terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um Jambalaya para homenagear Anne Rice

Hoje o dia começou meio nublado... Deu vontade de ouvir uma música (Mulher sem razão), que não é nova aos meus ouvidos, mas que agora estava sendo cantada pelo Ney (Matogrosso), no seu novo trabalho. Foi com ela que amanheci, foi com ela que entrei na net hoje. E estava ouvindo ela quando li o primeiro e-mail do dia... Uma surpresa, uma boa surpresa:

Cópia do email recebido
Era isso, exatamente isso, o que continha o escrito do e-mail... Conteúdo simples, mas que me trouxe felicidade...
Jamais imaginei receber correspondência, exclusivamente dedicado a minha pessoa, vindo de uma autora que tanto gosto, com quem passei bons momentos na companhia de seus personagens, devorando cada linha como se fosse parte da minha própria vida.
O mais legal é a forma como esse e-mail chegou.
Dois dias atrás eu estava impaciente, resolvi procurar algo para ler... Mas eu já tinha lido e relido todos os livros que tenho em casa... Foi quando eu peguei A rainha dos Condenados, motivado pela capa vermelha – cor que tanto aprecio. Comecei a releitura a partir dos capítulos mais empolgantes daquela história... Minutos depois, interrompi a leitura e vim para o computador, acessei meu facebook, e a primeira postagem que li foi uma outra surpresa bacana: 

Cópia dos post com o devido comentário sobre o nome do personagem e do livro
Resumidamente, para os que não compreendem bem o inglês, o texto dizia que o próximo livro de Anne Rice seria lançado em fevereiro próximo, seria chamado de The Wolf Gift, e o personagem principal do livro teria o meu nome: REUBEN – tá, certo que meu nome ainda tem um S no fim, mas pow, não deixa de ser meu nome (risos) eu queria que fosse, e isso me bastou pra entrar na página da autora, no facebook, e escrever algumas linhas, com meu inglês enferrujado, o resultado vocês já sabem. Eu amei.



Daí fiquei pensando numa receita que me remetesse àquelas leituras todas, sobre os vampiros deslumbrantes da senhora Rice. A idéia me veio rápido: pensei no analogismo de Rice – que inglês significa arroz, e logo cheguei, automaticamente, ao  Jambalaya - uma receita prática, fácil, gostosa e que , com certeza me transporta para a New Orleans que serviu de cenário para algumas boas partes das aventuras de Lestat e Louis.


Jambalaya
Louis (Brad Pitt) e Lestat (Tom Cruise), na versão para o cinema de  Entrevista com o Vampiro
Jambalaya é uma espécie de paelha típica de Nova Orleans, talvez exemplo da contribuição que a cultura espanhola acrescentou à cultura negra de Louisiana, em que os principais ingredientes são - além do típico arroz – carnes  variadas, camarões, lagostins e muita pimenta: pimenta-do reino moída, curry e cayena também moída.
A cozinha cajun-creole tem a marca da história da região pela presença de diferentes povos e culturas. Seus pratos mais representativos são o gumbo (ensopado com quiabo e camarões) e o jambalaya, que pode ser feito na versão creole (com tomate), ou red jambalaya, e no estilo cajun (sem tomate), ou brown jambalaya.
Em 1682, os creole, exploradores franceses, instalaram-se em New Orleans. No século XVIII, os espanhóis assumiram o controle da região e dos acadians - habitantes de origem francesa, vindos da Nova Escócia - que eram chamados de cajuns pelos índios. Vieram, então, os italianos da Sicília, negros e mulatos refugiados do então Haiti e alemães. (abaixo algumas fotos do bairro francês de New Orleans na atualidade)









A cozinha cajun é conceituada como "robusta", utiliza molhos mais escuros e gordura animal. A creole, é uma culinária mais refinada, à base de cremes, manteiga e tomate. As duas possuem características de cozimento longo e utilizam os temperos: cebola, salsão, pimentão, cebolinha e salsinha. [fonte:  História Viva, nº 13, p. 11. Editora Duetto. São Paulo (2004).]
O  jambalaya creole origina do Bairro Francês de Nova Orleans. Foi uma tentativa do espanhol para fazer paella no Novo Mundo, onde não existia açafrão prontamente disponível devido a custos de importação. O tomate então se tornou o substituto do açafrão – para dar cor. Com o passar do tempo, tornou-se forte a influência francesa em Nova Orleans, e especiarias vindas do Caribe transformou essa paella do Novo Mundo em um prato único. Na moderna Louisiana, o prato tem evoluído ao longo de uma variedade de linhas diferentes. Creole Jambalaya, ou vermelho jambalaya como é chamado pelos Cajuns, é encontrado primeiramente e em torno de Nova Orleans, onde é conhecida simplesmente como "Jambalaya". O jambalaya creole inclui tomate, enquanto o Cajun jambalaya não.
Jambalaya Cajun é de origem rural da Louisiana, terra de pântano, de baixa altitude, onde nutre lagostas, camarões, ostras, jacaré, pato, tartaruga, javali, veado, etc. Qualquer variedade ou a combinação de carnes, incluindo frango ou peru pode ser usado para fazer jambalaya. Cajun jambalaya é conhecido como "Brown jambalaya 'na área de Nova Orleans, para Cajuns é simplesmente conhecido como" Jambalaya.


Cajun Jambalaya - sem tomate.
Creole Jambalaya - com tomate.
A primeira aparição na imprensa de qualquer variante do 'jambalaya "a palavra em outro idioma ocorreu em Leis amours de Vanus; vo, Lou paysan oou Théâtre, por Fortuné (Fortunat) Chailan, publicado pela primeira vez em provençal, em 1837.
A primeira aparição da palavra escrita em Inglês ocorre na ediçãod e  maio de 1849 edição de maio da American Agriculturalist, página 161, onde Solon Robinson se refere a uma para 'Hopping Johnny (jambalaya). Jambalaya não aparecem em um livro de receitas até 1878, Quando o The Gulf City Cook Book, escrito pelas senhoras da igreja metodista de St. Francis Street,  foi impresso em  South Mobile, Alabama. Ele contém uma receita para "JAM BOLAYA".

