Meus amigos mais chegados sabem que, depois do chocolate, rocambole recheado com goiabada é a minha sobremesa predileta. a minha predileção serve para abrir a discussão de hoje.
Outro dia cheguei em uma padaria e perguntei ao atendente se tinha rocambole. O moço responde que sim e logo veio mostrando pequenas bandejas com pedaços do que seria o rocambole dentro. O meu desejo era tão grande em comer aquilo que eu não discuti com o atendente, não lhe disse que aquilo que ele me mostrara não era rocambole, que eu não sou um leigo no assunto. Mas a fome me fez calar. Obviamente comi seis fatias do bolo que o moço dizia ser rocambole mas que eu sabia , perfeitamente, que se tratava de um bolo de rolo - e que eu gosto, igualmente.
Outro dia cheguei em uma padaria e perguntei ao atendente se tinha rocambole. O moço responde que sim e logo veio mostrando pequenas bandejas com pedaços do que seria o rocambole dentro. O meu desejo era tão grande em comer aquilo que eu não discuti com o atendente, não lhe disse que aquilo que ele me mostrara não era rocambole, que eu não sou um leigo no assunto. Mas a fome me fez calar. Obviamente comi seis fatias do bolo que o moço dizia ser rocambole mas que eu sabia , perfeitamente, que se tratava de um bolo de rolo - e que eu gosto, igualmente.
Rocambole - reconhecido pela única lâmina de pão de ló recheado. |
Sai da padaria levando mais algumas fatias do bolo de rolo. Quando cheguei em casa fiquei com peso na consciência por não ter explicado ao atendente a diferença entre o bolo de rolo e o rocambole. Somente agora me veio a oportunidade de recompensar ao mundo por minha pequena culpa. Até mesmo porque, seu eu chegar em recife e cometer a gafe de pedir bolo de rolo como sendo rocambole, os pernambucanos tratariam minha fala como ofensiva, pois eles preservam muito a imagem do bolo de rolo. E fazem muito bem!
O Bolo de rolo com suas camadas finissimas recheadas com goiabada. |
Mas porque o bolo de rolo não é rocambole?
Para responder faz-se necessários observar os detalhes de cada receita. Com isso, chega-se a conclusão da existência de cinco fatores cruciais que diferenciam bolo de rolo e rocambole. São eles:
Primeiro – o rocambole apareceu no nordeste, bem depois do bolo de rolo;
Segundo – os dois possuem preparos diferenciados;
Terceiro - trata-se da importância do recheio. No rocambole, o recheio pode ser variado. Enquanto no bolo de rolo usa-se apenas goiabada;
Quarto – Há diferença nas massas de cada sobremesa: o rocambole se faz com a massa de pão de ló. Enquanto o bolo de rolo usa a massa do colchão de noiva, receita originária de Tavira (distrito de Faro, região do Algarve,em Portugal); ambas são semelhantes, mas a espessura é a grande diferença - rocambole tem massa grossa e bolo de rolo, massa finissima.
Quinto – trata-se da maneira do ‘enrolar’: onde no bolo de rolo este enrolado é composto por 4 lâminas finíssimas de massa recheada – e que depois de enrolada parecia um rolo – fato que deu origem ao nome do bolo. Enquanto o rocambole é composto do enrolado obtido com apenas uma lâmina de massa recheada.
Bolo Colchão de Noiva |
Para fundamentar mais a diferença entre as duas iguarias, a história nos apresenta fatos importantíssimos:
Nos tempos em que o bolo de rolo já freqüentava nossas mesas, ainda não havia nascido o Visconde de Ponson Du Terrail (1829-1871) - dado, pelas crônicas da época, como “atrapalhado e prolixo”. Dele até se contava que costumava escrever com pressa e não relia seus escritos, vício que o levou a deslizes monumentais - como o de dizer que “as mãos estavam tão frias como as duma serpente”. Seu personagem Rocambole, não por acaso, é confuso e enrolado - imagem e semelhança do próprio autor. Talvez por conta disso o personagem tenha emprestado o nome à sobremesa. Mas só no sul do Brasil, bom lembrar; que, em outros cantos, receitas similares recebem nomes diferentes.
