Sei que alguns
confrades podem estar se perguntando o que tem acontecido comigo para
justificar as poucas publicações no blog recentemente. De fato, muita coisa
aconteceu, mas o que importa é que, entre um obstáculo e outro, estou aqui
novamente trazendo mais uma delícia gastronômica.
Desta vez para dar
uma sugestão encantadora para aqueles que estão procurando algo atraente e
delicioso para homenagear sua mamãe no dia dela, neste feriado de maio que se
aproxima. De antemão, acredito que vai ter gente reclamando da receita, porque
hoje em dia as pessoas querem se deleitar com algo diferente mas, não querem
ter trabalho.
E mesmo com a
praticidade globalizada do mundo que envolve as padarias e confeitarias de
hoje, raramente se encontra algo que realmente impressione o paladar – é tudo a
mesma coisa, com o mesmo gosto... E eu acho inteiramente prazeroso uma aventura
na cozinha, enquanto as pessoas fogem dela, como o diabo foge da cruz, e lotam
as padarias de encomendas – e isso, no fim das contas, faz com que a grande
maioria coma aquele velho “bolo de padaria”. ( Não estou aqui reclamando das
padarias/confeitarias, acho até que isso é uma solução rápida e prática para os
que não se preparam pra certas ocasiões. O problema é que com esta facilitação
as pessoas não estão dispostas a fazer um prato com todo o carinho que a época
merece...)
Por este motivo hoje
eu vim dar uma de minhas contribuições para aqueles aventureiros audaciosos, de
uma forma ou de outra, já estão querendo impressionar com uma surpresinha culinária.
E para tanto fui me inspirar num costume de um império que me deslumbra até
hoje.
A minha ligação com o
Império Austro-Húngaro é quase inexplicável. Admiro muitas coisas daquele
tempo; personagens ilustres que me remetem a histórias incríveis; os clássicos
cafés de Viena; uma cultura cheia de música, banhada pelo Danúbio, elegante e
requintada que espalhou pelo mundo, dentre as realezas, muitos de seus nobres –
inclusive pelo Brasil.
Eu poderia ficar
horas divagando essa minha admiração, sobretudo por Viena, Áustria, mas quero
ser sucinto, tentando achar um vetor que possa simplificar toda esta admiração.
E eu encontrei o que procurava em hábito daquele povo que perdura até os dias
atuais.
Dentre os muitos
costumes austro-húngaros relatados por muitos historiadores, um deles me
encanta muitíssimo, por motivo obvio: eu sou formiga! (Vocês que me acompanham
já sabem bem disso)... Mas como eu ia dizendo, eu repito, dentre os costumes
austro-húngaros existe um (talvez o meu
preferido) que trata da importância de
oferecer doces às visitas, como um gesto carinhoso de boas-vindas e “Volte
sempre”.
O que me deixa mais
excitado é que a confeitaria austro-húngara é considerada como uma das mais
refinadas do mundo. Tanto que muito dos doces franceses são construídos em cima
de técnicas e de receitas austríacas. E existem muitas referencias históricas
ao Império dos Habsburgos que estão associadas à tradição da confeiteira – como
a criação da Dobostorte, que foi primeiramente ofertada ao imperador Francisco José
I e à imperatriz Elisabete (“Sissi”), e que depois viajou por toda a Europa e
hoje é motivo de festa na Hungria – ela faz meus olhos brilharem como diamantes
e minha barriguinha agradece.
Sissi, Imperatriz. |
Dobosh ou Dobos Torte
foi introduzido pela primeira vez na Exposição Geral Nacional de Budapeste, em
1885, e o imperador Franz Joseph I e sua Imperatriz Elisabeth foram os
primeiros a se deliciarem com seu gosto. A torta logo se tornou popular em toda
a Europa, porque era diferente de todas as outras. Era simples e elegante e com
multicamadas. Um outro segredo era o seu recheio, feito com base num creme de
manteiga com chocolate que era pouco conhecido naquela época – àquele tempo os
recheios de bolos e as coberturas eram feitos geralmente com creme de
pasteleiro ou chantilly. O creme de manteiga e chocolate e a massa do bolo
foram ambos inventados por Jozsef C. Dobos.
O criador - József C. Dobos (1847–1924) |
A criatura - Dobostorte (versão mdoerna) |
Dobos viajou pela
Europa e introduziu a torta por onde quer que fosse. Por um longo tempo ele
manteve a receita confidencial, até 1906 quando se aposentou e deu a receita
original para o Budapest Confectioners' and Gingerbread Makers', Chamber of
Industry (Conselho de fabricantes de Gingerbread e Confeiteiros de Budapeste,
na câmara da indústria de Budapeste), com a recomendação de que qualquer membro
daquela associação estaria livre para usá-lo. Dobos Torte é conhecido em todo o
mundo e há mais de uma centena de variações da receita. É uma torta comumente
encontrada em hotéis de luxo, restaurantes e confeitarias luxuosas pelo mundo. (Outra famosa sobremesa húngara criada na mesma época é o Rigo Jancsi, com características
particulares, já publiquei sobre ele Clique aqui para ler.
