Não
sei se todos são como eu, mas há momentos em que eu desejo comer sobremesas um
pouco alcoólicas. Nessas ocasiões, chocolates recheados com bebidas alcoólicas
até servem, mas não são suficientes. Por isso, hoje resolvi trazer uma
receitinha rápida e deliciosa para estes momentos docemente etílicos.
Syllabub
é uma especialidade da leitaria inglesa que provavelmente surgiu ainda durante
o século XVI. Eram feitos de creme de leite e vinho e servidos frios – quando
servido quentes recebem o nome de Possets. Quando frios, as syllabubs poderiam
ser servidas em vasos de cristal delicados sem nenhum medo do vidro rachar. Por
outro lado, os possets – que são quentes – seriam melhor servidos em vasos cerâmicos muito mais resistentes ao calor, como os ilustrados abaixo.
As imagens acima ilustram o tipo de vasos e copos de servir syllabub do século XVII e início do século
XVIII. Neste período a parte líquida da syllabub eram sugadas através de um
bico e a espuma comida com uma colher. Durante o curso do século XVIII, o bico
desapareceu e as syllabubs passaram a ser consumidos em taça para café.
Durante
a segunda metade do século XVIII, a quantidade de vinho foi reduzida permitindo
que a syllabub ganhasse uma espuma espessa, parecida como creme chantilly – a
bebida deixaria sua característica inicial de ter uma parte liquida em baixo e
uma espuma cremosa que se acumulava sobre o líquido, e passaria a ser um creme
leve e ligeiramente alcoólico.
O sentido do gosto, pintura de por Philip Mercier (1680-1760) que mostra uma bandeja de syllabubs |
Seguramente,
para a atualidade a syllabub é uma sobremesa desconhecida, mas a partir do
século XV ao início do século XX, era uma espécie de ‘pudim básico’, muito
popular entre os ingleses, e que passou por algumas modificações ao longo do
tempo, mas manteve sua essência: uma mistura de creme de leite batido, adoçado
e misturado com algum tipo de vinho – inicialmente era usado o Sack ou a Sidra.
Sack
é um termo antiquado que se refere ao vinho branco fortificado importado da
Espanha continental ou das Ilhas Canárias. Logo, havia Sack de diferentes
origens, tais como: Canary sack das Ilhas Canárias, Malaga sack de Málaga, Palm
sack de Palma de Mallorca, e Sherris sack de Jerez de la Fronter. O termo
Sherris Sack mais tarde deu lugar ao xerez como o termo Inglês para vinho
fortificado de Jerez. Uma vez que o xerez é praticamente o único desses vinhos
ainda amplamente exportados e consumidos, no entanto "sack" (por si
só, sem qualificação) não é comumente citado, mas trata-se de um velho sinônimo
para xerez.
Porém,
com o passar dos anos, a sobremesa tornava-se mais 'sólida', se é que se pode assim
dizer, e teve diminuição na quantidade de bebida, mas que permaneceria deliciosa
e ganharia o título de "syllabub everlasting” (algo como Syllabub Eterno).
O
termo syllabub vem já junção de: Sille, uma área na região de Champagne, na
França, que faz o vinho eponymous, mais ‘bub’, palavra de calão elisabetano
significando ‘bebida borbulhante’, daí Sille bub - vinho misturado com um creme
espumoso.
Se
você pesquisar um pouco na internet, vai percebem que existem muitas receitas
para Syllabub. Uma das mais antigas, e mais curiosas, foi elaborada por
Elizabeth Raffald, e aparece em um livro de receita de 1769 com o nome de
Hatted Kit, que consistia em fazem a especialidade debaixo de uma vaca, para
que o leite retirado na hora desse a espuma desejada na preparação.
Elizabeth Raffald |
A receita
original segue descrita abaixo (em inglês) e pede que a mistura de cerveja
forte com um litro de sidra, noz moscada ralada e adoçada a gosto fosse
colocada numa tigela que seria segurada abaixo das tetas de uma vaca de onde
seria retirado o leite necessário que se misturaria aos outros líquidos e
formaria a espuma densa, e que precisaria ficar em descanso por uma hora, para
então ser servida com algumas passas picadas.
“To
make a Syllabub under the cow
Put
a bottle of strong beer and a pint of cider into a punch bowl, grate in a small
nutmeg and sweeten it to your taste. Then milk as much milk from the cow as
will make a strong froth and the ale look clear. Let it stand an hour, then
strew over it a few currants well washed, picked, and plumped before the fire.
