quinta-feira, 28 de julho de 2011

O Livro de Horas do Duque de Berry e a Sopa Dourada das Freiras de Santa Clara

Eu estava relendo um artigo que escrevi sobra a doçaria conventual portuguesa e a vontade de comer estas maravilhas só aumenta em mim. Talvez por que cada doce, além de delicioso, traz um nome que se agrega a religião e tem uma história interessante pra contar. E história é comigo mesmo.
Foi seguindo o pensamento religioso da doçaria conventual que hoje resolvi trazer comentários sobre os livros de horas. Você já  ouviu  falar neste tipo de livro?

A Virgem e o Menino, iluminura do manuscrito “Livro de Horas de Milão-Turim”, da escola de Jan Van Eyck, datado de 1445
No tempo em que a Idade Média já estava quase chegando ao fim o clero sentia necessidade de elaborar um livro, acessível aos leigos, que contivesse os preceitos e as orações usadas pelos clérigos. De acordo com este modelo litúrgico desenvolveu-se lentamente, durante o século XIV, um livro de devoções privado, o famoso Livros de Horas.
A variação do formato e a abundância de ilustração dos Livros de Horas não interferiu no seu idêntico esquema de concepção. Começam com um calendário elaborado exclusivamente em função das festas religiosas. Depois são escritas numerosas orações, salmos na sua maioria e que seguem o ritmo diário — as matinas, laudas, prima, tércia, sexta e nôa, as vésperas e as completas. Foi com o Livro de Horas, a iluminura alcançou uma grande perfeição e um esplendor nunca antes igualado.
Pág. 495, VOL 25, livro das horas do duque de Berry - O jardim do Éden
Les très riches heures du duc de Berry

Um dos mais conhecidos e belos Livros de Horas foram executados, por encomenda do duque de Berry, pelos irmãos Limbourg.
Conhecido como O Príncipe dos Bibliófilos, João de Valois, Duque de Berry (1340-1416), filho, irmão e tio de Reis de França, não deixou boas lembranças como político e governante. Mas era um profundo apreciador das artes e possuía imensa fortuna para satisfazer os seus caprichos.

Iluminura do Duque de Berry em Les très riches heures du duc de Berry
Colecionador apaixonado de obras de arte e animais exóticos (colecionava castelos, rubis, avestruzes...) reservava o melhor de seu entusiasmo para os Livros, principalmente os iluminados, que comprava ou mandava copiar e ornamentar, ele próprio orientava todas as fases do trabalho, já que dominava os segredos do ofício e era homem de gosto apurado.
Reunindo ao seu redor os artistas mais conceituados da época, conseguiu formar as mais belas coleções particulares de manuscritos de todos os tempos, que incluía nada menos que 15 Livros de Horas, 14 Bíblias, 16 saltérios, 18 breviários e 6 missais.

Os Iluminadores
As Riquíssimas Horas foram pintadas pelos três irmãos Limbourg — Paul, Hermann e Jean, artistas flamengos contratados pelo duque de Berry por volta de 1405.
Os Limbourg utilizaram uma grande variedade de cores obtidas através de minerais, plantas ou produtos químicos, misturados com uma cola especial que ligava a tinta. Entre as cores fora do comum que utilizaram estão o verde íris e o azul ultramarino, feito de lápis-lazúli triturado. Esta cor era usada para representar os azuis brilhantes.
Os detalhes extremamente precisos são característicos do estilo dos Limbourg, que exigia lupas e pincéis finíssimos.
O livro de horas feitos pelos irmãos Limbourg (Les Très Riches Heures du duc de Berry) encontra-se hoje na França, no Musée Condé, no Castelo de Chantilly. Enquanto você não vai lá para conferir, veja algumas das principais iluminuras do livro.
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Sopa Dourada das Freiras de Santa Clara

Receita manuscrita por uma freira de Santa Clara de Vila do Conde (Portugal), tal como está redigida:
"Para Kilo e meio de assucar 24 gemmas de ovos, com um quarto de amendoa doce, meio kilo de chila, 50 grammas de cidrão e 300 grammas de pão de ló, que deve ser partido ás fatias finas. Vai o assucar ao alume para o por em ponto de espadana, deitando-se-lhe algumas gottas de água de flor de laranjeira.
Achando-se o assucar n’esse meio ponto retira-se do lume e molham-se nelle as fatais de pão de ló, que se põem a escorrer nem peneira ou n’um prato. O assucar volta ao lume para chegar ao ponto de espadana, deitando-se o cidrão muito cortado aos bocadinhos e bem assim a chila. Deixa-se ferver um pouco.
Tira-se então do lume para arrefecer um quasi nada. Depois vai-se deitando deta calda aos poucos nas gemmas de ovos, que devem estar bem batidas. Tem de se mexer sempre, sem parar, porque se o não fizerem, coalha. Deixa-se engrossar até fazer rugas e deita-se depois no prato ou travessa que tem as fatias, que devem ficar bem cobertas. Compõem-se com um ferro e deita-se-lhe canela."

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