O Jambalaya  teve um breve salto em popularidade durante os anos 1920 e 1930 por causa de sua receita flexível. O prato era pouco mais do que o arroz e legumes a população poderia pagar, assim a receita cresceu dentre as populações mais humildes.
Durante o terceiro mandato do presidente Franklin D. Roosevelt, o prato causou uma briga entre o presidente e amigos da família presidencial, os Richardsons da Virgínia, porque a família enviou um prato para Franklin D. Roosevelt, e o homem teve que recusá-lo, citando que ele era alérgico a lagosta
Em 1968, o governador da Louisiana John J. McKeithen proclamou Gonzales, na Louisiana, a capital do Mundo do Jambalaya. Anualmente, na Primavera, o Jambalaya Festival  é realizado. em Gonzales.(Saiba mais clicando aqui)

Foto do Festival - ver link acima
O Dicionário de Inglês Oxford indica que "jambalaya 'vem de' jambalaia a palavra provençal, o que significa uma mistura louca, e também o que significa um pilau (pilaf) de arroz. Esta opinião é corroborada pelo fato de que a primeira aparição impressa da palavra é em um poema provençal publicado em 1837.

Existem muitos mitos sobre a origem do nome "jambalaya. Um dos mais conhecidos diz que a palavra deriva da combinação de presunto 'jambon’ a francesa que significa, o artigo francês" à la ", uma contração de' la manière à de" sentido "no estilo de", e "ya" , significado para arroz que os negors locais deram para o arroz.
Exploradores europeus haviam importado arroz da Ásia e da África. Os africanos escravizados já tinha um nome indígena para a cultura do arroz; eles chamam de 'ya'. Como os europeus aprenderam o termo 'ya' para o arroz, tornou-se incluído no nome do prato. No entanto, esta teoria é amplamente desacreditada. Até porque o  presunto (jambon)  não é o elemento de assinatura do prato, então não há razão que o justificasse no  nome. Além disso, não há nenhuma língua Africana conhecida  em que "ya" significa "arroz".
O Dicionário americano de comida e bebida (The Dictionary of American Food and Drink) oferece este criativo conto criativo da carochinha sobre a origem da palavra: Tarde da noite, um cavalheiro viajante parou  numa dessas pousadas de New Orleans que tinha pouca comida restante da refeição da noite. O viajante instruiu o cozinheiro ",Jean, balayez !, no dialeto local"  - que significa no  nosso português algo como. Jean, coloca tudo junto!" . O convidado então  batizou o prato cheio de miscelânea como "Jean balayez".

Jambalaya Creole

Aqueça um fio de óleo numa panela média, doure 1/3 de uma cebola grande picada. Junte as carcaças de 1 quilo de camarões médios e 1 folha de louro. Deixe mudar de cor, acrescente 1.250 l de água. Deixe ferver e conte 20 minutos. Peneire e reserve.
Aqueça um pouco de óleo numa panela, doure 500 g de linguiça picante em rodelas finas. Acrescente a cebola restante, 1 dente de alho picadinho, 1 pimentão verde em cubos pequenos, 1 colher (sopa) de tomilho. Deixe perfumar, acrescente 12 tomates maduros em cubos pequenos, sem pele e sem sementes, 1/2 colher (chá) de pimenta caiena, 1/2 colher (chá) de pimenta calabresa e os camarões. Espere mudar de cor, adicione 2 xícaras (chá) de arroz branco, lavado e escorrido, o caldo do camarão, sal e cozinhe por mais 20 minutos, até que o arroz esteja macio, mas solto. Desligue o fogo, junte 1 xícara (chá) de salsinha picada, aguarde 5 minutos e sirva.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A Génoise e Monet

                             Hoje acordei querendo observar as Ninféias...


Afinal é sempre delicioso observar obras de arte, quanto mais quando se trata das obras do pintor impressionista do século XIX, Claude Monet. Sei bem que, assim como eu, muita gente adora ficar observando os quadros feitos a partir dos famosos jardins da casa de Monet (Ah, as ninféia...). Mas recentemente descobri que além de ser um extraordinário pintor, Monet apreciava uma boa comida e se preocupava muito com a qualidade dos produtos que lhe eram servidos – e isso me fez gostar ainda mais dele (risos), mesmo sabendo que Monet não se dedicava á pratica da culinária, mas adorei saber que ele “ficava de ótimo humor diante da perspectiva de uma boa refeição”. Era um expert em saber plantar e colher os melhores ingredientes. Como eu descobri isso?
A resposta é fácil de explicar, adorável de ver e deliciosa para os olhos e para o paladar. Trata-se de um livro, À Mesa com Monet, com texto de Claire Joyes (traduzido por Ana Maria Sarda e Maria Cecília d’Egmont) e fotografias de Jean-Bernard Naudin. 


O escrito conta narrativas gastronômicas de Monet, recheado de comida e fotografias. A obra descreve detalhadamente o período de  1883, quando Claude Monet e sua segunda  mulher, Alice Hoschédé, se instalam definitivamente em Giverny, com os oito filhos. O pintor dedica-se então a transformar uma antiga casa em um ambiente harmonioso como a atmosfera de seus quadros e dá inicio também ao plantio do famoso jardim de sua casa – no entre meio passa a oferecer almoços memoráveis a seus amigos famosos, como Renoir, Cézanne e Clemenceau.

