabia que o problema não era a pobre maça a causadora da expulsão do paraíso, mas a desobediência. Outro fator era o meu questionamento sobre a real existência da maça naquela história: quem disse que era uma maçã? Alguém provou a procedência desta informação?
É nítido que ao longo dos anos os responsáveis pelo comando da Igreja Católica usaram de poder e força bruta para incutir no povo o que eles quisessem. Além de se utilizar de costumes de velhas religiões e os adequar ao catolicismo para não perder fieis. E eu, hoje, pensando nisso vejo resquícios desta minha afirmativa presente na mitologia, quando ela trata do pomo da discórdia e da arvore dos pomos dourados que era protegida por um dragão.
Será que os pomos que causaram a discórdia na mitologia e no cristianismo vieram da mesma árvore, ou pelo menos  da mesma idéia?
Até nos contos de fada a presença de um pomo traz o enrredo para a clássica cena em Branca de Neve morde uma maçã e cai desacordada.
Mas é na mitologia que a maçã ganha cor de ouro e traz  momentos intrigantes e a  discórdia,construindo assim causos conhecidos pelo mundo todo até os dias atuais. Vejamos:

ATALANTA E HIPOMENE
Atalanta, na mitologia grega era uma das Abantíades, ora ligada aos mitos da Arcádia ora às lendas da Beócia. Sua filiação é controvertida; é tida como filha de Íaso, ou de Mênalo, ou ainda de Esquineu. Como seu pai queria apenas filhos homens, Atalanta foi abandonada no monte Partênio logo após o nascimento, tendo sido alimentada por uma ursa e depois recolhida e criada por caçadores. Tornou-se também caçadora, protegida por Artêmis. Muito ágil, era tão rápida "que poderia competir com os deuses Hermes e Íris" – os deuses mais rápidos. Como uma profecia afirmava que seria amaldiçoada e transformada em um animal ao se casar, Atalanta permaneceu virgem. Para demover os pretendentes, seu pai determinou que ela poderia se casar apenas com quem a vencesse na corrida. Os que fossem derrotados seriam mortos por Atalanta, que os trespassava com uma lança. Muitos jovens já haviam perdido a vida tentando derrtotar Atalanta, quando surgiu um novo pretendendente de nome Hipomene, filho de megareu. Hipomene pediu a ajuda de Afrodite que lhe deu três pomos (maçãs) de ouro, para que este os deixasse cair, um a um, no decorrer da corrida com Atalanta. Quando Atalanta via os pomos no chão, deslumbrada com sua beleza, parava para apanhá-los, fazendo com que Hipomene passasse à sua frente. Desta forma Hipomene venceu a corrida e se casou com Atalanta. Tiverem um filho, Partenopeu, que tomou parte na primeira expedição contra Tebas. Depois de se casar com Atalanta, Hipomene esqueceu de glorificar Afrodite. Como vingança, a deusa induziu o casal a violar um santuário de Zeus ou de Réia (conhecida em Roma como Cibele), onde fizeram amor. Como castigo pelo sacrilégio, Zeus (ou Réia) os transformou em leões para puxarem seu carro.

HÉRCULES NO JARDIM DAS HESPERIDES
Os pomos dourados aparecem mais uma vez na mitologia, sendo o decimo segundo trabalho de Hécules: conseguri os pomos de ouro do jadins da Hespérides.
O Jardim de Hespérides era o pomar de Hera, onde cresciam árvores que davam maçãs douradas da imortalidade (pomos dourados). No local era vigiado pelo dragão Ládon.
Conforme refere hesíodo na sua teogonia, Gaia, a Terra, e Ponto, o mar, tiveram muitos filhos, entre os quais se contavam Fórcis e Ceto. Por sua vez, estes dois deram lugar a uma terrível linhagem: as três Górgonas, Esteno, Euríade e Medusa; as três gréias, criaturas de cabelo grisalho e que partilhavam um único olho; e a temível Equidna, metade mulher, metade serpente. Por último, Ceto "pariu uma terrível serpente que, nos flancos da terra negra, na extremidade do Mundo, guardava as maçãs de ouro". Este era Ládon, e a sua história está associada à das Hespérides.
Essa crença dizem que Ládon, um dragão com um corpo de serpente onde tinha cem cabeças que falavam línguas diferentes, foi um dragão a quem Hera, mulher de Zeus, deu a tarefa de proteger a macieira de frutos de ouro. Esta era um árvore que Gaia lhe tinha dado no dia de casamento com Zeus. Hera plantou essa árvore nos confins ocidentais do Mundo e deu às ninfas do entardecer, as hespérides, filhas de Atlas, a função de a proteger. Estas, por sua vez, aproveitaram-se dos frutos de ouro para seu próprio benefício e a rainha dos deuses teve de procurar um guardião mais fiável, poderoso, e inteligente - Ládon.
A partir desse momento, Ládon tornou-se o guardião da macieira dos frutos de ouro, que mais tarde morreu por um flecha de Hércules que precisava de uma maçã de ouro para completar uma das 12 tarefas do rei euristeu. Este por sua vez, depois de matar o temível dragão, foi ter com Atlas que cedeu a sua tarefa de segurar o mundo aos ombros a Hércules, enquanto ele ia buscar a maçã. Quando regressou, trazia 3 maçãs de ouro, mas recusava-se a voltar para a sua função, o que fez Hércules enganá-lo dizendo que aceitava a exigência de Atlas, mas que queria ir buscar, primeiro, uma almofada para por aos ombros. Assim, Atlas. Atlas voltou a suportar o mundo e Hércules aproveitou para fugir indo para o jardim que o dragão guardava. Lá, para prestar homenagem a Ládon, pegou nos seus restos mortais e atirou-os para o Céu, onde ainda hoje estão, na constelação do dragão.