Na França, por exemplo, os bolos enrolados mais conhecidos são o “roulé aux dattes” (massa seca e fina com recheio de tâmaras) e o “bras de Vénus”(pão de ló com creme de funcho); na Alemanha, “strudel” (massa filo com recheio de maçã, passa e canela); na Hungria, “retes”. Todas, herança do “baklava” turco (massa folhada recheada com amêndoas ou nozes). Em Portugal e demais países de língua portuguesa, esse tipo de bolo mais comumente recebe o nome de “torta” - com destaque, entre elas, para as “de laranja”, “de segredos” e “de claras”.
No Brasil porem a existência dos doces, sobretudo no nordeste de deve a presença das damas portuguesas que se instalaram, nessa terra a que primeiro chamaram Ilha de Vera Cruz, nas casas grandes dos engenhos de açúcar. E com elas vieram, na bagagem, suas cozinhas como tinham em Portugal - chaminés francesas, fogões, fumeiros, pesados tachos de cobre, caldeirões, algüidares e potes. Mas aqui acabaram fazendo adaptações muitas. Primeiro tiveram que dividir espaço, na cozinha, com índias e com escravas africanas. Depois aprenderam com essas índias que, no nosso calor tropical, melhor lugar para colocar a cozinha era fora da casa. Debaixo de um "puxado". Passando então a usar "jirau" (mesa com varas de madeira que servia para cortar e limpar as carnes), "tempre" (tripé de pedra ou ferro onde se apoiavam os panelões no fogo) e utensílios que não conheciam na Europa - panela de barro, colher de pau, pilões, urupemas, cuias, e cabaças
A criação do nosso bolo de rolo seria herança da dificuldade que as senhoras portuguesas – de quem a maioria das regiões do Brasil herdou forte influencia gastronômica – encontraram logo nos primeiros anos de colonização. Haja visto que elas não poderiam executar a maioria de suas receitas tradicionais por não disponibilizarem sem, a mão, os ingredientes como: amêndoa e pinhão; maçã, marmelo e pera; canela, cravo e gengibre. E para não perderem as habilidades na cozinha tomaram a iniciativa de experimentar utilizar produtos brasileiros como; caju, goiaba, banana, abacaxi, castanha de caju, amendoim, milho, coco, mandioca. Estes até então pouco conhecidos por as senhoras portuguesas, e assim foram modificadas muitas de suas receitas tradicionais e criando as nossas.
Assim, provavelmente, nasceu nosso bolo de rolo. Surgido de uma adaptação do bolo colchão de noiva português. Até porque, se o bolo de rolo fosse inspirado no rocambole, teria inevitavelmente que ter usado no preparo a massa da receita do pão de ló, chegado ao Brasil nos primórdios do séc. XVII - e reproduzido, até hoje, sem nenhuma variação. De resto, o bolo de rolo já se fazia, por aqui, bem antes de nossa cultura sofrer as interferências do francesismo. Gilberto Freyre tece um comentário que ajuda a sustentar esta tese afirmando:
As tradições portuguesas de bolo e de doce tinham se instalado tão bem nos fornos das casas-grandes de engenho e de alguns conventos de freiras, que a influência francesa só as atingiria de maneira mais viva no século XIX, quando os confeiteiros franceses começaram a se tornar chiques na Corte e no Recife.
FREYRE, Gilberto. Açúcar: em torno da etnografia da história e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil. Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 1987
FREYRE, Gilberto. Açúcar: em torno da etnografia da história e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil. Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 1987
Resumindo: nem todo bolo enrolado é rocambole. E bolo de rolo é bolo de rolo.
Depois de mais de 300 anos passando de mesa em mesa o bolo de rolo se juntou com o bolo Souza Leão para configurar na lista das receitas nordestinas protegidas, conservadas e valorizadas por sua importância histórica, cultural e gastronômica para o País. Sendo os dois, devidamente reconhecidos como bem do patrimônio cultural e imaterial no ano de 2008, através da Lei Ordinária nº. 379/2007.