Monet e Alice
Com a descoberta de cadernos de receitas de Alice e Monet, a historiadora de arte Claire Joyes pode reproduzir minuciosamente o estilo de viver e de receber do artista. No decorrer da leitura observa-se a prioridade de Monet em  colher os alimentos numa horta onde ele plantava diferentes sementes vindas de diversos partes do mundo. Monet não cozinhava, mas gostava que seus pratos fossem preparados com maestria.
A obra deixa clara a apreciação do pintor pelos alimentos frescos, pelas caças, pelos doces… e indica que, praticamente tudo o que era consumido por ele e sua esposa eram produzidos por eles. A casa servia com cenário para venda de sua arte e encontros com amigos – todos sempre eram recebidos com comidas para indicar as boas vindas do casal.
Eu, que amo gastronomia, fiquei bastante satisfeito com a primazia nos detalhes relatados no livro, sobretudo no  capítulo, Monet e Alice, onde se percebe a importância dos encontros gastronômicos (refeições diárias, os piqueniques, os almoços festivos, encontros com amigos, etc.) na vida  do pintor. As imagens do livro passeiam pela cozinha de Monet, mostrando desde a preocupação com a ornamentação do  ambiente, passando pela escolha da louça até  chegar no cuidado que  envolvia todo o processo de se  alimentar 9escolha de ingredientes,  manuseio, preparo. Isso deixa claro a busca do casal pela qualidade da boa comida.
A sofisticação presente na comida do casal devia-se ao fato de Alice ter bastante conhecimento e refinamento sobre a  alta cozinha francesa. E ela  sabendo as preferências e as  manias de Monet não tinha como errar para agradar ao paladar do amado.
Dentre as  receitas apreciadas por Monet, está um  bolo  muito famoso (e fácil de fazer) que , na realidade, será o  mote para o post de hoje: estou a falar da GÉNOISE.

A génoise é um bolo oriundo da região de Gênova, no norte de Itália. No entanto, foram os franceses que fizeram a divulgação da receita pelo mundo e que, devido à sua origem, lhe chamaram bolo genovês, ou seja genoise (em Francês).
Génoise é um dos vários tipos de pão de ló. De acordo com os historiadores de alimentos, este bolo foi inventado no início do século XIX.  Há também outra confecção culinária conhecida também por sua denominação geográfica. O bolo de Gênova, por exemplo. Entrando a Génoise e o Bolo de Gênova são um pouco semelhante em ingredientes.
Presumivelmente, estas receitas são conectadas com a cidade italiana de mesmo nome. Esta cidade italiana teve grande importância na história do desenvolvimento econômico italiano devido ao seu porto comercial que serviu como um dos vários cruzamentos para a importação / exportação de alimentos dos países árabes em toda a Europa. Dentre os produtos exportados/importados incluíam ingredientes geralmente encontrados na geneoise: amêndoas, passas, frutas cítricas e especiarias.
Atual Porto de Genova
A posição de Gênova no Mediterrâneo era tamanha que existe até um  provérbio medieval para adjetivar os habitantes da cidade: “genuensis ergo mercator” -  um genovês, portanto, um comerciante.
No século XI, os árabes começaram a perder sua posição para os normandos na Sicília. O declínio da supremacia árabe significou a ascensão do outros poderes como o de Gênova. Mas, no final século XIV, Gênova estava em perigo de cair para a dominação estrangeira e ir à decadência. Os genoveses empreendedores querendo evitar evitado esse destino, passaram a explorar novas maneiras para assegurar um futuro próspero.
Interesses comeriais os levaram ao  norte da Europa, com seus conhecimentos em construção de estradas de montanha, e assim encontrou Gênova mais uma entrada no lucrativo comércio marítimo, e pelo século XV Gênova foi a principal cidade financeira do mundo. Gênova desempenhou um papel no início como um intermediário entre Sevilha e Novo Mundo e forjou uma aliança com Espanha em 1528.
O fio de Ariadne ao longo da história Gênova é a preocupação com uma fonte de alimento confiável ... O Genoises (genoveses) foram seus próprios clientes principais de alimentos, e os luxos do Oriente - o que os tornou ricos - foram reexportados com lucro elevadas. Gênova negociava com quem poderia fornecer comida.
Como fazer Genoise especiais
Genoise. Um bolo de esponja que leva o nome da cidade de Génova. mas não deve ser confundido com o bolo de Genova, que é realmente um tipo de bolo claro com frutas. A Genoise é feita de ovos e açúcar levado ao fogo até engrossar, em seguida, resfriado e combinada com a farinha e a manteiga derretida. Pode ser enriquecido com o farinha de amêndoas e frutas cristalizadas , podendo ser aromatizado com licor, a casca de frutas cítricas e baunilha. Este tipo de bolo esponja pode ser simplesmente polvilhado com açúcar de confeiteiro e comido puro, ou ser recheado com geléia, creme, manteiga ou glacê.  Também é usada para fazer rolos suíços e Madeleines francesas1. " 

[Receita de 1869]
Genoise2
Coloque em uma bacia:
1 / 2 libra de manteiga
1 / 2 libra de açúcar peneirado
1 pitada de sal,
a casca ralada de um limão,
4 ovos;
Misture o todo, com uma colher de pau; Derreta meia libra de manteiga; derramá-lo na pasta de ovos já  bem batida com açúcar e misture bem; untar uma  forma simples; colocar a massa nela, e asse por três quartos de hora; verificar se o bolo está pronto, inserindo a lâmina de uma faca pequena, - se ela sair úmida, o bolo não está pronto, e deverá ser deixado no forno mais alguns minutos;Tire o bolo forma do molde, deixe esfriar; e serva. "

 [Receita de 1875]
Bolo genovês3
Derreta meia libra de manteiga, deixando-a ficar perto do fogo. Misture bem metade de um limite de farinha, meia libra de açúcar, uma pitada de sal, e a casca finamente picada de um limão. transformá-los em uma pasta com um copo de vinho, quatro ovos, bem batido, e a manteiga clarificada. Bata por alguns minutos com uma colher de pau. Despeje a mistura em uma forma  untada com bastante manteiga, e asse em forno moderado. Quando o bolo está suficientemente cozido (isso pode ser verificado empurrando um espeto nela, e se ele sai seco e limpo, é feito o suficiente), retire-o e cubra-a com açúcar e amêndoas descascadas. Tempo, três quartos de hora a cozer. "

