sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os pés de moleque e as delícias juninas tamanho GG

         Quando junho chega o  nordeste se transforma. Ganha mais cores, mais animação, mais música e diversão – sem falar na fartura de comidas típicas das festas juninas. Mas a gente só se da conta disto, depois de muito tempo, depois que se viaja muito e se tem possibilidades de experienciar outras culturas. E de repente, você percebe que não existe “junho” como no nordeste.

Segundo historiadores, a tradição das festas juninas -que antes eram chamadas de joaninas- surgiu na Europa durante o século 14. No Brasil, de acordo com o antropólogo Roberto Albergaria, os costumes de homenagear os santos do mês de junho foram trazidos pelos portugueses e readaptados com a inserção de valores de negros e indígenas, como o boi-bumbá, a utilização da mandioca para a composição de pratos típicos e algumas danças.
A tradição das fogueiras também foi trazida do continente europeu e representava o aviso a Maria do nascimento de João, filho de Isabel. Os fogos de artifício, por sua vez, representam para alguns o despertar de João. Em Portugal, o uso das bombas e rojões serve para espantar os maus espíritos.  A religiosidade ajuda a manter as tradições juninas de honrar os santos ao qual o mês é dedicado.
Santo Antônio

Santo Antonio, considerado o 'Santo Casamenteiro', é o primeiro homenageado do mês com suas trezenas (13 noites de reza, de 1º a 13 de junho). O ritual é realizado paralelamente em inúmeras casas e igrejas pelos devotos.  Segundo uma antiga lenda, o santo português -que teria nascido em 1195 e morrido em 13 de junho de 1231- ajuda as mulheres e homens que estão "condenados" a ficar solteiros a realizar os tão sonhados casamentos. Os devotos que perdem a paciência acrescentam algumas simpatias ao hábito de rezar por 13 noites. A principal delas é colocar a imagem de Santo Antonio de ponta-cabeça, mergulhada em um recipiente com água, até o dia do casamento.
São João

O segundo e principal santo católico reverenciado pelos nordestinos é São João, cuja data, 24 de junho, é feriado regional. Além das celebrações católicas, a data é comemorada a partir da noite do dia 23 com muitas festas animadas, com fogueira, fogos de artifício e forró e regadas a bebidas e comidas típicas, como bolos, doces, licores, milho (cozido e assado na fogueira), canjica e quentão. A maioria das quadrilhas e maiores festas juninas são realizadas no di a de São João.
São Pedro

Não menos popular que São João e Santo Antonio, São Pedro é o último a receber as homenagens durante o mês de junho. Homenageado no dia 29, o principal apóstolo de Jesus Cristo é fiel depositário de todas as esperanças de chuva dos nordestinos. Segundo a tradição, é obrigação dos viúvos e das viúvas acender uma fogueira na porta de casa durante a noite do dia 29. O dia de São Pedro também representa o fim do principal período festivo dos municípios do interior do Nordeste.
Puxando o assunto para o lado gastronômico, as festas juninas apresentam uma enorme quantidade de iguarias – que na maioria das vezes, não são somente encontradas no período junino. E os bolos juninos, talvez, sejam os que mais têm vaga garantida nas mesas e barracas juninas. Esses bolos não são recheados e  nem se apresentam cheios de coberturas delicadas ou extravagantes – são bolos caseiros feitso com milho, mandioca, cono, massa puba, com jeitinho de bolo da vovó e que matem tradição desde a época do período açucareiro, quando o nordeste era uma potencial mundial na produção do açúcar.
Hoje esta confraria trás o bolo pé de moleque – um dos bolos nordestinos mais gostosos, de massa úmida, temperado com especiarias.
Bolo pé de moleque
O Pé de Moleque é um doce original da culinária brasileira que surgiu por volta do século XVI com a chegada da cana-de-açúcar à Capitania de São Vicente, trazida pelo navegador Martin Afonso de Sousa.
Nas regiões sul e sudeste do Brasil, o pé de moleque é um doce bastante relacionado às culturas caipira e açoriana e se relaciona ao pé de um moleque. Em outras regiões do Brasil, o doce sofre variações nos ingredientes de sua fórmula.
Eu, particularmente, gosto do pé de moleque na suas duas versões: tijolinho (tablete feito de amendoim com rapadura) e o bolo.
  