A GUERRA DE TROIA
A lendária guerra de troia começou numa festa dos deuses do olimpo: éris, a deusa da Discórdia, que naturalmente não tinha sido convidada, resolveu acabar com a alegria reinante e entregou anonimamente aos olímpicos uma linda maçã, toda de ouro, com a inscrição "Para a mais bela".
A confusão já estava armada. As três deusas mais poderosas, Hera, Afrodite e Athena, imediatamente se colocaram a disputar o troféu. Nenhum dos deuses quis se meter a juiz nessa confusão, inclusive o rei do Olimpo, Zeus. Esse, sabiamente, resolveu se livrar do espinhoso fardo e passá-lo à Páris, um mortal que era filho do rei Príamo, de tróia. Na época, Páris trabalhava como pastor e vivia feliz ao lado de uma ninfa adorável chamada Enone. Vivia no campo pois sua mãe, dias antes de seu nascimento, sonhara que estava dando a luz a serpentes flamejantes que se enrolavam entre si, depois pediu aos adivinho para interpretar o sonho e eles disseram que o bebê destruiria Tróia e todo seu território
Assim estavam as coisas até surgirem diante de Páris as 3 divindades em suas formas mais reluzentes e magníficas. Todas tentaram persuadi-lo com oportunidades infinitamente gloriosas. Em troca da maçã de ouro, Atena ofereceu a Páris a chefia de uma histórica e vitoriosa guerra. Já hera ofereceu a ele a glória de ser o Rei absoluto de toda a Europa e Ásia. E Afrodite por sua vez, garantiu a ele o amor da mais bela mulher do mundo.
Páris então, confuso em meio a tantas maravilhas oferecidas a si, concedeu o título a Afrodite. E a deusa, ignorando solenemente a presença de Enone, realizou o desejo do jovem. A deusa sabia exatamente onde se encontrava a mais bela mulher do mundo: era Helena, casada com o rei de esparta, Menelau.
 Auxiliados por Afrodite, Helena e Páris fugiram para Tróia. Assim que soube da traição, Menelau enfurecido foi pedir auxílio ao seu inescrupuloso irmão, o rei agamenon para junto com ele persuadir todos os grandes generais e reis da Grécia numa marcha colossal contra os troianos (inclusive o rei da província de Ítaca, Odisseu, arquiteto do plano com o cavalo de tróia e posteriormente famoso pela odisseia ). Agamenon viu no infortúnio do irmão a oportunidade perfeita para conquistar Tróia, até então conhecida como impenetrável. E foi a partir desse momento que começava a mundialmente conhecida Guerra de troia,No fim Páris cumpriu a missão perdendo a guerra e causando a destruição de Tróia.
E a famosa maçã passou a ser conhecida como "o pomo da discórdia" - que hoje indica qualquer coisa que leve as pessoas a brigar entre si.
De acordo com Sharon Arnot, o termo maçã dourada é frequentemente usado para se referir ao marmelos, um fruto do oriente médio (Quince, the golden apple. Sharon Arnot, sauce Magazine, 26 de abril de 2004).
Mas e o fruto de Adão e Eva seria um pomo de ouro. Seria uma maçã?
De acordo co a bíblia o fruto é chamado de o “fruto da árvore” (arvore do conhecimento do bem e do mal), e nem os frutos nem a arvore tiveram sua espécie identificadas.
A fruta comida por Adão e Eva. Porém, conceitos cristãos mal formulados em suas traduções trazem a maçã como sendo o tal fruto. Alguns pesquisadores acreditam ainda que o Figo, o Trigo ou a Uva tem possibilidades de terem sido o fruto proibido!
Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. (Gênesis 3 - Versículo 3).
De acordo com o Livro de Gênesis, Adão e Eva foram expulsos do paraíso por comerem “O fruto da árvore que está no meio do jardim”. Nada menciona a MAÇÃ!
Alguns Teólogos acreditam que o fruto proibido seria o Figo da Figueira, por Adão e Eva se vestirem das folhas da figueira. Outros Teólogos acreditam que o fruto proibido faça referência ao trigo ou possivelmente a uvas.
Segundo o ditado popular mundial, o fruto proibido é a maçã! A culpa disso deve-se talvez a Áquila Pôntico, um tradutor do Antigo Testamento, que atribuiu a macieira no Cântico de Salomão, como sendo a árvore frutífera de Gênesis, sendo assim, a maçã como o fruto proibido.