Bolo de rolo
250g de açúcar
250g de manteiga
6 ovos
250g de farinha de trigo
sal
½ lata de goiabada
1 copo de água
½ xícara de açúcar
Preparo: Bata bem açúcar e manteiga. Junte as gemas, uma a uma. Acrescente o trigo peneirado, o sal e misture delicadamente. Depois junte as claras em neve. Divida a massa em cinco partes iguais. Coloque cada uma em assadeira rasa, untada com bastante manteiga e polvilhada com trigo. Asse rapidamente, uma de cada vez, em forno quente por aproximadamente dois minutos cada massa. Prepare o recheio misturando goiabada, água e açúcar no liquidificador. Leve ao fogo até ficar um creme homogêneo. Reserve. Desenforme, virando a assadeira em toalha polvilhada com açúcar. Recheie com a goiabada derretida e enrole rapidamente, com ajuda da própria toalha. Repita o processo até a última camada. Coloque no prato de servir e polvilhe açúcar.
Bolo colchão de noiva
Ingredientes para o bolo: 8 ovos; 250g de açúcar; 190g de fécula de batata; 1 colher (sopa) de fermento
Ingredientes para o creme de recheio: 12 colheres (sopa) de açúcar; água ate cobrir; 10 gemas
Ingredientes para a cobertura: 6 claras em neve; açúcar até dar o ponto de suspiro;raspa de limão; -coco ralado para decorar
Preparo: Massa: Bata as gemas com o açúcar até ficar esbranquiçado. Depois acrescente as claras em neve, e por último, a fécula de batata e o fermento. Unte uma forma com manteiga e polvilhada com trigo e leve ao forno até assar e reserve. Recheio: Coloque 12 colheres de açúcar com água atée cobrir e leve ao fogo até dar o ponto de pérola. Retire e deixe esfriar. Bata as gemas e adicione nesta calda mexendo. Leve ao fogo ao ponto do doce de ovos, soltando da panela. Abra o bolo ao meio e recheie com o doce de ovos e cole. Cobertura: Bata as claras até ficar em neve e adicione o açúcar até formar ponto de suspiro, e adicione as raspas de limão. Cubra o bolo todo e por fim enfeite com o coco ralado
Nossa, deu ate agua na boca...
ResponderExcluirBolo de Rolo, fala serio, melhor so mesmo nega maluca, pena que não posso com nenhum, mais fica o pedido,quando eu for ai,vou querer feito por vc.
Desde criança me interessei pela cozinha, pois eu sou de família hispana e desde cedo aprendi a fazer e comer rocambole(que na minha terra chamamos de "BRAZO GITANO") e assim que cheguei ao Brasil, experimentei o bolo de rolo, porém com o nome de rocambole de doce de goiaba (goiabada), porém percebi a diferença no sabor e na consistência da massa, mais ninguém me explicava o por que? e pensava, não é a mesma coisa, deve existir alguma diferença, só agora, de adulta e graças a este site encontrei uma explicação condizente com aquilo que eu pensava desde criança e fiquei feliz em saber que eu estava correta, resolvi testar o bolo de rolo de vocês e aqui em casa não me deram tempo de tirar a foto, eu diria que "não comeram simplesmente devoraram" muito obrigada pela receita e aproveito a oportunidade para perguntar-lhes se posso traduzir a receita ao espanhol junto com as informações e coloca-la no meu blogue, lógico que dando os devidos créditos, e gostaria que as pessoas soubessem a diferença entre o rocambole (brazo gitano) e bolo de rolo, muito obrigada e que Deus os abençoe hoje e sempre!
ResponderExcluirNota-se que não é uma explicação de opinião, mas de pesquisa recheada de credibilidade e responsabilidade. Feliz por encontrar esse site colocando cada um em seu devido lugar. Parabéns.
ResponderExcluirNota-se que não é uma explição de opinião, mas fruto de pesquisa responsável e com fito desejo de esclarecer a diferença existente entre as guloseimas. Feliz por encontrar esse site esclarecedor. Parabéns.
ResponderExcluirPRONTO AMEI...
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