Esses
dias cheguei ao supermercado e me deparei com uma cena engraçadíssima: era
cedinho, fui comprar pão para o café, e uma senhora estava parada diante da
gôndola recheada com colombas pascais e, enquanto ela olhava para outra mulher que
lhe acompanhava, disse a senhora: “menina, o povo anda louco, já estão vendendo
estes bolos de natal!”. A outra mulher me vendo passar rindo do comentário,
também riu da situação, puxou a senhorinha, e saíram.
Eu
juro que não ri alto, até tentei conter meu riso pra não passar por mal educado.
Mas foi difícil. E lá mesmo no supermercado eu sai dando início a analises daquele
comentário procurando explicações variadas e criativas para o comentário daquela
senhora. Até que parei, percebi que desinformação é algo comum, principalmente
em conteúdos gastronômicos – muita gente não sabe o que come e, o pior, nem tem
vontade de saber. O fato é que parei de analisar (julgar?) e achei melhor
compartilhar o que eu aprendi sobre as Colombas Pascais, com vocês.
Mas
as versões dessa história que estou preste a lhes compartilhar pode ser de pouco
valor para alguns, mas exemplifica como o resultado de uma fantasia popular
fervorosa e de uma tradição da qual ninguém sabe a origem, torna-se usual e
significativa, acima de tudo por sua clara mensagem de paz, de perdão do qual,
apesar do jogo da invenção - do lendário e do imaginário – ninguém pode
escapar.
Fico
tentado a escrever cientificamente algum texto sobre como os impactos e os
significados da ‘comida e da culinária Festas’ (comidas de celebração?) para
saber se: 1) os códigos e os antigos rituais alimentares foram perdidos?; 2) a
mesa perdeu seu valor de comunicação simbólica; 3) há coisas ocultas e
confinadas nos sentidos dessas preparações?... outras tanats perguntas estão
surgindo – um dia me dou a esse luxo de parar e tentar respondê-las cientificamente.
O fato é que, nos dias atuais, percebo qu e a maioria vê a comida como algo cada
vez mais pertinente ao biólogo, higienista e nutricionista. Algo do passado, no
entanto, mesmo que inconscientemente sobreviva: é um convite para procurar os
fragmentos de uma civilização escondida em todos os pratos típicos, considerar
os alimentos não apenas como coisas boas para comer, mas também coisas boas
pata se "pensar, imaginar, fantasiar, se dedicar... mas vamos direto ao
que interessa.
Na
Itália, este delicioso pão/bolo de massa fermentada tradicionalmente fecha o
almoço da Páscoa juntamente com ovos de chocolate. De fato, tanto o ovo quanto
a pomba, desde os tempos antigos e por diferentes povos, receberam um forte
valor simbólico: de paz, renascimento e amor.
Em
italiano, a palavra colomba significa “pomba”. Que, na Páscoa, se reveste-te de
simbolismo: nessa época em que se celebra a ressurreição de Cristo, esse
pão/bolo em formato de pomba (a colomba pascal) representaria o Espírito Santo
e a paz.
Seu
sabor é suave e seu preparo é delicado. Sua receita contém mais manteiga e ovos,
e pode receber cobertura de glacê, amêndoas ou ainda chocolate aromatizado,
apresentando decorações requintadas.
A
forma de pomba era utilizada muito frequentemente nos antigos sacrários onde se
reservava a Eucaristia. O símbolo eucarístico se converteu logo no pão/bolo
doce que costuma ser compartilhado, em alguns países europeus - especialmente
na Itália, no café da manhã de Páscoa e da "Pasquetta", a
segunda-feira de Páscoa – e de lá se espalhou pelo mundo.
De
acordo com a Bíblia Sagrada, foi uma pomba com um ramo de oliveira no bico, que
voltou para Noé após o dilúvio, para testemunhar a reconciliação entre Deus e o
seu povo. Um sinal forte tão intimamente ligado ao significado que a Páscoa tem
dentro da cultura dos países cristãos.
