De
repente senti o cheiro de jasmim no ar, o que me fez lembrar de um livro que
resenhei tempos atrás: Noites de verão com cheiros de Jasmim, de Joëlle
Rouchou, que traz a história de judeus expulsos do Egito no século XX, a partir
da memória do grupo que veio se instalar no Brasil entre 1956 e 1957, por meio
de entrevistas gravadas com grande rigor metodológico e muita sensibilidade, de
acordo com um quadro de parâmetros teóricos precisos, embasados em bibliografia
especializada, a autora traz sua contribuição ao debate em torno da relação
entre memória, história e identidade cultural [Apesar do mundo estar vivendo um
problema parecido na atualidade, com a quantidade de sírios procurando refúgio
em muitos países, inclusive aqui no Brasil (até onde seu, existem 11 pedido de
refugiados Sírios para vir aqui para Fortaleza-CE)]. Então resolvi falar de
jasmim para, inclusive, homenagear uma amiga minha, Thereza Cartaxo, que tem
jasmins na varanda de casa, onde muito já nos divertimos e refletimos sobre a
vida. E mais do que homenagear minha amiga, quero aproveitar para falar das
PANCs – plantas alimentícias não convencionais, e o jasmim é uma delas. Antes
porém, devo dedicar este poste para a Thereza Cartaxo: amiga, este post é para
você, pela amizade, pela hospitalidade, por tudo.
Comecemos
então. As plantas alimentícias não
convencionais (PANCs), pode-se dizer, que são plantinhas nutritivas, matinhos
que nascem em qualquer lugar e que muita gente arranca (achando que são ervas
daninhas) e que são apenas para enfeites (sobretudos os que apresentam flores –
como o jasmim). São tão comuns e vistas com banalidade que as pessoas não se
dão conta de sua função alimentar. Um bom exemplo para isso é a bananeira (Musa
xparadisiaca), que acaba sendo restrita ao consumo de frutos renegando-se as
demais partes da planta, como os mangarás (corações ou umbigo). Portanto,
plantas com funções alimentícias não conhecidas pela maioria das pessoas, com
partes consideradas pelo senso comum como não usuais, pode-se classificar como
PANC.
Por
ser um tema de investigações recentes encontra-se literatura ainda restrita.
Mas a gastronomia, para nossa sorte, é uma arte cheia de inovação e tem
despertados grandes chefs da alta cozinha para novas criações culinárias
envolvendo PANCs (Alex Atála serve como um exemplo). Mas se você se interessou
pelo assunto, encontrei um livro bacaninha sobre o assunto, Plantas
Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil, de Valdely Kinupp e Harri
Lorenzi, muitas informações valiosas para quem deseja se aventurar nesse mundo
de descoberta de novos sabores.
Fui
atrás de dados para apresentar o impacto das PANCs pelo mundo e descobri uma
triste estimativa: calcula-se que se perde, por ano, de 1 a 7 toneladas de
plantas alimentícias não convencionais, muitas são hortaliças com elevadas
propriedades nutricionais para a espécie humana como dente-de-leão, serralha,
beldroega, erva-gorda, almeirão-do-campo, caruru, bertalha, serralha,
capuchinha dentre outras, que são jogadas fora. Estima-se que existam ainda
cerca de 50 mil plantas alimentícias no mundo, sendo pelo menos 10 mil no
Brasil, mas a falta de informação e conhecimento sobre elas implica na redução
de seu uso como oferta alternativa de alimentos para a população.
Então
eu resolvi (ou me atrevi?) falar do jasmim na cozinha (alguém deve estar se
perguntando se vou fazer perfume r colocar perfume na comida. Bom é quase
isso). Antes porém tenho de explicar que, conceitualmente, plantas alimentícias
são aquelas que possuem uma ou mais partes ou produtos que podem ser utilizados
na alimentação humana, tais como: raízes, tubérculos, bulbos, rizomas, cormos,
talos, folhas, brotos, flores, frutos e sementes ou ainda látex, resina e goma,
ou que são usadas para obtenção de óleos e gorduras comestíveis. Inclui-se
neste conceito também as especiarias, espécies condimentares e aromáticas,
assim como plantas que são utilizadas como substitutas do sal, edulcorantes
(adoçantes), amaciantes de carnes, corantes alimentares e no fabrico de
bebidas, tonificantes e infusões.
