sábado, 23 de janeiro de 2021

Pavlova: da morte do Cisne à apoteose gastronômica

 

Em 23 de janeiro de 1931 é a data da morte do “Cisne”, a bailarina Anna Pavlova nos deixava e imortalizava toda a beleza de sua arte. Toda arte tem sua beleza, até a morte.

A morte do Cisne (The Dying Swan), ballet de 1905, coreografado por Mikhail Fokine, composição de Camille Saint-Saens, é uma linda metáfora para o fim da nossa existência, para o fim de todos os ciclos que passamos durante a vida. O solo de ballet protagonizado pela grande bailarina Anna Pavlova nos ensina que, a cada instante, devemos morrer, e deixar morrer aquilo que já não tem mais sentido dentro de nós, guardando a devida beleza de termos feito parte do grande espetáculo da Vida.

Inspirada por cisnes de um parque público e pelo poema de Lord Tennyson “The Dying Swan”, Anna Pavlova perguntou se Michel Fokine poderia criar um solo de ballet para apresentar em um concerto em 1905, no Mariinsky Imperial Opera.

Fokine então sugeriu uma dança para a composição do francês Camille Saint-Saëns, em violoncelo, “Le Cygne”, parte da peça “Le Carnaval des Animaux”. A coreografia era composta principalmente por movimentos da parte superior do corpo, especialmente os braços, e por um pequeno passo chamado “pas de bourrée suivi”.

Fokine comentou o seguinte sobre o ensaio com Pavlova: "Era quase um improviso. Dancei na frente dela, ela logo atrás de mim. Em seguida, ela dançou e eu caminhava ao lado dela, curvando os braços e corrigindo detalhes de poses. Antes dessa composição, fui acusado de rejeitar a dança nas pontas dos pés. A Morte do Cisne foi a minha resposta a essas críticas. Esta dança tornou-se o símbolo do Novo Ballet Russo. Foi uma combinação de técnica magistral com expressividade. Foi como uma prova de que a dança pode e deve satisfazer não só o olho, mas por meio do olho deve penetrar a alma."

Não é à toa que o espetáculo causa grande impacto na nossa Alma, além da interpretação sensível de Pavlova e da belíssima coreografia de Fokine, o poema de Tennyson que inspirou a obra, também nos faz sentir como se estivessemos ali contemplando a leveza e a profundidade dos cisnes em meio a natureza.

 

A Morte do Cisne

(Lord Tennyson, 1830)

A planície era gramada, selvagem e nua,

Largo, selvagem e aberto ao ar

Que havia se construído em todos os lugares

Um sub-telhado de cinza triste.

Com uma voz interior o rio correu,

Por que flutuava um cisne moribundo

E em alto som lamentou.

Foi no meio do dia.

Sempre o vento penoso continuou,

E levou os juncos enquanto passava.

II.

Alguns picos azuis ao longe roseavam,

E branco contra o céu branco e frio

Brilhavam suas coroas de neve.

Um salgueiro sobre o rio chorou,

E sacudiu a onda enquanto o vento suspirava;

Acima, no vento, estava a andorinha

Perseguindo a si mesma em sua vontade selvagem,

E longe dos musgos verdes e imóveis

Os emaranhados de água dormiam,

Filmado com roxo, verde e amarelo.

III

O hino da morte do cisne selvagem levou a alma

Daquele lugar de perda com alegria

Escondido em tristeza: primeiro ao ouvido

O gemido era baixo, cheio e claro;

E flutuando sobre o céu,

Prevalecendo em fraqueza, o canto fúnebre roubou

Às vezes longe e às vezes se aproximava;

Mas, em sua terrível voz jubilosa,,

Com uma música estranha e múltipla,

Fluiu adiante em um canto livre e forte;

Como quando um povo poderoso se alegra

Com flautas e com címbalos e harpas de ouro

E o tumulto de sua aclamação é rolado

Através dos portões abertos da cidade distante,

Ao pastor que vigia a estrela da tarde.

E os musgos rastejantes e ervas daninhas pegadiças,

E os galhos de salgueiro encanecidos e úmidos

E o ondulante aumentar do sussurro nos juncos,

E as trombetas desgastadas pelas ondas ecoando na margem,

E as prateadas flores pantanosas que lotam

Os riachos desolados e as piscinas

Foram inundados com um canto circundante.

