sexta-feira, 26 de junho de 2015

Garrofetes del Papa Luna



É tão bom quando se tem a oportunidade de viajar e se envolver com as culturas de outras sociedades e descobrir, além da história e curiosidades sobre os lugares, a gastronomia. Essa semana fui incumbido de apresentar um trabalho em espanhol, para a Universidade, sobre Paradores espanhóis da região da Catalunha. E na minha busca, acabei encontrando na cidade de Tortosa o que eu precisava – e de quebra, o tema dessa postagem, que trata sobre os Garrofetes del Papa Luna.


Tortosa é um município da província de Terragona, comunidade autônoma da Catalunha, que tem um patrimônio arquitetônico e artístico com mais de dois mil anos de história e, por isso, uma parte cidade foi tombada por ser considerada conjunto histórico-artístico da humanidade. A cidade de Tortosa teve bastante expressão no período medieval e conserva monumentos daquela época até os dias de hoje, dentre os principais se destacam o castelo de Zuda e a Catedral gótica.
O Catelo de La Zuda ou a fortaleza árabe (este é o assunto do meu trabalho), também conhecido como Castelo de San Juan, foi construído por Abderramán III em 944, embora mais tarde passou para as mãos dos Templários e em 1294 foi convertido em palácio real. Erguido no alto de uma colina com vista para a cidade e grande parte do rio Ebro, preserva elementos importantes, como o muro com várias torres, incluindo a torre mestra, o pátio de armas O calabouço abobadado ou as masmorras. Atualmente, o castelo califal converteu-se em um Parador Nacional (Parador, na Espanha, significa que um prédio de relevância foi transformado em meio de hospedagem para atrair turismo). 

Castelo de la Zuda
 O catelo de la Zuda teve, dentre seus vizinhos ilustres, o antipapa Benedicto XIII (Bento Treze). Durante o Grande Cisma do Ocidente, e com o falecimento do Papa Clemente VII (1394) foi designado como Papa o cardeal Pedro de Luna, que reinou como Antipapa Bento XIII, mas também conhecido como "Papa Luna" que instalou a sede do seu pontificado no Castelo de Peníscola, próximo a Tortosa, entre 1411 e 1423. O castelo de Peníscola é outra obra Moura, e localiza-se na cidade e município de Peníscola, província de Castellón, na comunidade autónoma da Comunidade Valenciana, na Espanha, ao qual atraiu uma plêiade de artistas e artesãos que abrilhantaram o seu palácio no interior. O seu sucessor, o Antipapa Clemente VIII, também ocupou as dependências do castelo até à sua abdicação, em 1429.

Castelo de Peníscola
 Mas Voltando a Tortosa, reza a lenda que, nos últimos anos de vida, o papa Luna tinha uma saúde muito debilitada e estava com dificuldades para comer. Então foi solicitado aos confeiteiros e padeiros da região que elaborassem uma receita de algo que fosse fácil de tragar e rico em proteínas, vitaminas, etc. Então, um confeiteiro de Tortosa teve a ideia de criar um doce muito rápido de ser feito a base de gema, açúcar e farinha em forma de meia lua que se conhece com o nome de Garrofetes del Papa Luna. Desde então, o biscoito tornou-se popular e atualmente é uma das referências gastronômicas daquela região. A receita dos Garrofetes segue no fim desta postagem, mas para garantir uma produção bem feita deixo, abaixo, um vídeo ensinando a preparar o biscoito. Infelizmente não achei muitas receitas dessa preparação, e a única que encontrei não contém farinha - caso alguns de vocês, leitores, tenham uma receita que inclua farinha na massa, por favor, me encaminhe para eu incluir nessa postagem com os devidos créditos.

Antipapa Bento XIII





Não sei quanto a vocês, mas eu sempre trago à tona, quando se fala em antipapa, em coisas ruins, não sei explicar. Por isso cabe explicar que um Antipapa é uma pessoa que reclama o título de Papa, em oposição a um Papa legitimamente eleito, ou durante algum período no qual o título estava vago. Antipapa não é necessariamente sinal de doutrina contrária à fé ensinada pela Igreja. No passado, antipapas eram geralmente apoiados por uma facção significativa de cardeais e reinos.
Hipólito de Roma († 235) é considerado o primeiro antipapa, como ele protestou contra o Papa Calisto I e dirigiu um grupo distinto dentro da Igreja em Roma. Hipólito foi posteriormente reconciliado com o segundo sucessor de Calisto, o Papa Ponciano, quando ambos condenaram a ilha de Sardenha. Porém se realmente Hipólito declarou-se bispo de Roma permanece incerto, especialmente pelo fato de que esta afirmação não tem sido citada nos escritos atribuídos a ele. Hipólito foi posteriormente canonizado pela Igreja.
Eusébio de Cesareia cita um escritor anónimo que relata que Natálio no início do século III aceitou ser papa de um grupo de hereges em Roma, mas logo se arrependeu e implorou ao Papa Zeferino (199-217) para perdoá-lo e recebê-lo novamente em comunhão. Embora esta circunstância também seja incerta.
Novaciano († 258), no século III, certamente, alegou ser Papa, em oposição ao Papa Cornélio, e se Natálio e Hipólito foram excluídos por causa das incertezas em relação às suas reivindicações, Novaciano poderia ser considerado de fato o primeiro antipapa.
O período de mais numerosos antipapas foi durante as lutas entre os papas e os imperadores do Sacro Império Romano dos séculos XI e XII. Conforme afirma o historiador Leandro Rust, "nenhum outro período histórico é capaz de rivalizar com a Idade Média quando se trata de antipapas. Para pouco mais de cinco séculos (entre 999 e 1513) mais de 20 deles são identificados. A maior parte concentrada nos períodos de 1060-1180 e 1320-1440." Os imperadores frequentemente impuseram seus candidatos próprios para promover suas próprias causas.
O Grande Cisma do Ocidente - que começou em 1378, quando os cardeais franceses, afirmando que a eleição do Papa Urbano VI seria inválida, elegeram Clemente VII como papa - levaram a criação de dois antipapas, um em Avignon (Clemente VII fixou residência em Avignon, França), e Pisa. O último antipapa mencionado foi eleito na cidade de Pisa, Itália, como Alexandre V. Posteriormente, o Papa Martinho V foi eleito e aceito por toda a Igreja. A partir do Reforma Católica no século XVI cessou a existência de antipapas.

Garrofetes del Papa Luna

15 gemas de ovos
1 ovo
600 gr de açúcar
Essência de baunilha a gosto ou uma colher de sopa de açúcar abaunilhado

Preparo: colocar tudo em na batedeira e bater por 20 minutos, até virar uma gemada clara e espessa. (Isso pode ser feito à mão, mas demora mais). Depois de pronto, colocá-lo em saco de confeitar com bico liso e pingar em formas untada e enfarinhada.  Levar ao forno preaquecido a 150 graus até que estejam cozidos e sequinhos – o que é rápido. Então fique de olho no forno.

Um comentário:

  1. Boa noite!
    Posso imaginar o delicado sabor dos Garrofetes del Papa Luna.
    Gostei muito da música medieval espanhola.

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