A simbologia da maçã.
As línguas européias e também indo-européias usam uma palavra com a raiz de ap, ab, af ou av para maçãs ou macieira: aballo (céltica), apple (inglês), apfel (germânico), abhal (gaélico irlandês), afal (galês), iablokaa (russo) e jablko (polonês). Com relação a pomme, o termo francês vem do latim pomum, que se referia originalmente a todas as frutas. Em latim as palavras mal e maçã, malum, são escritas da mesma forma, sendo a originárias do grego, mélon.
A fruta possui um sentido ambíguo durante a Idade Média. De um lado foi identificada como aquela que causou o pecado original. Porém, também pode ter um significado positivo, pois desde o século XI a maçã nas mãos do menino Jesus e na de Maria significa uma referência à absolvição do pecado e à vida eterna (LURKER, 1997: 405).
Para os povos germânicos, a maçã também significa a imortalidade, representada pela deusa Idun (a rejuvenescedora). Ela guardava uma maçã numa taça e quando os deuses ficavam velhos mordiam a maçã e encontravam a juventude (GUREVITCH, 1990: 119). Numa ocasião, porém, a deusa e seus pomos de ouro foram raptados por um gigante, o que deu início ao envelhecimento dos deuses do Asgard. Com o resgate de Idun pelo deus Loki, todos readquiriram a juventude (LURKER, 1993: 97).
Idun
Durante o período medieval, outras frutas também foram associadas ao pecado original, como a uva e o figo. A figueira na Grécia era consagrada à Atena e seus frutos sagrados não podiam ser exportados. Em Roma possuía um sentido erótico e era associada a Príapo. Na Bíblia, após comerem o fruto proibido, Adão e Eva descobriram que estavam nus e cobriram-se com folhas de figueira (Gn 3,7).
O figo está relacionado ao fígado, principal órgão dos sentidos para os gregos, sendo a figueira usualmente considerada local de contemplação. Por isso, ao transgredir o decreto dos deuses e fornecer o fogo aos homens, Prometeu foi condenado a ter seu fígado eternamente comido pela águia (animal ligado aos deuses), podendo-se estabelecer um paralelo entre a transgressão de Adão na cultura judaico-cristã e a de Prometeu na greco-romana, pois ambos teriam simbolicamente roubado a sabedoria do mundo divino (FRANCO JR., 1996: 57). O figo também aparecia em representações de bacanais, e o seu interior assemelha-se ao órgão sexual feminino.