 A obra de Camille Saint-Saëns também merece ser apreciada por nós como parte importante deste conjunto harmônico. Pensada inicialmente como uma brincadeira para criticar o cenário musical parisiense da época, Camille compôs em 14 movimentos, para piano e orquestra, “Le Carnaval des Animaux” mas só deixou o “Le Cygne” ser levado a público antes de sua morte, por medo que a peça e seu tom jocoso manchassem sua imagem de compositor sério. Por ironia do destino, “O Carnaval dos Animais”, destacando “O Cisne”, é sua obra mais conhecida. Os animais aqui não são somente animais, mas sim um símbolo para vários aspectos humanos, potencialidades e limitações que compartilhamos com os bichos. Como somos todos parte da mesma Natureza, estamos sujeitos às mesmas Leis.

Assim foram desenvolvidos os 14 movimentos:

1. Introdução e marcha real do leão. Os dois pianos e as cordas abrem a marcha do soberbo animal, imitando seus rugidos.

2. Galinhas e galos. Clarinetes, pianos, violinos e viola .

3. Hémiones (asnos selvagens do Tibet. Animais muito velozes).Os dois pianos lançam-se em escalas de clima de loucura, que jamais se alcançam.

4. Tartaruga. Tocada em andamento extremamente lento com cordas sobre um acompanhamento do piano.

5. O Elefante. O contrabaixo com ornamentos do piano tocam o tema.

6. Cangurus. Os dois pianos saltitam. Eles hesitam, eles param...

7. Aquarium. Flauta, celesta, os dois pianos e as cordas. As flautas dão um sentido de ondas, os pianos um sentido de nadar, a celesta faz parecer gotas de água.

8. Personagens de orelhas longas. Por poucos compassos dois violinos alternam seus diálogos.

9. O Cuco no fundo do bosque. Com o acompanhamento do piano, a terça do cuco é dita e redita pelo clarinete.

10. Viveiro. Uma flauta com acompanhamento dos pianos e das cordas.

11. Pianistas. Faz referência aos músicos iniciantes. Eles são, segundo Saint-Saëns, verdadeiros animais, e não dos menos barulhentos. Devem imitar o toque de um aluno de piano iniciante, alternado em escalas e terças duplas, com notas desafinadas. As cordas rangem, irritam-se e interrompem o insuportável duo.

12. Fósseis. As antigüidades – uma série de citações que se encadeiam vivamente.

13. O Cisne. Uma nobre bobagem, segundo o próprio Saint Saëns. O violoncelo toca sobre as harmonia dos pianos. No final ele adormece.

14. Final. Um desfile de toda a bicharada, onde desfilam os principais temas ouvidos durante a obra, inclusive a dos pianistas.

Dito isso, é importante percebermos que “A Morte do Cisne” não é somente sobre o cisne e sua vida solitária num parque da cidade, mas sim, como bem apresentado por Pavlova, uma luta contra a morte, uma luta pela existência, uma luta que travamos pelo que vale a pena ser vivido. Por outro lado, a obra também nos ensina a aceitar as Leis da Vida, nos mostra que também precisamos aprender a morrer, a reconhecer o fim dos ciclos e a interpretá-los com beleza.

Atualmente, a coreografia inspira muitas versões contemporâneas de Odette, o cisne branco no Lago dos Cisnes de Tchaikovsky, chegando até a nos confundir em quem inspirou quem ou até mesmo pensar que são a mesma obra. É importante percebermos também que, para além de uma grande exibição técnica, a proposta original de Folkine era algo mais profundo. Como diz sua neta Isabelle: “Não é necessário uma demanda técnica enorme, mas sim grande sensibilidade artística porque todo movimento, todo gesto deve demonstrar alguem tentando fugir da morte”. A intenção de Folkine era tocar nossa Alma através da beleza que um cisne expressa, mesmo no momento de sua morte. Na verdade, este cisne pode ser cada um de nós, seguindo os ciclos de vida e morte, e buscando o sentido nisso tudo.

Mas quem foi Pavlova?


