Hoje
acordei um tanto maléfico...
Pra
mim, não existe nada como uma boa dose de mistério (e uma dose de maldade?)
para aguçar e apimentar a curiosidade humana. Principalmente quando se pode
encontrar boas histórias, fatos intrigantes, vividos por pessoas comuns, cheias
de qualidades e defeitos, assim como eu e você.
Por
isso, hoje resolvi fazer uma bebidinha que chamo carinhosamente de doce
veneno... mas para este post fui buscar uma alusão a uma famoso história de um
clã de bruxas envenenadoras profissionais, As Toffanas, personagens que eu
tenho uma afeição devido aos seus conhecimento sobre ervas e suas habilidades
farmacêuticas, que servirão para incrementar meu post. Mas isso tudo só se
justifica, pelo fato de que, na minha escrita eu adorava bricar com plantas,
comer flores, e recordo bem de ter brincado muito com Belladonna, um dos
ingredientes do famoso veneno da renascença - Acqua Toffana – estrela principal entre os
venenos de criação das Toffanas.
Atropa belladonna |
O
nome cientifico da planta é Atropa Belladonna, nome que deriva de Átropos que,
segundo a mitologia greco-romana, seria a divindade responsável pela morte das
pessoas, ela fazia o corte do fio da vida... e faz todo sentido...
As Parcas (equivalentes às moiras gregas) eram 3 deusas: Nona (Cloto , em grego), Décima (Láquesis) e Morta (Átropos). Determinavam o curso da vida humana, decidindo questões como vida e morte, de maneira que nem Júpter (Zeus) podia contestar suas decisões. Nona tecia o fio da vida, Décima cuidava de sua extensão e caminho, Morta cortava o fio. Eram também designadas fates, daí o termo fatalidades. Interessante notar que em Roma se tinha a estrutura de calendário solar para os anos, e lunar para os atuais meses. A gravidez humana é de nove luas, não nove meses; portanto Nona tece o fio da vida no útero materno, até a nona lua; Décima representa o nascimento efetivo, o corte do cordão umbilical, o início da vida terrena, o individuo definido, a décima lua. Morta é a outra extremidade, o fim da vida terrena, que pode ocorrer a qualquer momento.
Talvez
seja por estes dois motivos que eu tenha certa admiração pelas Toffanas: pelo
fato de eu viver rodeado por belladonnas, na infância; e, por trazer essa fonte
com etimologia que recorre ao personagem mitológico – a mitologia sempre
foi muito presente na minha vida
(estudei isso por dez anos).
Mas,
vamos ao que interessa. Aproveitem, e cuidado com o que bebem...
AS
TOFFANAS
Não
se sabe muito sobre a origem da primeira Toffana, Teofania di Adamo, nasceu e
cresceu na Sicília, era eximia farmacêutica que produzia e vendia perfumes,
cosméticos, fitoterápicos e outras misturas, e que foi executada em Palermo, em
12 de julho de 1633, época do regime do vice-rei Ferdinando Alfa de Ribeira, sob acusação de ter envenenado o seu marido, Francis
d'Adamo. Ela teria desenvolvido o veneno Acqua Toffana (água
toffana) por ódio da posição dos homens
na sociedade e pela subjugação da mulher, e passara a vender o veneno em
garrafas com a imagem de São Nicolau de Bari – este último supostamente teria
matado o duque de Anjou, e os papas Pio II e Clemente XIV.
Enquanto
Giulia Toffana, a segunda na linhagem das Toffanas, seria filha (ou para
alguns, neta de Toffana d”Adamo) o que explicaria como ela aprendera os
princípios de fabricação da Acqua Toffana. Alguns relatos apresentam Giuglia
como uma mulher muito bonita e inteligente. E foi a sua beleza que lhe levou a
conhecer boticários que, inadvertidamente, lhes contava sobre os venenos mais
comuns, seu uso e como prepara-los.
Giulia Toffana |
A
inteligência de Giuglia lhe permitiu colher grandes lucros vendendo o veneno
inodoro e insípido (água toffana) para mulheres insatisfeitas com o casamento e
comprava, frascos do veneno como se fosse "Acqua di San Nicola di Bari”.
Alguns historiadores relatam que foi através de Nápoles, que ficou conhecido
como "Acqua di Napoli" e "Acqua di San Nicola di Bari."
Este último, liquido sagrado que traria a cura, e talvez por este mesmo motivo
fora de qualquer suspeita.
Frasco antigo da acqua de São Nicolau de Bari |
O
veneno desenvolvido e melhorado seria a forma perfeita de deixar as mulheres
viúvas sem levantar suspeitas com apenas quatro gotas. Isso acabou levando a
filha de Giuglia, Girolama Spera (a terceira na linhagem das Toffanas) a fugir
com a mãe para Roma – ambas já eram conhecidas como bruxas famosas naquela
época. Em Roma, desconhecidas, continuaram seus negócios e amealharam fortuna.
