segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Broinha boa pra Saci !!!

Hoje meu leite derramou... logo depois de levantar fervura, e azedou. 
Quando senti o cheiro do leite queimado, imediatamente, me lembrei do Sitio do Pica-Pau-amarelo, na minha infância quando eu  lia, nas obras de Lobato, que o leite só azedava quando o Saci estava por perto.

Época boa era aquela em que eu lia, copiosamente, todos os livros  infantis de Monteiro Lobato. E ainda mais prazeroso poder ter vivido numa época onde eu  pude ver as personagens do pica-pau-Amarelo ganhando vida, na TV. Adorava realmente cada  coisa naquele sítio, onde tudo poderia acontecer... Se bem, que a minha vida não era diferente daquele sítio...Mas como meu leite derramou, azedou, devia ter  algum Saci reinando ali por perto.
O saci deve ter aparecido pra reclamar algo. Já que estamos perto do dia das bruxas, ele deve ter saído do bambuzal pra aprontar todas até lá.
Daí, pra ele me deixar em paz  e não mais azedar meu leite, resolvi  falar dele.

Descobri ano passado que o negrinho perneta agora tem dia próprio no Brasil.
O Dia do Saci consta no projeto de lei federal nº 2.762, de 2003 (apensado ao projeto de lei federal nº 2.479, de 2003), elaborado pelo então líder do governo Aldo Rebelo (PcdoB - SP) e Ângela Guadagnin (PT - SP) com o objetivo de resgatar figuras do folclore brasileiro, em contraposição ao "Dia das Bruxas", ou "Halloween", da tradição cultural dos Estados Unidos da América. Propõe-se que seja celebrado em 31 de Outubro. Anteriormente, consta que iniciativas semelhantes já tinham sido aprovadas na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e na Câmara Municipal de São Paulo.
Tio Barnabé era um negro de mais de oitenta anos que morava no rancho coberto de sapé lá junto da ponte. Pedrinho não disse nada a ninguém e foi vê-lo. Encontrou-o sentado, com o pé direito num toco de pau, à porta de sua casinha, aquentando o sol.
- Tio Barnabé, eu vivo querendo saber duma coisa e ninguém me conta direito. Sobre o saci. Será mesmo que existe saci? O negro deu uma risada gostosa e, depois de encher de fumo picado o velho pito, começou a falar:
- Pois, seu Pedrinho, saci é uma coisa que eu juro que exéste. Gente da cidade não acredita – mas exéste. A primeira vez que vi saci eu tinha assim a sua idade. Isso foi no tempo da escravidão, na fazenda do Passo Fundo, do defunto major Teotônio, pai desse coronel Teodorico, compadre de sua avó dona Benta. Foi lá que vi o primeiro saci. Depois disso, quantos e quantos! (...) - O saci – começou ele – é um diabinho de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte e atropelando quanta criatura existe. Traz sempre na boca um pitinho aceso, e na cabeça uma carapuça vermelha. A força dele está na carapuça, como a força de Sansão estava nos cabelos. Quem consegue tomar e esconder a carapuça de um saci fica por toda a vida senhor de um pequeno escravo. (...) –Ele Azeda o leite, quebra a ponta das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o dedal das costureiras cair nos buracos. Bota moscas na sopa, queima o feijão que está no fogo, gora os ovos das ninhadas. Quando encontra um prego, vira ele de ponta pra riba para que espete o pé do primeiro que passa. Tudo que numa casa acontece de ruim é sempre arte do saci. Não contente com isso, também atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto, chupando o sangue deles. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça. Disse Tio Barnabé. (Trecho de O Saci. Monteiro Lobato. O Saci. Editora Brasiliense)
Mas Um saci de verdade, não me deixaria em paz se eu falasse pro mundo o que  a maioria das pessoas já sabem. Então, vejamos o que consegui garimpar sobre o SACI’S LIFE ESTYLE srrsrsrsrs
Entre as curiosidades, vale destacar os hábitos culinários (e etílicos) dos pernetas. Então, azeite, panela de barro, colher de pau e o bule de ágata são itens que eles não dispensam.
No café da manhã, o Saci traça umas frutas, principalmente banana, e em seguida ataca um prato de mingau de fubá (é feito com leite, bem quentinho, com canela em cima). Depois faz um café ralinho, pra tomar em caneca, ou um chá de hortelã, funcho ou outro matinho. Às vezes, usa o fedegoso pra fazer “café”. Esse mato torrado e moído dá um cafezinho bom pra quem não tem grana pra comprar. Aí, acompanha a beberagem com broa de fubá, biscoito de polvilho e/ou pau-a-pique (uma espécie de broa feita com fubá, amendoim, coalhada, açúcar, uma pitadinha de sal e canela, enrolada em folha de bananeira para assar – quem não conhece pode ir a Nova Resende, no Sul de Minas, que tem até nas padarias). Às vezes, toma um mingau de araruta.
Mingau de Fubá