 Anna Matveievna Pavlova nasceu em São Petersburgo a 31 de janeiro de 1881. De talento e carisma excepcionais, fascinou o mundo da dança no fim do século XIX e na primeira metade do século XX.  O seu extraordinário talento e as suas interpretações extremamente pessoais deram um novo sentido ao ballet clássico.

Nascida numa família de camponeses pobres, dizem que Pavlova não gostava de falar do seu pai, quando questionada sobre o tema, respondia que ele tinha morrido quando ela tinha 2 anos de idade. Mas a verdade é que a sua mãe a criou sozinha, portanto, era filha de mãe solteira. Aos 8 anos, como presente de aniversário assistiu ao espetáculo de ballet “A Bela Adormecida” no teatro Mariinsky. Emocionada decide dedicar-se à dança. Para isso, Pavlova tentou inscrever-se na Escola Imperial de Ballet de São Petersburgo, mas foi rejeitada devido à sua idade e baixa estatura. Persistente, em 1891, aos 10 anos, consegue concretizar o seu propósito.

Durante o seu período de formação, teve aulas com os mais famosos professores da época: Pavel Gerdt, Christian Johansson, Ekaterina Vazem, Nikolai Legat. Formou-se em 1899 com 18 anos de idade. Posteriormente entrou no corpo de bailado do Ballet Imperial Russo de São Petersburgo. Logo caiu nas graças de Marius Petipa, conseguindo posições de destaque cada vez maior, pois em 1902 já era segunda solista e em 1905 première danseuse, consequentemente em 1906 torna-se prima ballerina.

No final do século XIX o ideal da bailarina era ter um corpo compacto e musculado, para poder atender aos requisitos de técnica e performance nas danças. Anna Pavlova mudou esta visão. Tinha uma figura feminina, graciosa e delicada e um modo pessoal de dançar, começou a ganhar destaque nos espetáculos em que actuava e a arrebatar fãs entusiastas. Em 1908 estreou no Théatre du Châtelete (Paris) com o Ballets Russes de Serguei Diaghilev, que encontrou em Michel Fokin, total apoio para sua proposta de renovação no ballet. Neste período também surgia Nijinsky (considerado o máximo expoente da dança masculina) com quem encena o ballet Les Shylphides. Também nesta temporada dança o bailado Cleópatra. Em 1910, apresenta-se no Metropolitan Opera House, em Nova Iorque, no bailado Coppelia. Pavlova apresentou-se com a companhia de Diaghilev até 1911 e dividia o seu tempo entre estas viagens e as apresentações no Mariinsky. Já em 1913 ela decide deixar o Ballet Imperial e passa a apresentar-se representada por Victor d’Andre (com quem vem a se casar em 1924). Em 1914, ela deixa a Rússia definitivamente e muda-se para Londres, era o início da Primeira Grande Guerra.

 No natal do referido de 1930 Pavlova teve algumas semanas de descanso de uma digressão que realizava pela Europa. No regresso ao trabalho, numa cidade da Holanda, o comboio em que viajava foi obrigado a parar devido a um acidente ocorrido próximo da linha. Anna resolveu sair do comboio para ver o que tinha acontecido, mas vestia roupas muito leves e foi caminhando pela neve. Dias mais tarde, Pavlova foi acometida de forte pneumonia. Acabou por falecer no dia 23 de janeiro de 1931, no auge da fama e perto de completar 50 anos.

Mas e a pavlova de comer?

Fazer um churrasco no quintal e servir uma pavlova como sobremesa, talvez seja um dos hábitos mais característicos da cultura australiana. E isso se fortalece ainda mais no Natal, quando a sobremesa se veste para festa em todo aquele país. Mas, é ainda uma preparação com a cara do verão: é refrescante e deliciosamente saborizados com frutas tropicais, como o maracujá, hummm.  Ocorre que as ‘estórias’ de cozinha percorrem o mundo e nos educam a acreditar que a sobremesa seja uma preparação daquele lugar, e essa cultura acabou fazendo os australianos, de fato, terem uma grande afinidade com a pavlova. O único problema é que os neozelandeses pensam da mesma forma.