No nordeste brasileiro, o bolo faz parte da culinária junina, mas pode ser encontrado em todas as épocas do ano, nas padarias. Ele é feito com massa puba (massa de macaxeira que passou pelo processo de fermentação), açúcar, ovos, manteiga ou margarina, coco ralado, café, castanhas de cajú, cravo e erva-doce e leite, entre outros. Após serem misturados todos os ingredientes, a massa é colocada em porções geralmente ao comprido e enrolada na folha verde da bananeira, e em seguida é assada no forno – a mordernidade jápermite assar o bolo em assadeiras convencionais, no entanto, no periodo junino, para reforçar as tradições, se encontra bolos enrrolados na folha da bananeira.

Bolos assados na folha de bananeira

Acredita-se que existam três versões para a origem do nome deste doce. A primeira delas diz que a própria aparência do doce depois de pronto, tem semelhança com a cor de sujo e apresenta os calos (alusão criada a partir das bandas do amendoim) dos pés dos moleques que viviam correndo descalços pelas ruas de terra batida.
A segunda versão, fala das cozinheiras das fazendas que eram assediadas pelas crianças da vizinhança que suplicavam por um pouco de doce enquanto as cozinheiras mexiam seus tachos no preparo da massa. Nestes momentos elas diziam a eles: – Pede, moleque!
A terceira, diz-se que a origem do nome desse doce vem dos tempos do Império, tempo em que as "baianas vestidas à caráter" ficavam com seus tabuleiros vendendo , cocadas e outras delícias nas praças. Quando as baianas se distraíam atendendo algum freguês, os moleques "pegavam" o doce e saiam correndo. As baianas então gritavam: Pede, moleque, pede, moleque! Alertando aos moleques de que eles não precisam fazer aquilo, que bastava pedir o doce. Dizem que os gritos das baianas terminaram por ter seu significado transformado e virou o nome do doce: Pé de moleque.
Independentemente de qual for a verdadeira origem do nome, o mais importante é o fato de que este é um dos doces mais apreciados no país, sendo bastante consumido, principalmente, nas festas juninas e julinas pelo Brasil afora.
Não bastassem as versões distintas do doce, e da origem do nome, o pé de moleque ainda é motivo de conflitos ortográficos:
O doce pode ser encontrado ainda na literatura, tal como em “O dialeto Caipira” de Amadeu Amaral, há referência ao pé-de-muleque.
Contudo, o professor e ortógrafo cearense Vicente Martins, a palavra "pé de moleque", datada de 1889, a partir do Acordo ortográfico de 1990, deve ser grafada sem hífen, assim: pé de moleque. Em 2009, O Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras (ABL) também ratifica as bases do Acordo Ortográfico, estabelecendo que a palavra seja grafada sem hífen - e esta confraria, portanto, segue as normas da ABL.
Fonte:
Amaral, Amadeu. O dialeto caipira. São Paulo: HUCITEC, 1976.
Martins, Vicente. Elucidário ortográfico.  [S.l.]: Sobral, 2009.
Comidas juninas tamanho GG
Diz a “lenda” que as comidas GG de Caruaru começaram a partir de uma pamonha, ainda na década de 80. Seu Moacir resolveu fazer e dividir com o pessoal do bairro, para comemorar o São João.

Seu Augusto gostou da idéia e fez também um cuscuz, mas em outro bairro e também em quantidade grande, para não faltar para ninguém. Hoje, cada bairro de Caruaru tem uma comida que chama de sua e faz muito bem. Canjica, quentão, arroz-doce… sempre em quantidades gigantescas, para combinar com a grandeza de São João.
O maior cozido de milho foi feito com 2 mil espigas.

