Engraçado como as pessoas não conhecem direito as próprias tradições... E é mais engraçado ver como elas são mecanizadas nas datas comemorativas; fazendo coisas que dizem ser "das tradições", mas que nem sabem porque estão fazendo aquilo. E quando questionadas sobre o porquê das coisas que fazem, não conseguem explicar. Por este motivo, hoje resolvi esclarecer um pequeno detalhe, de grande importância, para o período que se aproxima: a Páscoa.
Não irei tratar aqui sobre a real origem da Páscoa. Pois a maioria das pessoas sabem que esta data, para os cristãos católicos ocidentais, trata-se da celebração pela ressurreição de Jesus Cristo. Com uma rica exibição de símbolos, serviços, música e outros rituais, o tempo pascal é considerado um dos mais importantes momentos do ano para a Igreja Católica – o Natal se configura com o primeiro lugar no nível de importância.
Hoje quero falar de como o OVO, um dos símbolos da páscoa, tornou-se ícone e como se deu a ligação dele com os coelhos – outro símbolo pascoal. Porém, para chegarmos aos famosos ovos de páscoa, antes, é preciso entender como o coelho entrou nesta tradição, presenteando pessoas com ovos.
O COELHO
Entre os símbolos da Páscoa, o coelho é um dos mais conhecidos por todos, pois a Páscoa é uma festa que cai na primavera nos países de origem do hemisfério norte. E, desde os tempos mais antigos, lebres e coelhos serviram como símbolos da nova vida abundante na época da primavera devido a seus frequentes nascimentos múltiplos.
Sendo uma festa celebrada no primeiro domingo que ocorre após a primeira lua cheia (ou após o equinócio vernal), é associada à Lua e ao hábito noturno das lebres. No entanto, há várias explicações para essa associação entre a lebre, o coelho e a lua.
Uma das associações famosas é a de que a lebre é noturna, e uma parenta do coelho. A lebre era símbolo das aberturas de ciclos pelos egípcios, estando assim relacionada com a renovação e o renascimento, abrindo um novo ciclo.
Lebre |
A lebre passou a ser representada pelo coelho, que popularmente se tornou um símbolo para a periodicidade. Pois a lebre, por ser selvagem, não tinha tanto contato no plano humano como tem o coelho.
O Coelhinho da Páscoa é, na verdade, uma lebre, animal também associada à deusa “Eostre”. O símbolo da deusa anglo-saxã da Primavera “Eostre”, era uma lebre. E ela foi adorada como símbolo na terra representando a deusa fértil na lua cheia e em comemoração a sua gravidez e o nascimento de sua prole. Eostre era representada por uma lebre e o ovo. Ambos, hoje, são símbolos do renascimento.
As religiões que tinham como base a crença na Grande Deusa reinaram até que as religiões abraâmicas (Islamismo, Cristianismo, Judaísmo) a suplantassem. Com a expansão do Cristianismo, a religião da Grande Mãe, pagã – que no sentido original da palavra refere-se a religião praticada nos campos; foi sendo destruída.
Durante a Idade Média , a Igreja Católica passou a considerar os rituais praticados na Antiga Religião como bruxaria, coisa do demônio, na tentativa de impor a crença num único Deus, poderoso, masculino e que punia e castigava aqueles que não obedeciam seus ritos e ensinamentos. A Igreja utilizou-se de guerra psicológica, torturas e campanhas militares para alcançar seus objetivos. Criou a Inquisição para perseguir e punir todos aqueles que não professassem a fé católica.
Muitas das crenças do paganismo foram incorporadas aos rituais cristãos, fossem por tentativas de manter vivos os antigos cultos pagãos, sem correr o risco de acabar na fogueira ou pela inteligência dos padres e sacerdotes que buscavam manter o rebanho dentro dos templos utilizando padrões e rituais com os quais as populações já estavam acostumadas, e sem contar que muitas igrejas ocupavam áreas que anteriormente eram templos pagãos.
Assim a Igreja, na sua busca de conquistar mais fiéis, uniu símbolos das religiões antigas ás suas crenças e a lebre da páscoa se tornou o coelhinho que nos traz ovos, até hoje. Mas, são raros aqueles que conhecem o significado advindo da religião antiga (que você, caro leitor, irá conhecer nas próximas linhas).
O OVO DE PÁSCOA
O ovo é considerado a mais perfeita embalagem natural. Em diversas culturas também simboliza o começo do universo. O significado da palavra ovo está relacionado à origem, o princípio de tudo, e pode ser feita uma associação com a própria Páscoa, o ovo representa nascimento e vida.