A sobremesa foi batizada em homenagem à bailarina russa Anna Pavlova, que era uma megastar quando fez turnê pelos dois países (Austrália e Nova Zelândia) na década de 1920.

Um livro de 1922 sobre culinária caseira australiana de Emily Futter continha uma receita para "Merengue com recheio de frutas". Esta é a primeira receita conhecida para um alimento totalmente semelhante à pavlova moderna, embora ainda não seja conhecido por esse nome.

No lado australiano, o chef Herbert “Bert” Sachse teria criado a pavlova no Esplanade Hotel de Perth em 1935, e foi batizada pelo gerente da casa, Harry Nairn, que observou que era “leve como a pavlova”. Em uma entrevista ao Woman’s Day em 1973, Sachse disse que a proprietária, Elsie Plowman, e Nairn o recrutaram para fazer algo "diferente e único" como um bolo ou doce. Ele Sempre lamentava que o bolo de merengue era invariavelmente muito duro e crocante, então decidiu criar algo que tivesse um topo estaladiço e cortasse como um marshmallow. Após um mês de experimentação - e muitos fracassos - encontrou a receita, que sobrevive até hoje.

Os neozelandeses, entretanto, costumam citar a história de um chef anônimo em um hotel de Wellington, que teria inventado a pavlova durante o único passeio da bailarina pelo país em 1926. Mas a professora emérita Helen Leach, uma neozelandesa especializada em antropologia alimentar no University of Otago e autora de The Pavlova Story: A Slice of New Zealand's Culinary History, foi incapaz de verificar esta versão dos eventos.

No entanto, a Dra. Leach encontrou nas suas pesquisas referências a três tipos de sobremesa chamadas pavlova em sua terra natal antes da oferta de Sachse.

A pavlova da Nova Zelândia de 1929 foi a versão que desencadeou as "guerras" da pavlova 

A primeira foi uma gelatina multicolorida em camadas da marca Davis Gelatine em 1926. Em seguida, vieram pequenos merengues com sabor de nozes e café, semelhantes a beijos, que surgiram na cidade de Dunedin em 1928 e se tornaram populares em todo o país. Então, em 1929, uma receita para um grande bolo de merengue com o nome da bailarina apareceu na publicação regional Dairy Farmer’s Annual. Este terceiro tipo de pavlova foi aquele que várias décadas depois se tornou o assunto das 'guerras' da pavlova, que insistem que a pavlova foi 'criada' ou 'inventada' e, em seguida, roubada / falsamente reivindicada por chefs / cozinheiros em toda a Tasmânia.

A estudiosa de culinária americana Darra Goldstein foi outra pesquisadora que ficou fascinada com pavlova depois que sua filha se mudou para a Austrália em 2014, e mais tarde para a Nova Zelândia, e ela começou a colecionar livros de receitas de ambos os países. Ela incluiu um capítulo sobre isso, escrito pela Dra. Leach, no livro que editou, The Oxford Companion to Sugar and Sweets.

Assim, as origens precisas de pavlova não podem ser determinadas e que, na verdade, é errado acreditar que receitas são inventadas - em vez disso, receitas evoluem com o tempo, muitas vezes em mais de um local. Quando há um prato tão popular como pavlova, não é surpresa que tanto a Austrália quanto a Nova Zelândia queiram reivindicá-lo como algo que deram ao mundo. Rivalidades amigáveis são sempre divertidas e, para alguns, é uma questão de orgulho nacional.

Esse foi certamente o caso do neozelandês Dr. Andrew Paul Wood e da australiana Annabelle Utrecht, que colocam o debate sobre as origens de pavlova em uma postagem do Facebook de um amigo em comum. Ambos foram pesquisar determinados a provar que o outro estava errado. Mas depois que começaram a cavar mais fundo, ficaram surpresos ao descobrir que a história da pavlova remonta muito mais longe.

Dr Andrew Paul Wood e Annabelle Utrecht

A dupla passou os últimos sete anos montando esse “quebra-cabeça culinário”, vasculhando livros de receitas, jornais, pinturas de naturezas mortas e arquivos de todo o mundo. Originalmente, eles planejavam fazer um pequeno documentário, mas quando perceberam que a história da pavlova era muito maior do que apenas uma batalha trans-Tasmaniana, eles decidiram escrever um livro sobre a história secreta da Pavlova e uma História Social de Sobremesas com Merengue.