O maior cuscuz do mundo, em 2010, foi feito com 600 quilso de flocão de milho.
Já o maior bolo PE de moleque foi  feito Dona Maria Eugênia da Silva – que relata a seguinte a história: Quando era menor, a filha dela queria visitar as festas dos bairros, mas Dna Maria não deixava. Como boa mãe, resolveu acalentar a filha trazendo a festa para perto dela, e fez um bolinho básico, de 3 metros. Isso foi em 1998, e desde então, o bolo não parou de crescer, até chegar aos 3.000 ovos e 500kg de massa de hoje.
Dona Maria e seus premios pelo maior bolo pé de moleque do mundo
Para assar tanto bolo é preciso 5 dias de trabalho com a mão na massa e mais tantos outros de planejamento. Às vezes algumas empresas patrocinam o evento, mas o mais comum é que a ajuda venha dos moradores do bairro. Com ou sem patrocínio, Dona Maria do Bolo persiste, e já recebeu prêmios merecidos por seu esforço. A montagem do bolo se dá a partir de 56 formas de massa assada, numeradas e montadas como um enorme quebra-cabeça em formato de pé. 
Pé de Moleque da Cidade de Piranguinho

A produção artesanal e o alto grau de qualidade dos produtos fizeram com que a cidade de Piranguinho passasse a ser reconhecida como a Capital do pé de moleque (tijolinho).
Com 15m de comprimento, 60cm de largura, 2cm de altura e peso total de 232,6kg, o Maior pé de moleque do país foi feito com amendoim e rapadura, e apresentado durante a V Festa do Pé de Moleque, que aconteceu em 2010.
Já há alguns anos a cidade tem promovido uma festa dedicada exclusivamente ao seu mais famoso produto. Nesta festa, as coloridas barracas de pé-de-moleque da cidade montam pequenos stands na Praça Matriz, no centro da cidade, para venderam o produto e outros doces derivados.
 
Pé de moleque – tijolinho
1 rapadura escura
meio quilo de amendoim (cru ou torrado) sem casca e quebrado grosseiramente
1 xícara de café de leite
1 pedaço (pequeno) de gengibre cortado miúdo
Margarina para untar

Como fazer: Picar bem a rapadura e levar ao fogo para derreter, juntamente com o leite e o gengibre; mexendo com uma colher de pau.  Quando desmanchar e formar um "melado", colocar um pouco deste numa xícara com água - se estiver no "ponto de puxar", formará uma "bolinha" consistente.  Apagar o fogo, colocar o amendoim e bater bem. Quando o fundo da panela começar a ficar esbranquiçado, despejar no mármore, untado com manteiga.  Deixar esfriar e cortar.

Bolo  Pé de Moleque
3 xícaras de castanha de caju torrada e triturada (reserve algumas inteiras para decorar)
2 e 1/2 xícaras de água
2 xícaras de leite de coco
1/2 xícara de manteiga (100 g)
1/2 colher (sopa) de café solúvel
1/2 colher (sopa) de canela em pó
1/2 colher (sopa) de cravo triturado
1/2 colher (sopa) de erva-doce triturada
1/2 colher (chá) de sal
1 kg de massa de mandioca úmida e peneirada
500 g de rapadura escura em pedaços
4 ovos  
Preparo: Bata no liquidificador a rapadura com a água até dissolver.  Leve ao fogo até ferver, desligue e acrescente a manteiga, a erva-doce, o cravo, a canela e o café. Misture bem, deixe esfriar e reserve.  Bata os ovos e o sal até espumar. Com a batedeira desligada, coloque a massa de mandioca e misture com uma colher de pau. Com a batedeira ligada, junte aos poucos o leite de coco, até ficar homogêneo.  Desligue a batedeira e acrescente a rapadura já fria. Misture bem. Volte à batedeira, em velocidade baixa, e acrescente a castanha triturada. Bata até obter uma mistura homogênea. Aqueça o forno em temperatura média. Unte a fôrma com manteiga e, se desejar, coloque um pouco de leite de coco nos lados da fôrma, sobre a manteiga. Ponha a massa. Leve ao forno médio, por 1 hora e 40 minutos ou até que, ao espetar um palito, ele saia quase limpo. Retire do forno e deixe esfriar. Desenforme sobre um prato e decore com as castanhas reservadas. 

2 comentários:

  1. Pé de moleque é bem conhecido aqui em Minas, mas fiquei desejando este bolo...

    ResponderExcluir
  2. AQUI EM CARUARU AS COMIDAS SÓ CRESCEM A CADA ANO E A FESTA DE SÃO JOÃO SEGUE O MESMO RITMO. VALEU POR RESSALTAR A CULTURA DO NOSSO POVO.

    ResponderExcluir