Não, eu não vim falar
de diabruras – é que no Brasil, Capiroto é um nome para referir-se ao diabo,
que ele esteja longe de nós. Hoje, a ideia é apresentar algo simples e doce
para a sobremesa pascal, mas com tradição. Então, veio da tradição pascal
mexicana a história da postagem que segue.
A história desta
sobremesa vem da Espanha antiga. Ao final do quarto e início do século V, entre os pratos favoritos do Império Romano se cozinhava uma preparação muito parecida
com a capirotada de hoje, porém salgada: a antiga eram rabanadas de pão torrado como ingrediente de
base, embebidas em caldo de carne de carneiro onde se alternava camadas de
perdiz assada. Esta receita foi passada através de uma publicação escrita em
1477 por um cozinheiro chamado Roberto de Nola, que chamou essa produção culinária de Almondrote.
A partir desta receita, em 1611, Francisco Martínez Montiño, então chefe de cozinha de Felipe III, fez a sua reinterpretação do almondrote, que nomeou "sopa de Capirotada": que apresentou como um prato que juntava carne, linguiça, lombo de porco assado e carne de perdiz assada como na receita original de Nola. A diferença na preparação foi de que na "nova receita" introduziu a estranha combinação de incluir torrejas -rabanadas de pão (geralmente de vários dias) que eram embebidos em leite ou vinho com mel e especiarias, e, depois de serem passadas em ovo batido e fritas em óleo ainda agregaram queijo ralado entre cada camada; sendo finalizada com um molho à base de queijo, alho, caldo de carne e ovos. Depois de pronta e montada, a "sopa de capirotada" era levada ao fogo a fim de ser engrossada. Neste ponto, juntava ainda uma porção de manteiga ou banha de porco para terminar de cozinhar.
O curioso sobre os dois
cozinheiros citados acima é que eles não mencionam o prato como uma
preparação de Vigília pascal - provavelmente porque a preparação era a base de carne. Quanto
ao nome, provavelmente seja uma referência ao gorro pontiagudo usado pelos monges
ou pelas irmandades espanholas que participavam de procissões da Semana Santa. Pois, aos gorros pontiagudos em formato de cone, davam
o nome de capirote.
Procissão dos Capirotes |
Mas como a capurotada foi para no México, e tornou-se doce?
A chegada da capirotada
no México veio com as primeiras visitas de Hernán Cortés. Acredita-se que foi
com este prato que o conquistador envenenou a Francisco de Garay. Em 1780, Frei
Geronimo de San Pelayo incluía no seu livro de cozinha uma receita que referia
a capirotada como um prato de vigília.
A receita de San Pelayo consistia em várias
camadas de pão, queijo e molho à base de tomate. Este novo prato espanhol
passou a ser preparado com mais frequência durante o século XVIII.
Provavelmente, a
popularidade do prato sem carne deve-se ao resultado de algumas crises de
alimentos ao longo da segunda metade do século XVIII, quando a carne era
escassa.
Pode ser, também, que tratava-se de um prato sazonal e de status
social uma vez que a carne tinha aumentado consideravelmente o seu preço e era
difícil de obtê-la.
A versão do Capirotada
como um prato doce foi popularizada até o século XX, quando foi nomeada receita
de vigília. Atualmente, é uma sobremesa muito típica da culinária mexicana, onde região tem o seu próprio estilo e modo de preparo: entre as famílias
mexicanas é algo muito tradicional que se inclui acompanhando com uma série de pratos na
Quaresma, como peixes, tortas de camarão, empanadas, croquetas, lentilhas, favas
e feijão.
A capirotada é uma
sobremesa especialmente típica nos estados de Aguascalientes, Baixa Califórnia, Guanajuato,
Jalisco, Michoacán, Sinaloa, Sonora, Zacatecas, Durango e Tamaulipas. É
composta por pão torrado, ou pão velho e seco, cortado em fatias como rabanadas
que são cozidas com uma calda de especiarias com piloncillo, que ainda pode ser
intercalada pedaços de banana e maçã, passas, nozes, amendoim, coco ralado e
goiaba, coberto com calda de açúcar mascavo e queijo de mesa ralado.
Abaixo, segue uma
versão simples da capirotada. De repente você resolve preparar essa sobremesa
para incrementar sua mesa de doces no almoço de Páscoa.
Capirotada
Manteiga o quanto baste para fritar
20 fatias de pão branco com 2cm de espessura
2 litros de água
½ quilo de piloncillo (uma espécie de rapadura
mexicana no formato de cone, pode usa rapadura brasileira)
1 xícara de açúcar
2 paus de canela
4 cravos da india
½ xícara de amendoim
½ xícara de passas
150 gramas de queijo adobera (com queijo
manteiga fica ótimo)
½ xícara de nozes picadas
Nozes em metades para guarnecer
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