terça-feira, 19 de julho de 2011

Mito Isabelino: O milagre dos pães que se transformaram em rosas

          Eu sou um fominha por pão – sempre fui. E hoje, enquanto eu preparava meu desjejum percebi que deixei passar em branco uma data importante: o dia do padeiro (8 de julho). O que não devia ter acontecido, já que, para mim, eu esta profissão tem um significado maior do que a simples feitura de pães e afins; tendo presença registrada através da história principalmente no âmbito religioso – onde o pão se tornou o símbolo da vida, alimento do corpo e da alma – representando o próprio corpo do Cristo.
E não é difícil entender porque as pessoas, no mundo todo, gostam de pães. Afinal, é um alimento que surgiu séculos a.C. (quando ainda era feito com o fruto do carvalho triturado, lavado com água fervente para perder o amargor e posto a secar ao sol) e foi se sofisticando (à farinha foram adicionados outros ingredientes: mel, azeite de oliva, mosto e ovos, formando uma espécie de bolo que teria sido o antepassado do pão atual. Os egípcios foram os primeiros povos que utilizaram fornos para assar pães. É também atribuído a eles o acréscimo de um líquido fermentado à massa para deixá-la mais macia e leve) para atrair cada vez mais apreciadores.
O Brasil conheceu o pão apenas no século XIX, de acordo com as leituras dos livros de Gilberto Freyre. Antes disso, nas terras brasileiras se se consumia o beiju. Até que surgiu uma atividade panificadora no Brasil, iniciada com a presença os  imigrantes italianos.
Para elucidar minha total admiração pelos pães e por seus feitores, trago a história de um milagre envolvendo pães: A Rainha Santa Isabel de Aragão e o milagre dos pães que viraram rosas.
Rainha Santa Isabel de Portugal
A história nos conta que Portugal passava por uma grande penúria e a fome atingiu até os mais ricos. O rei era D. Diniz, que por sua vez era casado com D. Isabel. Senhora de grande bondade e virtudes. Desesperada com o sofrimento de seu povo; empenhou suas jóias, sem que o marido soubesse, e mandou vir trigo para abastecer o celeiro real e dessa forma poderia distribuir pão aos pobres como era de costume.
Certo dia enquanto estava distribuindo esses pães o rei chegou inesperadamente e ela escondeu os pães em seu avental temendo a reação do marido. D. Diniz percebeu que havia alguma coisa errada e perguntou: - Isabel, o que escondestes em teu avental?
Ela ergueu seu pensamento a Deus e respondeu sem pensar: - São rosas. Meu senhor! O rei desconfiadíssimo disse que queria sentir o perfume dessas flores que estranhamente haviam desabrochado em janeiro.
Isabel sem ter o que fazer soltou o avental, e para espanto de todos, caíram as rosas mais lindas e perfumadas. Postaram-se de joelhos gritando, milagre!
Esta história sobre a Rainha Santa Isabel é sem dúvida a mais conhecia. No entanto, este milagre também foi originalmente atribuído à sua tia-avó Santa Isabel a Hungria. Provavelmente por corrupção da lenda original, e pelo facto de as duas rainhas possuírem o mesmo nome e fama de santas, a história passou também a ser atribuída a Isabel de Aragão.
A época exacta do aparecimento desta lenda na tradição portuguesa não está determinada. mas circularia oralmente pelo país nas últimas décadas do século XIV. Porém, o mais antigo registo conhecido é um retábulo quatrocentista conservado no Museu Nacional de Arte da Catalunha, e sugere que ao  inves de pães, a santa levava moedas para os pobres.
Retábulo da Rainha Santa Meados do século XVI
Coimbra, MNMC
Este pequeno retábulo, considerado o primeiro ex-voto português, foi encomendado por um professor universitário, como forma de agradecer o auxílio da Rainha Santa na cura da paralisia de que padecia uma sua sobrinha, freira da comunidade monástica de Celas. Nele se representa Santa Isabel com as rosas e o milagre propriamente dito, bem como a sua ação de amparo aos mais desprotegidos. Em plano de fundo, descobre-se uma vista geral de Coimbra renascentista, com destaque para o Paço Real e o Mosteiro de Santa Clara.
O primeiro registo escrito do milagre das rosas encontra-se na Crónica dos Frades Menores. No entanto, a tradição popular gerou inúmeras variantes: moedas de ouro que se transformam em rosas ou rosas que se transformam em ouro; e a actualmente mais conhecida, do pão em flores.