Jasmim
é o nome comum pelo qual são conhecidas as espécies do gênero Jasminum L., da
família Oleaceae, nativas do Velho Mundo. O nome vem do árabe Yasamin, que por
sua vez foi emprestado do persa. São em sua maior parte arbustos ou lianas, de
folhas simples ou compostas, com flores tubulares, com pétalas patentes,
raramente maiores do que dois centímetros de diâmetro, quase sempre muito
perfumadas. Quase todas as espécies possuem flores brancas, mas há algumas de
flores amarelas ou rosadas.
A
maior produtora de jasmins do mundo é a Índia mas a China sempre foi uma grande
produtora de jasmim, que tem aroma é adocicado, e é juntamente com a rosa um
dos aromas pilares da perfumaria. Mas na gastronomia, vem da China Antiga o uso
de flores e folhas de jasmim para preparar chá – aliás o chá de jasmim e um dos
mais apreciados.
São
conhecidas atualmente 537 espécies, dentre as quais as espécies mais populares
de jasmim, são:
Jasminum azoricum, ou Jasmim-dos-açores;
Jasminum mesnyi, ou
Jasmim-amarelo (sem aroma);
Jasminum nitidum, ou Jasmim-estrela;
Jasminum
officinale, ou Jasmim-verdadeiro, e
Jasminum polyanthum, ou Jasmim-dos-poetas.
O “Rei
das Flores”, ou a “Rainha da Noite” tem uma longa associação com o Amor e com o
ato de fazer amor. Tem sido reverenciado no Oriente desde muito tempo, por suas
propriedades medicinais e na produção de perfumes.
Na
Índia, o Jasmim é considerado uma flor sagrada, conhecida como “luz da lua no
jardim” - é tradicionalmente tecido nas guirlandas dos noivos e serve de
ornamento aromático às mulheres, que têm especial preferência por seu óleo,
usado nos cabelos.
Reza
uma lenda hindu que o deus do amor, aquele que se assemelha aos deuses do amor
para os gregos Eros e Cupido para os romanos, que também é representado com um
arco e flecha nas mãos, colocava jasmim nas pontas de suas flechas para atingir
o coração das pessoas pelos sentidos e despertar o desejo.
Dioscorides,
médico grego do século I, dizia que os persas usavam o Jasmim para perfumar o
ar durante os eventos de seus banquetes. Juntamente com a Rosa, sempre aparecia
nos poemas Sufi, como um símbolo de amor e busca espiritual. Historicamente o
Jasmim tem sido associado com a Lua, consequentemente com a deusa Ártemis, a
deusa da lua para os gregos.
O
Jasmim cresce ao longo do Rio Nilo, no Egito – cujas flores são dedicadas a
deusa Isis, deusa mãe egípcia, aquela que detém os segredos da fertilidade,
magia e da cura. E do Egito, vem um causo particular sobre o uso do jasmim por
uma poderosa governante: diz-se por lá que Cleópatra teria banhado com jasmim
as velas de seu navio para aproximar-se de Marco Antônio, pois já se acreditava
que seu perfume exótico e envolvente era um poderoso afrodisíaco que ajudava a
acentuar a sensualidade durante a noite (Acho que vou comprar essência de
jasmim para banhar minhas roupas, risos).
Na
China, o jasmim era usado para comemorar o ano novo com suas pétalas, para
pendurar suas flores nas beiradas de casas flutuantes, para fazer chás, para
enfeitar os cabelos das moças e também para purificar o quarto dos doentes.
Segundo a arte do Feng Shui, possuir jasmim no jardim é indispensável para a
harmonia da casa. A farmacopeia chinesa tradicional utiliza-o também misturado
com vinho ou chá, ou em óleos de massagem.
Muito
ligado ao aspecto feminino, o jasmim inspirava as canções ardentes e lascivas
dos poetas árabes. Era, também, uma das flores mais usadas pelas
"favoritas" dos sultões, ao se enfeitarem para as longas noites de
amor. Por séculos, o Jasmim tem sido associado com feminidade, amor e
fertilidade, na tradição hindu e muçulmana.
Madame de Sévigné teria lançado a moda do jasmim em Versailles, onde o ofereciam, dizem,
em troca de afagos (prefiro não comentar). O jasmim tornou-se, no século XVIII,
a flor de Grasse por excelência. Napoleão comprava aí grandes quantidades para
Josefina de Beauhrnais.
