Hoje,
mais uma vez, meu desejo de ir passar uma temporada na Toscana retornou. Isso
sempre acontece quando resolvo assistir pela milionésima vez o filme ‘Sob o sol
da Toscana’ (Under the Tuscan Sun ),
de 2003, e que foi baseado no livro
homônimo de Frances Mayes – e conta a história de uma escritora
recém-divorciada que compra uma casa de campo na Toscana, na esperança de
começar uma nova vida. As paisagens, os vinhos e as comidas da toscana me
atraem. Pensando nisso, a primeira postagem de 2018 apresenta um produto
tipicamente Toscano que tem estado, cada vez mais, em alta entre os grandes
chefs que buscam dar um toque especial e saboroso nas suas preparações e, par isso,
usam o Lardo.
Quando
se fala em Lardo para alguém que conhece sobre gastronomia ou é um bom
gourmand, automaticamente, se faz uma referência a região italiana da Toscana,
mais precisamente sobre Colonnata, um pequeno vilarejo toscano no alto dos Alpes
Apuanos, onde a mágica da fabricação do Lardo ocorre. Não por acaso, o lugar
faz parte da Província de Massa Carrara, de onde se extrai um dos tipos de
mármore mais famosos do mundo desde 1000 a.C.: o mármore de Carrara.
O
Império Romano acelerou a extração do mármore daquela região para recobrir
muitos monumentos romanos. Mas, embora o mármore seja material nobre até hoje,
a vida dos mineiros não era: passavam algumas privações e, sobretudo, muito
frio – além de enfrentar o risco iminente de desabamentos constantes e de
fazerem muito esforço físico durante o trabalho desgastante, foi justamente o
mármore de Carrara o responsável por permitir conservar e curar um importante
alimento usado pelos mineiros, e pela população menos abastada da época, o
Lardo.
Inicialmente considerado comida de pobre ou comida dos trabalhadores, o Lardo, é produzido a partir da camada de gordura do dorso de porcos. O que faz sentido, quando se sabe que os mais abastados usavam os cortes nobres e aos menos favorecidos sobravam alguma pouca carne e muita gordura – justamente dessa última parte que os mineradores obtinham as calorias para resistir ao trabalho puxado. Passaram então a recobrir pedaços da gordura de porco com sal grosso e ervas que encontravam na região e deixavam maturar dentro das montanhas de mármore onde estavam trabalhando.
Inicialmente considerado comida de pobre ou comida dos trabalhadores, o Lardo, é produzido a partir da camada de gordura do dorso de porcos. O que faz sentido, quando se sabe que os mais abastados usavam os cortes nobres e aos menos favorecidos sobravam alguma pouca carne e muita gordura – justamente dessa última parte que os mineradores obtinham as calorias para resistir ao trabalho puxado. Passaram então a recobrir pedaços da gordura de porco com sal grosso e ervas que encontravam na região e deixavam maturar dentro das montanhas de mármore onde estavam trabalhando.
Há
registros históricos que mostram, no entanto, que a produção de lardo é mais
antiga que Colonnata, essa última tem origem oficial é 1111 d. C. Mas foi nesse
vilarejo que o lardo ganhou notabilidade pelo mundo, principalmente quando a
produção ganhou, em 2003, a certificação europeia de indicação de origem
protegida, tornando-se “Lardo di
Colonnata I.G.P.”
A
indicação de origem reconhece a importância deste alimento na dieta dos
"mineiros históricos" de mármore envolvidos diariamente na extração
do mármore de Carrara. Em 2000, nasceu uma associação para proteger o Lardo de
Colonnata, que além de se inserir no movimento Slow Food, tem o objetivo de defender e promover o seu método de
produção tradicional do Lardo que se tornou símbolo da valorização de produções
‘marginais’ típicas.
A
especificação obriga: o uso de carne do dorso de porcos de certas regiões
italianas (Toscana, Emilia-Romagna, Veneto, Friuli-Venezia Giulia, Lombardia,
Piemonte, Umbria, Marche, Lazio e Molise); que os cortes do dorso do porco
(pelo menos 3 cm de espessura) devem ser polvilhados com sal marinho grosso,
alecrim fresco e pimenta preta moída antes de serem colocados um em cima do
outro nos tanques de mármore especiais fechados com tampa - chamados de
"conche" – e que tenham sido anteriormente passado pelo procedimento
de se esfregar dentes de alho em toda a caixa de mármore, dizem que isso ajuda
a desinfetar. O tempero deve curar pelo menos 6 meses antes de o produto poder
ser embalado e vendido. A especificação é rígida em muitos detalhes da
produção, desde o uso de especiarias até a feitura das bacias de mármore, sem
esquecer as restrições relacionadas à rotulagem e a denominação correta do
produto enfeitado com a marca de indicação geográfica protegida.