 [Receita de 1875]
Bolo de Génova4
Misture um quarto de quilo de passas, um quarto de quilo de cítricos cristalizado, laranja e limão juntos - todos sendo finamente picados - como a canela em pó muito como vai ficar em uma parte dos três vinténs, seis colheres de mesa de açúcar úmido, meio quilo de farinha, e a casca finamente picada de um limão fresco. Bata estes ingredientes por alguns minutos, com meia libra de manteiga clarificada, quatro ovos bem batidos, e duas colheres de mesa de conhaque. coloque a mistura em uma forma rasa bastante untada com manteiga rasa e asse cerca de três quartos de hora. Misture a clara do ovo com uma colher de mesa de xerez. Pincele o topo do bolo com este melado e coloque amêndoas picadas na superfície.Colocá-la no forno mais alguns minutos para dourar as amêndoas levemente. "

Genoise – Pain de Gênes
125 g de manteiga à temperatura ambiente
300 g de açúcar
5 ovos
275 g de amêndoas moídas
2 colheres de sopa de kirsch
100 g de farinha de trigo
Amêndoas fatiadas para decorar

Unte com manteiga uma forma rasa de 20cm de diâmetro. Ligue o forno em temperatura média. Ponha a manteiga em uma tigela, acrescente o açúcar e bata até obter uma massa cremosa. Adicione os ovos um a um, batendo bem depois de cada adição. Misture as amêndoas e o kirsch. Acrescente a farinha e bata bem. Despeje a massa na forma untade e polvilhada e coberta com amêndoas fatiadas e asse durante 40 minutos ou até dourar.
Fontes: 
1.    Oxford Companion to Food, Alan Davidson [Oxford University Press:Oxford] 1999 (p. 334)
2.    Royal Cookery Book, Jules Gouffe, translated from the French and adapted for English use by Alphonse Gouffe [Sampson Low, Son, and Marson:London] 1869 (p. 203)
3.    e 4. Cassell's Dictionary of Cookery with Numerous Illustrations [Cassell, Petter, Galpin & Co.:London] 1975 (p. 247) 
A Mediterranean Feast, Clifford A. Wright [William Morrow:New York] 1999 (p. 348)
Larousse Gastronomique, completely revised and updated [Clarkston Potter:New York] 2001 (p. 55)

sábado, 14 de janeiro de 2012

Os Tártaros

A última postagem trazia uma deliciosa receita com chocolate batizada com um nome diabólico. E para dar continuidade ao simbolismo sempre presente no mundo – e na gastronomia -, hoje iremos tratar sobre os tártaros.
A primeira vez que eu li esta palavra (ainda no século passado [risos]), eu me lembro, que me debrucei sobre os livros empoeirados, velhos e pesados da biblioteca pública para tentar descobrir mais sobre o que significava o tal Tártaro mitológico. 
Depois daquele episódio descobrir que existiam mais tártaros na vida... E que alguns deles poderiam ser deliciosos - outros, nem tanto. Vejamos:


O Tártaro Mitológico
É personificado por um dos deuses primordiais, nascidos a partir do Caos (apesar de alguns autores o considerarem irmão de Caos). Também é conhecido por ser a pior das regiões infernais. Suas relações com Gaia geraram as mais terríveis bestas da mitologia grega, entre elas o poderoso Tifão.

Mapa do Tártaro em Hades
   
Tifão ou Tifeu (em grego antigo Τυφωευς, Τυφων, Τυφαων, Τυφως, transl. Typhôeus, Typhôn, Typhaôn, Typhôs), é um deus da mitologia a quem imputavam os gregos a paternidade dos ventos ferozes e violentos e a seca. Era filho de Gaia e de Tártaro.

Tifão
 No sincretismo com o mito egípcio de Osíris, Tifão era identificado com o gigante Seb, responsável pela seca do Nilo e deus da morte, e que por inveja da fecundidade daquele o matara, sendo vingado por seu filho Anúbis (identificado com Apolo).Junto à esposa Equidna foi pai de vários dos monstros que povoam as aventuras de heróis e deuses, como o Leão de Neméia, combatido por Hércules, a Hidra de Lerna ou a Esfinge, na fusão com os mitos nilóticos, dos cães Ortros e Cérbero. Hesíodo descreve-o assim: "As vigorosas mãos desse gigante trabalhavam sem descanso, e os seus pés eram infatigáveis; sobre os ombros, erguiam-se as cem cabeças de um medonho dragão, e de cada uma se projetava uma língua negra; dos olhos das monstruosas cabeças jorrava uma chama brilhante; espantosas de ver, proferiam mil sons inexplicáveis e, por vezes, tão agudos que os próprios deuses não conseguiam ouvi-los; ora o poderoso mugido de um touro selvagem, ora o rugido de um leão feroz ; muitas vezes — ó prodígio! — o ladrar de um cão, ou os clamores penetrantes de que ressoavam as altas montanhas. Gaia, a Terra, para vingar a derrota de seus filhos pelos crônidas na Titanomaquia, uniu-se a Tártaro e gerando Tifão, identificado como a personificação do terremoto. Morava numa gruta, cuja atmosfera envenenava com vapores tóxicos. Era tão grande que sua cabeça tocava os astros celestes e suas mãos iam do Oriente ao Ocidente. Suas asas abertas podia tapar o Sol, dos seus ombros saiam Dragões, 50 de cada ombro no total 100. Ele era tão horrendo que todos o rejeitavam, até seus irmãos, os titãs. De sua boca cuspia fogo em torrentes, e lançava rochas incandescentes aos céus

Tifão, o “Filho” da Amargura de Hera

Na visão dos gregos antigos, a sociedade é patriarcal. O homem pode conceber grandes obras sem a mulher, inclusive a concepção. Mas a mulher só produziria seres deformados e obras espúrias sem a participação do homem.