Dentre
os significados mais conhecidos para o jasmim estão: que ele representa a
“eloquência”, “doçura”, “amizade”, “charme” e “afeição”. Também se diz que
pessoas que escolhem o jasmim estão em busca de conhecimento e crescimento
espiritual – este particularmente é o meu caso, e achoq eu o da minha amiga
(mas ela ainda não descobriu isso (até agora). O Jasmim amarelo, significa
amor, beleza delicada, elegância e graciosidade. O Jasmim branco, significa
amabilidade. E o Jasmin-real a sensualidade. Dizem que sonhar com jasmim é
sinal de sorte (inclusive no amor). Mas o bom mesmo é saber que ele é um ótimo
calmante e melhorador da função respiratória – para estes fins deve-se tomar
uma xicara de chá de jasmim após o jantar, no máximo.
Madame de Sévigné |
Mas já
que o que eu queria expor foi explicado, agora é o momento de se aventurar com
o jasmim na cozinha, e deixar a magia acontecer e te seduzir com aroma e
sabores especiais. Assim, abaixo estão algumas receitas que consegui garimpar
por aí. Aproveitem.
Wrap de
Salmão Marinado em Jasmim com Queijo Feta e Mel
50 grama(s) de filé de salmão
1/2 colher(es) de sopa de sal grosso
2 colher(es) de chá de açúcar cristal
1/5 maço(s) de endro
20 grama(s) de cebola roxa
6 colher(es) de chá de folhas de chá de jasmim
1 pão folha
alface roxa e crespa a gosto
20 grama(s) de queijo feta
1/2 xícara(s) de chá de azeite extra virgem
1 colher(es) de chá de mel
1 colher(es) de sopa de cream cheese
cebolinha francesa a gosto
Preparo: Marine o salmão com o
sal grosso, o açúcar, o azeite, o endro, a cebola fatiada na mandolina (tipo de
fatiador regulável) e o chá de jasmim. Deixe de molho por pelo menos 8 horas.
Monte o sanduíche da seguinte forma: no pão folha, coloque o salmão cortado
como um sashimi fino, apenas em uma das metades do pão. Disponha a salada
(folhas de alface rasgadas) por cima e corte em cubos a cebola, o jasmim e o
endro da marinada. Grelhe o queijo feta,
corte bem e misture com o mel e o cream cheese. Use essa pasta na outra metade
do pão ao enrolar o sanduíche. Salpique a cebolinha a gosto.
Sorvete
de banana com flor de jasmim manga
Bata no liquidificador
3 bananas congeladas em fatias,
3 bananas congeladas em fatias,
um tanto de leite de coco caseiro (o suficiente
para girar a hélice),
4 flores de jasmim manga,
2 folhas de malva (uma erva medicinal deliciosa
que tenho na horta) e
flores de assa peixe (opcional)
Bata bem e está pronto. Servir em seguida.
Creme de jasmim
375ml de creme de leite fresco
200ml de leite integral
50g de flores de jasmim frescas
6 gemas
70g de açúcar
Preparo: Esquente o creme de
leite. Deixe que ferva e suba antes de tirar do fogo. Acrescente o jasmim e
deixe esfriar. Peneire a mistura, passando para uma panela de fundo grosso,
pressionando as flores para soltar a fragrância. Reaqueça o creme até ferver.
Bata as gemas e jogue por cima uma parte do creme fervente. Bata até que a
mistura fique homogênea.Continue acrescentando o creme quente, aos poucos,
batendo com cuidado para não talhar. Devolva a mistura à panela e acrescente o
açúcar. Cozinhe em fogo baixo, mexendo sempre, até que o creme grude nas costas
da colher. Despeje em seis ramequins e asse em forno pré-aquecido, a 150 graus,
por cerca de 45 minutos, até que os lados descolem das laterais dos ramequins.
Polvilhe açúcar por cima e caramelize com maçarico.
Nossa, eu cheguei a este post porque quero cultivar jasmim em meu jardim e de preferência uma espécie que possa ser consumida. Porém é muito difícil achar um consenso sobre as espécies e seus nomes populares e quais podem ser utilizadas para o consumo alimentar. Agora mesmo, antes de ler seu POST li outro falando que o jasmim manga é tóxico . Você tem alguma dica de material de leitura para eu me aprofundar e sanar minhas dúvidas?
ResponderExcluirQue feliz surpresa encontrar essa página! Estava buscando informações sobre a utilização de flores de jasmin na comida e ganhei esse presente! Parabéns pela perquisa. Amei as dicas!
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