terça-feira, 21 de outubro de 2025

O SABOR DO ASSOMBRO: MINGAU DE TAPIOCA PARA MATINTA PEREIRA, UMA OFERENDA ENTRE ASSOVIOS E MEMÓRIAS


Há tempos venho pensando no Halloween como quem observa uma festa bonita, mas alheia — como quem admira o brilho de uma vela em casa vizinha. Entre abóboras entalhadas e bruxas de chapéu pontudo, sempre me perguntei se haveria uma forma de tornar essa celebração menos importada e mais sentida. Algo que falasse comigo, com meus medos de infância, com os assombros da minha terra. E, claro, com meu paladar.

Para fazer isso, precisei fechar os olhos e voltar: à serra, passear pelo litoral, às noites em que o silêncio tinha cheiro de lenha e perigo. Foi então que compreendi que para viver um Halloween meu — um Halloween de verdade — eu teria que invocar as bruxas que falam a minha língua, os fantasmas que se escondem na mata e não nos porões vitorianos – embora eu também os admire.

E então percebo: aqui também temos abóboras, mas as chamamos de jerimum, e jamais lhes cortaríamos um rosto amedrontador, pois nelas não mora o susto, mas o sustento. Imagine um jerimum assado, cavado com delicadeza como quem escava a memória, recheado de creme de carne seca, coroado com queijo coalho dourado pelo forno e com uma chuva de coentro picado — uma oferenda tão potente quanto qualquer vela em caveira.

Aqui também há chapéus pontudos, é verdade, mas nossos mais característicos são os de couro dos vaqueiros sertanejos, adornados com moedas, búzios, espelhos e medalhas que tilintam como orações antigas. Heranças que vieram no bolso dos judeus marranos, silenciadas pela Inquisição e ressuscitadas nas abas largas desses chapéus que enfrentam sol, vento e assombro.

Se eu quiser, de fato, celebrar o mês das bruxas com fidelidade ao que pulsa em mim — ao que arde, respira e rasteja sob a pele da minha terra — eu teria que calar os gritos dos castelos e florestas europeias e aprender, outra vez, a escutar os assovios e estalados do mato.

Porque aqui, o medo não se fantasia: ele canta em tons agudos na garganta da rasga-mortalha, ele estala no galho seco sob a pata de uma criatura que nunca se deixa ver por inteiro. Aqui, o feitiço tem cheiro: de leite fervido com cravo e canela, de mingau grosso servido em silêncio, como se cada colherada fosse um pacto.

Há uma magia antiga que paira sobre essas terras, mesmo quando esquecida. Ela se esconde nas rachaduras das pedras, no vapor que sobe dos grãos, na folha que se mexe sem vento. São os encantados — os que não vivem como nós, mas nunca deixaram de estar aqui. Eles andam sobre raízes, sopram sobre brasas, nadam sob a pele dos rios, e tudo o que fazem tem uma única missão: proteger. Protegem as matas dos que arrancam sem pedir, os bichos dos que caçam sem fome, as águas dos que sujam sem culpa.

E, mais sutilmente, protegem a nós... de nós mesmos. De nossas ganâncias, de nossos esquecimentos, de nossas pressas e descrenças. Às vezes, nos confundem com medo — para que paremos. Às vezes, nos assustam — para que voltemos. Não querem aplausos, nem rezas decoradas. Querem silêncio quando a mata fala. Respeito quando a noite cai. E um olhar menos distraído para o milagre cotidiano de ainda estarmos vivos, mesmo depois de tanto descuido. Os encantados não foram feitos para serem entendidos. Foram feitos para serem sentidos.

E é neste caldo denso que eles se aproximam — os encantados, os temidos, os que nunca morreram.

O Curupira chega sempre primeiro — mesmo com os pés ao contrário, mas propósito direto. Cada passo seu apaga rastros e confunde caminhos, como quem embaralha as trilhas da ganância. O ar ao seu redor cheira a casca queimada, a cipó quente, a um fogo que não destrói: vigia. Em vez de beber ou servir, ele apenas sopra para longe o que não é puro, como quem afasta os maus pensamentos da panela. Seus olhos, pequenos vulcões adormecidos, seguem atentos cada movimento do tempo.

Ao seu lado, firme como quem nasceu das raízes, caminha a Caipora, de pele da terra e cabelos de mato. Traz ao colo um tatu encantado que se enrosca em seu braço como pulseira viva. Em silêncio, ela recolhe um punhado de cinzas do chão e sopra dentro de uma cuia de casca escura — oferenda aos que vivem enterrados, mas escutam tudo. Ambos não provam o que o homem prepara — não têm sede de panela, nem fome de indústria. Alimentam-se do que a floresta dá de presente: o néctar das frutas silvestres, o frescor das folhas recém-caídas, o aroma úmido das ervas selvagens. São os zeladores que se sustentam no pulso vivo do mato, mantendo o equilíbrio sutil entre a vida que brota e o silêncio que sustenta. Não agem por vontade ou desejo, mas por um compromisso antigo, tecido na mesma fibra das raízes, uma promessa invisível que persiste mesmo quando esquecemos de respeitar o mundo que nos sustenta.