Tifão é o deus da seca, mas não se pode nem um pouco compará-lo com um deus, ele é uma criatura extremamente cruel e poderosa, tão poderosa que todos os deuses fugiram ao vê-lo. Tifon é filho de Gaia e Tártaro, mas ele não nasceu de Gaia, Gaia ao perceber que estava grávida aproveitou e transformou seu ainda não nascido filho em uma semente e deu a Hera. Entenda como isso ocorreu.

Hera
Quando Atena nasceu, todo o Olimpo falava da sua beleza e da sua sabedoria. Todas as reverências foram dadas a Zeus por ter concebido tão formosa e guerreira filha. Ao ver Atena, Hera, a ciumenta mulher de Zeus, a rainha do Olimpo, encheu-se de cólera e amargura. Não suportava a idéia do marido ter concebido tão bela filha sem a sua participação. Enfurecida, Hera não quis receber Atena diante de si. Desde o nascimento da filha, que Zeus tornara-se um pai zeloso, cheio de empáfia por sua obra. Hera sentiu-se diminuída diante dos deuses. O único filho que dera a Zeus tinha sido o feio e coxo  Hefestos, deus dos vulcões. Ao dar à luz a filho tão feio e com deficiência na perna, ficou tão furiosa que o atirara ao mar. Depois daquele fruto indesejado, Zeus aparecia diante dela sendo pai de uma deusa belíssima, concebida somente por ele.
Hera não suportava tanta humilhação. Desejou conceber um filho sem a participação do marido. Queria ela ser mãe de um belo deus. Tanto rogou a Gaia, a mãe Terra, e às forças da terra, que conseguiu o seu propósito. Após inúmeras súplicas, Hera viu o seu ventre crescer. Também ela iria sozinha, gerar um filho, sem a presença do marido. Para punir e humilhar ainda mais o senhor do Olimpo, Hera não permitiu que o marido a procurasse durante a gravidez. Preferiu retirar-se para os templos onde era adorada e onde os humanos rendiam-lhe homenagens e sacrifícios.
Finalmente chegou o dia tão esperado. Hera começou a sentir as dores do parto. Estava ansiosa para ver o fruto da sua concepção solitária. Quando nasceu o filho da sua solidão e amargura, Hera decepcionou-se, ele não trazia a forma de um deus e nem a de um mortal. Era um terrível monstro em forma de serpente que cuspia fogo. Deu-lhe o nome de Tifão. Impossibilitada de livrar-se do filho, Hera voltou ao Olimpo a trazer nos braços tão vergonhosa produção. Tifão criou problemas com todos os deuses do Olimpo, fazendo intrigas entre eles. Importunados por tão incômoda presença, as divindades enviaram Tifão para Delfos, para ao lado da serpente Pitão, tomar conta do oráculo. Mais tarde Apolo matou Pitão e atirou Tifão no fundo do mar, onde ficou prisioneiro para sempre. Todas às vezes que o filho de Hera esbraveja mal humorado nas profundezas do mar, entra em erupção os vulcões Etna e Vesúvio, assombrando toda a Itália.

Luta contra o Olimpo 
A fim de dar cabo à vingança materna, Tifão começou a escalar o Monte Olimpo provocando a fuga dos seus moradores todos; os deuses se metamorfosearam em animais e fugiram para o Egito (razão pela qual, segundo os gregos, esse povo dava aos seus deuses configurações zoomórficas). Apolo tornou-se um falcão] (Hórus), Hermes um íbis (Thoth), Ares um peixe (Onúris), Ártemis uma gata (Neith ou Bastet), Dioniso um bode (Osíris ou Arsafes), Héracles um cervo, Hefesto um boi (Ptah) e Leto um musaranho (Wadjet). Apenas Atena teve coragem de permanecer na forma humana. Do Egito Zeus veio a se refugiar no Monte Cássio, na Síria, local em que enfrentou o gigantesco inimigo. Dali atingia Tifão com seus raios mas este consegue derrubá-lo e, com uma harpe, cortou-lhe os músculos dos membros e deles fazendo um pacote que guardou numa pele de urso. Os raios e os membros amputados foram confiados a Delfim - um dragão - no antro córciro, na Cilícia. No ataque Tifão invocara todos os dragões que, tantos eram, escureceram o dia. Tendo perdido seus raios Zeus propusera a Cadmo que, disfarçando-se em pastor, fizesse uma choupana e, com o som de sua flauta, atraísse o monstro. Nonos assim registra o episódio: "Canta, disse-lhe ele, Cadmo; tornarás a dar aos céus a primitiva serenidade. Tifão arrebatou-me o raio; só me resta a égide; mas de que pode valer-me contra as poderosas chamas dos raios? Sê pastor por um dia e sirva a tua flauta para devolver o império ao eterno pastor do mundo. Os teus serviços não ficarão sem prêmio; serás o reparador da harmonia do universo e a bela Harmonia, filha de Marte e de Vênus, será tua esposa."Atraído pela música, Tifão se aproxima; Cadmo (noutros mitos teria sido Hermes) finge estar assustado com os raios e o monstro, para acalmá-lo, deixa os relâmpagos numa caverna onde Zeus, fazendo baixar uma nuvem para não ser percebido, recupera suas armas e músculos. De posse novamente de seus poderes, Zeus força Tifão a fugir para o monte Nisa onde as Parcas dão-lhe de comer, pois estava esfomeado, frutos que lhe diminuem a força. Ainda em fuga chega à Trácia onde pelo tanto do sangue derramado deu nome ao monte Hemos. Ainda perseguido, vai Tifão para a Sicília e depois Itália onde Zeus, concentrando todas as forças, fulmina todas as cabeças do monstro que cai sobre a terra com estrondo, morto.