Then send it to the table.”
Charles
II, rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda, era um fã deste preparo com o auxílio
de vacas, ele realmente apreciava este tipo de syllabub que mantinha vacas no
palácio, para o caso de ele ter um desejo súbito por degustar Hatted Kit – e
aí, só precisaria de um bom esguicho de leite, embaixo de uma vaca, misturado
com vinho, Sack ou sidra.
Até
o século XIX, a syllabub era, geralmente, preparada com creme de leite fresco e
algum vinho adocicado – e o vinho poderia ainda ser aromatizado com limão e
fortificado com um pouco de conhaque. No entanto, e a pesar da existência de
muitas receitas inovadoras em sabores, esta não é uma sobremesa fácil de
encontrar. Por isso mesmo, segue abaixo algumas receitas fáceis para que você
possa experimentar – e quem sabe, surge a inspiração e você desenvolve sua própria
receita.
Syllabub de Amaretto
1/3
xícara de licor amaretto
2
colheres de açúcar
Suco
de limão 1 colher de sopa
1
xícara de creme de leite
Biscoitos
de amêndoa a gosto
Preparo: colocar
em uma tigela o licor amaretto com o
suco de açúcar e limão e bata para dissolver o açúcar. Junte o creme de leite e
bata até a mistura engrossar e ficar cremosa.
Para montar quebre alguns
biscoitos no fundo de taças, coloque o creme e decore com mais biscoitos. Leve
para gelar ou sirva assim mesmo.
Syllabub eterno de Elizabeth David com
biscoitos da amêndoa
Esta
receita faz entre 4 e 6 porções
Ingredientes
para o syllabub
8
colheres de sopa de vinho de sobremesa (vinhos licorosos)
2
colheres de sopa de conhaque
Casca
de um limão
60g de
açúcar
300ml
de creme de leite fresco
Noz-moscada
recém-ralada
Para
os biscoitos:
100 g
de manteiga
50 g
de açúcar refinado
150 g
de farinha de trigo peneirada
50g de
amêndoas moídas
Preparo creme: No
dia anterior você quer servir o syllabub, misture o vinho e conhaque em uma
tigela, adicione a casca de limão e deixe descansar durante a noite. No dia
seguinte, coloque a mistura líquida em uma tigela grande e misture o açúcar até
dissolver. Despeje o creme e bata até ficar grosso. Tenha cuidado para não
bater muito para não desandar o creme. Colocar colheradas dessa mistura em
taças e espalhar alguns a noz-moscada sobre eles. Preparo biscoitos: Faça um creme da manteiga com o açúcar
batendo-os juntos e, em seguida, misturar a farinha de trigo, e, finalmente, as
amêndoas. Amasse até virar uma massa quebradiça - não seja tentado a adicionar
qualquer água ou leite porque resultará em um biscoito que não será ‘crisp’, e
você não quer isso. Abrir a massa com um rolo na espessura de uma moeda (cerca
de 3 mm) e cortar em círculos. Asse por 8-10 minutos a 200 graus C ou até que
fiquem dourados. Retirar do fogo e deixar esfriar em uma gradinha para deixar bem
crocantes. Guardar em pote hermético ou bem fechado .
Syllabub Queen (Receita Típica da
Inglaterra do Séc. XVIII)
casca
de 1 limão
4
colheres de sopa de suco de limão
6
colheres de sopa de vinho branco
2
colheres de sopa de sherry brandy ou um licor de sua preferência
100
gramas de açúcar
2
latas de creme de leite gelado sem o soro
Biscoitos
doces para acompanhar
Preparo: Lave o limão e tire a
casca tão finamente que a parte da fruta não vá agarrada a menor parcela da
polpa branca. Esprema o limão e coe o suco. Coloque a casca do limão e 4
colheres de sopa de suco numa tigela. Adicione o vinho e o sherry brandy. Deixe
o preparado dormir durante uma noite. Passe o líquido para outro recipiente,
junte o açúcar e mexa para o dissolver. Adicione o creme de leite gelado
cuidadosamente ao preparado, mexendo sem parar. Bata a syllabub até espessar um
pouco. Divida a mistura por taças individuais e conserve na geladeira até a
hora de servir. Acompanhe com biscoitos.
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