sábado, 4 de maio de 2013

Dobostorte: delícia imperial Austro-húngara



 Sei que alguns confrades podem estar se perguntando o que tem acontecido comigo para justificar as poucas publicações no blog recentemente. De fato, muita coisa aconteceu, mas o que importa é que, entre um obstáculo e outro, estou aqui novamente trazendo mais uma delícia gastronômica.
Desta vez para dar uma sugestão encantadora para aqueles que estão procurando algo atraente e delicioso para homenagear sua mamãe no dia dela, neste feriado de maio que se aproxima. De antemão, acredito que vai ter gente reclamando da receita, porque hoje em dia as pessoas querem se deleitar com algo diferente mas, não querem ter trabalho.
E mesmo com a praticidade globalizada do mundo que envolve as padarias e confeitarias de hoje, raramente se encontra algo que realmente impressione o paladar – é tudo a mesma coisa, com o mesmo gosto... E eu acho inteiramente prazeroso uma aventura na cozinha, enquanto as pessoas fogem dela, como o diabo foge da cruz, e lotam as padarias de encomendas – e isso, no fim das contas, faz com que a grande maioria coma aquele velho “bolo de padaria”. ( Não estou aqui reclamando das padarias/confeitarias, acho até que isso é uma solução rápida e prática para os que não se preparam pra certas ocasiões. O problema é que com esta facilitação as pessoas não estão dispostas a fazer um prato com todo o carinho que a época merece...)
Por este motivo hoje eu vim dar uma de minhas contribuições para aqueles aventureiros audaciosos, de uma forma ou de outra, já estão querendo impressionar com uma surpresinha culinária. E para tanto fui me inspirar num costume de um império que me deslumbra até hoje.
A minha ligação com o Império Austro-Húngaro é quase inexplicável. Admiro muitas coisas daquele tempo; personagens ilustres que me remetem a histórias incríveis; os clássicos cafés de Viena; uma cultura cheia de música, banhada pelo Danúbio, elegante e requintada que espalhou pelo mundo, dentre as realezas, muitos de seus nobres – inclusive pelo Brasil.
Eu poderia ficar horas divagando essa minha admiração, sobretudo por Viena, Áustria, mas quero ser sucinto, tentando achar um vetor que possa simplificar toda esta admiração. E eu encontrei o que procurava em hábito daquele povo que perdura até os dias atuais.
Dentre os muitos costumes austro-húngaros relatados por muitos historiadores, um deles me encanta muitíssimo, por motivo obvio: eu sou formiga! (Vocês que me acompanham já sabem bem disso)... Mas como eu ia dizendo, eu repito, dentre os costumes austro-húngaros existe  um (talvez o meu preferido) que  trata da importância de oferecer doces às visitas, como um gesto carinhoso de boas-vindas e “Volte sempre”.
O que me deixa mais excitado é que a confeitaria austro-húngara é considerada como uma das mais refinadas do mundo. Tanto que muito dos doces franceses são construídos em cima de técnicas e de receitas austríacas. E existem muitas referencias históricas ao Império dos Habsburgos que estão associadas à tradição da confeiteira – como a criação da Dobostorte, que foi primeiramente ofertada ao imperador Francisco José I e à imperatriz Elisabete (“Sissi”), e que depois viajou por toda a Europa e hoje é motivo de festa na Hungria – ela faz meus olhos brilharem como diamantes e minha barriguinha agradece.

Sissi, Imperatriz.
Dobosh ou Dobos Torte foi introduzido pela primeira vez na Exposição Geral Nacional de Budapeste, em 1885, e o imperador Franz Joseph I e sua Imperatriz Elisabeth foram os primeiros a se deliciarem com seu gosto. A torta logo se tornou popular em toda a Europa, porque era diferente de todas as outras. Era simples e elegante e com multicamadas. Um outro segredo era o seu recheio, feito com base num creme de manteiga com chocolate que era pouco conhecido naquela época – àquele tempo os recheios de bolos e as coberturas eram feitos geralmente com creme de pasteleiro ou chantilly. O creme de manteiga e chocolate e a massa do bolo foram ambos inventados por Jozsef C. Dobos.

O criador - József C. Dobos (1847–1924)

A criatura - Dobostorte (versão mdoerna)

Dobos viajou pela Europa e introduziu a torta por onde quer que fosse. Por um longo tempo ele manteve a receita confidencial, até 1906 quando se aposentou e deu a receita original para o Budapest Confectioners' and Gingerbread Makers', Chamber of Industry (Conselho de fabricantes de Gingerbread e Confeiteiros de Budapeste, na câmara da indústria de Budapeste), com a recomendação de que qualquer membro daquela associação estaria livre para usá-lo. Dobos Torte é conhecido em todo o mundo e há mais de uma centena de variações da receita. É uma torta comumente encontrada em hotéis de luxo, restaurantes e confeitarias luxuosas pelo mundo. (Outra famosa sobremesa húngara criada na mesma época é o  Rigo Jancsi, com características particulares, já publiquei sobre ele Clique aqui para ler.