Presentear pessoas com ovos é um costume de épocas remotas. Na Roma antiga, nas festas de primavera, as mulheres casadas vestiam-se de branco e carregavam o ovo que era dedicado aos seres protetores da agricultura.
Os hebreus na Páscoa comiam ovos cozidos. Os celtas ofereciam ovos pintados de vermelho, simbolizando o sangue derramado por Cristo. Chineses, há tempos atrás, distribuíam ovos coloridos entre amigos durante a primavera representando revigorar a vida.
Os pagãos (especialmente ucranianos) tinham o costume da “arte de decorar ovos”, chamado de “pisanka” (da imagem), que depois seria atribuído pelos cristãos de outra forma. Têm-se notícias que em alguns países os noivos davam um ao outro um ovo pintado simbolizando a perpetuação do amor. É no século XVIII que os cristãos acatam a ideia de pintar ovos nas cores da primavera. A própria Igreja Católica “doava” aos fiéis ovos bentos.
Estas culturas tinham o ovo como emblema do universo, a palavra da suprema divindade, o princípio da vida. Mas vários costumes associados à Páscoa não existiam até o século XV.
Acredita-se que os missionários e os cruzados trouxeram para a Europa Ocidental o costume de presentear com ovos. Na época medieval, eram pintados de vermelho para representar o sangue de Cristo. Os cristãos adotaram esta tradição e o ovo passou a ser o símbolo da tumba da qual Jesus ressuscitou.
Ovos de chocolate começaram a aparecer no século XVII. Ovos de plástico recheados de ovos de chocolate ou bombons surgiram na década de 60.
Mas como explicar um coelho trazendo ovos na páscoa, quando ele é um ser mamífero e por tanto, não ovíparo? A explicação desta questão é o principal foco desta postagem. E a resposta para esta indagação segue a seguir.
A maioria das tradições do feriado religioso da Páscoa está contida nos rituais pagãos, o que gerou grande variedade de lendas, ícones, símbolos e costumes, que passaram a fazer parte da celebração.
Séculos antes do nascimento de Cristo as tribos pagãs da Europa adoravam a bela deusa da primavera - EE-ah-tah, (ou, Eostre - Ostara). Festivais para celebrar o nascimento da primavera eram organizados em honra da entidade no final de março, tempo do equinócio de inverno no hemisfério norte.
Eostre |
O nome Ostara, como também a Deusa é chamada, tem origem anglo-saxã provinda do advérbio ostar que expressa algo como “Sol nascente” ou “Sol que se eleva”. Muitos lugares na Alemanha foram consagrados a ela, como Austerkopp (um rio em Waldeck), Osterstube (uma caverna) e Astenburg.
Eostre/Ostara estava relacionada à aurora e posteriormente associada à luz crescente da Primavera, momento em que trazia alegria e bênçãos a Terra. Por ser uma Deusa um tanto obscura, muito do que se sabia sobre ela foi se perdido através dos tempos, e descrições, mitos e informaçõe sobre ela são escassos.
Seu nome e funções ainda têm relação com a Deusa grega Eos, Deusa do Amanhecer na mitologia grega. Alguns historiadores dizem que ela é meramente uma das várias formas de Frigg *deusa indo-européia – esposa de Odin), ou que seu nome seria um epíteto para representar Frigg em seu aspecto jovem e primaveril. Outros pesquisadores a associam à Astarte (Deusa Fenícia) e Ishtar (deusa Babilônica), devido às similaridades em seus respectivos festivais da Primavera.
Celebração de Ostara |
A lenda abaixo explica como os “coelhos da páscoa puseram ovos”:
Diz a lenda que Eostre tinha uma especial afeição por crianças. Onde quer que ela fosse, elas a seguiam e a Deusa adorava cantar e entretê-las com sua magia.
Um dia, Eostre estava sentada em um jardim com suas tão amadas crianças, quando um amável pássaro voou sobre elas e pousou na mão da Deusa. Ao dizer algumas palavras mágicas, o pássaro se transformou no animal favorito de Eostre, uma lebre. Isto maravilhou as crianças.
Um dia, Eostre estava sentada em um jardim com suas tão amadas crianças, quando um amável pássaro voou sobre elas e pousou na mão da Deusa. Ao dizer algumas palavras mágicas, o pássaro se transformou no animal favorito de Eostre, uma lebre. Isto maravilhou as crianças.
Com o passar dos meses, elas repararam que a lebre não estava feliz com a transformação, porque não mais podia cantar nem voar. As crianças pediram a Eostre que revertesse o encantamento. Ela tentou de todas as formas, mas não conseguiu desfazer o encanto. A magia já estava feita e nada poderia revertê-la.