O Saci, dança em seu redemoinho travesso, e gira ao redor da panela como se a colher fosse um pião ancestral — ele é o senhor das pequenas confusões, o artista das viradas do destino doméstico. Quando o leite azeda na fervura, não é azar, é a travessura do Saci que revela um segredo oculto: o azedume não é castigo, mas a semente de uma doçura ancestral. Porque, na alquimia da minha cozinha, até o leite azedo que parece estragado se transforma em doce de leite craquelado que embala a noite com seu aroma de caramelo. É a poesia do inesperado, o encanto de transformar o que parecia perder vida em sabor que conta histórias.

No coração dos bambuzais da mata surge a figura do Saci. Dizem que o Saci não nasce como os outros. Não vem do ventre de mulher nem da mão do homem — nasce do broto torto do bambu, aquele que se dobra contra o padrão, que cresce errado como se escondesse um segredo. É no silêncio dos bambuzais, onde o vento geme como um velho contando histórias, que ele brota: pequeno, assobiando antes mesmo de ter boca. Vive setenta e sete anos — número exato, místico, como uma sentença ancestral. Depois, morre sem alarde e se transforma em cogumelo venenoso, desses que ninguém ousa tocar, mas todo mundo reconhece. Sua existência é uma curva no tempo, um ciclo que se alimenta da terra e volta pra ela. Ele não precisa de espelho, documento ou altar — o Saci é memória viva, feita de broto, susto e vento. E mesmo quando ninguém o chama, ele segue ali, esperando o próximo bambu crescer torto de novo.

O Saci avança com uma perna só — não por limitação, mas por um traço encantado, parte de sua essência mítica. Na linguagem moderna, alguns poderiam tentar classificá-lo como uma pessoa com deficiência (PCD), mas essa é uma visão limitada e inadequada para o que ele representa.

Os ignorantes até poderiam chama-lo de aleijado, mas sua única perna é como um tambor que marca o ritmo dos segredos da floresta, um salto que desafia a própria gravidade e a lógica dos homens. Ele é mestre da ausência, transformando o que falta em força e mistério, navegando pelo mundo com a leveza de quem dança com o vento e ri da própria sombra. Sua perna única é um convite a olhar além do visível e encontrar beleza na diferença que o faz único.

O que o Saci teme não é a ausência da perna, nem a busca incessante por uma nova — pois seu passo único é dança ancestral, parte de sua essência indomável. Mais que tudo, teme ser aprisionado, guardado dentro de garrafas, como se seu espírito pudesse ser enjaulado, sufocado pela vontade alheia. Livre, ele é vento, sombra e riso; preso, ele perde a chama que incendeia a mata e acende o mistério.

Seu medo real, é perder sua carapuça vermelha, seu amuleto sagrado, a fonte de seu poder e liberdade. Quem consegue roubá-la, domina o Saci, molda suas travessuras ao seu próprio capricho. Sem ela, ele se torna apenas um sopro fugidio, uma sombra que dança entre as árvores, uma alma inquieta que vaga, esperando o momento de reencontrar sua força. Ele é a chama errante do fogo que tanto aquece quanto brinca, o guardião invisível da cozinha, que zomba da ordem com sorrisos travessos, mantendo vivo o feitiço do sabor e do mistério.

Em 2003, o Estado de São Paulo aprovou a Lei nº 11.669, instituindo o Dia do Saci-Pererê e seus amigos do folclore nacional para ser celebrado em 31 de outubro — a mesma data em que o Halloween, com suas máscaras estrangeiras e abóboras alaranjadas, avançava sobre nossas ruas e quintais. No mesmo ano, o deputado Chico Alencar apresentou no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 2.479, propondo estender essa celebração a todo o país. Esse gesto, embora cheio de intenção, acabou por transformar o Saci em um verdadeiro boi de piranha cultural — lançado à frente de uma batalha desigual, exposto e sacrificado para tentar frear o avanço inevitável da festa importada.

Ainda assim, essas leis, embora assinadas, nunca saíram do papel com o vigor de um redemoinho. A tentativa foi uma oferta simbólica para que nossas crianças mantivessem viva a lembrança dos seus próprios fantasmas, daqueles que sussurram nas noites de vento e carregam histórias de matas para as nossas varandas. Porém, essas leis ficaram no papel, silenciosas como uma memória que escapa.

Passaram os anos, passam os dias 31, e o que se vê nas ruas são vampiros com dentaduras de plástico e abóboras que piscam nas vitrines, enquanto o Saci — aquele que nunca precisou de fantasia para assustar — permanece na penumbra, quase invisível — na sombra que persiste mesmo quando ninguém mais olha. E talvez ele aceite isso com um sorriso torto, daqueles que carregam segredos antigos, porque há personagens que sabem que o esquecimento também é uma forma de magia — uma pausa silenciosa antes do medo se tornar avassalador, quando, de repente, ele decide reaparecer e perturbar o cotidiano, sussurrando em meio ao silêncio, reacendendo sombras que nunca realmente partiram.

