A presença indígena na
alimentação brasileira é uma constante sempre ressaltada por historiadores da
gastronomia nacional. Fico contente quando descubro preparações de valor
simbólico sendo ainda preparadas como antigamente, tendo memórias resgatadas e
possibilitando a juventude provar os sabores de um passado que não precisa ser
esquecido. Por este motivo venho hoje falar sobre Bijajica.
A Bijajica é um bolo
cozido no vapor típico da região sul do litoral do estado de Santa Catarina,
compreendendo os municípios de Palhoça, Paulo Lopes, Garopaba e Imbituba, à
base de massa de mandioca crua ralada e espremida, amendoim triturado e açúcar,
aromatizado com especiarias como erva doce, cravo e canela. A receita tem
origem indígenas, mas se aprimorou ao longo do tempo graças a influência dos
açorianos que se instalaram em Santa Catarina em meados do século XVIII.
A mandioca e o amendoim
trazem à tona a origem indígena da Bijajica: estes dois ingredientes sempre
foram povos guarani no litoral catarinense – como também por outras etnias
indígenas brasileiras. Na preparação indígenas, os guaranis desidratavam a
mandioca em trançados de palha (tipiti) e socavam o amendoim em pilões de
madeira. Depois, juntavam os dois produtos e coziam ou assavam a massa envolta
em folhas de bananeira, ao vapor ou direto no fogo.
O formato atual da
bijajica, bastante presente no litoral de Santa Catarina, deve-se as adaptações
feitas nos engenhos artesanais de farinha de mandioca na região. No século
XVIII os engenhos de farinha se multiplicaram com a presença dos imigrantes
açorianos e durante dois séculos foram a mais importante estrutura produtiva da
agricultura familiar daquele território, atingindo o ápice da produção no final
do século XIX – tinha como base de produção a “farinha polvilhada”, mais clara
e fina em relação àquelas produzidas em outras regiões do Brasil, cuja
temporada de colheita e de processamento desta farinha chegava a durar 4 meses
(maio, junho, julho e agosto), época em que as famílias e agregados se reuniam no interior do engenho
para a execução das etapas do feitio, chegando a passar noites a fio
trabalhando.
Os engenhos
possibilitaram a obtenção em qualidade e quantidade a massa crua de mandioca,
base da Bijajica. Outro produto do engenho era o açúcar mascavo. Aos açorianos
catarinenses credita-se o uso das especiarias na receita, que auxiliadas pela
técnica indígena do cozimento ao vapor teve o formato do bolo melhorado,
principalmente com o uso das cuscuzeiras, utilizadas também no preparo do cuscuz
de milho.
Mas existe ainda em
Santa Catarina outro tipo de bijajica: uma espécie de rosquinha frita, feita de
polvilho doce com ovos e açúcar que, provavelmente, é outra introdução dos
conhecimentos açorianos na alimentação local. Infelizmente, os engenhos de
farinha têm diminuído e os saberes tradicionais relacionados a eles. Sabe-se
hoje da presença da Bijajica, porque sua presença ainda é vista em festas
comunitárias e circuitos alternativos de comercialização. Por este motivo, na
tentativa de transmitir o conhecimento, segue abaixo a receita simples da
Bijajica, para você testar em casa.
500g de massa de mandioca crua (você vai
precisar de um quilo de mandioca ralada e espremida para conseguir as 500g de
massa crua)
1 xícara de açúcar mascavo (ou o branco)
1 colher de chá canela
1 colher chá de sal
500 g de amendoim vermelho cru triturado
Preparo: Misture bem todos os
ingredientes e coloque, sem apertar, em uma cuscuzeira ou panela de vapor,
forrada com pano de algodão ou folha de bananeira. Feche e cozinhe por mais ou
menos meia hora ou até sentir com os dedos que a massa está cozida e
grudadinha.
Bijajica (rosquinha)
3 ovos grandes
Meio kg de polvilho doce
9 colheres (sopa) bem cheias de açúcar
1 pitada de sal
Óleo para fritar
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