Eostre decidiu esperar até que o inverno passasse, pois nesta época seu poder diminuía. Quem sabe quando a Primavera retornasse e ela fosse de novo restituída de seus poderes plenamente pudesse ao menos dar alguns momentos de alegria à lebre, transformando-a novamente em pássaro, nem que fosse por alguns momentos. A lebre assim permaneceu até que então a Primavera chegou.
Nessa época os poderes de Eostre estavam em seu apogeu e ela pôde transformar a lebre em um pássaro novamente, durante algum tempo.
Agradecido, o pássaro botou ovos em homenagem a Eostre. Em celebração à sua liberdade e às crianças, que tinham pedido a Eostre que lhe concedesse sua forma original, o pássaro, transformado em lebre novamente, pintou os ovos e os distribuiu pelo mundo. Para lembrar às pessoas de seu ato tolo de interferir no livre-arbítrio de alguém, Eostre entalhou a figura de uma lebre na lua que pode ser vista até hoje por nós.
Eostre assumiu vários nomes diferentes como Eostra, Eostrae, Eastre, Estre e Austra. É considerada a Deusa da Fertilidade plena e da luz crescente da Primavera. Seus símbolos são a lebre ou o coelho e os ovos, todos representando a fertilidade e o início de uma nova vida. A lebre é muito conhecida por seu poder gerador e o ovo sempre esteve associado ao começo da vida.
Não são poucos os mitos que nos falam do ovo primordial, que teria sido chocado pela luz do Sol, dando assim vida a tudo o que existe. Eostre também é uma Deusa da Pureza, da Juventude e da Beleza. Era comum na época da Primavera recolher o orvalho para banhar-se ritualisticamente. Acreditava-se que orvalho colhido nessa época estava impregnado com as energias de purificação e juventude de Eostre, e por isso tinha a virtude de purificar e rejuvenescer.
Filólogos acreditam que a palavra Eostre evoluiu em inglês para Easter e em alemão para Ostern, que significam Páscoa. Outros associam a palavra Easter com o nascer do sol no Este.
A Páscoa já era celebrada pelos judeus antes mesmo do nascimento de Jesus, com outro sentido: o de liberdade, após anos de escravidão no Egito.
Para nossa civilização cristã, "Páscoa" tem origem hebraica (Pessach) e significa passagem, pois celebra o renascimento de Jesus Cristo e sua ascensão ao céu, dois dias depois da morte na cruz (sexta-feira santa).
Espero ter esclarecido bem o assunto. Espero que tenham gostado. E para agradecer a Deus pela dádiva da vida, com esta celebração da Páscoa que se aproxima; e lembrar da deusa Eostre através da sua tradição que continua viva , deixo para vocês uma receita, antiga, que adoro fazer pra sobremesa do almoço de páscoa: os ninhos de páscoa.
Ninhos de Páscoa do Barão de Gourmandise
Ingredientes
Ninhos
260g de manteiga amolecida
100g de açúcar mascavo
2 ovos, separados
1 e meia colher de chá de baunilha
275g de farinha de trigo
175g de nozes picadas
Decoração
Chocolate derretido, branco ou ao leite
Mini ovos de chocolate ou amendoins confeitados
Pré-aquecer o forno a 180 C. em seguida bater a manteiga o açúcar ate formar um creme. Junte as gemas em seguida misture a baunilha, acrescente a farinha misturando bem. Bata as claras em neve e espalhe em um prato raso. Fazer a mesma coisa com as nozes picadas. Em seguida fazer bolas de massa coma a ajuda de uma colher, depois passar as bolas nas claras e em seguida nas nozes. Coloque na assadeira distante 5cm de diferença uma da outra, fazer uma depressão com o polegar em cada bolinha e assar por 12 a 15 minutos; depois de frios, derreter o chocolate e colocar um pouco em cada cavidade dos biscoitos para grudar dois ou três ovinho em cada depressão. Deixe esfriar o suficiente para que o chocolate endureça e segure os ovos nos ninhos.
Adorei a postagem Querido..
ResponderExcluirInteligente e bem esclarecedora...
Parabens mas uma vez pelo seu blog, vc ja sabe que eu sou fã daqui né...
Te adoro amigo, obrigado por tudo que tem feito por mim...
Muito boa a informação, obrigada!
ResponderExcluirÓtima informação.
ResponderExcluirObrigado pela materia , maravilhosa esclarecedora , no final ainda ganha uma receita , adorei. obrigado por dividir conhecimento
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