Antes do almoço e do jantar, ele não dispensa uma cachacinha de primeiríssima qualidade. Para acompanhar o almoço, gosta de um suco de cambuci, de goiaba ou melancia. A comida do almoço e do jantar tem como base o arroz com feijão e farinha de milho. Macarrão, às vezes, mas como “mistura”, junto com o arroz e feijão. O feijão vem embaixo, depois a farinha de milho e em cima o arroz. Em cima do arroz, a(s) mistura(s): banana (crua), frango caipira ensopado, carne de porco, abóbora, couve, batata-doce, mandioca frita ou cozida, jiló, quiabo, cará, inhame, mangarito (da família do inhame e do cará), ora-pro-nobis (uma verdura que tem em Minas, você pode conseguir uma muda em Ouro Preto, Diamantina... – é uma trepadeira, cactácea, com folhas feitas como couve, sempre rasgada, nunca cortada, e que tem baba como quiabo – acredite! É verdade), carne de vaca moída, bem temperada... tudo com pimenta malagueta ou comari.
Saci gosta muito de salada de folha de urtiga – de preferência aquelas novinhas (elas não coçam, só o caule). Deixe-as de molho em água com vinagre e depois é só temperar a gosto. Outras comidas do Saci:
Urtiga
- brotos de samambaia (prepara-se que nem quiabo)
- cambuquira (que são as flores da abobreira das quais não nascem abóboras). Elas têm uso múltiplo e o Saci as come na forma de salada, de sopa ou de recheio no omelete.
- lambari frito, bem torrado, de modo a se comer com espinha e tudo. Os bons, mesmo, são aqueles pequenininhos, que não carecem nem de limpar. Frita-se do jeito que sai do rio. Aqui, uns pingos de limão caem muito bem. E a cachaça da boa, é claro.
- fritada de bundinha de Içá (a popular Tanajura). O acompanhamento é o mesmo indicado para os lambaris.
Icá ouTanajura - Eu também amo comer esta formiguinha bunduda.
- Ingá, que é uma frutinha polpuda e doce que dá em vagens nas pontas das galhas. As galhas caem todas, e sempre, para dentro do rio e o Saci adora se dependurar nelas para catar. Ele, inclusive, deixar cair de propósito alguns caroços, pois Ingá e coisa que as traíras comem que é uma beleza.
Ingá
Além disso, um dos principais pratos apreciados pela sacizada: a paçoca de carne. É feita no pilão, com carne seca, farinha de milho, sal e temperos. Pode ser comida com feijão e arroz, além de outras misturas, ou levada em viagens, pois não estraga.
E mais algumas coisas:
- taioba (a folha, refogada como couve - cuidado pra não pegar taioba brava);
Taioba
- trevo (isso mesmo, aquele trevinho que dá em qualquer lugar é gostoso nas saladas)
- paçoca de amendoim - é a tradicional paçoquinha, só que feita em casa, no pilão. Ela fica uma espécie de farofa, tem que ser comida com colher;
- suco de graviola
Graviola
- suco de maracujá (este exige um cuidado: a semente, se quebrada, tem um pó tóxico dentro. O jeito certo de fazer é não ligando o liqüidificador pra "bater" a semente, é ligando-desligando rapidamente, várias vezes, só pra descolar a polpa da semente. Depois disso, coar...)
De sobremesa, rapadura, pé-de-moleque (não esses feitos com Karo e amendoim inteiro – é de rapadura derretida, misturada com amendoim moído), doce de casca de laranja, doce de cidra (de preferência com rapadura, em vez de açúcar, fica amarronzado), banana assada com canela, banana cozida com mel e canela, bananada, goiabada cascão com queijo ou frutas como goiaba, manga, juá, pitanga, gabiroba, amora do mato, cabeludinha, fruta-do-conde...
Pé-de-Moleque
Depois disso tudo, é preciso um cafezinho e um cigarrinho de palha – de preferência numa rede ou num banco virado para um lugar bonito, pra fumar calmamente, olhando a paisagem – isso depois do almoço, claro. À noite, depois do jantar, com direito ao cafezinho, o cigarro de palha é pra acompanhar um proseado, uma contação de causos (incluindo de assombração). Se tiver alguém que toque bem uma viola, melhor ainda. Entre um causo e outro, uma música. Tem que ter um bom puxador de conversa pra que cada um conte seu causo.
Ah... não se esqueça do lanche da tarde: uma espiga de milho assada ou cozida, um chá ou café com quitanda (quitanda aqui, no sentido mineiro: broas, biscoitos, roscas...).


BROINHA DO SACI

1 xícara de leite
1 xícara de farinha de trigo
1 xícara de fubá
1 xícara de açúca
1/2 xícara de óleo
2 ovos
1 pitada de sal
1 colher de fermento em pó
Queijo ralado para polvilhar

Bater todos os ingredientes no liquidificador, exceto o fermento em pó que deve ser adicionado por último. Coloque em uma forma untada e enfarinhada. Polvilhe o queijo ralado por cima. Leve ao forno quente por aproximadamente 40 minutos ou até dourar.

PAÇOCA DE CARNE SECA
• 1 kg de carne-seca, carne-de-sol ou charque
• 1 kg
 de bacon
• 100 g de cebola
• 70 g de alho
• 1 kg de farinha de milho
• 200 g de farinha de mandioca
• Óleo, sal e pimenta a gosto

Prepare assim: Cozinhe a carne, duas ou três vezes, de modo que fique bem mole; Tire o couro do bacon, corte-o em pedaços médios e frite-o em óleo deixando-o bem frito. Retire-o da panela e reserve; Na mesma panela, frite a carne até que fique bem frita; Num pilão, misture a carne, o bacon, o alho, a cebola e os temperos e vá adicionando as farinhas aos poucos




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