A
primeira versão para a origem da Coloma Pascal tem com protagonistas doze
meninas, um rei cruel, um velho sábio e desconhecido e um cavalo teimoso. E,
claro, muita tenacidade e a consciência de trabalhar para o bem!
Nos
tempos medievais, quando as invasões bárbaras e, especificamente, as lideradas
pelo Rei Alboino vieram para a Itália com seus soldados para conquistar a
cidade de Pavia, a conquista foi dura e acabou sendo muito longa.
Rei Alboino - Tela o assassinado do Rei dos Lombardos |
Alboino,
rei dos lombardos, baixou na Itália com suas hordas bárbaras atacando a cidade
de Pavia, que na época se chamava Ticinum, mas não teve sucesso imediato na
intenção de conquistá-lo pela resistência corajosa dos seus cidadãos. Por isso,
ele a cercou na esperança de que a cidade se rendesse de fome. Após três anos
de cerco, Pavia foi forçada a capitular.
No
sábado sagrado do ano do Senhor, 572 d.C., Alboino entrou na cidade pela Porta
San Giovanni, mas seu cavalo caiu de repente no chão e as esporas e o chicote
do soberano não tinham valor. O povo de Pavia petrificou testemunhou a cena,
temendo um aperto ainda maior do rei bárbaro, que jurara matar o povo culpado
por se opor a ele com uma resistência tão longa e tenaz.
De
repente, um velho todo enfarinhado, por estar preparando pães, pegou um pedaço
de pão recém-assado nas mãos atravessou a multidão. O homem se aproximou do
animal e entregou-lhe o pão. O animal levantou-se sem esforço e começou a comer
feliz e calmamente com o que o velho lhe havia oferecido.
O
velho então se virou para o rei, avisando-o de que, se perseverasse com a
intenção de exterminar a população, o cavalo cairia novamente no chão e poderia
não se levantar novamente. Depois dessas palavras, o homem desapareceu na
multidão. Alboino, atingido, desistiu do massacre e Pavia foi salva.
Acontece
que, na noite anterior aos rompimentos dos portões de Paiva, esse mesmo velho,
um padeiro chamado Luiggi, sonhou que Alboino invadia sua cidade gerando muito
sangue pelas ruas. Preocupado com o sonho, ao amanhecer, Luiggi fez a seguinte
oração: - Divino Espírito Santo, me dê uma luz, para que esta desgraça não
aconteça! E, de repente, uma pomba pousou na sua janela e disse: - Faça um doce
em forma de pomba e ofereça (a quem seu coração mandar. Você saberá). Luggi
obedeceu a esta visão. Desta maneira, no domingo de Páscoa, o padeiro preparou
o quitute e para ser oferecido no episódio. E, sabe-se que o rei estava tomado
por um forte desejo de vingança, estava decido por queimar a cidade inteira e
exterminar os cidadãos. Mas primeiro ele decidiu aceitar os presentes que as
pessoas lhe davam para poupar suas vidas. E isto lhe seria o seu “cavalo de
Tróia”.
No
dia seguinte, foi celebrada a Páscoa: o governante lombardo com seu séquito
estava em frente à basílica de San Michele para receber a homenagem dos
cidadãos mais influentes e, acima de tudo, conhecer os reféns que lhe seriam
dados como garantia de lealdade. Entre os reféns, havia também doze jovens que
iriam morar em sua corte.
Eis
que, de repente, o velho padeiro do dia anterior voltou e dirigiu estas
palavras ao rei: "Ofereço minha homenagem pessoal para este dia de Páscoa:
é um símbolo de paz". E, enquanto falava, entregou ao cavalheiro bárbaro
um bolo em forma de pomba. O padeiro vendo que o rei gostou do bolo, pediu que
ele prometesse poupar os habitantes daquela cidade em honra das colombas - símbolo
do espírito santo. O rei se deliciando, levou aquilo na brincadeira e prometeu
o que o padeiro queria: Alboino aceitou a oferta de paz e prometeu respeitar
para sempre as pombas que eram seus mensageiros. O velho agradeceu e
desapareceu novamente.
