sábado, 18 de janeiro de 2014

E a hóstia foi parar na mesa...

Hoje gostaria de dividir a oração mais bonita que eu já li: o Pai Nosso, em aramaico.
Pai-Mãe, respiração da Vida,
Fonte do som, Ação sem palavras, Criador do Cosmos!
Faça sua Luz brilhar dentro de nós, entre nós e fora de nós
Para que possamos torná-la útil.
Ajude-nos a seguir nosso caminho
Respirando apenas o sentimento que emana do Senhor.
Nosso EU, no mesmo passo, possa estar com o Seu,
Para que caminhemos como Reis e Rainhas
Com todas as outras criaturas.
Que o Seu e o nosso desejo, sejam um só,
Em toda a Luz, assim como em todas as formas,
Em toda existência individual, assim como em todas as comunidades.
Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós,
Pois, assim, sentiremos a Sabedoria que existe em tudo.
Não permita que a superficialidade e a aparência das coisas do mundo nos iluda,
E nos liberte de tudo aquilo que
Impede nosso crescimento.
Não nos deixe ser tomados pelo esquecimento
De que o Senhor é o Poder e a Glória do mundo,
A Canção que se renova de tempos em tempos
E que a tudo embeleza.
Possa o Seu amor ser o solo onde crescem nossas ações.
Que assim seja !!!

É tão linda, é tão perfeita, tão clara, tão profunda, tudo que está escrito é tão majestoso que eu não consigo nem encontrar adjetivo pra simplificar. Por conta dela, queria falar um pouco sobre a Ceia do Senhor, e suas polemicas discussões. E mais ao final, contar a entrada da hóstia no mundo gastronômico.


Apesar embates dos verbais e por escritos, durante séculos, muitos estudiosos acreditam e concordam que a Ceia do Senhor é uma ordenança, um memorial, um ato de comunhão com Deus e com a Igreja. Porém, a ceia não é um sacramento como ensina a Igreja Católica. Sacramento refere-se à ideia de que a ceia do Senhor transmite graça salvadora a quem dela participa e benefícios, como, milagres, curas e prodígios. Interpretação que não encontra apoio bíblico. Mas por que usar o pão e o vinho?
Existem pelo menos quatro formas de interpretação no que se refere ao pão (“Isto é o meu corpo”) e o vinho (“Isto é o meu Sangue”), as quais relacionamos a seguir:
1º) – Transubstanciação: Segundo entendem os católicos romanos, quando o sacerdote abençoa o pão e o vinho, estes transformam-se em corpo e sangue literais de Jesus, baseados em descrições filosóficas de Aristóteles acerca da “substancia”. Doutrina exposta por Tomás de Aquino, em 1215, confirmada pelo Concílio de Trento em 1551 e ratificada pelo Papa Leão XIII. Se realmente o pão e o vinho se transformassem no corpo e no sangue literal de Jesus, se tornariam objetos próprios de adoração; idéia inaceitável para os crentes, porque seria uma forma disfarçada de idolatria.

O milagre Lanciano Veja aqui
2º) – Consubstanciação: Doutrina ensinada por Lutero quando estabeleceu a Reforma, significa que o corpo e o sangue de Jesus, se unem às substâncias do pão e do vinho porém, não sofrem nenhuma transformação na essência.


3º) – Representação: É a interpretação simbólica do pão e do vinho. Estes são simplesmente, representações, figuras, tipos e emblemas, do corpo e do sangue de Cristo. A maioria das Igrejas tradicionais e Igrejas evangélicas (Pentecostais e Neo-Pentecostais) defendem esta posição. Segundo nossas pesquisas neste assunto chegamos à conclusão que quem inventou esta doutrina foi João Calvino, logo após a reforma. Num comentário sobre a Ceia do Senhor, Calvino fala 11 (onze) vezes sobre sacramento e 5 (Cinco) vezes sobre representação, sem fundamentar com versículos bíblicos, em virtude de não haver suporte bíblico para tal argumento. (João Calvino, nasceu no ano de 1509, numa pequena cidade francesa. Mudou-se para Genebra, Suíça, quando já era adulto, onde estudou, e conheceu outros reformadores. Calvino morreu aos 55 anos em 1564. Em 1550 escreveu o artigo mencionado acima. A reforma ocorreu em 1517, quando ele tinha 26 anos)


4º) - Realidade Espiritual: É a doutrina que tem como suporte bíblico fatos espirituais. Afirma que Jesus ao proferir as palavras “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue”, falava de uma realidade espiritual e não algo material e corruptível, como pão e vinho. Essa realidade espiritual não é perceptível aos nossos sentidos. Toda questão espiritual tem a sua realidade diante de Deus. Se o que se vê é mera aparência e não realidade, descobriremos que isso que tocamos não tem qualquer valor espiritual. A realidade de um fato espiritual, não é material.