A receita original para Dobos Torta
Dobos cake at Gerbeaud Confectionery Budapest, Hungary. Photo by Bruce Tuten |
Ao confeiteiro e
escritor erudito József C. Dobos (1847-1924) – credita-se a invenção do
primeiro bolo com creme de manteiga (1885) onde durante uma exposição em
Budapeste. Seu objetivo principal na criação d Dobostorte era projetar um bolo
que poderia ter uma vida útil mais longa do que os bolos normais, naqueles
tempos, refrigeração ou quaisquer técnicas de arrefecimento eram em sua maioria
estrangeiras e ainda caras- ou raras; Assim, o caramelo, que é uma parte
integrante do bolo, foi introduzido na receita com o único propósito de impedir
que o alimento secasse.
A receita
original de József C. Dobos está escrita em húngaro e segue abaixo:
„1 db. 22 cm átmérőjű
tortához kell 6 db piskótalap. Receptje: 6 tojássárgáját jól kikeverünk 3 lat
(5 dkg) porcukorral, 6 db tojásfehérjét felverünk habnak, jó keményre, 3 lat (5
dkg) porcukorral, utána összekeverjük a kikevert sárgáját, 6 lat (10 dkg)
liszttel és 2 lat (3 és fél dkg) olvasztott vajjal. Egy tortához szükséges krém
összeállítása: 4 db egész tojás, 12 lat porcukor (20 dkg) 14 lat (23 és fél
dkg) teavaj, 2 lat szilárd kakaómassza (3 és fél dkg), 1 lat vaniliáscukor (1,7
dkg) 2 lat kakaóvaj (3 és fél dkg), 1 tábla csokoládé (20 dkg). A fenti 4
tojást, 12 lat porcukrot gázon felverünk és ha meleg, addig keverjük a gázról
levéve, amíg ki nem hűl. 14 lat vajat jól kikeverünk, 1 lat vaniliáscukrot
teszünk bele, 2 lat olvasztott kakaóval és 2 lat olvasztott kakaóvajjal
összekeverjük, a 12 lat felmelegített puha állapotában levő táblacsokoládét is.
Ezután a hideg tojásos masszával összeöntjük és jó átkeverés után 5 lapot
összetöltünk, a hatodikat áthúzzuk dobos cukorral és 20 részre vágjuk ” – Dobos C. József: A Dobostorta receptje
A dobostorte foi umas
das sobremesas da moda no século XIX. Sabe- se que o Sr. Dobos aprendeu o
oficio de confeiteiro com o pai, dono de uma famosa loja em Budapeste,
especializada em alimentos gourmet (empreendimento que , por sinal, ganhou a
confiança dos clientes luxuosos com seus cuidados no transporte de alimentos. A
loja rotineiramente se caracterizava pela variedade de produtos finos, como ter
por exemplo mais de 60 tipo de queijos importados, assim como vinhos
estrangeiros, pães, etc. O perfil elevado do empreendimento, continuou quando Dobos
herdou o mesmo do pai, muitas vezes o levou à exposições internacionais de
alimentos, de modo que ele se tornou, por sua vez, o que nós consideramos hoje
em dia como um chef celebridade/ empresário de alimentos.
Numa dessas
exposições, com uma criação inovadora, Dobos resolveu dar seu próprio nome para
batizar uma torta elegante, onde um creme de manteiga com chocolate fez toda a
diferença - num momento em que a maioria dos bolos recebia glacês de chantilty
ou cremes cozidos, ou ainda uma mistura de cremes.
Sabe-se ainda que
Dobos trouxe a receita do creme de manteiga com ele a partir de uma de suas
muitas viagens exploratórias - neste caso, uma viagem pela França - e, pouco
depois introduziu o bolo na Exposição Geral Nacional de Budapeste, em 1885, como
dos produtos diletos de sua loja. Devido a toda essa publicidade (por isso se
tornou um favorito do Imperador e Imperatriz da Áustria-Hungria), pessoas em
cidades de toda a Europa começaram a pedir a torta, mas se recusou a Dobos
licenciar a receita.
Café Gerbeaud em Budapeste, um dos melhores melhroes confeitarias e casas de café da Europa.