Cidade de Pavia - Itália |
Pouco
tempo depois, o rei se aproximou das doze meninas de rara beleza que,
tradicionalmente, teriam de entreter as noites do soberano, e começou a
questioná-las para saber seu nome. A primeira respondeu dizendo eu seu nome era
"Colomba"! E o mesmo acontece com todos as outras onze moças!
O
rei prometeu publicamente que a igreja respeitaria o pacto de paz no cemitério
da igreja e se viu obrigado, apesar de si mesmo, a libertar todas as moças que
pudessem voltar para suas famílias. Esse estratagema salvou a dignidade das
nobres meninas Pavese e a honra da cidade: a partir daquele dia em Pavia, no
aniversário da Páscoa, um bolo em forma de pomba seria servido em todas as
mesas.
E
da Lombardia, especialmente de Pavia, esse doce costume se espalhou por toda
parte. Era como se as pombas de Ticinum miraculosamente levassem a
"voar" sobre as margens daquele rio esplêndido e calmo. E o
"voo" delas continua hoje para o prazer de todos.
Mas
existe uma segunda versão para a origem das Colombas pascais: a outra lenda, não
menos famosa para origem desse pão/bolo, trata do ocorrido na Batalha de
Legnano, em 1176, que foi vencida pela Liga do Comuns da Lombardia contra
Frederico Barba-Roxa, imperador da Alemanha.
Diz
a lenda que a conquista da batalha foi celebrada com estes bolos na forma de
pombas. E que a ideia deste formato se deu pelo fato de que algumas aves desta
espécie atingiram com cocô a cabeça de alguns dos vencedores enquanto eles
descansavam antes da batalha, e a interpretação disso foi que eles seriam
vitoriosos. Reza a lenda que a pessoa que comer a Colomba Pascal, no domingo de
Páscoa, terá paz o ano inteiro.
A
moderna indústria de confeitaria agora produz colombas de todos os tipos e para
todos os gostos; os ritmos frenéticos da vida cotidiana permitem pouco espaço
para a preparação caseira desta sobremesa, mas por que não tentar?
Deixo duas
receitas, incluindo uma versão para colomba salgada, feita com bacalhau, que é
uma loucuraaaaaaaaaaaaa.
COLOMBA PASCAL
Massa
500g de farinha de trigo
100g de manteiga
100g de açúcar
5 gemas
40g de mel
1 colher de café de sal
40g de leite em pó
20g de fermento biológico
½ copo de água gelada
Essência de panetone ou de laranja
Recheio
130g de uvas-passas
180g de frutas cristalizadas
Cobertura
5 claras de ovos
250g de farinha de castanha de caju
200g de açúcar de confeiteiro
Preparo: Coloque o fermento em um pequeno recipiente e esfarele com as mãos. Adicione ao fermente duas colheres de farinha, quatro colheres de água e misture. Reserve essa pequena massa por 20 minutos, até que ela cresça. É essa massa que vai fazer com que a colomba fique macia e cresça. Na foto, confira a massa antes e depois de crescer. Em uma superfície de pedra ou bacia, junte a farinha de trigo, a massa de fermento (chamada de esponjinha, pelo aspecto de esponja), margarina, açúcar, sal, ovos, leite em pó e mel. Pessoas que já têm habilidade com o preparo de pães podem optar por fazer a colomba com as mãos. Ainda assim, a recomendação é usar uma batedeira, de preferência planetária. Bata a massa e vá acrescentando, enquanto bate, lentamente, a água. Cuidado para não colocar muita água e perder o ponto da massa. Neste momento, também devem ser acrescentadas duas colheres de sopa de essência de panetone ou de laranja. Quem está preparando a massa com as mãos, pode fazer a mistura dentro de uma bacia. Não se esqueça de sovar a massa por cerca de 20 minutos. A massa deve ser batida, com o acréscimo de pequenas quantidades de água, até chegar ao ponto de véu, ou seja, até que possa ser esticada, sem se romper, mas com aspecto de transparência. Ao chegar ao ponto da massa, acrescente as uvas-passas e as frutas cristalizadas e apenas mexa a mistura. Use óleo para desgrudar a massa da batedeira e coloque-a sobre uma superfície de pedra. Em uma superfície de pedra, boleie a massa e divida-a em partes, de acordo com o tamanho de colombas que pretende fazer. Separe formas de papel para colocar a massa. A massa designada para cada colomba deve ser cortada ao meio, e uma das metades deve ser dividida mais uma vez. Das três partes, uma maior e duas menores, sairá o formato de pomba. Já na forma, deixa a massa descansar de 30 a 50 minutos, para crescer. Lembre-se que no calor a massa cresce mais rápido. Enquanto a massa cresce, prepare a cobertura. Coloque em um recipiente a farinha de caju e metade do açúcar de confeiteiro. Em seguida, acrescente as claras, e misture. Coloque a cobertura sobre as colombas. Antes de levá-las ao forno, jogue castanha de caju ou nozes, e peneire a outra metade do açúcar de confeiteiro sobre a colomba. Leva a massa ao forno pré-aquecido, aos 180ºC, por 30 minutos.