Para começar, realizaram um exame forense das lendas kiwi e australianas, e novos fatos [foram] rapidamente revelados que mudaram completamente a narrativa. No século 18, grandes construções de merengue incorporando elementos de creme e frutas podiam ser encontradas em cozinhas aristocráticas em terras de língua alemã, então a coisa que chamamos de pavlova hoje tem na verdade mais de dois séculos.

Depois, as mulheres nas cozinhas europeias de classe média começaram a criar bolos de merengue cobertos com chantilly, nozes e frutas ou em conserva de frutas. A Europa estava em crise com as guerras napoleônicas em 1800 e quando as pessoas se mudaram e se estabeleceram em outras terras, as sobremesas parecidas com pavlova foram com elas.

Em 1860, você poderia encontrá-las na Grã-Bretanha, Rússia e América do Norte. Por exemplo, se você preparasse a Schaum Torte (o nome significa “bolo de espuma’, uma receita de 1850) e oferecesse aos amigos e lhes perguntasse o que seria, diriam seguramente que se tratava de uma pavlova. Daí, você depois, pesquisando, descobriria que as receitas da Shaum Torte chegaram ao sul da Austrália antes da Segunda Guerra Mundial, quando houve um grande fluxo de imigrantes alemães.

                                   Shaum Torte

Contudo, é importante dizer que o australiano Sachse produziu uma pavlova "sofisticada e altamente estável", sua receita realmente é o bolo mais próximo da pavlova que temos em mentes quando imaginamos pavlova. Mas, quando se prepara a pavlova da Nova Zelândia de 1929, você se surpreende poie era um sanduíche de merengue, não a pavlova que temos hoje. Mas as próximas pavlovas que saíram da Nova Zelândia por volta de 1932 a 1933 já eram bolos de nível único cobertos com frutas e creme.

Quanto ao nome, a dupla também descobriu centenas de receitas de pratos doces e salgados em homenagem a Anna Pavlova no hemisfério norte. Eles incluem Strawberries Pavlova, um glacé do período eduardiano servido com uma guarnição de framboesas, que apareceu no New Zealand Herald em 1911, mas que foi reimpresso da Inglaterra e também apareceria nos Estados Unidos - que incluía um componente de merengue que só poderia ser obtido com o nome de Pavlova por um tempo limitado.

Strawberries Pavlova era um glacé do período eduardiano servido com uma guarnição de framboesas 

Ainda mais surpreso se fica quando se encontrar uma receita em livros árabes medievais, incluindo o livro de receitas sírio do século 13 Kitab al-Wusla ilà al-Habib fi Wasf al-Tayyibat wa al-Tib (Livro do vínculo de amizade na descrição de Bons Pratos e Perfumes) que, embora não seja um merengue, "se você apertar os olhos da maneira certa" é semelhante a um merengue italiano, que é feito despejando uma calda de açúcar por cima das claras em vez do tipo assado que estamos familiarizados.

Esse tipo de cozimento com merengues e xarope de açúcar provavelmente passou para a Europa através de territórios controlados por portugueses na África (antigamente controlados por árabes), ou através da ocupação moura de Espanha, Sicília e França.

As primeiras referências européias aparecem em lugares como Itália e Espanha, onde havia uma grande população muçulmana na idade medieval. O açúcar era incrivelmente caro, então essas guloseimas eram confeitos destinados às mesas mais ricas, como a dos Habsburgos imperiais, que por acaso também eram ricos em açúcar do Novo Mundo.

Merengues assados (petite arrangements) podem ser encontrados na cozinha imperial de Madrid dos Habsburgos espanhóis no final do século XVI e início do século XVII. No século XVIII, produções maiores e mais sofisticadas de merengue começam a se revelar em livros de culinária e, no final dos anos 1700, bolos de merengue muito grandes e sofisticados podem ser encontrados nas casas dos nobres dos Habsburgos, como a de um bolo de merengue austríaco, três camadas de merengue de altura, cheias de compotas de frutas. No início de 1800, os bolos de merengue se tornaram incrivelmente populares entre as classes médias ricas também.