O que seria essa realidade espiritual? “Deus é espírito, e importa que os seus adoradores O adorem em espírito e em verdade” (Jo. 4.24). “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda verdade” (Jo 16.13). “O Espírito é o que dá testemunho, porque o Espírito é averdade” (1º Jo 5.6).
Essas passagens revelam que Deus é Espírito e, portanto, tudo o que se relaciona com Deus está no Espírito. O Espírito da verdade é o Espírito da realidade. Por essa razão, a realidade espiritual deve estar no Espírito. É isso que transcende o homem e a matéria. Todos os fatos espirituais são nutridos no Espírito Santo. Uma vez que qualquer coisa esteja fora do espírito Santo, ela se torna letras e formas mortas. Fatos espirituais são reais, vivos e cheios de vida somente quando estão no Espírito Santo. É o Espírito Santo, quem nos leva para dentro de toda realidade. Se alguém toca nessa realidade, ele obtêm vida, pois vida e realidade estão intrinsecamente unidas.


Assenta ressaltar que existem no âmbito acadêmico, três fontes do saber, a Teologia, a Filosofia e a Ciência experimenta, que nos ajudam a compreender melhor esta história toda. A Teologia se fundamenta na Fé. A Filosofia tem como fundamento a Razão (lógica, silogismo) e a Ciência se baseia principalmente nos experimentos (conhecimento empírico). Quando afirmamos que simbolicamente algo é representado, estamos utilizando a razão, pois a representação está no campo da lógica, portanto, no domínio da Filosofia. Como não encontramos uma explicação teológica convincente para afirmar que o pão é o corpo de Cristo e o vinho é o sangue de Cristo, apelamos para a representação. A representação não é a coisa ou a entidade representada. Por exemplo a bandeira do estado do Ceará, não é o Ceará; o emblema da realeza britânica, não é a realeza.  Ambas são representações.
Desta maneira compreendesse que a transubstanciação e a consubstanciação, não traduzem a verdade bíblica, apesar de estarem no campo da teologia ainda que de maneira errônea. A representação, também não traduz o pensamento de Cristo e se situa no campo da Filosofia. Quando falamos em representação, estamos abstraindo através da mente, algo que não sabemos demonstrar teologicamente. Se os elementos da Ceia, fossem realmente uma representação poderíamos ingeri-los indignamente e não haveria condenação, pois trata-se simplesmente de pão e de vinho.  Como há uma realidade espiritual na Ceia, se participarmos indignamente, o faremos para a nossa própria condenação, não discernindo o profundo e espiritual significado da Santa Ceia.

E a hóstia?


Hóstia, (do latim hóstia) quer dizer vítima. Originariamente, era o animal imolado ao sacrifício. Na Antiguidade, chamava-se de hóstia o que era oferecido às divindades. A Igreja Católica teve a ideia de aplicar o termo hóstia a Jesus, que se deixou imolar para a felicidade dos homens. Mas o que ela representa, qual o significado do padre partir a Hóstia ao meio?
O padre parte a Hóstia para significar o que Jesus fez: partiu o Pão e distribuiu aos discípulos. O pedacinho que ele coloca no vinho consagrado é sinal de unidade da Igreja; significa a Eucaristia que antigamente o Bispo celebrava e enviava para a outras comunidades onde não tinha Missa.

Por que será que costumamos associar “eucaristia” com “hóstia”?


Fala-se em adorar a hóstia, ajoelhar-se diante da hóstia, levar a hóstia em procissão (na festa de Corpus Christi), guardar a hóstia... Descobri que, em latim, “hóstia” é sinônimo de “vítima”. Ao animal sacrificado em honra dos deuses, à vítima oferecida em sacrifício à divindade, os romanos (que falavam latim) chamavam de “hóstia”. Ao soldado tombado na guerra vítima da agressão inimiga, defendendo o imperador e a pátria, chamavam de “hóstia”.
Ligada à palavra “hóstia” está a palavra latina “hóstis”, que significa: “o inimigo”. Daí vem a palavra “hostil” (agressivo, ameaçador, inimigo), “hostilizar” (agredir, provocar, ameaçar). E a vítima fatal de uma agressão, por conseguinte, é uma “hóstia”. Então, aconteceu o seguinte: O cristianismo, ao entrar em contato com a cultura latina, agregou no seu linguajar teológico e litúrgico a palavra “hóstia”, exatamente para referir-se à maior “vítima” fatal da agressão humana: Cristo morto e ressuscitado.
Os cristãos adotaram a palavra “hóstia” para referir-se ao Cordeiro imolado (vitimado) e, ao mesmo tempo ressuscitado, presente no memorial eucarístico. A palavra “hóstia” passa, pois, a significar a realidade que Cristo mesmo mostrou naquela ceia derradeira: “Isto é o meu corpo entregue... o meu sangue derramado”.