Prometeu
 A uva era outra fruta associada à transgressão de Adão e Eva, relacionando-se à fertilidade e ao sacrifício (CIRLOT, 1984: 590). Seu significado está ligado ao sangue e, por isso, à Paixão de Cristo. Para os medievais, a ato de comer era sagrado e indiretamente ao beber o vinho e comer a hóstia comiam Deus, morto para redimi-los do pecado.
A partir do século XIII, a maçã passou a ocupar o principal lugar como fruto proibido. A uva era uma fruta em grande abundância em várias regiões européias e daí a substituição pela maçã por motivos econômicos. Um exemplo da relevância da vinha é sua constante representação nos calendários, associada às atividades agrícolas, estampada nos meses de abril (poda da vinha), setembro (colheita) e outubro (preparação do vinho).
A maçã também ocupa um lugar importante na mitologia celta, representando a imortalidade e servindo de alimento para os mortos. As maçãs são consideradas ainda como símbolo da alma. Por isso, no festival celta de Shamhaim – que deu origem ao Halloween – elas eram enterradas durante a noite para que renascessem na primavera.
Entre as populações de origem céltica, a maçã representa o conhecimento, a revelação e a magia. Existem vários relatos referentes às viagens célticas ao Além, os imrama, nos quais um herói é atraído por uma fada, que lhe entrega um ramo de maçã e o convida para ir para o Outro Mundo, como em A Viagem de Bran, Filho de Febal. Num outro imrama, A Viagem de Maelduin, que trata da busca do herói pelos assassinos de seu pai, ele passa por uma ilha onde encontra uma macieira e dela corta um ramo com três maçãs. Estes frutos são capazes de saciar a sua fome e a de seus companheiros por quarenta dias sem ingestão de qualquer outro alimento (MARKALE, 1979: 246).
Numa outra narrativa céltica, Condle, filho de Conn, herói das cem batalhas também é alimentado por maçãs que nunca diminuem sua quantidade (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1995: 573). Na mitologia desses povos, a maçã está ligada a um espaço específico: a Ilha dos Bem-Aventurados, local de abundância e imortalidade. Os gregos já imaginavam essas ilhas com um clima ameno e aprazível, cercadas por árvores frutíferas e fontes para onde os heróis eleitos se dirigiam sem sofrer a morte (LURKER, 1997: 337).
Mais tarde, Isidoro de Sevilha deu maiores descrições destas regiões, ressalvando, no entanto, que não correspondiam ao paraíso terrestre, o qual, de acordo com a concepção cristã, localizava-se em algum lugar da terra no Oriente, sendo inacessível aos humanos. Na Baixa Idade Média, o conceito de Ilha Afortunada de Isidoro fundiu-se com a noção da Ilha Céltica de Avalon (DELUMEAU, 1994: 123).
Ilha das maçãs
Tal como a árvore, a ilha tem o significado de centro e sua forma circular representa a perfeição. Sua localização isolada e de difícil acesso garante que só os escolhidos podem alcançá-la após uma viagem iniciática, na qual passam por outras ilhas e enfrentam perigos até chegar ao seu destino. Existe uma analogia entre a Terra das Fadas, os reinos utópicos, como o País da Cocanha e o Éden bíblico. Todos estes locais são caracterizados pela abundância, fertilidade e inexistência do trabalho humano. Veremos mais tarde algumas diferenças na passagem dos eleitos por estes locais. Avalon, a Ilha das Maçãs (Insula Pomorum) era, de acordo com as descrições da Vita Merlini de Geoffroy de Monmouth (século XII) uma ilha tão abundante que ao invés de grama o chão era coberto por frutos:
La isla de los Frutos, que llaman Afortunada, bien puesto tiene el nombre, que de todo produce por sí sola. Pues no ha menester esta isla de labriegos que aren sus campos: no hay allí ningún cultivo, todo lo da espontáneamente la naturaleza. (...) De todo da su suelo en extrema abundancia, frutos en lugar de grama. (GEOFFREY DE MONMOUTH, 1994: 32)
Como demonstrei, no período medieval a maçã possui um sentido multifacetado. Fruto proibido, levou os homens ao sofrimento e ao conhecimento, que segundo Santo Agostinho, deveria ser obtido através do amor. Para os homens da Igreja, a sapientia era uma prerrogativa deles, na medida em que, por estarem afastados do ato sexual, eram mais puros e totalmente voltados a Deus. Vistos como os intérpretes da palavra sagrada e da verdade, os oratores consideravam que sua proximidade com o mundo divino os autorizava a controlar o resto da sociedade, procurando assim estabelecer normas que garantissem aos vivos a futura entrada no paraíso. Porém, os relatos medievais apresentavam outros tipos de paraíso e outras vias, como as seguidas por Bran, Guingamor ou pelo poeta da Cocanha.
A maçã também possui um significado curioso com relação à figura feminina. De um lado representa o mal e o pecado, através da ingestão do fruto proibido por Eva, que levou os medievos ao desprezo e à desconfiança com relação aos seres deste sexo. As mulheres eram usualmente vistas como mentirosas, tentadas ao adultério e inclinadas à luxúria e ao demônio. A salvadora dessas mulheres seria Maria, a virgem escolhida pelo Criador para gerar um homem perfeito, Jesus, o filho de Deus, que sacrificou-se para redimir os pecados da humanidade. Próxima ao modelo de Maria estava Valides, capaz de, através de sua pureza, indicar a um eleito de Deus, Santo Amaro, o caminho do paraíso terreal.