Rainha santa moedas no regaço para dar aos pobres(...) Encontrando-a el-Rei lhe perguntou o que levava,(...) ela disse, levo aqui rosas. E rosas viu el-Rei não sendo tempo delas. (Crónica dos Frades Menores, Frei Marcos de Lisboa, 1562)
 Isabel faleceu, tocada pela peste, em estremoz, a 4 de julho e 1336, tendo deixado expresso em seu testamento o desejo de ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, onde em 1995 foi iniciada uma escavação arqueológica, após ter estado por 400 anos parcialmente submerso pelo rio Mondego.
Segundo uma historia hagiográfica (ramo da historia a igreja católica), sendo a viagem demorada, havia o receio de o cadáver entrar em decomposição acelerada pelo calor que se fazia, e conta-se que a meio da viagem debaixo de um calor abrasador o ataúde começou a abrir fendas, pelas quais elas escorria um líquido, que todos supuseram provir da decomposição cadavérica. Qual não foi, porém a surpresa quando notaram que em vez do mau cheiro esperado, saía um aroma suavíssimo do ataúde.
A rainha é sepultada em Coimbra, no Convento de Santa Clara-a-Velha, conforme vontade expressa em testamento, repousando inicialmente num belíssimo túmulo de pedra esculpido no séc. XIV por Mestre Pêro para, mais tarde, já no século XVII, ser trasladada para novo túmulo em prata, exposto na capela-mor do novo Mosteiro de Santa Clara.
Túmulo da Rainha Santa Isabel por Mestre Pêro

Túmulo da Rainha Santa Isabel 1614
Coimbra, Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
          Após a sua canonização ser oficializada pela Igreja de Roma, os restos mortais da Rainha Santa foram trasladados para uma nova morada final. O novo túmulo em prata foi mandado fazer em 1614 pelo Bispo-Conde de Coimbra, D. Afonso de Castelo Branco. Hoje, o monumento funerário encontra-se próximo do retábulo-mor da nova Igreja de Santa Clara de Coimbra, na companhia da venerada imagem da Rainha Santa, executada por Teixeira Lopes em 1896.
A sua figura de Rainha Santa ficou indissociavelmente ligada ao auxílio e fundação de mosteiros e à protecção dos mais desfavorecidos, sendo por isso querida em vida e venerada como santa, logo após a sua morte. Oficialmente, a consagração dá-se com a beatificação, a 15 de Abril de 1516, por Leão X, vindo a ser canonizada por Urbano VIII, em 25 de Maio de 1625.
Atualmente, inúmeras escolas e igrejas ostentam o seu nome em sua homenagem. É ainda padroeira da cidade de Coimbra, cujo feriado municipal coincide com o dia da sua memória (4 de julho).
Pão de liquidificador
Bata no liquidificador:
1 ovo
2 tabletes de fermento p/ pão
1 colher (sopa) de açúcar
1/2 colher (sopa) de sal
1 copo (dos de requeijão) de água morna
½ copo (dos de requeijão) de óleo 

Passe a mistura para uma tigela grande e acrescente cerca de 500g de farinha de trigo aos poucos até desgrudar das mãos. Cubra a massa com um pano e deixe crescer por 1 hora em local seco e sem vento (dentro do forno é uma boa pedida). Passado o tempo de descanso enrole os pães e deixe crescer novamente por 20 minutos. Leve ao forno pré-aquecido em 180º até a casca estar dourada.

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