Zeus atirando seus raios em Tifon
Vários monstros tiveram atribuída a paternidade a Tifão e sua esposa Equidna, a única que podia suportar a sua terrível aparência, já que outras Titanides e deusas primordiais o rejeitavam. São seus filhos: Ortros, cão de guarda do rebanho de Gerião, morto por Hércules; Leão da Neméia, também morto por Hércules, foi transformado em constelação; Hidra de Lerna, em cujo sangue Hércules embebeu suas setas para que seus ferimentos fossem incuráveis, após derrotá-la com ajuda de Iolau; Cérbero, guardião da entrada ao Hades; Quimera e o Dragão da Cólquida.

Equidna

Assim como Gaia era a personificação da Terra e Urano a personificação do Céu, Tártaro era a personificação do Mundo Inferior. Nele estavam as cavernas e grutas mais profundas e os cantos mais terríveis do reino de Hades, o mundo dos mortos, para onde todos os inimigos do Olimpo eram enviados e onde eram castigados por seus crimes. Lá os Titãs foram aprisionados por Zeus (Júpiter), Hades (Plutão) e Poseidon (Netuno) após a Titanomaquia.
Na Ilíada, de Homero, representa-se este mitológico Tártaro como prisão subterrânea 'tão abaixo do Hades quanto a terra é do céu'. Segundo a mitologia, nele eram aprisionados somente os deuses inferiores, Cronos e outros titãs, enquanto que os seres humanos, eram lançados no submundo, chamado de Hades. O poeta grego Hesíodo garantiu que uma bigorna de bronze cairia do céu durante nove dias até alcançar a terra, e que cairia outros nove dias até atingir o Tártaro. Sendo um lugar tão profundo no chão, estava coberto por três camadas de noites, que se seguiam a um muro feito de bronze a cercar este distante subterrâneo.
Era um poço úmido, frio e desgraçadamente imerso na mais tenebrosa escuridão.

O mundo primordial, segundo a mitologia grega
Enquanto, segundo a mitologia grega, o Submundo (Érebo, reino de Hades) era o lugar para onde iam os mortos, o Tártaro tinha vários moradores. Quando Cronos era o deus que governava o mundo, prendeu os Ciclopes no Tártaro. Zeus os libertou, para que o ajudassem na sua luta contra os titãs - que acabaram sendo derrotados pelos deuses do Olimpo, e aprisionados neste desolador tugúrio. Ficaram vigiados por 3 enormes gigantes chamados Hecatônquiros.
Os hecatônquiros (em grego Έκατόνχειρες Hekatonkheires, "os de cem mãos"), também conhecidos por Centimanos (do latim Centimani), eram três gigantes da mitologia grega, irmãos dos 12 Titãs e dos 3 Ciclopes, filhos de Urano e Gaia: Briareu ("forte"), Coto ("filho de Cotito") e Giges ("o membrudo"). Possuíam cem mãos (em algumas histórias, possuíam também, 50 cabeças).
Segundo Hesíodo, as gerações de Urano e Gaia foram, em ordem, os titãs, os cíclopes e os hecatônquiros, que foram odiados por seu pai, e os escondeu na Terra assim que cada um deles nasceu. Segundo Pseudo-Apolodoro, os hecatônquiros foram os primeiros filhos de Urano e Gaia, e, logo após os hecatônquiros, nasceram os ciclopes, que foram aprisionados no Tártaro por Urano.
Gaia sofreu com o aprisionamento dos hecatônquiros, e pediu a seus filhos que punissem Urano;apenas Cronos teve coragem de responder à sua mãe.Gaia entregou uma foice a Cronos, e faz o plano;quando Urano estava se deitando com Gaia, Cronos atacou, e castrou Urano.



Poderosos, ajudaram Zeus a derrotar os Titãs no episódio que ficou conhecido como Titanomaquia. Coto, Briareu e Giges lançaram trezentas pedras, e suplantaram o ataque dos Titãs, enterrando-os em baixo da terra, e amarrando-os com correntes. Após a vitória de Zeus, os titãs foram encerrados no Tártaro. 




Depois de derrotar os Titãs, os hecatônquiros se estabeleceram em palácios no rio Oceanus, ficaram como guardiões das portas do Tártaro, onde Zeus havia aprisionado os Titãs.  Mais tarde, quando Zeus derrotou o monstro Tifão, filho de Tártaro com Gaia, também o lançou neste mesmo poço de água.

Depois deste aprofundamento sobre o tártaro mitológico, no decorrer dos anos fui me deparado com os outros tártaros:
·         O Tártaro Dental – Entre a gengiva e o dente existe um espaço, sulco gengival, (vamos compará-lo à cutícula de unha), que em condições normais atinge até 3mm de profundidade. Após as refeições, os restos alimentares (placa bacteriana), penetram nesses espaços e após 72 hrs, endurecem , formando o tártaro, este é duro e áspero, irritando e inflamando a gengiva, provocando sangramento ao leve toque da escova.

·        O Cremor Tártaro - Bitartarato de potássio, também chamado hidrogeno tartarato de potássio tem fórmula KC4H5O6. É um subproduto da fabricação de vinho. Também é conhecido como creme de tártaro. É o sal ácido de potássio do ácido tartárico. Cremor Tártaro é o nome chique para Bitartarato de potássio branco, altamente purificado, vendido nas lojas de alimentos. E, finalmente,



·         O Molho Tártaro – molho á base de maionese e picles usado para acompanhar saladas e peixes. (foto e receita no fim do post)

A palavra tártaro ou tartare se referia ao nome persa da horda dos mongóis de Genghis Khan que assolou a Ásia e a Europa Oriental durante a Idade Média. Os tártaros eram vistos pelos europeus como sendo censuráveis (ou para ser gentil, politicamente incorretos), uma  vez que usavam peles inteiras de animais e muitas vezes comiam suas refeições cruas. Aliás, os tártaros levaram  a culpa por quase tudo que for cru, acre ou grosseiro.
Provavelmente por este mesmo motivo que uma de nossas delícias semibárbaras recebeu o nome de steak tartare: carne crua moída ou picada, misturada com cebola crua picada, gema de ovo crua, sal e pimenta com toque de tabasco, molho inglês, mostarda de Dijon, anchovas e alcaparras.  