Das profundezas das águas sussurrantes, emergem os irmãos gêmeos encantados, tão opostos quanto as marés que regem seus domínios. Cobra Norato (Honorato, para alguns), guardião benevolente, desliza pelo chão com a graça silenciosa de uma cicatriz viva, envolvendo-se nos pés da mesa como um laço de proteção. Ela traz consigo a bênção das águas calmas, ofertando a paz e a cura a quem respeita a mata e seus segredos.

Já Maria Caninana, a irmã sombria, brilha com olhos de lâminas afiadas, vertendo gotas de leite negro no chão — um convite fatal para os mortos saciarem sua sede de mistério e tormento. Ela é a sombra da serpente e da cascavel, a força perigosa que ronda os limites entre a vida e a morte, entre o sagrado e o proibido. Juntos, são o pulsar dual das águas brasileiras: a luz e a escuridão, o afago e o açoite, o mistério eterno que envolve o que está por baixo, e o que nunca deve ser completamente desvendado.

O Negrinho do Pastoreio surge em silêncio, sombra que desliza entre o sonho e a memória. Em suas mãos pequenas, um punhado de poeira e um cajado, símbolos de um fardo que nunca se dissipou. E o fardo do Negrinho do Pastoreio não é feito de ferro ou madeira, mas de lembranças dolorosas que ecoam nas sombras do tempo. Ele carrega o peso de uma infância roubada, marcada pelo silêncio imposto da injustiça e da servidão.

Seus passos, embora leves, arrastam o grito mudo daqueles que jamais tiveram voz, e seu coração, embora invisível, pulsa com a urgência de quem busca reparação. Seu olhar, distante e ancestral, carrega o peso de uma dor antiga, mas também a chama tênue da esperança que persiste, mesmo diante do esquecimento e da injustiça. Preso entre o mundo dos vivos e dos mortos, seu espírito vagueia entre os campos e as estrelas, uma alma errante que guarda a promessa de proteção aos perdidos, aos abandonados — um guardião silencioso que transforma a dor em esperança e a sombra em luz, com a paciência de quem sabe que o tempo também pode curar. Mas, sempre lembrando que, mesmo na mais profunda escuridão, há sempre uma luz que se recusa a apagar.

Do espelho embaçado do banheiro, a Loira do banheiro surge — espectro pálido, úmido, como uma sombra que o tempo tentou apagar, mas que insiste em habitar os cantos esquecidos da casa. Ela nos observa, silenciosa, peloa vapores do chuveiro, atravessa paredes, trazendo consigo memórias e segredos que se entrelaçam no ar. Lembro-me das vezes em que, com um sorriso maroto e o brilho travesso no olhar, fiz meus primos menores estremecerem com a simples menção dela — essa figura inquietante, que dizem aparecer nos banheiros para sussurrar histórias que só as paredes ousam guardar. Uma presença tão inconveniente quanto inesquecível, que mistura o medo e a ternura num só suspiro de assombro.

No fundo das grutas, covas e cavernas da mata, entre sombras e tralhas diversas, esconde-se a Cuca — aquela bruxa antiga, que é um jacaré fêmea (ou jacaroa?) de cabelos loiro, metade lenda, que minha infância aprendeu a temer pelas páginas de Monteiro Lobato. Vive recolhida nas covas úmidas da mata, onde o tempo não entra, mexendo seu caldeirão de feitiços que ora falham, ora fazem tremer até o chão. Atrapalhada, sim — com suas unhas grandes demais e seu olhar vesgo de tanto ver o que não devia —, mas perigosa quando quer. Basta um nome maldito sussurrado ou um sono fora de hora, e lá vem ela, arrastando sua cantiga como um aviso: "Cuidado com a Cuca, que a Cuca te pega... e pega daqui... e pega de lá." Era a ameaça cantada que gelava a espinha e moldava o silêncio na hora de dormir — a primeira bruxa que aprendemos a respeitar antes mesmo de entender o que era o medo.

E então, chegam os filhos das águas doces — belos demais para serem confiáveis, encantados demais para serem apenas lenda. O Boto, de camisa alva como neblina sobre o rio, olhos escuros de espelho partido, assovia entre os dentes como quem chama sem pedir permissão. Seu sorriso é reza e armadilha, e seus passos, mesmo em terra firme, ainda têm o ritmo lento das correntezas. Surge nas festas, dança com quem se esqueceu de duvidar, e some na primeira luz do dia, deixando saudade e suspeita no lugar do beijo.