Uma outra imagem feminina era a das fadas, mulheres que habitavam a Insula Pomorum, e que competiam no plano simbólico com a Igreja com relação ao domínio do sagrado, pois, segundo as narrativas, possuíam a sabedoria, o dom da cura e da imortalidade.
O sentido da maçã como representante da Ilha Paradisíaca levou muitos a sonharem com a terra da abundância, da imortalidade e felicidade, que poderia ser encontrada num mundo paralelo em algum lugar misterioso: uma ilha no meio do oceano, um lugar na floresta. Para o clero, no entanto, só depois da morte e da passagem pelo purgatório, os indivíduos purificados poderiam aspirar à felicidade eterna.
Além de tudo isso, a maçã, fruta de regiões temperadas, tem muito a oferecer em termos de nutrição. Fósforo, ferro e vitaminas do complexo B que ajudam a regular o sistema nervoso, favorecem o crescimento, evitam problemas de pele, do aparelho digestivo e queda dos cabelos. A maçã ainda é fonte de quercetina, uma substância que ajuda a evitar a formação dos coágulos sanguíneos capazes de provocar derrames, sendo recomendado o seu consumo para quem tem problemas de intestino, obesidade, reumatismo e diabetes. O ideal é consumi-la com a casca, mas se for retirá-la, aproveite para, depois de seca, fazer um chá, é um excelente diurético. Não é por nada que um ditado popular diz o seguinte: uma maça por dia afasta o médico.

E pra não desagradar as crenças, aqui deixo umas receitinhas de pomos proibidos .

Marmelo em calda
2 kg de marmelo
2 xícaras de chá de açúcar
1 litro e meio de água

Modo de preparo: Descasque os marmelos, retire as sementes e corte em fatias de 1 cm. Coloque os marmelos numa panela juntamente com o açúcar e a água. Leve ao fogo. Quando as fatias de marmelo estiverem cozidas e macias, retire da panela. Reserve. Deixe a calda no fogo cozinhando até ficar mais grossa. Acrescente as fatias de marmelo, retire do fogo e deixe esfriar. Coloque numa compoteira e sirva.

Maça Assada
6 maças grandes tipo fuji ou verde
3 ovos
1 lata de leite condensado
1 lata de vinho tinto suave
1 xícara de café de rum
1 xícara de açúcar para cozimento das maças
2 xícaras de açúcar para calda

Modo de preparo: Descasque as maças, tirando o miolo (sementes), formando um buraco no meio da maça, com cuidado para não rachar as laterais da maça. Coloque-as em uma panela com as cascas, o vinho, o açúcar e run. Deixe cozinhar até que as maças fiquem cozidas, porém não moles. Faça creme com leite condensado e duas gemas de ovos. Após cozimento, retire as maças e recheie as mesma com creme, feito com leite condensado. Prepare um creme de suspiro e cubra as maças. Após coberto com suspiro , asse no forno, até que o suspiro fique dourado. Deixe esfriar e coloque na geladeira. Com o restante da caldo do vinho, acrescente mais açúcar e reduza até ponto de calda grossa. Deixe esfriar. Montagem do prato: coloque a maça individual em prato de sobremesa e despeje por cima a calda do vinho.

Figos  Ramy
500 gr de açúcar cristal
36 unidade(s) de figo



Modo de preparo:
Lavar os figos e cortar os cabinhos. Arrumar numa panela com os cabos todos para cima, colocar o açúcar por cima dos figos. Tampar e levar ao fogo forte. Quando ferver, abaixe o fogo e deixe cozinhar por aproximadamente 3 a 4 horas.  Desligar o fogo quando o doce estiver como o ramy.  Colocar em compoteira e conservar em geladeira




Fontes
A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 1995.
CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1995.
CIRLOT, Juan Eduardo. Dicionário de Símbolos. São Paulo: Moraes, 1984.
DELUMEAU, Jean. Uma História do Paraíso: O Jardim das Delícias. Lisboa: Terramar, 1994.
FRANCO, Jr., Hilário. A Eva Barbada. São Paulo: EDUSP, 1996.
GEOFFROY DE MONMOUTH. Historia Regum Britanniae (Histoire des Rois de Bretagne). (traduite et comenté par Laurence Mathey-Maille). Paris: Les Belles Lettres, 1994.
GUREVITCH, Aron. As Categorias da Cultura Medieval. Lisboa: Caminho: 1990.
LURKER, Manfred. Dicionário dos Deuses e Demônios. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
______________. Dicionário de Simbologia. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
MARKALE, Jean. L’Epopée Celtique d’ Irlande. Paris: Payot, 1979.

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