Fonte

Alexander S. Murray. Quién es Quién en la Mitología. [S.l.]: ME Editores, Madri, 1997.
René Menard. Mitologia greco-romana, volume I, II e III. [S.l.]: Opus ed. São Paulo, 2ª ed, 1991.

STEAK TARTARE

Ingredientes:
1,5 k de filé mignon limpo
6 gemas de ovo
2 cebolas pequenas, muito bem picadas
2 colheres (sopa) de alcaparras bem picadas
Folhas de manjericão picadas finamente
3 colheres (sopa) de molho inglês
2 colheres (sopa) de ketchup
2 colheres (sopa) de mostarda de Dijon
Salsinha picada para decorar
Sal e pimenta-do-reino moída na hora, a gosto
Preparo: Retire os nervos e pique a carne finamente com a faca. Você pode também comprá-la já moída (somente uma passagem no moedor); Junte todos os ingredientes picados e misture bem; Acrescente as gemas e misture até formar uma pasta; Adicione o molho inglês e vá colocando ketchup, mostarda, pimenta e sal aos poucos, testando sempre até chegar ao ponto desejado do tempero; Decore com salsinha e um fio de azeite; Deixe resfriar na geladeira antes de servir.

MOLHO TÁRTARO

Ingredientes:
1 colher (chá) de cebola ralada
2 colheres(chá) de picles picados (cenoura e pepino)
1 colher (sopa) de azeitonas verdes picadas
1/2 colher (sopa) de alcaparras picadas
1 colher(sopa) salsa e cebolinha picadas
3/4 de xícara (chá) de maionese
1 colher (chá) de limão ou vinagre(opcional)
1 colher(chá) de mostarda

Preparo: Misture todos os ingredientes à maionese e mexa bem, ou passe pelo multiprocessador. Pronto

Obs.: Esta receita é própria para peixes assados e todos os tipos de frutos do mar, principalmente camarões e lagostas. Também com aquelas deliciosas cebolas empanadas ou pão preto. As medidas podem modificar conforme seu gosto ou paladar.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Que tal um Devil's food cake (bolo comida do diabo) para esta sexta-feira treze?

Já  faz um bom tempo que eu  venho guardando o escrito do post de hoje para usar num dia cheio de simbolismo... e eis que  é chegado este dia: hoje, uma sexta-feira treze, banhada por raios de  lua cheia.


Muitos supersticiosos dizem que este não é um bom dia, que  ele vem cheio de energias ruins e que podem atrair coisas e seres maléficos. Eu particularmente não acredito nisso, e não poderia escolher data melhor para apresentar para vocês dois dos mais famosos bolos da culinária norte-americana: Devil's food cake e o  Red Devil's food – seriam, para mim, bolos do  jeito que o diabo gosta. E ele gosta de muito chocolate (risos)
Devil's Food Cake
Red Devil's Food Cake
Antes de prosseguir devo contar outro fato interessante, que me ocorreu, para que eu pudesse, por fim, publicar este escrito no dia de hoje:  além do dia ser propicio para uma receita “metafórica”,  ontem eu comecei a ler um livro  bacaninha, intitulado de “O que Einstein disse a seu cozinheiro – a ciência na cozinha”, obra de Robert L. Wolke, que traz  muitos esclarecimentos sobre a química presente nos alimentos. Ele apresenta mais de 100 perguntas e dá seus respectivos esclarecimentos. E para minha surpresa lá estava um esclarecimento super válido, e pouco conhecido, para esclarecer os mistérios do  bolo do  diabo. Esta descoberta me incitou ainda mais a publicar o tema em questão.


Receitas para ricos, assim eram os  bolos de chocolate similares ao bolo comida do diabo bastante comuns nos livros de culinária (principalmente norte americanos) no final do século 19, mas eles não eram nomeados como tal. Os bolos comida do diabo  eram geralmente listados sob o nome genérico "bolo de chocolate." Receitas intituladas como comida do  diabo se proliferaram nas primeiras décadas do século XX. ( Enquanto o Red Devil cake aparece na década de 1930).
Um alimento do Diabo. Um bolo, muffin, ou cookie feito com chocolate escuro, assim chamado porque é supostamente seria tão rico e delicioso que devia ser algo pecaminoso, embora a associação é claramente feita com humor. Sua cor escura contrastava com o branco neve do  bolo comida de anjo – este tem sua origem anterior ao  bolo comida do diabo, e iremos tratar dele noutra oportunidade.



O primeiro bolo comida do diabo apareceu em 1900, após o qual as receitas e as referências se tornaram freqüentes em livros de receitas. "bolo comida  do diabo  vermelho" –  dada sua cor marrom-avermelhada pela mistura de cacau e fermento soda.1
Como este bolo de chocolate passou a ser chamado de alimento do diabo, ninguém sabe, embora possa ter sido um jogo de opostos: era tão escuro e rico enquanto o bolo  comida de anjo era claro e leve. No início de 1900 houve uma série de variações bizarras encontradas nas receitas do  bolo comida do diabo: podia-se encontrar na massa desde purê de batatas , canela em pó e cravo, além de chocolate.2
Alguns historiadores acreditam que esta foi a primeira menção ao  bolo alimento do diabo . Apareceu em um livro de memórias escrito por Caroline King's  sobre sua infância, em Chicago, por  volta de 1880. Ms. King foi uma escritora de receitas muito popular  na década de 1920-1930.
"Comida do diabo, embora um bolo novo em nossa casa, tinha feito a sua aparição arrojado em Chicago em meados dos anos oitenta, e no momento em que chegou a nossa comunidade pacata, e causou  bastante raiva. A receita de  Maud era o original, e fez um. grande bolo escuro, rico. Aqui está:

Bolo comida do  diabo

1/2 xícara de manteiga
2 xícaras de açúcar
5 ovos
1 xícara de creme azedo
2 e 1 / 2 xícaras de farinha
1 colherinha de soda
1 colher de chá de fermento em pó
3 quadrados de chocolate sem açúcar (150g)
1 colher de chá de baunilha.
Anna derreteu o chocolate sobre a água quente, enquanto Maude fazia o creme de manteiga  adicionado o açúcar aos poucos, então ela acrescentou nas gemas ligeiramente batido dos ovos e o chocolate derretido com baunilha. A mim era permitido peneirar e medir a farinha e depois peneirá-la novamente com o fermento em pó e soda. Quando isso foi feito, Maude, alternadamente adicionado a mistura de farinha e  o creme de leite para a combinação do ovo com açúcar-manteiga-chocolate. Por último, ela dobrou as claras rigidamente batidas e misturou ao creme marrom com o batedor, tinha um cheiro delicioso ela dividu a massa em três partes nas formas que Anna tinha passado manteiga e enfarinhado. O cozimento, em um forno muito moderado, foi cuidadosamente vigiado. De acordo com um costume consagrado pelo tempo em nossa família, os bolos foram testados com um palito limpo e quando pronto eram retirados do forno, lindamente marrom e arrebatadoramente perfumado, eram colocados em uma toalha limpa. Agora viria a seguinte parte importante, o  glacê e o recheio . A receita de Watermans pedia um glacê espesso agradavelmente picante feito com algumas gotas de ácido cítrico. Mas o ácido cítrico soava perigoso para  Maude, e além disso, como explicou Anna, não tínhamos tal artigo em nossa dispensa. E mesmo tendo um estoque de essências aromatizantes de Emily, que  se recusou a ceder, Maude então usou suco de limão, com parcimônia e criteriosamente, e o resultado foi perfeito. No geral foi um bolo nobre, nobre feito.3 "
Qual é a diferença entre bolo de chocolate e um bolo comida do diabo?
Esta simples pergunta tem muitas respostas, dependendo do período e livro de receitas. Sabe-se que no século XIX as receitas de bolo de chocolate americano eram bolos branco / amarelo com cobertura de chocolate. A adição de chocolate à massa aumentou à medida que o preço deste ingrediente diminuiu, criando assim "bolo de chocolate", como a conhecemos hoje. Livros de receitas do século 20, muitas vezes listam de bolo de chocolate e bolo comida do diabo, na mesma página. A diferença mais predominante entre os dois é que o  comida do  diabo geralmente contém uma maior proporção de chocolate. Fannie Farmer [1923] [1923] dobra a quantidade de chocolate necessária para alimentar seu diabo (4 onças em comparação com 2 onças de bolo de chocolate "regular".). Irma S. Rombauer confirma: "Quanto a maior quantidade de chocolate usado, será mais negro e rico seu  comida do diabo." (Joy of Cooking, 1931 p. 236)


Red Devil's Food
Os bolos  comida dos diabos vermelhos começam a aparecer nos jornais norte-americanos e livros de receitas durante os anos 1930. Alguns são especificamente chamados de "diabo vermelho", outros são simplesmente chamados diabo e são indistinguíveis a não ser que o cozinheiro examinados os ingredientes.
No livro “O que Einstein disse a seu cozinheiro – a ciência na cozinha”, Robert L. Wolke comenta faz  o seguinte comentário::

O bolo chamado comida do diabo , é um caso interessante, porque a maior parte das receitas pede chocolate em pó comum; no entanto, o  bolo  sai com uma diabólica coloração  vermelha, como se contivesse cacau do processo holandês. Isso se dá por causa do  bicarbonato de sódio usado como fermento, e a alcalinidade do  bicarbonato de sódio “holandeíza” o  cacau. (Wolke, 2003, p.34)

Vejamos agora uma receita do Red Devil's Food  - Receita de 1938 (Devil's Food cake Wins Plaudits," Marian Manners, Los Angeles Times, June 13, 1938 (p. A6))
Cozinhe uma xícara de açúcar mascavo, dois terços xícara de cacau, dois terços xícara de manteiga e uma gema de ovo por cinco minutos, mexendo sempre.Deixe esfriar e bata. Faça um creme batendo meia xícara de gordura vegetal e uma xícara de açúcar granulado, adicione o creme cozido alternadamente com duas e um quarto de xícara de farinha que foram peneirada com uma colher de chá de soda e fermento em pó e um quarto sal. Bata dois ovos e adicione com a metade da xícara de água e uma colher de chá de baunilha. Despeje em duas assadeiras de bolo que foram forradas com papel-amanteigado. Asse 25 minutos em 375 graus. Cubar com glacê. "

NOTAS:
1 Encyclopedia of American Food and Drink, John F. Mariani [Lebhar Friedman:New York] 1999 (p. 111)
2 American Century Cookbook: The Most Popular Recipes of the 20th Century, Jean Anderson [Clarkson Potter:New York] 1997 (p. 452-3)
3 Victorian Cakes: A Reminiscence With Recipes, Caroline B. King, with an introduction by Jill Gardner [Aris/Berkeley:1986] (p. 35-6)

Bolo comida do diabo

½ xícara de chocolate em pó amargo
1 xícara de água fervendo
2 xícaras de farinha de trigo
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
½ colher chá de sal
½ de manteiga sem sal , amolecida
1 xícara de açúcar
2 ovos grandes
1 colher de chá de baunilha

Preparo ponha  o chocolate em pó numa tigela pequena.  Junte a água devagar, mexendo com uma colher  até ficar  bem combinado  numa pasta lisa. Reserve até ficar morno. Noutra tigela misture a  farinha, o  bicarbonato e o sal.
Numa tigela média bata a manteiga com o  açúcar até ficar um creme fofo. Acrescente os ovos, um de cada vez, batendo sempre para que fique bem incorporado. Acrescente a mistura de chocolate esfriada toda de uma vez e  mexa bem. Acrescente a mistura de  farinha  e  bata  bem até  ficar  uma massa lisa. Assem  em forma untada  e enfarinhada  em forno pré-aquecido.