A Yara vem logo atrás, com cabelos longos como rios noturnos e uma voz moldada no afogamento dos sentidos. Canta baixinho para quem se aproxima da margem — e quem ouve, raramente volta. É bela de um jeito que dói, de um jeito que arrasta. Seus olhos prometem ternura, mas escondem vertigem. Ela não precisa tocar: basta sussurrar, e o corpo que a escuta já não pertence a si. São os encantados do desejo — tão sedutores quanto perigosos. E como toda beleza selvagem, exigem reverência ou distância.

E lá no alto, quase confundida com o breu que cobre os telhados, a Matinta Pereira sobrevoa a cena em silêncio — coruja, rasga-mortalha, ave de presságios. Suas asas não batem: deslizam, cortam o ar com um som grave, meio lamento, meio sentença. Ela observa tudo com olhos que já viram demais — olhos de fogo antigo que atravessam telhas, janelas, segredos. Não precisa pousar. Basta que veja. Basta que sinta.

Quando o céu escurece de um jeito estranho e o vento sopra como se carregasse recados de longe, ela desce. E o que antes era ave — coruja de olhos de brasa, rasga-mortalha com penas que sussurram presságios — começa a se desfazer em silêncio. As asas se recolhem como véus antigos, as penas caem como folhas secas, e no lugar da ave, surge a velha. Magra, encurvada, os olhos acesos de um saber que arde. Veste o tempo como manto e fala pouco, mas quando fala, é sempre para pedir: fumo ou comida. Não pede com súplica, mas com a firmeza de quem cobra o que lhe é devido. E ai de quem negar — porque ela não esquece. E volta. Sempre volta.

Assim, se houver fumo sobre a mesa, se um prato simples lhe for deixado com reverência, então ela aceita. E ao aceitar, não é apenas alimento: é pacto. É o silêncio que se firma entre mundos. Uma trégua entre a noite e os vivos. Uma pausa naquilo que, de outra forma, viria cobrar com uivos, assobios e assombrações.

Aqui, a bruxa não cavalga vassouras — ela veste penas, gira o pescoço como se os olhos pudessem colher o mundo por todos os lados, e se anuncia num voo cortante que atravessa a noite como faca sobre tecido.

A Matinta Pereira... ela não é uma história. Ela é uma presença. E como toda presença antiga e respeitável, não se oferece a qualquer um.

Na encruzilhada entre o lirismo nordestino e o pavor sussurrado das noites de lua minguante, ergue-se, quente e espessa, uma tigela fumegante de mingau de tapioca. E não se trata aqui de qualquer iguaria trivial de final de tarde — não, senhor. Este é um prato cerimonial, um convite tácito à paz com o invisível, um acordo silencioso entre o humano e o encantado.

 

A MÚSICA COMO PREÂMBULO DE FEITIÇO

 

Foi num fim de tarde sem pressa, entre um gole de café e o descanso dos olhos cansados, que me vi mergulhado num vídeo no YouTube: estrangeiros ouvindo música brasileira como quem toca pela primeira vez na pele quente de uma memória que não é sua. O canal mostrava suas reações, suas expressões pasmas, seus olhos arregalados. Mas o que me prendeu foi o que disseram — e como disseram.

“Os brasileiros têm um jeito peculiar de tratar a dor”, observou um deles, meio chocado, meio encantado. Eles não compreendiam como letras que falavam de abandono, perda e saudade podiam soar tão dançantes, tão cheias de luz. Como pode uma dor ser cantada como se fosse festa?

Falaram de Luiz Gonzaga — o eterno Gonzagão — e riram, espantados, quando “Asa Branca” tocou. Um deles achou que era música de carnaval. Mas, ficou ainda mais chocado ao saber que a origem de todo aquele balanço e da sanfona festiva se escondia na dor de um sertão de secas, e que a Asa-branca não é só uma ave — é um presságio. Uma pomba do sertão (Patagioenas picazuro), de olhos atentos e voo resignado, que parte quando o chão racha e o céu se recusa a chover. Seu nome, quase sussurro, guarda o estalo seco da partida. Quando ela vai embora, é sinal de que o sertanejo também há de ir.

Na canção de Gonzaga, a asa-branca não voa sozinha: leva consigo a alma do homem que deixa sua terra, não por escolha, mas por necessidade. A ave torna-se espelho — símbolo do retirante que carrega saudade nos ombros e esperança nos calcanhares, partindo na direção de um verde que só existe na lembrança.

Em seguida, ouviram Dominguinhos cantando “Eu Só Quero Um Xodó” — uma canção que é ao mesmo tempo um lamento e uma festa. A suavidade da voz, repleta de carinho e melancolia, se entrelaçava com o balanço vibrante da sanfona, que parecia pulsar como o coração acelerado de quem vive só, mas insiste em celebrar a vida. Ali, a tristeza não se afundava em lágrimas silenciosas, mas ganhava corpo, movimento, dança.