Porém
o comércio de Giuglia foi levado a autoridade papal por um marido que,
felizmente, escapou do envenenamento. E quando surgiu o boato de que Giuglia
Toffana teria envenenado a água na cidade e a polícia a procurava
desesperadamente. Sua popularidade era tanta que a população da cidade ajudou
Giuglia a se abrigar com segurança numa igreja. Mas fora arrastada pelos
policiais que a encontraram, para ser interrogada. Sob tortura, Giuglia Toffana
confessou, sem remorso, que vendeu (só em Roma!) veneno suficiente para matar
cerca de 600 homens, entre 1633 e 1651.
Ela
foi condenada e executada em Roma, em 1659, juntamente com a filha e 3
aprendizes. Foram executadas no Campo di Fiore, e o corpo de Giuglia foi
colocado dentro dos muros da igreja que lhe serviu de acolhimento.
Alguns
dos usuários e provedores também foram presos e executados, enquanto outros
cúmplices foram emparedados em masmorras do Palazzo Pucci.
Ilustração do Campo di Fiori |
O
veneno Água Toffana (Acqua Toffana, em italiano) levou o nome de Teofania
D'Adamo sendo que, até hoje, a quantidades especificas dos elementos que o
compõem são conhecidas por poucos – pra nossa sorte. Segundo os cronistas,
trata-se de um líquido claro, sem gosto, composto da mistura de ingredientes
como: arsênico, chumbo, belladonna e cimbalaria (Cymbalaria Linaria). As
confissões D'Adamo, antes da sua execução, deu a entender que eram uma mistura
de essências de plantas. E sabe-se que NÂO existe um antídoto para ele.
A duquesa de Ceri, uma nobre romana suspeita de ter usado o veneno de Giulia Tofana para matar seu marido. |
Estudiosos
dizem que o método de preparação desta poção era muito cruel: a bruxa pegava um
leitão sedento e obrigava-o a tomar uma farta dose da mistura preparada pela
bruxa. Então pendurava-o, ainda vivo, pelas patas traseiras com uma espécie de
focinheira com um recipiente. O leitão era então morto a base da paulada e o
recipiente da focinheira recolhido - a mistura de baba, sucos gástricos... Tudo
aquilo que o animal soltava pela boca. Esta mistura era então destilada com
água
A
dose de veneno determina o início dos sintomas, e a velocidade com que a morte
virá. Às vezes, dizia-se que apenas acelerava os efeitos de algumas outras
doenças já contidas na vítima passiva. Em qualquer caso, não havia traços
detectáveis no organismo pelos médicos da época.
Uma
teoria já desacreditada pelos historiadores contemporâneos, trazia Wolfgang
Amadeus Mozart como a vítima mais famosa do água toffana; isso se deve a Maria e Vincent Novello
("A peregrinação Mozart"), no século XVIII, os fundadores da
indústria moderna de publicação de música na Inglaterra, que trouxeram uma
entrevista realizada 1829 na Áustria com Constanze, a viúva de Mozart, que
afirma que "seis meses antes de sua morte, o célebre autor" tinha a
impressão horrível "que ele foi envenenado por Acqua Toffana”.
Mas,
como aqui não se pretende envenenar ninguém, ficam receitinhas de bebidas para
surpreender os convivas...
Coquetel doce veneno do Barão de Gourmandise
1 colher de sopa de café solúvel extra forte
1/2 lata de leite condensado
2 copos de conhaque
2 colheres de sopa leite em pó
2 copos de gelo moído
1/2 colher de chá de canela
1/2 colher de cha de baunilha
Bata no liquidificador o leite condensado, o café, 1 copo de conhaque, 2 colheres de leite em pó, o gelo e a baunilha Quando estiver para terminar, acrescente o outro copo de conhaque Polvilhe com um pouco de canela por cima. Sirva bem gelado com chantilly
Coquetel doce veneno do Barão de Gourmandise II
01 dose de vodka
3/4 dose Bailey’s
02 bombons Sonho de Valsa
02 bolas de sorvete de creme
01 lance de groselha
Bata todos os ingredientes no liquidificador com gelo.
Depois, guarneça com chantilly e morango.
Coquetel doce veneno do Pecado do Barão de Gourmandise (Falsa Champagne)
1 lata de guaraná gelada
a mesma medida de vinho branco seco
Misture os dois ingredientes e sirva!
Dica: Se preferir, substitua o vinho branco por vinho rosé.
A culinária é uma das artes alquímicas mais importantes pra humanidade. A informação é outro elemento indispensável. obrigada por dedicar parte do seu tempo para instruir e esclarecer quem necessita. que a Deusa esteja com você.
ResponderExcluir