A
produção de Lardo di Colonnata I.G.P.
não está apenas ligado a um território que oferece condições microclimáticas
ideais para a preservação da gordura, como a baixa umidade e a alternância de
temperaturas amenas, mas também se entrelaçada com a atividade histórica dos
mineiros/pedreiros que se mantinham com este produto a ingestão calórica certa,
útil aos trabalhos incorridos. A fácil disponibilidade das matérias-primas
necessárias e do mármore - indispensável no processo de produção - completa as
características dos elementos que compõem um dos laços mais fortes - no
panorama gastronômico italiano - entre produto e território.
Com o passar dos tempos, o processo de elaboração mudou: o produto deixou de ser curado dentro das montanhas e veio para o vilarejo, onde foram instaladas grandes caixas de mármore (que lembram caixões, para uns, ou banheiras, para outros) que são chamadas de “conche” no plural ou “conca” no singular, feitas a partir de um só bloco da pedra. Dentro deles são colocados os pedaços de gordura que são cortados e empilhados com encaixe perfeito, sem deixar espaços, onde se espalha uma abundante mistura de sal marinho grosso, alho, pimenta-do-reino, alecrim (até aqui é um lardo básico e já muito bom). Mas há quem resolva fazer seu próprio lardo usando outras especiarias, em geral canela, cravo, louro, noz-moscada, anis-estrelado, orégano e sálvia. Finalmente, a conca é fechada com uma grande tampa de mármore para então deixar o tempo se encarregar de fazer a magia da transformação dos sabores acontecer – o resultado é um salume espetacular e inigualável.
Com o passar dos tempos, o processo de elaboração mudou: o produto deixou de ser curado dentro das montanhas e veio para o vilarejo, onde foram instaladas grandes caixas de mármore (que lembram caixões, para uns, ou banheiras, para outros) que são chamadas de “conche” no plural ou “conca” no singular, feitas a partir de um só bloco da pedra. Dentro deles são colocados os pedaços de gordura que são cortados e empilhados com encaixe perfeito, sem deixar espaços, onde se espalha uma abundante mistura de sal marinho grosso, alho, pimenta-do-reino, alecrim (até aqui é um lardo básico e já muito bom). Mas há quem resolva fazer seu próprio lardo usando outras especiarias, em geral canela, cravo, louro, noz-moscada, anis-estrelado, orégano e sálvia. Finalmente, a conca é fechada com uma grande tampa de mármore para então deixar o tempo se encarregar de fazer a magia da transformação dos sabores acontecer – o resultado é um salume espetacular e inigualável.
O
mármore por ser poroso, embora não muito, permite a entrada da umidade externa
mas evita a saída de líquidos. Isso, combinado com o microclima da região, faz que
as conche se encham de água (mas há também que coloque água dentro dos caixões
de mármore para adiantar a salmoura) que, misturada ao sal e aos temperos
colocados sobre o lardo, formem uma salmoura inigualável, que se converte em
conservante natural, isolando e envolvendo as peças de gordura.
Houve
uma grande batalha para manter a produção tradicional do lardo no mármore, pois
a Comissão Europeia valendo-se da precaução de cientistas e especialistas,
sustentava que a cura da produção deveria ser realizada em conche feitas de
vidro, plástico ou alumínio. Mas como a união faz a força, as 14 famílias
produtoras de lardo da cidade se juntaram, requisitaram pareceres técnicos e
estudos históricos que demonstrassem a origem milenar do lardo e finalmente
conseguiram o selo e manter o processo artesanal tradicional.
No
processo de cura do lardo, a textura muda, a peça fica ainda mais compacta (com
uma espessura que nunca é inferior a 3 cm), perfumada, mantendo seu interior
branco, ligeiramente rosado e quase marmóreo. Descarta-se a pele fina da parte
inferior, limpa-se a camada de sal e temperos para se ter o lardo firme, mas
que não é resistente à faca. É um deleite degustar finas fatias de lardo com
fatias de pão quente – o calor leva o lardo ao branco leitoso ou quase
translucido, fica ainda mais macio e faz o delírio acontecer.