O desejo simples e profundo — “Eu só quero um amor que acabe o meu sofrer” — era um sussurro cheio de esperança, um convite para resistir ao vazio com um ritmo que balança entre a dor e a alegria. Na música brasileira, a tristeza se disfarça de festa, e o sofrimento encontra nos passos do baile a coragem para continuar, como se o próprio folclore dançasse entre sombras e luzes, com um sorriso triste e um olhar que sabe que o viver é essa mistura complexa de dor e encantamento.

Mas foi quando Elba Ramalho surgiu cantando “Ai Que Saudade D’Ocê” que algo silencioso aconteceu. Um deles fechou os olhos, como se rezasse para um passado invisível. Outro sorriu, sem entender direito o porquê. No início, a voz de Elba era uma névoa tênue, suspensa sobre águas paradas — um sussurro carregado de saudade: “Não se admire se um dia um beija-flor invadir / A porta da tua casa, te der um beijo e partir...”

A melodia, lenta e envolvente, parecia trazer à tona a doçura amarga da ausência, o peso suave do desejo que não se apaga. Mas quando o ritmo subiu, quando a batida ganhou corpo e pulsação, todos estremeceram — como se fossem embalados por uma tristeza que acolhe, que envolve e protege. Sem perceber, haviam tocado o centro do mistério: o amor que parte, a saudade que fica, o trabalho que afasta, e o coração que insiste em amar, mesmo quando tudo parece dizer o contrário. Era a música brasileira em sua essência — uma festa para o sofrimento, um convite para dançar entre as sombras da memória e a luz da esperança.

Desde então, essa ideia — uma frase ouvida da boca dos gringos, quase como um alerta: “Os brasileiros têm um jeito peculiar de tratar a dor” — não saiu mais da minha mente. Carreguei comigo a urgência de falar dessa “dor alegre”, e agora juntei com o meu desejo profundo de trazer o mês das bruxas para perto, mas não qualquer Halloween, e sim um Halloween meu, do meu Brasil, tecido com os fios vivos e antigos do nosso folclore.

Foi na música, como sempre, que encontrei a chave para essa busca — aquelas melodias que guardam em si a alma do nosso chão, o pulsar silencioso e oculto das matas, dos sertões e das noites imemoriais, onde as histórias se entrelaçam com o vento e o tempo.

E lá estava ela, clara e forte, como um sopro vindo do Nordeste que não me nega. Na voz inconfundível de Polyana Resende, nascida no Recife e radicada em João Pessoa, “VaiTimbora” ganhou vida em 2017, no álbum Samba Teimoso — uma verdadeira celebração sonora que, no meu ouvido, mistura samba, choro, batuque, uma brasilidade que escorre como suor quente da terra (Você pode ouvir aqui, sentir a pele arrepiar: https://www.youtube.com/watch?v=tWRw5brbM_E ).

Mais de uma década depois, em 2025, a magia da música brasileira ganhou novos encantamentos. Do cerrado goiano, Mariana Froes — ou simplesmente Mari Froes — trouxe à tona um remix de “Vaitimbora”, uma reinterpretação que reverberou além das fronteiras, conquistando as pistas de todo o mundo graças a ajuda da bruxaria eletrônica do grupo francês Trinix, mestres em ressuscitar vozes esquecidas e cotidianas e tecer feitiços sonoros (ouça : https://www.youtube.com/watch?v=qQ2DZEnVL3k ).

Trinix já havia feito com que Emoriô, lançada por Fafá de Belém em 1975. A música foi composta por Gilberto Gil e João Donato, uma joia há muito adormecida — conquistasse corações distantes, provando que a alma brasileira pode ser tanto raiz quanto vento que atravessa continentes (veja aqui https://www.youtube.com/watch?v=ZdAb9Ipn9xs ). Agora, com VaiTimbora, eles lançam uma nova invocação, onde o velho e o novo se encontram, e a ancestralidade pulsa no ritmo hipnótico e misterioso que só a verdadeira magia pode criar.

Ambas as versões carregam o mesmo fio invisível — aquele sentimento estranho que causava espanto aos gringos, como se não pudessem entender o modo com que lidamos com o medo e o mistério por aqui.

A letra, essa joia de aviso ancestral, é um convite — um chamado e um alerta — para que se corra dos perigos que espreitam na mata. Ela canta com voz firme e ancestral, nomeando as criaturas que habitam nossos medos e nossas histórias:

Pio de sabiá, sariguê

Caxinguelê, maracajá

Voo de matita perê

Saci-pererê, Boitatá

 

Quando os bichos e seres

Saírem de dentro da mata fechada

Se ouvirão gritos na noite

Estalos de açoite pela madrugada

 

Arrepiou? Vai-te embora

Assobiou, a caipora

Arrepiou? Vai-te embora

Assobiou, a caipora

Assobiou, a caipora

 

Quando esses seres saem da mata fechada, dizem as vozes antigas, os gritos ecoam na noite, estalos de açoite rasgam a madrugada. Se o corpo arrepia, é hora de partir; se ouvir o assobio, fuja, esconda-se, pois, a Caipora vigia, e o que anda na mata não perdoa.