COLOMBA TRUFADA
300 g de Cobertura de Chocolate Meio Amargo picada
1 lata de creme de leite (300 g)
1 xícara (chá) de nozes picadas (150 g)
1 colomba pascal (com cerca de 750 g)
50 g de Cobertura de Chocolate Branco picada
Derreta a cobertura de chocolate meio amargo com o creme de leite no microondas em potência média por 2 minutos, mexendo na metade do tempo. Misture ½ xícara (chá) de nozes e reserve. Retire a fôrma de papel da colomba e corte esta em três camadas. Coloque a base da colomba (primeira camada) na travessa em que será servida e cubra com 1/3 da ganache. Repita esse processo mais uma vez e finalize com a última camada de colomba. Espalhe a ganache restante nas laterais da colomba, formando uma fina camada e coloque por cima as nozes restantes. Leve à geladeira por 30 minutos a fim de que o recheio fique levemente firme. Derreta e tempere a cobertura de chocolate branco. Coloque em um cone de papel manteiga e faça riscos sobre a superfície da colomba. Deixe em geladeira até o momento de servir.
COLOMBA DE BACALHAU
1 copo iogurte natural
2 colheres (sopa) azeite
1 xícara (chá) vinho tinto seco
1 xícara (chá) água
1 colher (sopa) açúcar
1 colher (café) sal
2 envelopes fermento biológico seco instantâneo (22g)
½ kg farinha de trigo
FAROFA
2 colheres (sopa) farinha de trigo
2 colheres (sopa) farinha de rosca
2 colheres (sopa) parmesão ralado
50g manteiga gelada em cubinhos
RECHEIO
3 colheres (sopa) azeite
½ kg bacalhau em lascas demolhado
1 xícara (chá) azeitonas pretas sem caroço
1 xícara (chá) tomate seco picado
Comece pelo recheio: aqueça o azeite e doure o bacalhau. Desligue a panela, acrescente o restante dos ingredientes do recheio, misture e deixe na panela até esfriar. Para a massa coloque em uma vasilha o iogurte, o azeite, o vinho, a água, o açúcar, o sal, o fermento e misture. Acrescente, aos poucos, a farinha com um garfo até que não consiga mais. Então utilize as mãos e sove a massa até que acabe a farinha e esteja uma massa homogênea e lisa. Deixe descansar por 20 minutos coberta com um pano. Enquanto isso faça a farofa: coloque todos os em uma vasilha, misture bem com as mãos e reserve. Abra a massa com as mãos, coloque o recheio por cima, feche a massa e misture muito bem, de tal modo que o recheio se espalhe por toda a massa. Divida em duas, coloque cada uma nas formas descartáveis de colomba e polvilhe a farofa sobre elas. Deixe fermentar por mais 30 minutos e leve ao forno quente (200º) por aproximadamente 50 minutos ou até que esteja bem dourada. Tire do forno, fatie e sirva quente ou fria.
Interessante esta receita de Colomba de bacalhau! Vou fazer e depois comento mas deve ser deliciosa! 😋
ResponderExcluirObrigada!
Vou fazer , parece deliciosa!😋
ResponderExcluir