O pão consagrado, portanto, é uma “hóstia”, aliás, a “hóstia” verdadeira, isto é, o próprio Corpo do ressuscitado, uma vez mortalmente agredido pela maldade humana, e agora vivo entre nós feito pão e vinho, entregue para ser comida e bebida: Tomai e comei..., tomai e bebei...Infelizmente, com o correr dos tempos, perdeu-se muito este sentido profundamente  espiritual que assumiu a palavra “hóstia” na liturgia do cristianismo romano primitivo, e se fixou quase que só na materialidade da “partícula circular de massa de pão ázimo que é consagrada na missa”. A tal ponto de acabamos por chamar de “hóstia” até mesmo as partículas ainda não consagradas!
Pensar em “hóstia”, deveria ser compreendido então como pensar na “vítima pascal” (a morte e a ressurreição do cristo), a total entrega do senhor para nossa redenção, presente no pão e no vinho consagrados. Talvez seja por isso que, após a invocação do Espírito Santo sobre o pão e o vinho e a narração da última ceia do Senhor, na missa, toda a assembleia canta: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”.
Diante desta “hóstia”, isto é, diante deste mistério de realidade espiritual, a gente se inclina em profunda reverência, se ajoelha e mergulha em profunda contemplação, assumindo o compromisso de ser também assim: corpo oferecido “como hóstia viva, santa, agradável a Deus” (Rm 12,1).
O pão mais litúrgico para o rito eucarístico é o pão ázimo. A produção do pão ázimo ainda é feito de forma artesanal em algumas localidades, mas já existem máquinas para facilitar o processo. A fabricação artesanal é realizada principalmente por religiosos em geral em mosteiros, onde o corte pode ser feito com tesoura, uma a uma.
No processo industrial, realizado por empresas privadas ou organizações religiosas, são produzidas hóstias de dois tamanhos: 3 centímetros de diâmetro, pesando 0,6 gramas, para os fiéis, e 7,8 centímetros, para os sacerdotes. Vale lembrar que quando o pão está na condição de não-consagrado, é denominado de partícula.

A hóstia sai das igrejas e vira ingrediente de salgados e docinhos



Na realidade, como foi dito anteriormente, quando não consagrada a hóstia leva o nome de partícula, e elas tem sido alvo de curiosa introdução no mundo gastronômico. E que tal um sanduiche com hóstia?
Imagine só um sanduiche com tudo o que você tem direito (Hambúrguer, bacon, cebola, tomate e alface, etc.) que tem uma hóstia como “cereja do bolo”... achou  uma loucura, mas é uma realidade no restaurante Kuma’s Corner, localizado em Chicago, que  apresentou o lanche que vem acompanhado do alimento “sagrado”  desde novembro de 2013, e o intitulou de “Ghost Burguer”. 


Ao que se sabe, os donos do restaurante, resolveram fazer uma homenagem à banda sueca Ghost, cujos integrantes cantam músicas consideradas satânicas vestidos com os mesmos trajes utilizados pelo clero católico. E logo o sanduíche acabou causando a maior revolta entre os cristãos de Chicago.
Luke Tobias, diretor de operações do lanchonete, garante para os especuladores que as hóstias utilizadas pelo restaurante não são consagradas e, por isso, não são sagradas. “É apenas um tipo de pão com uma cruz desenhada, defende-se.