O refrão ressoa como um feitiço repetido — um mantra de proteção e respeito:

“Arrepiou? Vai-te embora. Assobiou, a Caipora.”

Essa canção não é só música, é um fragmento vivo da mitologia brasileira, que revela uma festa de Halloween tropical, onde os sustos vêm de dentro da alma da mata, e o mistério é quente, feito suor e fogo. Ela nos adverte: ouvir o assobio que nasce do nada não é mero acaso, é o prenúncio de um perigo — e embora os tempos mudem, o medo antigo permanece vivo, cuidando para que ninguém se esqueça de respeitar as sombras que nos cercam.

Mas ouça. Escute com atenção. A letra não é só música. É ritual. Os versos não nomeiam apenas animais ou lendas — eles invocam. Eles chamam. Eles abrem a trilha para o que vem do mato escuro, para o que se esconde nas frestas do real.

A canção é um desfile de mitos em forma de assombro:

a coruja rasga-mortalha sobrevoando os telhados,

o assovio agudo da Caipora cortando a mata,

a pegada invertida do Curupira confundindo o tempo,

a sombra zombeteira do Saci girando o ar como redemoinho.

E a letra adverte — não com medo, mas com respeito:

 

Quando os bichos e seres / Saírem de dentro da mata fechada,

Se ouvirão gritos na noite / Estalos de açoite pela madrugada.

 

Sim, é assustador. Mas é também belo.

Porque aqui, o medo é uma parte da festa. Aqui, o assombro dança.

 

O MENINO DA SERRA E SEUS ASSOMBROS TROPICAIS

 

Foi aí que a memória fez seu próprio assovio. Voltei à serra da Ibiapaba, onde as lendas pareciam mais assustadoras do que hoje. Onde o silêncio das noites era rasgado apenas pelos gritos dos bichos e o assobio do vento entre as folhagens. 

Falo disso com alguma intimidade, porque fui criança na Serra da Ibiapaba, um mundo em que o tempo parecia respirar devagar, como se o relógio esperasse o sol se pôr para contar suas horas. Naquela época, o mundo era outro — e Guaraciaba do Norte, a cidade mais alta da serra e de todo o Ceará, ainda guardava uma beleza rarefeita: o ar era mais fino, mais frio, e à noite, os vagalumes ainda desenhavam constelações vivas no escuro.

Um dos meus primeiros horrores veio deles. Não dos grandes mitos, nem das lendas perigosas que eu já adorava ler — mas de um gesto pequeno, íntimo, cheio de riso infantil. Magal, diminutivo de Magalhães, era um amigo da família. Tinha um gosto particular por me pregar travessuras. Uma de suas brincadeiras preferidas era apanhar vagalumes e colocá-los dentro da minha roupa — pequenos pontos de luz vivos, fervilhando por dentro da minha camisa, da minha calça. Eu gritava, me debatia, ficava possesso. Nunca os machuquei — o terror não era contra eles, mas contra a sensação de ter o escuro aceso dentro do corpo.

Hoje, olhando de longe, entendo: aquilo era um encantamento. O medo e o riso, juntos, ensinando que o assombro mora também no que é bonito. Que há algo de profundamente brasileiro nessa mistura — o susto que brilha, a infância que assovia, a sombra que dança.

Depois dos vagalumes dentro da roupa, o medo ganhou novas formas: as borboletas gigantes e as mariposas.

Nas temporadas de inverno da Serra da Ibiapaba, elas apareciam aos montes, pesadas e silenciosas, cobrindo paredes, varandas e postes de luz. Aquelas asas largas, cobertas de poeira fina, sempre me causaram um desconforto que beirava o pavor. Diziam que soltavam pelos capazes de cegar quem as tocasse — e eu, criança, acreditava com devoção. Bastava imaginar uma delas pousando no rosto, suas asas abertas, os desenhos arredondados formando olhos onde antes havia olhos humanos — uma metamorfose de pesadelo, a própria Cuca ou Matinta Pereira disfarçada de mariposa. Corria léguas quando uma dessas criaturas se aproximava, e havia muitas.

Mas nada, absolutamente nada, se comparava ao grito das rasga-mortalhas — aquelas corujas escandalosas que pareciam nascer do próprio vento. Elas apareciam do nada, lançando aquele som agudo e comprido que, segundo os mais antigos, anunciava a morte de alguém conhecido. “Quando a rasga-mortalha grita perto da sua casa, é sinal de que alguém da família vai morrer”, diziam. Não sei se era destino, coincidência ou o poder do medo que fazia o presságio funcionar — mas, naquela época, funcionava.

Já adulto, morando no litoral leste do Ceará, nos anos 2000, comecei a pensar que talvez houvesse algo mais por trás daquilo — não apenas medo, mas presença, memória, lenda viva.