A receita original para Dobos Torta

Dobos cake at Gerbeaud Confectionery Budapest, Hungary. Photo by Bruce Tuten
Ao confeiteiro e escritor erudito József C. Dobos (1847-1924) – credita-se a invenção do primeiro bolo com creme de manteiga (1885) onde durante uma exposição em Budapeste. Seu objetivo principal na criação d Dobostorte era projetar um bolo que poderia ter uma vida útil mais longa do que os bolos normais, naqueles tempos, refrigeração ou quaisquer técnicas de arrefecimento eram em sua maioria estrangeiras e ainda caras- ou raras; Assim, o caramelo, que é uma parte integrante do bolo, foi introduzido na receita com o único propósito de impedir que o alimento secasse.
 A receita original de József C. Dobos está escrita em húngaro e segue abaixo:

„1 db. 22 cm átmérőjű tortához kell 6 db piskótalap. Receptje: 6 tojássárgáját jól kikeverünk 3 lat (5 dkg) porcukorral, 6 db tojásfehérjét felverünk habnak, jó keményre, 3 lat (5 dkg) porcukorral, utána összekeverjük a kikevert sárgáját, 6 lat (10 dkg) liszttel és 2 lat (3 és fél dkg) olvasztott vajjal. Egy tortához szükséges krém összeállítása: 4 db egész tojás, 12 lat porcukor (20 dkg) 14 lat (23 és fél dkg) teavaj, 2 lat szilárd kakaómassza (3 és fél dkg), 1 lat vaniliáscukor (1,7 dkg) 2 lat kakaóvaj (3 és fél dkg), 1 tábla csokoládé (20 dkg). A fenti 4 tojást, 12 lat porcukrot gázon felverünk és ha meleg, addig keverjük a gázról levéve, amíg ki nem hűl. 14 lat vajat jól kikeverünk, 1 lat vaniliáscukrot teszünk bele, 2 lat olvasztott kakaóval és 2 lat olvasztott kakaóvajjal összekeverjük, a 12 lat felmelegített puha állapotában levő táblacsokoládét is. Ezután a hideg tojásos masszával összeöntjük és jó átkeverés után 5 lapot összetöltünk, a hatodikat áthúzzuk dobos cukorral és 20 részre vágjuk ” –       Dobos C. József: A Dobostorta receptje

A dobostorte foi umas das sobremesas da moda no século XIX. Sabe- se que o Sr. Dobos aprendeu o oficio de confeiteiro com o pai, dono de uma famosa loja em Budapeste, especializada em alimentos gourmet (empreendimento que , por sinal, ganhou a confiança dos clientes luxuosos com seus cuidados no transporte de alimentos. A loja rotineiramente se caracterizava pela variedade de produtos finos, como ter por exemplo mais de 60 tipo de queijos importados, assim como vinhos estrangeiros, pães, etc. O perfil elevado do empreendimento, continuou quando Dobos herdou o mesmo do pai, muitas vezes o levou à exposições internacionais de alimentos, de modo que ele se tornou, por sua vez, o que nós consideramos hoje em dia como um chef celebridade/ empresário de alimentos.


Numa dessas exposições, com uma criação inovadora, Dobos resolveu dar seu próprio nome para batizar uma torta elegante, onde um creme de manteiga com chocolate fez toda a diferença - num momento em que a maioria dos bolos recebia glacês de chantilty ou cremes cozidos, ou ainda uma mistura de cremes.
Sabe-se ainda que Dobos trouxe a receita do creme de manteiga com ele a partir de uma de suas muitas viagens exploratórias - neste caso, uma viagem pela França - e, pouco depois introduziu o bolo na Exposição Geral Nacional de Budapeste, em 1885, como dos produtos diletos de sua loja. Devido a toda essa publicidade (por isso se tornou um favorito do Imperador e Imperatriz da Áustria-Hungria), pessoas em cidades de toda a Europa começaram a pedir a torta, mas se recusou a Dobos licenciar a receita.



Café Gerbeaud em Budapeste, um dos melhores melhroes confeitarias e casas de café da Europa.