Em vez disso. Dobos desenvolveu um recipiente especial para que ela pudesse ser seguramente transportada, e "o bolo com a receita secreta" logo começou a aparecer em todas as grandes capitais europeias.
Na verdade, na
verdade Dobos excursionou com o bolo, pessoalmente, introduzindo-o em cidade
após cidade, até o momento em que resolveu doar a recita e fazer com que ela se
espalhasse ainda mais pelo mundo.
A torta em si é
simples de fazer. Trata-se de seis camadas de massa individualmente assadas (há
alguma controvérsia sobre isso, mas a receita original, em Budapeste, diz que
se deve usar cinco camadas finas de massa, e que estas nunca devem ser cortadas
de único bolo); o creme de manteiga com chocolate deve ser feito com o melhor
chocolate; e uma camada de caramelo cristalizado que cobre a torta deve estar
impecável.
Com isso, deixo aqui
o desafio de vocês, caros amigos, se aventurarem nesta empreitada para fazer
esta torta. Sei que existem por ai algumas versões comerciais dela, mas não é a
mesma coisa. Então boa sorte e bom trabalho para aqueles que resolverem se
aventurar, e me mandei fotos dos seus experimentos.
Dobostorte
Ingredientes:
Massa:
Manteiga para untar
6 ovos, separar gemas das claras
2/3 xícara de açúcar de baunilha *
1 xícara de farinha de trigo peneirada
Creme
de manteiga e chocolate:
180 gramas de chocolate meio amargo
3 colheres de sopa de café forte
1 xícara de manteiga
1 xícara de confeiteiro abaunilhado
3 ovos
Esmalte
de caramelo
1 xícara de açúcar granulado
Preparo: * BAUNILHA AÇÚCAR -
Açúcar granulado de baunilha ou açúcar de confeiteiro baunilha 'deve ser usado
como indicado. Ele dá um sabor muito mais delicado do que o açúcar, por ter
extrato de baunilha, já a encontra-se pronto em supermercados. Mas se você não
tem açúcar de baunilha à mão, inclua no açúcar algumas gotas de extrato de
baunilha. Bolo: Prepare seis
assadeiras de 22cm de diâmetro e 9 polegadas de altura (aquelas formas
baixinhas, tipo de pizza) para assar a massa: corte 6 círculos de papel manteiga
e unte-os com manteiga na parte inferior de cada um. Reserve. Pré-aqueça o
forno a 400 graus. Bata as claras em neve com uma pitada de sal até espumar;
continue batendo até obter picos firmes. Reserve. Usando uma batedeira, bata as
gemas e o açúcar juntos até virar uma espuma clarinha e espessa. Em seguida
misture a farinha que deve ter sido peneirada e bata até crescer de volume. Com
isso feito desligue a batedeira e com uma colher misture as claras com cuidado
até a massa ficar leve e uniforme. Divida a massa igualmente nas seis formas
anteriormente preparada e leve ao forno para assar durante 10 a 12 minutos ou
até que o bolo comesse a mudar de cor. Depois de assados desenforme
cuidadosamente, retire o papel manteigas e reserve. Creme para o Recheio e cobertura: batas os ovos com o açúcar em
banho-maria até ficar bem quente, cuidado pra não virar omelete. Em seguida
coloque a mistura na batedeira e bata até virar uma espuma leve. Derreta o
chocolate com o café e a manteiga em banho-maria, reserve. Quando a mistura de
ovos e açúcar estiver espessas junte o chocolate derretido e bata mais até
virar um creme leve e macio. Mantenha-o na geladeira até a hora de usar. Montagem: intercale uma camada de massa
com o recheio do crme de manteiga e chocolate até completar as seis
camadas. Cubra a torta com o restante do
recheio. E reserve. Esmalte: Corte
um circulo de papel manteiga do tamanho da forma em que assou as massa, passei
manteiga num dos lados e reserve. Derreta o açúcar até ponto de bala, desligue
o fogo e derrame a calda ainda quente sobre o circulo de papel amanteigado,
espalhe com uma espátula e deixe esfriar (caso queira pode cobri diretamente o
bolo fazendo sua ultima camada só com o esmalte). Ainda morno, Com uma faca
oleada ou manteiga, rapidamente cortar a camada de caramelo em triângulos (dá
uns 12 ou 16) antes de o caramelo endurecer. Com eles secos, retire do papel e
decore a torta.
Obrigada pelo saboroso texto sobre dom Pedro e Sissi. E obrigada pela receita da torta. Só fiquei em dúvida em relação à temperatura do forno: 400 graus. Muito difícil achar um forno que atinja essa temperatura. Além disso, para assar pães de ló tão finos me parece extremamente alto. Vou tentar fazer usando a temperatura normal de bolos. Obrigada mais uma vez!
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