O folclore brasileiro está cheio de bruxas disfarçadas em formas inesperadas. A Cuca, por exemplo, eu aprendi nos livros de Monteiro Lobato, já vinha na forma de uma jacaroa — um jacaré fêmeo, figura tão grotesca quanto mágica. Na série do Sítio do Picapau Amarelo que eu via na infância, ela me parecia engraçada e até simpática, com seus feitiços atrapalhados; já nas versões mais modernas, vestiram-na de vermelho, como uma Jessica Rabbit tropical, exagerando no corpo e esvaziando o mistério. Continuava poderosa, sim, mas de um outro modo — menos encantada, mais caricata.


Outra bruxa, porém, sempre me inspirou um medo verdadeiro: a Matinta Pereira. Diziam que se transformava em pássaro — muitas vezes em uma coruja, uma rasga-mortalha — e que voava sobre os telhados à noite, pedindo fumo e comida. Quem não atendesse, sofria as consequências.

Uma das minhas histórias de terror aconteceu justamente com ela, ou com algo que eu só posso chamar pelo seu nome. Foi em Aracati, nos idos de 2000, quando eu morava com meu pai.

A casa era um tríplex, e o último andar, todo aberto, servia de quarto para mim. Era um espaço amplo, coberto, mas arejado dos dois lados. Além da cama e do banheiro, meu pai havia colocado ali uma bicicleta ergométrica, pesada como um elefante, e todos os dias, por volta das seis da tarde, eu subia para pedalar. O sol se despedia, o vento trazia o cheiro salgado do mar, e — não sei bem por quê — eu sentia olhos me observando.

Procurava, não via ninguém. O espaço era aberto, e às vezes eu descia da bicicleta, percorria os cantos, examinava as vigas. Nada. Voltava a pedalar, fingindo normalidade. Isso se repetiu muitas vezes, até que, certa noite, ouvi o grito da rasga-mortalha. Distante, mas inconfundível.

Fez anos desde a última vez que eu escutara aquele som, e ainda assim ele me atravessou como uma lâmina. Tentei me convencer de que era apenas um pássaro, mas o som voltou, mais próximo, até que um grito explodiu acima da minha cabeça, seguido de um voo rasante.

O susto foi tanto que perdi o equilíbrio e fui ao chão com bicicleta e tudo. O barulho fez meu pai e outros lá embaixo subirem correndo. Contei que uma coruja me atacara — riram, claro. Quando desceram, fiquei ali, sozinho, tentando entender o que acontecera. Foi então que ouvi outro grito. Olhei para o alto e a vi: posada na viga de madeira, enorme, de penas densas e olhos de fogo.

Naquele instante, entendi: era a Matinta Pereira, e estava me pedindo comida. Pedi licença em voz baixa, desci, peguei alguns biscoitos e voltei. Coloquei-os sobre o parapeito e me afastei. Ela mergulhou num voo rápido, passou rente ao meu rosto — o vento das asas quase um toque — e, com delicadeza sombria, pegou os biscoitos e sumiu na noite.

Desde então, vez ou outra, percebo sua presença.

Às vezes, voltando das madrugadas de Canoa Quebrada, sintia seu olhar me seguindo — aquele pescoço girando devagar, os olhos que me acompanham sem mover o corpo. E era ela. A pelagem era única — escura, quase líquida sob a luz pálida — e talvez as penas sejam, afinal, as digitais dos pássaros, a marca invisível que os distingue como a nós o destino.

Não sei. Só sei que, desde aquele dia, sempre que algo estranho acontece, e eu ouço aqueles gritos, preparo uma pequena oferenda: um pedaço de pão, um biscoito, qualquer coisa que traduza respeito. Porque se a Matinta Pereira resolve aparecer, o mínimo que se pode fazer é saudá-la com deferência.

Não sei se vocês já viveram algo assim, algo que mistura o folclore e o real, o sagrado e o medo. Eu apenas agradeço por ainda ter minha cabeça inteira — vocês já viram o tamanho das garras de uma coruja? São lâminas de silêncio. E há também o pescoço — aquele movimento impossível, girando devagar, me acompanhando com os olhos sem sair do lugar. Um gesto tão pequeno e, ainda assim, assustador o bastante para congelar o fôlego.

Desde então, aprendi a aceitar: há visitas noturnas que não se explicam, apenas se acolhem. E, quem sabe, respeitar o medo seja a mais antiga forma de sabedoria que herdamos dessas terras. Um pouco de comida, um gesto de respeito. Afinal, o Brasil é um país onde as sombras ainda têm fome — e, às vezes, nos observam de cima, esperando o momento certo de pedir o que é delas. 

O MINGAU DE TAPIOCA: RECEITA PARA SOBREVIVER A UMA VISITA NOTURNA 

Não se negocia com o sobrenatural de barriga vazia.

Por isso, a receita vem como antídoto. Uma oferenda fumegante. Uma prece em forma de mingau.