Apesar de toda a polêmica, o uso de hóstias na culinária não é algo tão novo assim. Desde 2008, a Hóstias Sant’ana, com sede na cidade de Praia Grande, litoral de São Paulo, produz hóstias brancas e coloridas e as fornece para várias lojas de doces, restaurantes e confeitarias do país inteiro. “Vendemos quase 90 000 hóstias por dia”, contabiliza Ana Maria Avella, proprietária da empresa. “Tem dias em que começamos o trabalho às 7 da manhã e só terminamos às 9 da noite”. 
Rosas de partícula
Partícula colorida para montagem

O uso das hóstias também fora dos templos religiosas tem crescido tanto que, no início de 2012, Ana Maria lançou o e-book  ”Hóstias Sant’ana – Revelado o segredo das hóstias na gastronomia nacional e internacional”, que é vendido por R$ 9,90. As receitas presentes na obra vão desde cupcakes até pratos que têm o camarão como ingrediente principal.
Pra quem se interessou, todas as hóstias, sejam elas: simples, doces, salgadas e as especiais, são encontradas nos tamanhos 3, 3 - 3, 5 - 4, 0 - 7, 0 - 8, 0 - 10, 0 - 12, 0 e 15, 0 cm, e são entregues em todo Brasil e exterior. http://www.wix.com/hostiassantana/docesfinos-pratosexoticos  e-mail: ana.avella@terra.com.br  ou hostiassantana@bol.com.br . Contato: Ana Maria Avella -(11)984576308 - (13)81316952; R: Rui Barbosa, 190 - ap 55 - Canto do Forte 11700170 Praia Grande SC.




Quem também é referência no assunto é a empresa Hóstias São Francisco, a primeira fábrica do gênero no Brasil a ter um endereço virtual. Localizada em Mococa, no interior de São Paulo, a São Francisco foi inaugurada há 20 anos. Um dos proprietários, João Tadeu Bennati, estava tentando vender malas para padres em Minas Gerais. Foi quando ouviu de um religioso que era difícil encontrar fornecedores de hóstias naquela região. Não deu outra: o rapaz, acompanhado de um sócio, enxergou uma oportunidade de mercado e decidiu fundar a empresa, que atualmente produz 800 mil unidades por dia (18 milhões por mês) e em julho forneceu 1,5 milhão para a Jornada Mundial da Juventude. Bennati já chegou a fazer hóstias com sabor queijo, bacon e pimenta, que viravam torradinhas para serem servidas com patê em eventos. “Como as hóstias puxam muita umidade, deve-se ter o cuidado de não deixá-las em contato com o patê durante muito tempo”, explica ele. Atualmente saiu do “ramo gastronômico” e só atende igrejas.

PROCESSO PARA FABRICAÇÃO DE HÓSTIAS

O processo para a fabricação de hóstias consiste em quatro etapas:
1ª - Mistura água e farinha em uma batedora até obter uma mistura bem homogênea


2ª - Em seguida a massa é colocada na máquina (manual ou automática ) e prensada para fazer as placas inteiras;



3ª - Após essa etapa as placas são colocadas na estufa, para umedecê-las, com vapor quente, para obter um melhor corte


4ª - E por fim as placas já umedecidas vão para a máquina de corte onde são retiradas as partículas do tamanho desejado.



Assim, você escolhe o significado que mais lhe convier, e pode ainda divagar pela gastronomia de forma ousada e criativa. Arrisque-se.

Torta de Hóstias com Nozes

12 Hóstias Grandes.
1 xícara de nozes.
1 xícara de chocolate ralado.
2 xícaras de leite.
1/2 xícara de açucar.
3 gemas de ovo.
1 ovo.
1 colherzinha de farina de trigo.
3 colheres de maisena.
1 colheres de manteiga fria.
3 colheres de licor (a escolher).

Preparo: Coloque para aquecer o leite em uma panela. Em uma tigela misture com o batedor de arame açúcar com as gemas de ovo, ovo, amido de milho/maisena e farinha de trigo. Despeje e bata em um pouco de leite morno e misture bem. Adicione o leite restante e leve ao fogo, mexendo sempre, até começar a ferver e engrossar. Retire, incorpore a manteiga e o caramelo/licor , deixe esfriar. Para montar a torta, coloque uma hóstia no prato, cobrir uma camada de creme de confeiteiro e polvilhe com as nozes picadas e um pouco de chocolate. Repita fazendo várias camadas. Complete com creme de confeiteiro, nozes e chocolate. Leve para a geladeira antes de servir.

Um comentário:

  1. Caro Barão de Gourmandise, fico estupefata diante de tanta dedicação e maestria ao escrever artigos que aprofundam a gastronomia, ao invés de tão somente colcoar receitas.Amo este blog,e viajo pelas histórias e sabores aqui apresentados,quando crescer quer9o ser igual a você.Por enquanto vou postando minhas receitinhas sem pretensão, mas são feitas com amor,é um bom começo.

    TEm sorvetinho no palito com frutas vermelhas,no meu blog.

    www.mundodsabor.blogspot.

    Rosiane Carvalho

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