Em vez disso. Dobos desenvolveu um recipiente especial para que ela pudesse ser seguramente transportada, e "o bolo com a receita secreta" logo começou a aparecer em todas as grandes capitais europeias.
Na verdade, na verdade Dobos excursionou com o bolo, pessoalmente, introduzindo-o em cidade após cidade, até o momento em que resolveu doar a recita e fazer com que ela se espalhasse ainda mais pelo mundo.


A torta em si é simples de fazer. Trata-se de seis camadas de massa individualmente assadas (há alguma controvérsia sobre isso, mas a receita original, em Budapeste, diz que se deve usar cinco camadas finas de massa, e que estas nunca devem ser cortadas de único bolo); o creme de manteiga com chocolate deve ser feito com o melhor chocolate; e uma camada de caramelo cristalizado que cobre a torta deve estar impecável.
Com isso, deixo aqui o desafio de vocês, caros amigos, se aventurarem nesta empreitada para fazer esta torta. Sei que existem por ai algumas versões comerciais dela, mas não é a mesma coisa. Então boa sorte e bom trabalho para aqueles que resolverem se aventurar, e me mandei fotos dos seus experimentos.

Dobostorte
Ingredientes:


Massa:
Manteiga para untar
6 ovos, separar gemas das claras
2/3 xícara de açúcar de baunilha *
1 xícara de farinha de trigo peneirada
Creme de manteiga e chocolate:
180 gramas de chocolate meio amargo
3 colheres de sopa de café forte
1 xícara de manteiga
1 xícara de confeiteiro abaunilhado
3 ovos
Esmalte de caramelo
1 xícara de açúcar granulado

Preparo: * BAUNILHA AÇÚCAR - Açúcar granulado de baunilha ou açúcar de confeiteiro baunilha 'deve ser usado como indicado. Ele dá um sabor muito mais delicado do que o açúcar, por ter extrato de baunilha, já a encontra-se pronto em supermercados. Mas se você não tem açúcar de baunilha à mão, inclua no açúcar algumas gotas de extrato de baunilha. Bolo: Prepare seis assadeiras de 22cm de diâmetro e 9 polegadas de altura (aquelas formas baixinhas, tipo de pizza) para assar a massa: corte 6 círculos de papel manteiga e unte-os com manteiga na parte inferior de cada um. Reserve. Pré-aqueça o forno a 400 graus. Bata as claras em neve com uma pitada de sal até espumar; continue batendo até obter picos firmes. Reserve. Usando uma batedeira, bata as gemas e o açúcar juntos até virar uma espuma clarinha e espessa. Em seguida misture a farinha que deve ter sido peneirada e bata até crescer de volume. Com isso feito desligue a batedeira e com uma colher misture as claras com cuidado até a massa ficar leve e uniforme. Divida a massa igualmente nas seis formas anteriormente preparada e leve ao forno para assar durante 10 a 12 minutos ou até que o bolo comesse a mudar de cor. Depois de assados desenforme cuidadosamente, retire o papel manteigas e reserve. Creme para o Recheio e cobertura: batas os ovos com o açúcar em banho-maria até ficar bem quente, cuidado pra não virar omelete. Em seguida coloque a mistura na batedeira e bata até virar uma espuma leve. Derreta o chocolate com o café e a manteiga em banho-maria, reserve. Quando a mistura de ovos e açúcar estiver espessas junte o chocolate derretido e bata mais até virar um creme leve e macio. Mantenha-o na geladeira até a hora de usar. Montagem: intercale uma camada de massa com o recheio do crme de manteiga e chocolate até completar as seis camadas.  Cubra a torta com o restante do recheio. E reserve. Esmalte: Corte um circulo de papel manteiga do tamanho da forma em que assou as massa, passei manteiga num dos lados e reserve. Derreta o açúcar até ponto de bala, desligue o fogo e derrame a calda ainda quente sobre o circulo de papel amanteigado, espalhe com uma espátula e deixe esfriar (caso queira pode cobri diretamente o bolo fazendo sua ultima camada só com o esmalte). Ainda morno, Com uma faca oleada ou manteiga, rapidamente cortar a camada de caramelo em triângulos (dá uns 12 ou 16) antes de o caramelo endurecer. Com eles secos, retire do papel e decore a torta.

Um comentário:

  1. Obrigada pelo saboroso texto sobre dom Pedro e Sissi. E obrigada pela receita da torta. Só fiquei em dúvida em relação à temperatura do forno: 400 graus. Muito difícil achar um forno que atinja essa temperatura. Além disso, para assar pães de ló tão finos me parece extremamente alto. Vou tentar fazer usando a temperatura normal de bolos. Obrigada mais uma vez!

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