Sendo honesto, se a Matinta Pereira resolvesse passar aqui hoje, talvez eu estivesse em apuros — as compras ficaram para amanhã, a despensa está quase vazia, e tudo que tenho é um restinho de mingau de tapioca, ainda quente, ainda doce, ainda mágico.

Não sei se a Matinta Pereira gosta de mingau. Para ser honesto, nem eu gosto de todos — tem uns que fazem a gente torcer o nariz antes mesmo do cheiro subir da panela. Mas, às vezes, quando bate uma doida inexplicável, eu me vejo ali, no meio da cozinha, quase em transe, preparando um mingau como quem invoca alguma coisa antiga. Talvez seja feitiço da Cuca, talvez sejam travessuras do Saci, talvez só saudade disfarçada de fome.

Mas há um segredo que agora precisa ser revelado: meu mingau de tapioca é outro bicho. Não é aquele mingau sofrido, ralo, com gosto de infância doente. Não. O que eu faço tem alma de sobremesa — daquelas que ninguém torce o nariz. É cremoso, quente, levemente doce, com o brilho pálido das pérolas de tapioca se abrindo translucidas no leite como se fosse neve derretendo. Um feitiço branco.

Então, se a Matinta resolver aparecer por aqui hoje... talvez ela sorria torto, mas aceite. Porque até o sobrenatural reconhece quando há afeto no fundo da panela.  E, a gastronomia da sobrevivência é também feitiço aprendido com o tempo — e com um pouco de manteiga de garrafa, uma pitada de sal e a lembrança certa, até o improviso vira ritual. Porque há visitas que não se recebem com explicações: se recebem com comida, com respeito, e com um certo tremor nas mãos.

Hoje entendo que a Matinta Pereira não é vilã — ela é ancestral. Ela não vem para levar, mas para lembrar. Ela nos visita para dizer: “Você se esqueceu da mata. Do canto. Da história. Da sua avó que acendia a lamparina. Do cheiro do mingau. Do medo que te mantinha vivo.”

 EPÍLOGO: ENTRE FANTASMAS E FOGÕES ACESOS

 Se hoje a Matinta pereira viesse — agora, por essa fresta que o vento insiste em soprar —, não haveria grito nem susto. Haveria prato, colher e silêncio.

Ela pousaria com aquele pescoço de giros infinitos, os olhos flamejando calma. Avaliaria a cremosidade do mingau com a autoridade de quem já viu panelas ferverem em séculos que esquecemos. Talvez torcesse o bico para a quantidade de canela — caso fosse, como o chef Erick Jacquin, injustamente contra essa especiaria mística —, mas aceitaria a oferenda. Porque ali, naquele prato, está tudo o que ela precisa: memória, medo, doçura — e o meu reconhecimento de que o Brasil é mais encantado do que parece.

E se ela aceitasse?

Talvez puxasse uma cadeira com as garras. Talvez falássemos sobre os novos tempos, sobre como os redemoinhos estão ficando raros e como os meninos de uma perna só agora correm nos videogames, invisíveis.

Talvez ela me contasse o que comeu na última casa que visitou. Talvez gargalhasse, rouca, pousando as mãos sobre a barriga cheia.

Talvez eu perguntasse o que ela é de verdade. E talvez ela não dissesse — apenas me olhasse. E isso bastaria.

Então eu te alerto:

Ouviu um assovio agora? Melhor correr pra cozinha. E capricha. Porque respeito se serve quente... 

MINGAU DE TAPIOCA PARA MATINTA PEREIRA

1 litro de leite frio (como o sopro da madrugada na serra)

1 xícara de leite de coco (a gordura dos sonhos)

1 xícara de tapioca granulada (precisa ser a tapioca granulada ou aquela em pérola/sagu, fazer com aquela de tapioca comum, fininha não funciona do mesmo jeito)

1 pitada de sal (como se faz com todo feitiço)

¼ de xícara de açúcar (doce, mas não demais — ela não gosta de exageros)

5 cravos (olhos de bicho encantado)

1 pau de canela (para espantar o que a gente não entende)

Canela em pó (porque toda oferenda precisa de um toque final de mistério)

Preparo: Coloque o leite frio numa panela funda. Junte o leite de coco, a farinha de tapioca, uma pitada de sal, o açúcar, os cravos-da-índia e o pau de canela. Leve ao fogo médio. Quando começar a ferver, abaixe o fogo e mexa com calma, sem pressa, até a mistura engrossar e perfumar a cozinha inteira. Quando estiver no ponto — cremoso, quase querendo se apegar à colher — despeje em uma tigela grande ou em canecas individuais. Polvilhe com canela em pó, e sirva bem quente.

Dica: eu gosto muito de castanhas. Então, quando o mingau ainda está quentinho no meu prato, salpicado com canela generosa, costumo jogar por cima umas castanhas de caju torradas e picadas. Às vezes, lascas de coco. Fica com cara de sobremesa de festa — daquelas que ninguém torce o nariz.

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