É
perfeito para acompanhar saladas, méis e frutos secos (fica escandaloso com
ameixas) para aperitivos ou croutons rústicos. Tem se tornado ingrediente
valioso na cozinha pois enriquece caldos e sopas de legumes e carnes selvagens,
suaviza assados e molhos a base de carne e até risotos. E, por mais incomum,
que possa parecer, fica surpreendente se combinado com mariscos e alguns tipos
de peixe.
Mas
tinha de ter defeitos: por ser produzido por apenas 14 famílias italianas, o
lardo de Colonnata tem produção pequena e a distribuição é complicada – e por
isso não sem acha com facilidade fora da Itália; a moderação no consumo deve
ser respeitada já que se trata de uma produção composta de 99% de gordura; no
Brasil, quando se acha o produto, é bastante caro – custa, em média R$ 150 o
quilo nas importadoras – embora alguns chefs renomados no Brasil estejam
começando a usar o produto importado e, em alguns casos, até a preparar versões
nacionalizadas dentro das cozinhas de seus empreendimentos. No entanto, deve-se
permitir a apreciar a autenticidade desse alimento que, de acordo com a
especificação, não permite a adição de qualquer tipo de conservante ou outro
aditivo não natural, conforme estabelecido na especificação.
Assim,
vai que, de repente, você esteja viajando para a Itália e resolve comprar essa
preciosidade, ou ganha de presente, fica abaixo algumas ideias de como prepara-la.
200g
de Lardo di Colonnata
1 Pão
baguete
4
Tomates cereja
1
Ramos de alecrim
Pimenta
preta moída q.b.
Dentes
de Alho fresco para esfregar no pão q.b.
Preparo: Corte o pão fazendo
16 fatias de 1cm de altura. Esfregar o alho fresco ligeiramente fresco em cada
fatia de pão, de acordo com a receita toscana clássica. Coloque as fatias de
pão para dourar levemente no forno a 200 ° (apenas alguns minutos), depois
retirar de lá e deixar esfriar. Fatiar o lardo finamente e reservar. Lave e
corte os tomates em quartos e corte o alecrim; coloque o lardo no pão e depois
polvilhe com pimenta moída; coloque um quarto de tomate e alecrim cortado em
cada bruschetta. Sirva imediatamente.
12
fatias finas de lardo
2
ramos de alecrim
Para o molho de feijão Cannellini
250g
de Feijão Cannellini pré-cozido (encontra-se à venda nos supermercados em
latinhas ou em caixinhas)
Azeite
virgem extra q.b.
Saltar
q.b.
Pimenta
preta q.b.
Páprica
doce 1 pitada
Preparo: limpar bem os camarões
retirando aquele filamento negro do dorso do camarão que é o intestino. Enrole
cada cauda de camarão com uma fatia de lardo (se desejar, você pode substituir
o lardo por bacon ou presunto cru) e coloque em uma assadeira coberta com papel
manteiga. Coloque de 2-3 agulhas (folhinhas) de alecrim sob cada fatia de lardo
e leve ao forno por 10 minutos a 180 ° C. Para
o molho: coloque o feijão em um misturador (mixer ou liquidificador usando
o pulsar), misture-os adicionando uma boa dose de azeite virgem extra, uma
pitada de sal, a páprica e pimenta a gosto. Sirva os camarões envoltos no lardo
ainda quente, acompanhando-os com o molho de feijão.
Bucatini al lardo (Massa com Lardo)
400g
de massa tipo BUCATINI
200g
de lardo
200g
de tomates cereja
1
dente de alho
5
colheres de azeite de oliva extra virgem
1
pimenta dedo de moça
Sal
q.b.
Preparo: Fritar um dente de
alho com casca dentro de uma caçarola com as 5 colheres de azeite – apenas para
dar o aroma e tire quando o azeite estiver aromatizado; adicione os tomates
cortados em quartos e deixe cozinhar em fogo alto por cerca de dez minutos.
Coloque uma panela com água para cozinhar a massa. Quando a agua estiver
fervendo adicione sal e mergulhe o bucatini para cozinhá-los al dente – ao
escorrer a massa, não jogue fora a água do cozimento! Enquanto isso, corte o
lardo em pequenos pedaços, pique a pimenta e os adicione à panela juntamente
com os tomates, mexa bem e deixe cozinhar apenas o tempo suficiente para tornar
o lardo transparente. Adicione ao molho uma concha da água do cozimento do
macarrão. Junte a massa dentro do molho e misture. Se necessário, , adicione um
pouco mais de água para dar uma dissolvida no molho. Servir quente.
Uma das técnicas para dar mais sabor a carnes magras chama-se "Lardear", ou seja, preencher com fatias de lardo buracos feitos com faca no corte de carne escolhido.
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