Mas, a pavlova de estilo australiano, aperfeiçoada por Sachse, foi aperfeiçoada por donas de casa no meio-oeste da América no final do século XIX. É aí que elas começaram a adicionar coisas como centáurea.

A pavlova geralmente tem um ingrediente de amido que a torna mais rígida e forte. Mas a fruta é o grande destaque, essa é provavelmente a maior diferença entre pavlova australiana e neozelandesa. A pavlova da Nova Zelândia é mais para ser servida com fruta kiwi, enquanto na Austrália você tem maracujá (e atrocidades, para os neozelandeses, como abacaxi). Na Grã-Bretanha, é muito mais sobre morangos, enquanto nas versões mais antigas a noz picada tinha grande destaque.

Em última análise, vê-se o "tataravô" do grande bolo de merengue, como entenderíamos a pavlova, como sendo o Spanische Windtorte (bolo de suflê), que era uma sobremesa austríaca composta por uma casca de merengue ou camadas, recheado com chantilly e frutas. Foi o primeiro de seu tipo e conhecido por ser cozido nas cozinhas dos Habsburgos no final dos anos 1700.

O Spanische Windtorte era uma sobremesa austríaca do século XVIII composta por merengue, chantilly e frutas

Idênticas por natureza, as receitas da baiser torte (torta do beijo)e da schaum torte só começaram a surgir nos anos 1800, quando fatores geopolíticos motivaram mudanças de nomenclatura em reinos não Habsburgos.

Veja como é fascinante acompanhar a história social de pavlova e a árvore genealógica dos merengues, observando como os bolos de merengue possivelmente começaram no continente africano e evoluíram nos Impérios Habsburgo e Romano na Europa Central. À medida que o poder mudava entre impérios e reinos, o merengue ia com ele.

 

New Zealand Pavlova

Para concha de merengue

4 claras de ovo grandes (em temperatura ambiente)

1 xícara de açúcar de refinado

1/2 colher de sopa de amido de milho

1 colher de chá de vinagre branco

1 colher de chá de baunilha

Para o chantilly e guarnição

1/2 xícara de creme de leite fresco

1/2 colher de chá de baunilha

1/2 xícara de açúcar de confeiteiro

2 xícaras de frutas frescas inteiras ou fatiadas de escolha (morangos, framboesas, kiwis, maracujá, bananas, mirtilos)

1 colher de sopa de suco de limão fresco

Preparo: Faça a Concha de Merengue. Aqueça o forno a 140 C e coloque a grelha no meio do forno. Forre uma assadeira com papel alumínio e desenhe um círculo de 18 cm no papel alumínio com a ponta de uma faca (não rasgue o papel alumínio). Deixe de lado. Em uma tigela de metal limpa de tamanho médio, bata as claras em neve em velocidade média. Bata até que as claras formem picos suaves. Polvilhe suavemente o açúcar nas claras, 1 colher de chá de cada vez, batendo continuamente até que as claras formem picos duros e brilhantes. Polvilhe o amido de milho e o vinagre no merengue e misture delicadamente com uma espátula. Adicione a baunilha e dobre suavemente a mistura novamente. Agora, espalhe suavemente o merengue no círculo sobre a folha para fazer uma base circular. Certifique-se de que as bordas do merengue são ligeiramente mais altas do que o centro para que você tenha um pequeno poço no meio. Asse o merengue por cerca de 1 hora e 15 minutos ou até ficar com uma cor de casca de ovo rosada muito clara. Desligue o forno e deixe a porta entreaberta para que o merengue esfrie completamente. Conforme o merengue esfria, ele irá rachar um pouco. Pouco antes de servir, tire o merengue do forno, retire delicadamente do papel alumínio e coloque em um prato. Faça o Chantilly: Bata as natas com a baunilha e o açúcar de confeiteiro até formar picos e reserve. Prepare a fruta lavando e fatiando. Misture frutas cortadas, como bananas e maçãs, com suco de limão para evitar que dourem. Espalhe delicadamente o creme por cima do merengue resfriado com uma espátula. Arrume as frutas por cima. Sirva imediatamente e aproveite.

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